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História Spiritus Sanctus - Capítulo Único


Escrita por: eithelx

Notas do Autor


[ NÃO REVISADO ]

Desculpa gente... Tá confuso, eu sei.

Capítulo 1 - Capítulo Único


 

O guarda-chuva fechado, passos contra o chão molhado e gotas que caem contra seus ombros. O endereço é certo, não há erros. Rua Direita, 12. Diz o papel amassado em suas mãos ainda cobertas por grossas luvas de couro, caras demais para um padre qualquer. Yixing não era um padre qualquer. O relógio de prata em seu punho, marcava a hora precisa. Dez da noite, e agora, alguns segundos a mais.

Toca a campainha três vezes, apoiado em seu guarda-chuva de pano negro e detalhes prateados como o brilho em seu olhar. Podia ouvir o suave tocar do piano dentro da casa cujas luzes exteriores ainda estavam acesas, mas todas as de dentro pareciam apagadas. Yixing detestava esperar, seja o tempo que fosse, atrás de uma porta, em uma noite chuvosa como aquela, enquanto ratos se afogavam nos córregos imundos junto ao meio-fio.

 

 

Havia vindo de longe, não tanto, mas, mesmo assim, longe. De uma cidade pequena, onde casos estranhos acumulavam-se; Suicídios coletivos, gargantas cortadas, corpos no rio, círculos de sal e pétalas espalhadas pelo chão. Até que o anjo da floresta nasceu, cresceu e fora tocado por Deus. Escolhido em sua vocação divina, para salvar almas enfermas. Yixing expulsava o mal do corpo físico, daqueles que por sua ajuda clamassem.

Tido como santo, mas não passava de um homem, forçado a seu destino, de expurgar as almas doentes que pela terra de homens circulavam.

 

 

–Padre Zhang? –A mulher que abrira a porta, após destrancar tantas diferentes trancas, olhava pela fresta negra para o rosto do religioso, que sorriu delicadamente. Com calma, mas claro receio abriu a porta branca. Em seu colo, sobre os seios um crucifixo de madeira bruta, roupas que cobriam todo o corpo, do pescoço aos tornozelos. –Seja bem-vindo, por favor, fale baixo. Ele não gosta de barulho.

 

Yixing não tinha dúvidas, de quem a mulher referia-se. Entretanto o que ela não sabia, era que aquela informação montava-se na mente de Yixing, com o que já sabia sobre o caso a ser tratado.

Aqueles cujo som repudiam, são tão mais perigosos, os que habitam o silêncio e no eco dele propagam suas risadas funestas. Entretanto, ainda tocava o piano, uma melodia tão suave quanto a chuva que caía e a brisa que a carregava. Barulho não era sinônimo de música, o que o instrumento tocava era harmonia.

 

A mulher, claramente jovem, talvez jovem demais para ser mãe, de ancas largas e passos lentos, guiou-o escadas acima. A família que naquela casa residia não era pobre, fazia questão de deixar claro pela quantidade de itens caros espalhados pelas paredes da casa.

Um lance de escadas, do lado direito da casa, por um corredor escuro até a última porta. No chão, Yixing podia sentir os grãos de sal que o vento empurrava, era um procedimento comum.

 

–Por favor, ajude meu filho. –A mulher disse, ao aproximarem-se da porta. Para a não tão grande surpresa de Yixing, ela era mesmo a mãe daquele que estava ali para ajudar. Debaixo da porta, uma linha de sal desenhada, o que segurava a criatura dentro de seu aposento. Cheiro de rosas e sangue, já entrava pelo sistema de Yixing, com o tempo havia aprendido a amar aquele cheiro.

 

–Não lhe posso prometer que ele vá sair desta experiência como antes. –O padre admitiu, tirando dos bolsos de seu terno um punhado de moedas de prata, que segurava em sua mão esquerda. –Nem mesmo que ele não vá escapar. –Continuou, virando seu rosto para a mulher que segurava a cruz contra seu peito. –Então recomendo que deixe esta casa imediatamente, se não deseja ter teu corpo corrompido e alma, tomada pelas chamas.

 

 

A mulher ouviu o padre, sem expressar qualquer emoção, apenas segurava sua cruz com força e esperava que o clérigo entrasse no quarto de onde a melodia vinha. O piano dedilhado, que servia como a flauta que encantava hordas de ratos que sob seu comando dizimariam cidades. Yixing sentia-se atraído, mas não seduzido, por aquela música.

