História "Sorte" de Garota - Eu não Entendo ...

— Mas nem pensar, ficou louco?!
— Ei calma garota, é só um trabalho.
— Pode esquecer, não vai entrar na minha casa.
— Ótimo, vai ser na minha.
— Não vou a lugar nenhum com você! Pelo que eu saiba pode ser um serial killer disfarçado de aluno, eu assisto C.S.I, e você bate com as descrições.
— É, assim como você, a loucura é igual. Ambos corremos riscos então. Agora vamos, quanto mais rápido terminarmos esse trabalho, mais rápido se livra de mim, eu me livro do seu amigo, e todos voltamos a ser felizes.

Ainda contrariada, a garota seguia Aaron até sua casa, já haviam andado duas quadras, passado por um ginásio, duas praças e um hospital. Ellie nunca tinha andado tanto em toda sua vida.

— Chegamos!

O garoto falava enquanto abria um portão que levava a uma escada. Que ótimo, pensou Ellie, não bastasse a caminhada, ainda teria de subir escadas, qual o problema dos arquitetos dessa cidade, teimavam em colocar escadas em todo lugar.

— Algum problema garota, quer que eu te leve no colo?
— Não obrigado, pode subir, estou bem atrás de você.
— Poderia ser o contrário...
— Cala a boca garoto!

Mal haviam entrado na casa, e Ellie já se arrependia amargamente de ter vindo. Mas, não podia deixar de notar o quanto a casa era organizada, e limpa demais pra alguém que morava sozinho.

— Sua casa é incrível. —  elogiou, enquanto caminhava pela sala tentando se sentir menos constrangida.
— Também tem um quarto enorme, quer conhecer?
— Aaron!
— Ok, só estava sendo um bom anfitrião... Aceita alguma coisa? Uma água, um vinho, uma camisinha?
— Mais uma piadinha e eu taco isso em você! —  falava, apontando para um pequeno abajur ao seu lado.
— Você não teria coragem.
— Quer pagar pra ver?

Ellie olhava ao redor, procurando uma prova de que haviam corpos escondidos no freezer, mas só o que conseguia ver era o quanto sua casa era uma bagunça comparada a dele, até que notou algo estranho em cima do sofá…

— Revista pornô, sério? Que previsível. — Ellie dizia enquanto se aproximava para pegar o objeto.
— Não, deixa que eu pego. — o garoto corria em direção ao sofá, quando tropeçou, caindo em cima da garota.
— Será que dá pra sair de cima?!
— Será que dava pra deixar a minha revista no lugar.
— É sério garoto, levanta agora. Não vou tocar na sua revista nojenta.
— Tem certeza? Porque assim dá pra fazer trabalhos ótimos.

Sem pensar, a menina pegou o abajur batendo com toda força na cabeça do garoto, fazendo-o levantar na hora, sem reação.

— Ai! Você é doida?
— Falei pra não fazer piadas.
— Me deve um abajur.
— Eu não te devo nada! A culpa foi sua.
— Melhor a gente só fazer o trabalho. Começa, eu preciso de gelo.
— Desculpa, machucou muito?
— Anda logo com o trabalho.

O clima havia ficado estranho, o garoto havia voltado ao seu estado de ignorância normal, o que era bom pra Ellie, pois estava sozinha com ele, preferia alguém com tpm do que um ser psicopata.

Escolheram o poeta do trabalho, ambos concordaram que seria Ondjaki, Ellie se perguntava se Mathew também iria concordar. Aos poucos o trabalho ia sendo concluído, o que era pra ser apenas o começo já estava sendo finalizado pelos dois, já haviam escolhido o poema, e a forma de dramatizar. Agora faltava dividir as falas de cada um, mas estava ficando tarde.

— Falta pouco agora, posso terminar em casa.
— Espera, vou levá-la até lá.
— Não precisa, eu sei o caminho.
— E eu vou te levar assim mesmo.

Em pensamento agradecia fortemente a companhia do garoto, não havia memorizado nem a rua, muito menos como chegar em casa. Enquanto cruzavam as ruas, só conseguia imaginar o que havia acontecido na casa, apesar das piadas, Aaron havia se comportado como um verdadeiro cavalheiro, não entendia o porquê dele não ter amigos.

Atravessaram a última rua, chegando a porta da casa de Ellie, quando Mathew saindo do colégio, veio em suas direções.

— Ellie, o que vocês dois fazem aqui?
— Eu moro aqui.
— E eu, to indo nessa.
— A mais não vai mesmo! Vocês, passaram o dia juntos?
— Não do jeito que você ta pensando.
— Não faz ideia do que eu to pensando.
— Como eu não to pensando nada, já vou indo.
— Você fica.
— Ô garoto, ninguém me diz o que fazer. Você se resolva com a sua namorada.
— Ela não é minha namorada.
— Não é o que tá parecendo.
—  Ele não é meu namorado.
— Diz isso pra ele. Namorados ou não tô sobrando aqui, explica pro seu "não namorado" o que estávamos fazendo, antes que eu soque a cara dele.
— Tá afim de brigar? Acha que eu tenho medo de você?!
— Ei! Nada de briga na minha casa! Vão embora os dois, a gente se vê segunda.
— Algum problema gatinha? —  Ethan perguntava a Ellie, havia aparecido do nada.
—  Não Ethan, eles já estavam de saída.
— Ouviram a garota, vão embora.

Os garotos seguiram em direção diferentes, mas ambos pareciam irritados, saíram dali tão de pressa, que nem se despediram de Ellie.

—  Obrigado Ethan, é a segunda vez que me salva, espero não precisar de uma terceira.
— Eu te falei que não ia deixar ninguém machucar você, nem mesmo o idiota do meu irmão.
— Mathew não é idiota, só não estava em seu melhor dia.
— Ah ele é sim, mas não vamos discutir sobre isso. Acho melhor você entrar, já está escurecendo.
— Obrigado de novo Ethan.
— Sem problemas, boa noite Ellie.

Ellie observava enquanto o garoto seguia pela rua sem olhar pra trás, estava sem entender o que havia acontecido hoje. E nem se quissesse não entenderia, estava exausta, o trabalho havia a esgotado, estava feliz por amanhã ser sábado, iria finalmente descansar.

Foi o que pensou…