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História Spectrum (Dramione) - Capítulo 4


Escrita por: malfoyazedo

Notas do Autor


Antes de tudo, eu queria explicar para vocês o meu sumiço e eu só tenho uma palavra para isso: depressão.

Capítulo 5 - Capítulo 4


Lua

Ainda raciocinava quando Hermione Granger saiu do quarto. A viu corar com a sua revelação e sabia que não careceria ter-lhe dito aquilo, mas foi maior do que ele mesmo, quase como se não conseguisse controlar suas palavras e seus lábios ao pronunciá-las.

Quando fechou seus olhos a escuridão não tomou apenas a sua vista, mas também sua mente. Apagou-se como se não houvesse nada lá para se recordar, para pensar, para imaginar, para falar. Tudo estava muito escuro e incompreensível. Quando a claridade voltou, tomou os seus pensamentos. Reviu todos os seus anos em Hogwarts em um piscar de olhos e no fim escutou uma voz. Uma voz baixa e doce que fez todos os seus músculos relaxarem. Ele não sabia dizer de quem era, mas sabia que a conhecia, ou, talvez, fosse apenas sua imaginação lhe pregando peças.

 

A escada rangeu quando pisou no primeiro degrau para subi-la com uma pequena bandeja apoiada em seu braço; um pequeno frasco e uma sopa com aparência horrível sobre ela. Hermione engoliu em seco antes de continuar a subir. Foi o melhor que pode fazer sem utensílios e ingredientes na cozinha e se ele reclamasse já estava se preparando para lhe dar outro bom soco no nariz. 

Chegou ao topo rapidamente e andou até o quarto onde o garoto estava deitado, aparentemente dormindo. 

Do lado de fora se ouviam trovoadas e relâmpagos eram vistos ao fundo. Ali apenas chovia, dia e noite, então ela estava começando a se acostumar com isso, mesmo com tão pouco tempo de estadia.

— Malfoy? — Hermione o chamou ao colocar a bandeja na mesinha suja ao lado da cama. 

Não houve resposta de imediato, mas após alguns longos segundos, Draco Malfoy gemeu como se estivesse com dor. 

— Estou com o antídoto — continuou a garota, mesmo sem saber se ele realmente a estava ouvindo. 

Mais uma vez a resposta demorou a vir, mas desta vez veio por meio de um sussurro. 

— Está tentando me envenenar, Granger? — perguntou o loiro, arrancando um sorriso de Hermione. 

— Se estivesse não teria arrumado algo que demorasse tanto para te matar — brincou. 

Draco Malfoy ficou em silêncio por um minuto antes de virar a cabeça lentamente para Hermione e abrir os olhos, agora completamente negros. A garota assustou-se com o fenômeno e pegou o pequeno frasco da bandeja. 

— É melhor você tomar logo. Não parece bem... 

— Como sabe qual é o antídoto certo se não sabe o que eu tomei? — questionou confuso. 

— Malfoy, não temos tempo para isso. Tome logo! — pediu impaciente, levando o líquido até ele. 

Hesitante, Draco  a deixou virar o frasco em sua boca, fazendo Hermione dar um leve suspiro de alívio por não ter que ficar insistindo. 

— Então... melhor? 

Malfoy fechou os olhos, mantendo-os assim por um longo período. Quando os abriu novamente, ela viu que as orbes cinzas voltavam a sua cor original, mas ainda continuavam escuras e opacas.

— Onde conseguiu o antídoto, Granger? — indagou, voltando para seu tom de voz natural.

— A sua elfo...

Draco levantou-se de súbito da cama, rompendo pela porta e deixando Hermione Granger falando sozinha.

 

Ainda chovia. A bandeja antes posta sobre a mesinha, agora estava jogada no chão, assim como o próprio prato de sopa derramada perto da cama. Hermione estava sobre a cadeira disposta em frente à janela, com os joelhos dobrados até seu peito, os braços abraçando suas pernas e a cabeça entre elas. As lágrimas de seus olhos e os soluços se tornavam cada vez mais inevitáveis.

Precisava descobrir o que estava acontecendo ali. Que lugar era aquele. Precisava saber sobre aquele maldito livro. Principalmente, precisava saber sobre Harry e Rony.

