Já havia passado uma semana no hospital e estava me recuperando com sucesso. Todos os dias eu tinha uma rotina a seguir. Pela manhã Théo vinha mamar e ficávamos juntos enquanto eu tomava café. Os enfermeiros e as pessoas eram muito atenciosas comigo o que me fazia me sentir bem naquele lugar. Comecei a ter contato com outras mães e elas me contavam experiências tão ruins quanto as minhas. Estava conversando com Vivian, uma amiga que fiz na sala de maternidade, e medico entrou.
- Bom dia senhorita Bitencourt, como se sente? – o doutor Ricardo, sempre simpático, me perguntou.
- Estou me sentindo bem.
- Que bom ouvir isso, porque tenho boas novas para lhe dar... Amanhã a senhorita terá alta.
Fiquei feliz, porem ansiosa. Eu era nova na cidade, não sabia para onde iria. O médico notou minha preocupação e tocou meu ombro.
- Está sentindo algo senhorita Júlia?
- Nada demais. Só estou espantada pela notícia.
- Espantada?
- Sim, posso falar em particular com o senhor? – ele assentiu e nos afastamos de Vivian.
- Doutor Ricardo, não sei para onde irei assim que receber alta.- Ele pareceu pensar um pouco e me disse:
- Quer falar com o casal responsável por você? Posso chamá-los para que possam conversar!
- Sim, ficaria muito grata. - me sentei na cama.
Bárbara e Marcos entraram pouco tempo depois. Eles estavam sendo anjos da guarda na minha vida. Pagaram minha estadia e ainda me visitavam com frequência. Nos aproximamos muito durante meu período no hospital e eles mimavam muito Théo.
- Júlia querida - Barbara me abraçou - soube que queria falar conosco? - Eles se sentaram na minha frente, respirei fundo tentando buscar formas de iniciar o assunto.
- Eu sei que tem sido as melhores pessoas do mundo e sou imensamente grata pelos cuidados de vocês. Mas tem um problema... - Eles me olhavam atentos. - Não tenho para onde ir e queria saber se vocês podiam me ajudar?
- Mas é claro querida, porque não disse antes?! Eu e marcos moramos em um prédio no centro. Temos um café em baixo onde você pode trabalhar é um quarto onde o nosso princípe pode ficar - ela acariciou Théo e eu quase chorei de emoção. Num impulso abracei os dois.
- Muito obrigada. Não sei como agradecer. Que Deus os recompense.
- Não é nada, ficaremos felizes em tê-la conosco. Amanhã passaremos aqui para buscá-la, arrume suas coisas.
- sim senhora- sorri animada.
Passei o resto do dia arrumando minhas coisas, as poucas roupas que recebi de Barbara, mais umas medicações e as coisas de Théo. Como será a casa deles? O dia seguinte Marcos foi assinar minha saída enquanto Barbara me ajudava a carregar a bagagem, por conta dos pontos que ainda estavam costurados.
- Barbara, você tem sido a mãe que nunca tive!
- Júlia eu nunca lhe perguntei, mas agora quero saber. Como veio parar aqui?
- No caminho lhe contarei tudo! - minhas coisas foram guardadas no fundo do carro e Barbara me ajudou a entrar na parte de tras, enquanto ela ia com meu pequeno na frente.
- Então querida, me conte... De onde é e porque veio parar aqui?
- Bem, minha história e meio complicada. Eu nasci na cidade de Copabacana , sou filha única de pais da alta sociedade do Rio, Théo é fruto de um relacionamento conturbado com meu namorado. Ontem eu estava na festa de reveillon e esse meu namorado acabou me traindo. O que fez com eu tomasse a decisão de ir embora - Barbara ouvia calada, mas pelo retrovisor.
- -Não se preocupe querida. Vamos cuidar de tudo a seu respeito. Não ficará desamparada. A partir de hoje seremos seus pais adotivos. - Sorri.
Paramos em frente ao prédio que Barbara havia falado. Era um prédio muito bonito, é o café tinha uma decoração refinada. Humilde, porém, bem arrumado. Subimos as escadas devagar, pois cada lugar da minha barriga doía. A escada nos levou a um apartamento, Marcos colocou as malas no chão e pegou as chaves para abrir a porta.
- Chegamos Júlia, espero que goste, não é nada como você vivia, mas dá pra morar.
Assim a porta foi aberta me deparei com um rapaz largado no sofá, ele dormia com a televisão ligada.
- Mas esse menino só faz dormir, o café aberto e ele aqui. Marcos, acorde-o! - Marcos se aproximou e desligou a tv o que fez com o rapaz acordasse.
- Qual é pai. Agora não posso mais dormir? – o rapaz respondeu mau humorado.
- Não quando o café precisa de você, Victor! – Marcos jogou a almofada na cara do rapaz que bufou.
o Tal Victor levantou, ajeitou a roupa de cara fechada. Enquanto ele passava por mim notei como ele era bonito. Tinha olhos claros como a mãe e cabelos escuros como o pai. Porém um personalidade que não parecia com nenhum dos dois.
- quem é essa garota? – Ele me analisou de cima a baixo e eu o encarei nada contente.
