Mais um dia de trabalho que terminaria só a meia noite, e pra piorar o inverno tinha acabado de chegar e trouxe com ele muita neve.
Não que eu odeio meu trabalho, adoro trabalhar cuidando de mídias, notícias, agendas, eu nasci pra isso. Só me cansa ter que acordar todo dia às cinco da manhã sendo que só vou dormi lá pras duas...
E apesar de ser um trabalho maravilhoso infelizmente é um ninho de cobras, com pessoas falsas e vazias. Claro, tem você, e ver seu rosto todo dia já faz o dia valer a pena.
Eu nem sei quando comecei a sentir isso por você, na verdade eu acho que me encantei por ti no momento que te conheci, mas isso é o que você faz, é seu trabalho, você encanta as pessoas, com suas expressões, voz, sorrisos... E eu sou apenas a garota atrás das câmeras.
Mas não nego, já rezei para que você não estivesse apaixonado por ninguém. E confesso que todas as noites que você queria fugir só para conversar e pensar um pouco foram tão especiais pra mim. Claro, é meu serviço cuidar de você, mas eu faria tudo isso mesmo se não fosse. Foi importante ver que você precisou de mim em assuntos não-profissionais.
Também confesso que na verdade aquele chocolate do dia de São Valentim, o que chegou atrasado... E você me perguntou quem trouxe, e eu só respondi “Sei lá, estava na porta, deve ser de uma fã”... Na verdade eram meus... E você sorriu como se soubesse, mas no dia seguinte agiu normalmente... Eu rezo para que você saiba e descubra e me fale, me conte, me conteste, porque eu sei que não tenho coragem de deixar certas palavras escaparem... Mas ao mesmo tempo tenho a plena certeza que você nunca vai perceber, porque não fomos feitos para ficar juntos.
- Você parece tão pra baixo. ANIME –SE
Era Hanna, a menina nova, foi contratada para me ajudar com suas coisas porque a cada dia mais e mais pessoas se apaixonam pelo seu trabalho, e eu acho isso maravilhoso. Ver você crescendo assim. É gratificante saber que faço parte disso.
- Estou apenas... Pensativa.
- Em quem estava pensando? Ah deixa pra lá... Mas se te faz mal, não pense. Se quiser posso dar uma surra nele.
Hanna é uma menina alegre, é jovem, fofinha, e obviamente não sabe lutar. Ela foi a fundadora de um dos seus primeiros fã clubes e foi por isso que a escolhemos. É bom ter pessoas assim na equipe. Principalmente porque ela batalhou por tudo isso exatamente para estar ao seu lado. E eu obviamente já pensei em vocês juntos. E como se encaixavam perfeitamente. E mesmo em como abriria mão de todo este sentimento para que ficassem juntos...
É obvio que ela gosta de você, ela não esconde isso de ninguém, mas também não grita aos quatro ventos é apenas algo que é visível. A forma como ela praticamente dança ao seu redor, e até mesmo a forma como você sorri pra isso.
E quer saber, eu também assumo que na verdade eu vou dormi as duas horas da manhã por ficar pensando em quem você ama... E se ama alguém... E quem você amaria?
Sabe por que eu abriria mão de você, mesmo tendo gostado de você por anos? Pois no dia que você me abraçou forte, e não me soltou, e falava “minha garota”,e obviamente mexeu com todos os meus sentimentos... Eu a peguei chorando no banheiro, e quando perguntei o que houve, ela só conseguiu perguntar se era real, se estávamos juntos, se você gostava de mim e eu de você. E vê-la daquela forma no chão, chorando, partiu meu coração mais do que todas as vezes que eu achei que você sentia algo por mim. Eu a tinha machucado apenas por ter te abraçado. E eu me senti horrível por isso. E prometi que não a machucaria de novo.
Mesmo que você insistisse em deixar presentes, ou ficar me puxando e querendo conversar as três da manhã... Mesmo que eu adorasse ouvir sua voz me dizendo “Me desculpa, você ficou conversando comigo a noite toda de novo. Me desculpe, eu só queria conversar com você. Por favor, descanse amanhã. Odiaria te ver cansada”... Mesmo que você contestasse o por que de eu querer que você também dêsse presentes a Hanna... Mesmo que eu adore estar nos seus braços...
Eu abriria mão de tudo, pois não conseguiria viver sabendo que machuquei alguém.
- Ah, eu queria tanto ter um tempo a sós com ele hoje... É o primeiro dia de neve... Você sabe o que falam sobre esses dias não é mesmo?
Estava arrumando minhas coisas para ir embora, só queria dormir. Desde que estava ignorando ele, e todas suas coisas, afim de que ele e Hanna pudessem ter algo, dormir era a única coisa que me impedia de pensar em certas coisas.
- Por que não o chama? Ah, ele esta vindo ai, sua chance...
- Por que está ignorando minhas mensagens? Sou tão chato assim? Venha, agora também você é obrigada a andar comigo no primeiro dia de neve.