A preocupação com os amigos já não cabia em seu peito. Sabia que eles conseguiriam se virar por um bom tempo, sozinhos, mas Hermione era quem carregava tudo e a que pensava o impensável. Havia coisas que precisavam ser reveladas a Harry antes que fosse tarde demais. Agora ela sabia onde aquilo estava e precisava, de algum modo, encontrar um meio de comunicar ao amigo.

Ouviu o estalo e com um susto pulou, virando-se para trás. 

— Meu senhor pediu para a senhorita descer para comer. — Pinklink, a elfo de Malfoy, afirmou. 

Hermione levantou-se da cadeira e andou até sua cama, se sentando e tentando amenizar as lágrimas e os soluços para falar com a pequena criatura. 

— Diga a ele que não irei. 

— Se eu fosse a senhorita, eu iria. Meu senhor disse que tem algo importante para lhe dar — concluiu, saindo do quarto com outro estalo e deixando a garota levemente curiosa. 

Hermione realmente não queria descer, mas não podia conter sua própria curiosidade. Talvez fosse apenas um blefe da parte do garoto, mas precisava saber. Seria o livro, caso fosse realmente verdade? 

Ela não conseguia entender por que Draco Malfoy hora agia de um modo e hora de outro. Ela estava irritada, cansada com tudo aquilo e pela bipolaridade. Depois de o garoto sair do quarto, ignorando sua ajuda, o surto foi inevitável. Explodiu de um modo que há tempos não explodia e ela precisava daquilo.

Levantou-se hesitante da cama e com o cabelo bagunçado e as mesmas roupas da primeira noite, limpou o rosto ainda molhado pelas lágrimas e respirou fundo para cessar os soluços antes de descer as escadas. Cruzou a sala e entrou na cozinha, notando-a surpreendentemente arrumada e com alguns outros móveis que antes não estavam ali. A luz estava mais fraca e o lugar estava agradavelmente quente. Não sabia dizer se fora um feitiço lançado para aquecer o local ou se ele estava assim pelo uso do fogão para preparar a quantia exagerada de comida que estava sobre a mesa, que parecia também ter sido enfeitiçada para dobrar de comprimento.

Sentado sob ela estava Draco Malfoy, encarando a parede a sua frente com atenção.

— O que você queria me dar? — perguntou Hermione, indo direto ao que queria.

Malfoy deixou de fitar o ponto da parede e virou-se para encará-la com a mesma expressão fria que sempre a encarava.

— Seja educada e sente-se, Granger — retrucou o garoto sem emoção na voz.

Hermione segurou um suspirou e andou até a mesa, sentando-se em frente a ele. Notou os pratos à mesa, sentindo falta de Hogwarts e pensando há quanto tempo não comia algo como aquilo.

— Coma! Sei que está com fome — continuou, cruzando os braços e abaixando a cabeça, mirando seus olhos opacos para baixo.

Hermione não hesitou. Seu estômago roncava e não negaria aquele pedido por orgulho. Não era do tipo que se deixava morrer de fome por isso. Pegou tudo o que havia ali, de pastelão de rins à bouillabaisse, a única vez que havia experimentado aquilo fora em seu quarto ano, quando o Torneio Tribruxo trouxera a escola francesa à Hogwarts.

 A garota mal olhara para Draco durante o jantar, assim como o mesmo não olhara para ela e mal tocara na comida. Não trocaram uma palavra sequer, até Hermione colocar a última garfada na boca, seguida de um longo gole de suco de abóbora.

— Espero que esteja satisfeita — falou Malfoy, finalmente olhando para ela.

Hermione ouviu o mesmo estalo que ouvia sempre que Pinklink aparecia e virou o pescoço rapidamente para ver a pequena elfo com outra bandeja prata em suas mãos

— A sobremesa está sendo servida, meu senhor — anunciou.

O loiro fez um gesto com a cabeça e Pink estalou os dedos, fazendo com que todos os pratos sumissem da mesa. Em cima da mesma, depositou o objeto prateado que continha vários donuts enormes e atolados de recheio. Hermione os reconheceu como Chocobolas, o doce que se vendia na Dedosdemel, em Hogsmead. Seus olhos brilharam com aquilo. Fazia tanto tempo que não comia um daqueles. Não esperou Draco lhe dizer o que fazer e pegou rapidamente um, quase o engolindo inteiro.

Malfoy soltou uma risada pelo nariz, como se estivesse tentando segurá-la em vão e Hermione o encarou.