Esperou que a mulher se afastasse, que pudesse ouvir seus passos escadas abaixo, para então tocar a maçaneta de metal moldado em formas rústicas. Podia senti-lo quente contra a palma de sua mão, mas não queimava. Não ardia, como o demônio havia de esperar e querer.

 

 

Abriu a porta com calma, ainda respeitando o silêncio que ele procurava e pretendia. Os cristais de sal no chão estalavam contra seus sapatos de couro genuíno.

Conhecimento popular faz com que a maioria acredite, que seres como aquele não sintam-se bem em ambientes com luz. Entretanto anos de experiência mostraram ao padre que luz, não é nada além de um estado físico. Não precisavam de sombras para trabalharem em seus feitos, nem precisavam esconder sua presença.

 

Tolo é aquele que tão veemente acredita, que demônios apenas trabalham pela escuridão e dela através. Sabem os sábios, que pela luz, caminham tão livremente como um outro qualquer.

 

O quarto bem iluminado não escondia nada, e nada precisava ser escondido. Além das pétalas no chão e sal espalhado ao redor da cama. Janelas bem trancadas, mas vidros que tão facilmente poderiam ser quebrados. Ele não estava preso naquele quarto por magia, ou por prisões físicas. Tão facilmente poderia sair, como haveria entrado.

 

–Ah, você está aqui... –Disse o rapaz, sentado ao piano, com dedos que não paravam de dedilhá-lo sutilmente. Suas roupas negras escondiam quase toda a pele.

Yixing aproximou-se sem pressa, deixando a porta atrás de si fechada. O demônio deixava claro por seu isolamento, que não gostaria de ser incomodado, mas a presença do padre era bem questa.

 

Caminhou sem medo, mas com leve cautela, até o lado do rapaz. Observou seus pés descalços, cobertos por cortes e sangue seco, bem também como as mãos. As teclas do piano manchadas em rubro, do sangue velho e sangue novo. Eram o contraste perfeito, tudo no quarto estava limpo, menos as teclas que insistia a dedilhar incessantemente.

 

Algo latejava na mente de Yixing, uma ideia longínqua, que formava-se. Não era a influência da criatura que possuía o corpo daquele jovem, mas sim algo além. Era a voz que dizia sempre em sua mente, o que fazer, como lidar. Sua voz, em eco distante, a consciência das experiências de sua vida.

 

–Ele gosta desta música. –O rapaz disse, virando seu rosto de lado para o padre, que então foi capaz de analisar a pele dele de tão perto. Pequenos cortes nas bochechas, unhas provavelmente, arranharam seu rosto. Olhos cansados, olheiras profundas, lábios rachados, nos cantos da boca sangue seco como o que acumulava-se nas cutículas e entre os dedos das mãos.

 

Podia ver no pescoço, além de cortes, as veias proeminentes, arroxeadas. Era típico, de um corpo que teria passado por forte descarga elétrica, ter aquele tipo de corte entre os dedos e veias saltadas.

 

–Quem é, ele? –Yixing ousou perguntar, dando meio passo para frente, testando seu território ao redor daquele e da criatura que o tomava para si.

 

–Ele sou eu. –Respondeu, com olhos avermelhados focados nos do padre. –E eu sou ele. –Completou, espalmando a mão contra o piano, em uma nota distorcida que não assustou o padre.

 

Yixing deu mais um passo para frente, sob o olhar atento daquele sentado ao piano. E mais outro. E um último, até que o banco fosse arrastado para trás, e o corpo do jovem estivesse de pé. Até que por suas feridas voltasse a escorrer sangue, e seus olhos revirassem para trás, enquanto o pescoço estalava, jogando a cabeça pesada para o lado direito.

Um passo para trás do clérigo, fora o suficiente para que ele retornasse a seu estado catatônico. Com braços relaxados aos lados do corpo e rosto ainda virado discretamente para o lado, lá estava ele a encarar Yixing mais uma vez, com seus olhos negros como a noite, e veias que saltavam a pele.

 

–Kyungsoo é o nome que procura. –Vociferou com os lábios machucados, mas sua voz ecoava, repetia-se afrente dela mesma. Falava por dois, ou muito mais. O jovem relaxou aos poucos, ossos estalando de volta a seus lugares originais, e sangue que não mais corria, mas que não voltava também para dentro do corpo.

Sentou-se ao piano mais uma vez, dedos calmamente dedilhando as notas, corpo balançando com a melodia suave que Yixing desconhecia.