Ele foi me puxando pelo braço e eu só pude observar a cara de choque que Hanna fazia, então fiz o que devia ser feito.
- Hanna, venha conosco.
- Hein?Mas...
- Ela tem algo importante para contar... – O encarei.
- Okay, Hanna, venha conosco. Ela não vai se você não for...
- Ah, claro, vou sim.
Amém, ela estava sorrindo de novo.
Fomos os três andando, pegamos o caminho mais longo para minha casa, obviamente eu deixei Hanna no meio, e ele sempre tentava tirá-la de lá. E eu apenas rezava para que ele deixasse as coisas como estavam.
Então de tanto pensar, fiz minha decisão.
Passei o caminho todo falando sobre Hanna, enaltecendo-a, e seu trabalho, e o quanto ele era sortuda por tê-la na equipe. Falei de coisas que ambos gostavam em comum e deixei que seguissem o caminho todo conversando sobre.
Você sabe que só quero te ver feliz, e se tiver que ser assim, eu não me importo. Pode doer, mas vai passar um dia.
- Bom, minha rua já é ali... Tenho uma ideia, porque não leva Hanna pra casa, é tarde, e tenho certeza que ela tem algo muito importante para te contar.
Pisquei para ela. Era o primeiro dia de neve. Era o dia perfeito para se declarar, para dizer todos os sentimentos. Ela conseguiria, eu sei, ela viveu por este momento, e eu estava feliz por ela.
- Tem certeza? Eu posso te levar em casa...
- Não, está tudo bem.
Ele se aproximou.
- Mas eu queria conversar com... Você – ele sussurrou e eu apenas pude sorrir.
- Seja o que for, você é forte o suficiente para resolver sozinho... Agora vai. Boa noite.
Peguei meu caminho sozinha enquanto os dois pombinhos foram juntos. Eu imagino que a esta hora as bochechas dela estejam vermelhas e tentando de alguma forma soltar as palavras engasgadas na garganta, tudo obviamente, de uma maneira fofa. E ele riria eu acho, ia perguntar se aconteceu algo?
Ela se declararia, e você aceitaria... Até porque não existe razão para você negar. Ela é linda, engraçada, fofa, esta sempre impecável, te ama.
Não que eu também não sinta o mesmo.
De repente mesmo estando no frio, sozinha, eu sentia meu rosto quente. Eram as lágrimas e logo em seguida veio o choro alto. Eu me sentei num banco que tinha na esquina, tentei tampar minha boca para me impedir de acordar os vizinhos.Talvez não tenha adiantado.
Que droga, eu sinto tanta a sua falta. Eu quero torcer por ela, mas ao mesmo tempo quero torcer para que você diga Não. Eu sou uma pessoa horrível. Eu segurei todas as minhas palavras desde o momento que te vi. Por vezes deixava um “Você é importante para mim” escapar. Mas era só. Eu não teria coragem de dizer mais do que isso. E agora seria impossível de qualquer forma.
Eu só quero que você seja feliz e viva bem. Minha cabeça vai ecoar o seu nome por mais uns dias, até que eu entenda que tudo teve um fim. Na verdade, nunca nem teve um começo.
- Se era para chorar aqui sozinha... Podia ao menos ter me avisado... Ou algo do gênero... Dado uma pista... Se estava tendo dificuldade com alguma coisa, podia ter respondido minhas mensagens, pedido minha ajuda... Você prometeu que se apoiaria em mim como eu faço com você...
É claro que eu conheço essa voz, mas não tive coragem de levantar o rosto. Estava envergonhada, não queria que ele me visse daquele jeito...
- Por que está aqui? Você deveria estar com Hanna agora e...
- Ela está em casa... Está bem eu acho, ou vai ficar...
- O que você fez?
- O que eu tinha que fazer. Por que esta chorando?
- Me diz, o que você fez, o que você disse pra ela.
Eu me levantei bruscamente, esqueci das lágrimas, esqueci de mim por um minuto.
- Por que está aqui? Chorando sozinha? O que aconteceu? – Ele segurou meu rosto e limpou minha lágrimas com seus polegares.
- N-nada, eu olhei para baixo.
Ele levantou meu rosto, me olhou por uns segundos, depois me abraçou forte.
- Pode chorar, estou aqui. Eu vou te dar apoio, vou ser seu pilar como você sempre faz comigo. Por favor, me deixe cuidar de você da mesma maneira que faz comigo. Conte comigo. Estou aqui. Não se preocupe.
Meu cérebro não precisou raciocinar, não precisou de um segundo para pensar no que fazer.Ele só agiu. Eu retribui o abraço, e cedi, deixei as lágrimas caírem. Não me importei se os vizinhos ouviriam, nem mesmo me importei se molharia o casaco dele.
Eu me importava que ele estava ali, por um pequeno período de tempo. Talvez ele não esteja para sempre. Mas hoje ele está, e isso importa. É assim que tenho que pensar certo?!