— Algum problema? — o questionou com a boca ainda cheia. 

— Achei que tinha mais decência para engolir primeiro antes de falar — reclamou ele com uma careta. 

— Algum problema? — Hermione perguntou novamente, engolindo o doce e ignorando o que o outro falara. 

— Meu problema é você! — respondeu grosseiramente.

Hermione bufou para a repentina mudança de humor do loiro e abaixou a guloseima em sua mão. 

— Malfoy, você me chamou aqui! Você me trouxe para esse lugar estúpido! Você acha mesmo que eu gostaria de estar aqui? Com você? 

— Você poderia ser mais grata. Eu salvei sua vida — respondeu-a calmamente.

Hermione ergueu os olhos, e irritada deixou de vez o doce sobre a mesa.

— Qual é o seu problema? Você me trás aqui, para este lugar horrível. Me pede para descer quando quero ficar em meu quarto, dizendo que tem algo para me dar. Me faz comer com você e me diz que eu sou o seu problema? Eu não pedi para ser salva!

— Granger, eu realmente tenho algo para te dar — começou secamente, surpreendendo a garota. —, mas primeiro preciso te explicar o que aconteceu.

Hermione piscou algumas vezes e se endireitou na cadeira, ainda surpresa.

— Acho que eles estão prestes a descobrir onde estamos — contou o loiro, parecendo levemente nervoso. Sua perna mexia-se sem parar por debaixo da mesa.

— Por que acha isso? — questionou preocupada.

— Pelo que aconteceu hoje — continuou.

Hermione esperou por longos segundos, até que cansada resolveu falar.

— O que aconteceu Malfoy?

— Os feitiços... de proteção... eles não estão funcionando como eu esperava que funcionassem — relatou, levando sua mão aos cabelos loiros e os bagunçando nervosamente. — Talvez durem mais algumas noites, mas não irão durar muito.

Hermione suspirou.

— Então faremos de novo.

— Granger, eu não posso mais usar a varinha. Se eu usar a varinha para feitiços poderosos como esse ele me rastreia. E te rastreia. Nenhum de nós dois pode mais usar a varinha. Por isso eu tenho feito tudo à mão e pedido para que Pinklink faça a mágica.

A garota se levantou e olhou para o teto.

— Por que os feitiços não estão funcionando?

— Os feitiços são complexos. A maioria deles eu precisei pesquisar muito para conseguir fazer. Eu já sabia que não durariam muito tempo.

— Feitiços para quê, Malfoy? — Hermione alterou-se, levantando a voz e deixando o menino mais irritado.

— Não podemos aparatar daqui. Eles não podem nos ver e também não podem se lembrar desse lugar.

— Você usou hic oblitus? — perguntou Hermione o interrompendo.

Lembrava-se de ler sobre feitiços antigos e poderosos, usados durante a caça às bruxas. Eram feitiços complexos e hic oblitus era um deles. Eram realizados apenas por bruxos muito poderosos para esconder famílias de trouxas que os perseguiam, basicamente, fazendo-os esquecer de sua existência ou do local onde estavam. Foi dessa forma que os bruxos conseguiram sobreviver durante tanto tempo. Contudo, quando realizados por bruxos sem conhecimento, poderia os deixar preso para sempre.

— O que você acha, Granger?

— Isso pode nos deixar presos aqui para sempre, Malfoy! — gritou.

— E acha que eu não sei disso, Sangue-Ruim idiota? Você acha que eu não sei as consequências do que eu faço? Você esperava o que? Que eu nos trouxesse aqui e não usasse feitiços assim?

A garota riu sarcasticamente e deu um passo em direção a ele, nem sequer se importando por mais uma vez ele a ofender.

— Então por que nos trouxe para o ninho de Vol...

Antes que pudesse perceber, uma mão de Draco Malfoy já estava em sua boca, enquanto a outra segurava sua cintura com força. O corpo do garoto atrás do seu e a sua respiração entrecortada no seu pescoço a incomodou intensamente, fazendo-a tentar soltar um grito.

— Não fale esse nome aqui se não quiser morrer — aconselhou, falando próximo demais do ouvido dela.

Hermione acalmou-se, entendendo o que havia acontecido. Falar o nome de Voldemort era como acionar um alarme e ela tinha se esquecido completamente disso. Tentou controlar sua respiração e esperou até que Malfoy tirasse a mão de sua boca para voltar a falar, enquanto arrumava suas roupas.