- Victor, essa é Julia, ela ficará morando conosco até se reestabelecer. Ela é nova na cidade.
- Não vai querer que eu de um de baba não é? – Barbara ficou sem graça ao me olhar. Em outros tempos ele ouviria umas verdades, mas preferi me calar. Seja lá quem ele seja não fui com a cara dele.
- Não ligue para ele querida, ele sempre fica assim, parece que não está feliz nunca.
- Tudo bem, não ligo - sorri para disfarçar o constrangimento.
- Venha, vou lhe mostrar seu quarto!
A casa era incrível, era toda mobiliada com móveis de madeira e uma decoração rústica, tinha uma escada que dava para o andar de cima, Barbara abriu uma porta no andar de baixo e me mostrou o meu quarto
- Então gostou? - o quarto era lindo, tinha uma cama forrada de colcha grossa e um guarda roupa de solteiro, um espelho e uma escrivaninha.
- Adorei – falei encantada com os detalhes. Marcos colocou minhas coisas na cama.
- que bom meu anjo, vamos colocar o pequeno Théo no seu bercinho porque ele parece estar no decimo sono – ri e ela me guiou até o quarto de Théo. - O Quarto era decorado com coisas em azul e branco e na parede tinha desenho de ursinhos.
- Aqui meu bem, as roupas dele já estão dobradas e arrumadas e temos uma empregada que tomara conta dele enquanto você trabalhar.
- Barbara assim você me deixa sem palavras, preparou tudo isso para mim, e não digo que não gostei, mas porque?
- Ah Julia, diria que você é a filha que não tive...
- Desculpe a intromissão, mas aquele rapaz é seu único filho? – Ela ficou pensativa por uns segundos.
- Conversamos sobre isso depois. Venha comigo. - Deixei Théo no berço dormindo e Barbara me levou até a cozinha.
- Julia, esta é a Rosa, nossa empregada e agora Baba do Théo – Uma senhora baixinha tocou minha mão. Ela aparentava ser só um pouco mais velha que Barbara e ser muito amável.
- é um prazer conhece-la. – Rosa sorriu.
- Então Júlia, está com fome? Preparei um bolo agora! - ela me perguntou limpando as mãos no pano de prato.
- Estou, obrigada – me sentei junto com Barbara e Rosa nos serviu bolo. Depois da refeição Babara me mostrou os outros cômodos da casa. Estávamos na sala quando meus olhos bateram no retrato de uma garota.
- Quem é esta? - apontei o retrato.
- É a irmã do Victor, Evelyn.
- Ela é muito bonita, cadê ela?
Ah, Evelyn não mora aqui... foi embora quando tinha sua idade. Ela era complicada, tinha um temperamento forte adorava uma liberdade. - Fiquei calada, preferi não prolongar o assunto, parecia que isso a machucava. Pela tarde dei mama a Théo. Ele dormia na minha cama quando alguém invadiu o quarto.
- Oi – Era Victor. acenei sem graça e ele me encarou torto.
- Oi e o caramba, o que você tá fazendo no meu quarto?
- É-eu estou aqui... - ele deu dois passos à frente me intimidando.
- O que é isso aqui? Será possível que... - Antes que ele falasse barbara entrou no quarto.
- Victor, qual o problema?
- Eu que pergunto, porque colocaram essa garota aqui?– Ele gritou.
- Porque pensei que aqui seria mais seguro para ela filho, eu não achei que se incomodaria!
- Não devia ter feito isso mãe, não devia! - Ele saiu bruto e bateu à porta com força o que fez Théo acordar e chorar.
- Me perdoe por esta cena Julia, Victor não vai mais te incomodar! – Seu rosto mostrava o quanto ela estava envergonhada.
- Não Barbara, não quero problemas com seu filho, eu posso trocar de quarto?
- Nada disso, Me deixe resolver! - ela saiu atrás dele.
Acalmei os ânimos de Théo e o fiz dormir novamente. Acabei pegando no sono e acordei umas 18:00 horas. Na hora do jantar. Tomei um banho com a confusão de mais cedo em mente. Qual é o problema daquele cara comigo? Eu mal cheguei e ele me trata como se eu fosse uma qualquer sem nem me conhecer.
- Tome querida, experimente esse molho, fica divino na salada.
- Já comi de tudo, mas esse é molho realmente divino!
- Sabe querida, você não se parece com pessoas ricas. É tão humilde.
- Sempre me senti diferente da minha família. - Ela sorriu e eu me servi de outras coisas que tinha na mesa. Depois de algum tempo Barbara e Marcos anunciaram que iriam para o quarto.
- Júlia, nós vamos subir, quer que levemos você até o quarto?
- Não obrigada, boa noite! - sorri.
Barbara passou a mão na minha cabeça e subiram. Limpei a boca e recolhi meu prato colocando na pia, quando estava prestes a subir Victor entrou cheirando a cachaça.
- Olha só quem esta aqui nos presentear com o ar da sua graça! – ele mal conseguiu pronunciar tudo sem cambalear. Ignorei seu comentário e me dirigi ao quarto, porem senti ele puxar meu braço.
- Me solta Victor! –Tentei puxar de volta em vão.
Não! Você vai me ouvir – Ele me encarou como um predador encara sua presa.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.