Você vai me deixar um dia, mas hoje não, hoje você decidiu ficar. Obrigado.
Quando me acalmei, ele me soltou, secou as lágrimas novamente, sorriu, e me puxou para trás do banco onde tinha uma cerca que dava vista para um rio, ficamos encostados lá por um tempo, olhando a paisagem, ou apenas se olhando.
- A quanto tempo você sabe?
- Sobre o que?
- Os sentimentos da Hanna... Está na cara que você sabia, não ficaria me jogando pra cima dela se não soubesse...
- Desde que ela entrou na empresa... A forma como ela te olhou, e como as bochechas ficavam vermelhas quando você sorria pra ela... Tudo... Era extremamente visível...
- E por que fez isso? Por que parou de receber meus presentes, de responder minhas mensagens, de me recusar... Foi em prol dela?
- Foi...
- Ela te pediu?
- Não... Eu fiz por que eu quis... Por que você disse Não?
- Como sabe que a rejeitei?
- Não estaria aqui se não tivesse...
- Eu vim porque estava preocupado, o caminho todo ela falou de tantas coisas e eu não conseguia prestar atenção em nada, só sabia pensar se você estava bem, se eu deveria voltar, se eu tinha feito algo errado... Eu não exatamente disse não... Ela percebeu que eu olhava tanto para trás que comentou que eu deveria voltar e te ver... Ela disse que precisava falar logo... Infelizmente ela começou a chorar... Ela disse sim seus sentimentos por mim, mas que já havia percebido que eu não corresponderia... Pedi desculpa, mas ela disse que não precisava, me fez prometer que assim que chegássemos na casa dela, iriamos fingir que isto não tinha acontecido e eu voltaria para ver como você estava... Ela é uma boa pessoa... Não consigo imaginar quantas meninas fariam isso... Seriam fortes assim... Na verdade você também é forte... O único fraco sou eu... Eu também sabia dos sentimentos dela, você tem razão eram nítidos, mas eu não tive coragem de rejeitá-los, por isso aumentei as coisas que fazia pra você e por você, esperava que isso fizesse diminuir, mas ai você começou a me rejeitar, e eu acho que fiquei perdido... Mas mesmo entendendo que ela seja sua amiga, ou algo do tipo, por que você fez isso... ?
- Por que ela gostava de você.
- E os meus sentimentos não contam? Eu deveria ficar com ela mesmo que não a correspondesse?
- Pensei que aprenderia a amá-la...
- Não se aprende a amar alguém... Ou você ama ou não... E no meu caso, eu não a amo. E realmente me machuca como você não pensou em como me sentiria com isso.
- Me desculpe.
- Me pergunte como eu me sinto.
- ... Como você se sente?
- Confuso, perdido, não sei o que fazer. Sei o que devo, mas não tenho certeza se posso. Arriscaria tudo por isso, mas ao mesmo tempo tenho medo de ser em vão... Agora me pergunte por que não posso corresponder aos sentimentos dela.
- Por que vo...
Não consegui terminar minha frase, ele estava na minha frente e no segundo seguinte estava inclinado, com sua cabeça encostada no meu ombro, ele olhava para o chão e mexia suas mãos dentro do bolso do seu casaco.
- Porque eu gosto de você. Estes são os meus sentimentos. Sempre foram. E aparentemente sempre serão. Desde o dia que você atravessou o corredor no seu primeiro dia de trabalho. Desde o dia que você me encontrou fugindo pela janela e resolveu se juntar a mim na minha caminhada porque “seria mais seguro se eu estivesse com você”. Desde o dia que você cuidou de mim, e eu retribui como pude. Não sabia o que fazer então te enchi de presentes. Te abraçava constantemente porque meu corpo não queria ficar longe de você. Mas como você diz pra sua empresária que está apaixonado por ela? Que quer passar a noite com ela, sem que isso pareça algum tipo de abuso sexual. – Ele riu alto – Eu nunca disse isso em voz alta, mas ao ver você se afastar de mim de tal forma, e me empurrar pra outra pessoa, me machucou tanto que eu só pude pensar em como eu brigaria com você até o sol aparecer para que você entendesse que eu quero você e não outra pessoa... Então por favor, me ame dez, vinte, cem anos, e todos os trezentos e sessenta e cinco dias de todos estes anos. E fique do meu lado para sempre. Mesmo que eu faça algo errado. Mesmo que eu diga algo em publico que eu não possa dizer, mesmo que eu faça uma cagada muito grande, me bata, mas não saia do meu lado. Eu sinto tanta a sua falta quando você não está comigo. Então não me deixe, porque eu sei a fama desaparecerá um dia, e todo o meu dinheiro vai ser gasto em alguma loja de café e pão de queijo, e todas essas pessoas que estão ao meu redor e me procuram, um dia elas vão me deixar também. Então por favor, me prometa que você vai ficar... Para sempre.
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