— Desculpe — ela pediu, sabendo o quão estúpida estava sendo.

Viu quando o sonserino virou os olhos antes de se voltar a sentar. Ele pegou um dos donuts recheados e mordeu calmamente.

— Sua varinha está no seu quarto — revelou Draco, se levantando em seguida, passando pelo arco da cozinha e subindo as escadas

 

A biblioteca escura naquele momento era o ambiente mais agradável em que poderia estar. Pegou o primeiro livro que vira e sua frente e caminhou até a poltrona iluminada pela luz fraca. Forçava a vista vez ou outra para entender algumas palavras, quando as luzes falhavam ou se apagavam por nada.

Lendo o livro, distraiu-se por um momento pensando em Harry e Rony, novamente. Imaginou onde estariam e como estariam. Eles precisavam de Hermione, isso era inegável. Sabia que se não fosse por ela, não teriam sobrevivido à metade dos obstáculos que passaram para chegar até ali e agora ela sabia. Sabia de algo que Harry e Rony jamais saberiam e encontrariam se ela não os achasse.

Notou que havia lido dois parágrafos completos sem prestar atenção em sequer uma única palavra. Os pensamentos voaram e a preocupação com os amigos se alastrou novamente. Queria poder saber se ao menos estavam vivos.

Fechou o livro, desistindo de lê-lo e o deixou sobre a poltrona antes de sair da sala. Não havia muito o quê fazer por ali e muito menos muito para ler, e chegou à conclusão de que o único objeto que realmente importava ali era o livro que Draco Malfoy tirara dela.

Sabia que as respostas estavam lá, o que ela não entendia é o porquê de Malfoy não querer revelá-las, já que estavam em uma situação completamente desesperadora. Trancados, senão presos, em um local onde não se podia desaparatar e do qual ninguém se lembrava. Havia lido algumas vezes livros sobre feitiços de proteção, complexos e perigosos e entendia bem sobre o que aqueles que ele havia lançado ali poderiam acarretar.

Em seu quarto, caminhou até o banheiro, depois de se certificar de que sua varinha ainda estava em cima da mesa em que a encontrara e notar a escuridão do lado de fora. Era dia, mas o tempo e o clima naquele lugar eram incompreensíveis.

Entrou no chuveiro e tomou um banho demorado.

A mente ainda trabalhava para resolver o problema dos feitiços de proteção, preocupada também com o caso de Malfoy ter os deixado presos ali para sempre.

Saiu do banho com os cabelos pingando nas costas e usou a pequena toalha para enxugar-se. Enrolou-se como pode e andou até o quarto, notando o monte de roupas limpas sobre a cama. Suspirou aliviada por não ter que colocar o mesmo sutiã apertado e as mesmas roupas sujas do dia.

O vestido de flanela lhe serviu quase perfeitamente. A meia manga e o vermelho e preto das cores a lembraram de sua mãe. Mais uma vez sua mente voou para seus pais, perguntando-se onde estariam e se estariam bem.

Havia também um par de chinelos e um par de sapatilhas, que combinavam perfeitamente com o vestido que vestira. As vestiu mesmo sabendo que não sairia dali.

Para o clima do local, chuvoso e frio, a roupa não era de extrema relevância. Jurava que se abrisse a janela, ela morreria de frio ali mesmo.

Seu estômago roncou e como se a ouvisse, Pinklink apareceu no quarto pedindo para que descesse para comer.

Fez o caminho curto até a cozinha em alguns segundos e, ignorando a presença de Draco Malfoy, que a olhou com tamanho interesse, sentou-se na mesa, agora em seu tamanho original, e esperou pela comida, sem dizer uma palavra.

— Não sabia que usava vestido, Granger — provocou o garoto.

Hermione mais uma vez o ignorou.

— Achei que fosse mais aquelas garotas que desprezam tudo o que as deixem femininas — continuou ele.

Hermione virou os olhos sem responder.

— É... Deve ser isso mesmo — concluiu o loiro com um sorriso vitorioso.

— O que? Prefere me ver pelada? — retrucou a garota irritada e viu o sorriso de Malfoy sumir imediatamente ao lembrar-se do que falara sem querer para ela.

— Prefiro não te ver, sangue ruim — falou grosseiramente.