 

 

O padre sentou-se a beira da cama, retirando do bolso das calças um pequeno livro de capa preta. Com cotovelos apoiados nos joelhos, segurava o livro frechado com as duas mãos, sentindo o couro natural contra as almofadas de seus dedos. Podia dali sentir o sofrimento do animal que havia morrido para fazê-lo, sofrimento que o alimentava, que o incitava a continuar.

 

–Importa-se se recitar alguns versos? –Yixing murmurou, e Kyungsoo parou imediatamente a música que tocava, seu rosto ligeiramente virado para o lado, uma indicação para que o outro fizesse o pedido.

 

–Podes, entretanto se pensa que mensagens da bíblia irão salvar-me, te enganas de quem sou. –Kyungsoo, voltou a falar, voz calma, sem eco. Apenas a voz do jovem ao piano.

 

Yixing sorriu delicadamente, antes de abrir o livro em suas mãos, escolhendo uma página especialmente marcada por um pequeno ramo de arruda seca.

Abre a mente ao que eu te revelo

e retém bem o que eu te digo, pois não é ciência

ouvir sem reter o que se escuta.

 

 

–Dante? –O rapaz murmurou, assim que o padre havia parado de ler, fazendo-o fechar o livro mais uma vez, e deixá-lo sobre a cama.

 

Yixing levantou-se, uma das mãos dentro do bolso das calças, olhos fixados nos de Kyungsoo que levantava-se tão lentamente, cujos ossos estalavam, feridas sangravam e músculos retorciam.

 

–O que fazes neste plano? –Perguntou ao padre, o rapaz tão perto dele que o olhava com olhos que choravam sangue, podia sentir a respiração putrefata do hospedeiro, a forma como suas pupilas sacudiam, e o sorriso vermelho de dentes afiados como facas abria-se entre tão belos lábios.

 

–Vim levar-te para casa. –Yixing disse com seu sorriso doce, inocente, como as águas da cidade onde havia nascido, como o a chuva que ainda caia o lado de fora. Levou sua mão calma ao ombro daquele a sua frente, segurando-o delicadamente, o toque que marcava a pele com ardor.

 

–Estou em casa. –O rapaz voltou a falar em linhas retorcidas, rangendo os dentes afiados, estalando os ombros para longe do toque quente do padre.

 

–Vamos, doce Kyungsoo, de volta ao inferno. Não tenha medo de vir comigo. –A mão estendida entre os dois, com sua palma para cima, mostrava as veias por onde o sangue negro passava, as chagas abertas que borbulhavam o lodo que corria por seu corpo.

 

Insistir era inútil, ao olhar completamente negro de Yixing. Seu corpo que pairava com toda a superioridade, sobre o seu. Era inútil, sempre era inútil. Nenhum demônio era capaz de fugir do olhar negro, dos dentes ensanguentados, do sorriso inocente daquele que o havia criado.

 

Yixing tocava com a mão esquerda o rosto de Kyungsoo, espalhando pela tez pálida, seu próprio sangue podre, misturando-se com o do jovem cujo corpo havia sido apossado por um de seus filhos. Tão teimosos eram eles, escaparem pelas frestas do inferno, causarem terror às almas não preparadas, para verem horrores como tais.

 

–Descanse meu pequeno. –O padre murmurou como uma prece, enquanto os olhos de Kyungsoo tornavam-se mais pesados, e seu corpo padecia ao toque do criador. –Vamos para casa. –Tornou a falar, segurando o corpo frágil contra o seu. Olhava para ele, que deitado em seus braços mais parecia um anjo. –Horrível. –Riu entre os dentes ao compará-lo a algo que tanto detestava, que fora um dia.

 

Em seus braços carregado o jovem demônio, de volta à sua casa. O corpo dissipar-se-ia nas chamas que lentamente consumiam a casa. O padre levava apenas consigo a alma, para que esta pudesse então voltar a arder no inferno, de onde jamais deveria ter saído.

 

Tantos são os que tentam, espalhar o caos com as próprias mãos. Porém, nenhum deles conseguia escapar do criador, nenhum deles escapava de Yixing, nenhum deles escapava de Lúcifer.


Notas Finais


Tá esquisito? Se estiver muito ruim me avisem que eu apago, queimo isso sei lá...

Fiquei de postar isso no EXOWeen, então aqui está. Na marca final HEUAHE

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