— Pois bem, era só não tentar provar para si mesmo que podia contrariar Lucius e ter me salvado da sua tia — disse no mesmo tom, encarando profundamente os olhos cinza.

Draco Malfoy devolveu o olhar.

— Você nunca fica agradecida por nada? — questionou irritado. Passou a mão pelos cabelos, o que – ela notou – ele sempre fazia quando estava nervoso.

— Ficaria agradecida se não tivesse me salvado e não tivesse me trazido para cá com você, Malfoy.

— Eu sinto em te dizer, Granger, mas agora é tarde demais para me falar isso e, eu não sei se percebeu, somos eu e você neste lugar. Se quiser ficar louca falando sozinha, o problema não é meu.

A garota bufou ao compreender as palavras do outro.

— Quer dizer que precisa me ofender para não ficar louco? — riu falsamente.

— Não, Hermione, eu preciso te ofender porque não sei agir de outro modo com você — gritou, batendo o punho sobre a mesa, deixando-a surpresa e boquiaberta.

Ficaram alguns segundos encarando um ao outro, até ouvirem o estalo que indicava a chegada de Pinklink no ambiente.

— A comida está sendo servida, meu senhor.

— Sirva só para a sangue ruim. Perdi a fome — indicou grosseiramente e levantou-se, saindo rapidamente do cômodo.

 

Entrou no quarto batendo a porta atrás de si. O estômago agora embrulhado. O peixe e a diversidade de saladas que a elfo a serviu não serviram de nada depois que Malfoy saíra da cozinha. Mal conseguira sentir o cheiro da comida e, ao lembrar-se das palavras do garoto, uma sensação de culpa a tomou.

Não era como se Hermione o odiasse. Ele a odiava desde que a vira pela primeira vez, mas, na verdade, nunca houve ódio da parte dela. Se chateava com as ofensas, retrucava na maioria das vezes do mesmo modo, e até socara sua cara, mas Hermione não costumava sentir ódio de ninguém. E esse era o seu grande defeito. Ela era boa demais.

De Draco Malfoy o que Hermione sempre sentiu foi pena. Pena porque ela via de algum modo que Draco não fazia o que fazia por vontade própria e sim para agradar sua família. Achava que ter o peso do nome sob suas costas sempre lhe custou muito, inclusive sua infância e sua adolescência.

Nunca entendera realmente a família Malfoy. Narcisa parecia impenetrável. Era como uma máscara com uma armadura que ela nunca tirava, quase como se não houvesse sentimentos, mas a garota tinha a impressão que a mãe se desarmaria pelo filho. Lucius era diferente. Ela não tinha qualquer impressão dele. Tudo o que parecia é que para ele a única coisa que importava era o nome. Malfoy.

Andando pelo quarto, colocava seus pensamentos em ordem antes de parar em frente à porta. Respirou fundo e a abriu girando a maçaneta.

Caminhou lentamente pelo corredor até chegar à porta onde sempre via Draco Malfoy entrando e, hesitante, bateu.

Não houve resposta.

Inquieta, girou a maçaneta e adentrou o recinto olhando em volta.

O quarto era como o seu, com algumas coisas a mais. Tinha uma estante velha de livros com literatura de verdade, não apenas livros de feitiços e poções. Outra extensa estante estava em frente à cama mais larga que a sua, com vários tamanhos e formas de frascos, que continha diversas coisas coloridas dentro. O lugar parecia mais limpo também e mais iluminado.

Não havia ninguém lá.

Aproveitando o momento, caminhou até os livros, observando calmamente um por um.

Hamlet. Mulherzinhas. Dom Quixote.

— O que está fazendo aqui, Granger? — uma voz áspera questionou.

Hermione virou a cabeça e viu Draco Malfoy saindo de outra porta, que ela julgou ser do banheiro. Seus cabelos loiros pingavam gotículas em seu pescoço e ombros e uma toalha branca estava enrolada em sua cintura, deixando o abdômen pouco definido à mostra. Hermione desviou o olhar para os olhos cinza rapidamente.

— Hã... É...

— Diga logo — esbravejou.

Ela engoliu em seco.

— Por que nunca me disse que tinha uma estante com livros decentes no seu quarto?

Malfoy apenas a encarou por breves segundos, sua feição não mostrava qualquer sentimento.

— Pegue um e suma — falou secamente.

Hermione suspirou.

— Eu não vim aqui para isso — explicou e sentou-se na cama.

— E por que veio?

— Para me desculpar

Dessa vez Draco sorriu. Um sorriso sarcástico daqueles que ele costumava dar em Hogwarts.

— Quer dizer que a sangue ruim resolveu ficar agradecida do nada?

— Pare de me chamar assim! — ela gritou, fazendo com que o sorriso dele morresse. Fechou os olhos e respirou fundo, voltando-os abrir poucos segundos depois. — Eu vim me desculpar. Então... desculpe por mais cedo, você realmente me irritou.

Draco esperou um minuto para respondê-la.

— Você ainda pode pegar um livro e sumir — murmurou, quebrando o contanto de seus olhares.

Ela se levantou calmamente.

— Não faça eu me arrepender...

— Ok, Granger! — interrompeu em tom alto. — Não sei se percebeu, mas eu estou só de toalha e, ao menos que queira ver algo aqui, é melhor você sair.

Hermione enrubesceu e estava pronta para sair, mas antes se virou para uma das estantes e pegou um livro qualquer. Envergonhada, andou a passos largos para fora do quarto.

Dormiu com o livro no peito e sonhou com Draco Malfoy aquela noite.

No sonho havia água. Muita água. E ela estava afundada nela, à beira da morte. Viu quando Draco correu em sua direção e tentou socar o vidro inutilmente. Mãos agarraram os braços dela enquanto tentava se aproximar da superfície, puxando-a para baixo. Ela estava morrendo e mais uma vez Draco Malfoy estava tentando salvá-la.

Acordou suando frio.

Olhou ao redor. Não havia luz e tudo estava em completo silêncio. Era como se realmente tivesse morrido.

Levantou-se lentamente da cama e andou até a janela, certificando-se que ainda estava na cabana. Um calafrio passou por seu corpo molhado quando o vento entrou por uma pequena abertura. Usava apenas um sutiã e a calça que vestira quando chegara ali.

Não era possível enxergar nada do lado de fora. Era negro e aquilo a assustava. Seu coração saltou ao ver uma forte luz brilhar enquanto olhava pela janela. Seu primeiro pensamento foi que haviam os achado. Os feitiços de Draco não estavam funcionando mais e Voldemort conseguira, finalmente, os encontrar.

Para o seu alivio, a luz pareceu ter ido parar acidentalmente no rosto dele. Usava moletom preto e a única coisa que o denunciara fora seu cabelo praticamente platinado.

— O que está fazendo Malfoy? — sussurrou para si mesma.

Hermione não se conteve em colocar a blusa e sair pela porta, caminhando rapidamente e silenciosamente até onde vira o sonserino. Ao sair pela porta da frente, um arrepio subiu por sua coluna. O frio a tomou rapidamente, fazendo-a abraçar o próprio corpo. Apertou os passos sem saber para onde ir.

Caminhou por um tempo, e não achara Malfoy. Sabia que estava em algum lugar por entre as árvores que cercavam a casa de madeira. Enquanto andava, tocava-as para não bater em nenhuma delas.

Sua respiração começava a ficar fadigada e tentava se aquecer alisando uma mão por seu braço rapidamente quando ouviu passos atrás de si. Seu coração acelerou, saltando no peito quando viu a lanterna de Draco Malfoy cegando seus olhos.

— O que faz aqui, Granger? — rosnou.

— Eu ia te fazer a mesma pergunta, Malfoy — respondeu, colocando a mão em frente aos olhos para tampar a luz.

Draco abaixou a lanterna, fazendo Hermione ver que, além do objeto em suas mãos, ele tinha uma bolsa em seus ombros.

— E você esperava encontrar o que no escuro?

— Bem... você — falou. — O que está fazendo?

— Verificando os feitiços de proteção. — respondeu, voltando a caminhar com a lanterna na frente do corpo iluminando seu caminho. Sem hesitar, Hermione o seguiu, ficando o mais próxima que pode para conseguir acompanhá-lo. — Volte para a casa, Sabe-Tudo.

Hermione não o respondeu e continuou caminhando atrás dele. O nariz gelado e a boca trêmula. As árvores dobravam de quantidade a cada dez passos que davam. O barulho da noite era assustador, assim como as gigantescas árvores pelas quais caminhavam. O vento zumbia em seus ouvidos e balançava troncos e folhas à suas costas. Animais noturnos vez ou outra cantarolavam e uivavam, fazendo-se soarem por ecos.

— Qual é o limite? — perguntou ao garoto, apenas para se distrair. Suas pernas ficavam mais bambas a cada passo que dava.

Draco não a respondeu. Continuou caminhando e só parou ao avistarem o lago, tão sombrio quanto a própria floresta. Hermione viu sombras, muito parecidas com sombras humanas, passarem pela água. Estava escuro, mas era como se ele tivesse luz própria.

— Este é o limite — ouviu Draco murmurar com a voz rouca. Estavam um pouco mais afastados de onde Malfoy capturara Hermione em sua tentativa de fuga, o que provavelmente havia salvado sua vida.

Draco caminhou para a esquerda, verificando cada centímetro, enquanto Hermione caminhou até o lago lentamente. Observou atentamente as sombras que se dissipavam dele e a luz que ele emitia. Era como a lua. Aquela era a lua que ela tanto procurava no céu.

Abaixou-se na beirada, olhando atentamente para a água, brilhando em um tom de azul. Aproximou sua mão lentamente da luz, pronta para afastá-la caso precisasse.

— É quente! — Se surpreendeu ao afundar os dedos na água.

Ela balançou a mão de um lado para o outro, deixando a água aquecer seus dedos congelados.

— É o lago Fény — ouviu a voz suave dizer ao seu lado, fazendo-a se virar para encarar os cabelos loiros. Ele colocou seus dedos na água, acompanhando os movimentos dela. — Dizem que ele atende às suas necessidades. Se sente frio, ele lhe dará o calor. Se sente calor, ele lhe dará o frio, se assim desejar.

Draco Malfoy não estava mais com a lanterna, seu rosto era iluminado pela luz do lago. Hermione se surpreendeu ao perceber o seu tom de voz.

— Atende às suas necessidades físicas. — concluiu Hermione. Malfoy a encarou. — Eu li sobre ele. Estamos na Hungria?

— Você não pode parar de dar uma de Sabe-Tudo, né, Granger? — falou o garoto em tom brincalhão.

Hermione sorriu, mas por pouco tempo.

— Por que está sendo gentil, Malfoy?

Draco passou a língua pelo lábio inferior e bagunçou os cabelos.

— Vamos ficar aqui por um bom tempo, Sabe-Tudo... — respondeu, olhando para o céu sem estrelas. Levantou-se e olhou em direção onde a casa ficava. — Mas não pense que serei seu amiguinho. — concluiu grosseiramente.

Hermione revirou os olhos e se levantou também.

— Vamos, Granger, antes que morra congelada. — falou, caminhando de volta para a cabana com Hermione à suas costas.

Draco abriu a porta da frente e entrou, subindo as escadas rapidamente. Hermione tremia de frio quando fechou a porta atrás de si. Abraçava o corpo e alisava os braços, numa tentativa inútil de conseguir se aquecer.

Sentou-se no pequeno sofá da sala e se encolheu em um canto. Suas pernas eram incapazes de galgar as escadas até o andar de cima e tomar um banho quente.

Ouviu o estalo já conhecido e não se surpreendeu ao ver Pinklink em sua frente.

— Venha, senhorita — pediu a elfo pacientemente. Hermione se levantou lentamente e caminhou com a ajuda de Pink até o primeiro andar. Quando chegou à porta de seu quarto e ameaçou tocar a maçaneta para abri-a, a elfo desviou-a de seu caminhou, a arrastando pelo corredor. — Eu preparei seu banho. Venha por aqui. — Hermione a seguiu sem questionar.

Ao entrar por uma das portas do corredor que ainda não havia explorado, Hermione abriu a boca. O banheiro era extremamente limpo e iluminado. Uma enorme banheira, que caberia três dela, estava posta em um canto, com água e espuma esbanjando. Em outro canto, havia uma torre de toalhas e roupões pendurados e uma pia comprida. Por um momento se esqueceu de onde estava. Como poderia existir aquilo em lugar como aquele?

Pink a guiou até a banheira e fez Hermione se despir. Quando passou uma das pernas pela banheira, uma onda quente passou por suas pernas. Afundou-se na água. Seu corpo se aqueceu e sentiu-se feliz momentaneamente.

Sorriu.

— Pink deixará roupas para você. — informou a elfo antes de sumir.

Hermione respirou fundo e encarou o teto, decidida a não sair dali tão cedo.



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