História Stay - Not spring, Love, or Cherry Blossoms

Eu ainda lembro do nosso primeiro encontro, e como você me beijou dentro do carro quando estávamos voltando para casa. Eu lembro das nossas conversas, e como cozinhávamos juntos. Das brincadeiras e risos. Eu lembro de tudo isso. É uma pena que tenhamos acabado. E a culpa não é sua, não quero que se culpe por isso. Eu só... Eu acho que não aguentava  toda essa pressão em cima de mim, e eu sei que na contar sobre nós foi uma escolha minha pois eu não queria atrapalhar na sua carreira, e também eu acho que não estava pronta para assumir esse relacionamento tão abertamente assim... Eu que te devo desculpas, minha cabeça se perdeu, e eu também. E você entendeu o que eu senti, entendeu minha decisão e a respeitou, pediu apenas para que eu não me distanciasse, e infelizmente eu fiz isso também. É que não aguentava  a maneira como você era tão gentil, quer dizer você sempre foi. Bastava apenas um sorriso seu para que quisesse me jogar nos seus braços e dizer “É isso, vamos voltar.”, mas isso seria injusto, seria brincar com você e seus sentimentos. E eu não quero isso. Eu te amo ainda, isto é obvio, mas estou tão perdida entre o que eu quero fazer e o que eu quero me tornar.

Eu pedi demissão, eu te expliquei que não conseguia seguir em frente pois eu te via todos os dias, eu ainda cuidava de você e você ainda tinha o hábito de cuidar de mim. Eu acho que esperava que você ficasse um pouco bravo e dissesse que Não, pois eu havia prometido que não ia fazer isso. Mas de novo, você é gentil demais. Você foi compreensível, assinou meus papeis, escreveu milhares de recomendações, e passou ate meu contato para outras empresas.

E então ficamos assim, apenas conversando por mensagens de texto. Agora Hannah é responsável pelo meu antigo cargo, e ela o exerce muito bem, apesar de constantemente me mandar mensagens de que não sabe fazer tal coisa e sobre como eu sou egoísta por deixa-la na mão rs.

Um som me distrai de meus pensamentos. Uma mensagem.

“Faça uma boa viagem, e não pule as refeições.”

Dou um leve sorriso, mesmo longe, mesmo te abandonando, você de alguma forma continua aqui.

“Obrigado. Tente dormir. Você precisa descansar”

Depois que saí da empresa você começou a ter insônias, nunca me disse a razão, apesar de desconfiar. E isso me preocupa, mas de certa forma eu sei que você vai ficar bem. Tenho fé nisso.

E eu preciso terminar minhas malas, estou indo para Nova York, arranjei um novo emprego, desta vez não cuido de pessoas, mas sim de negociações, é divertido, estou aprendendo coisas novas. Estou sempre tendo que sair e encontrar fornecedores e investidores, eu conheço novos lugares, novas pessoas, e isso me ajuda a respirar.

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Eu sinto sua falta, todos os dias, todas as horas. Mas não posso te obrigar a ficar em um lugar que não se sente bem. Você diz que não é minha culpa. Mas eu sinto como se fosse. E não sei como agir ou o que fazer, todos me dizem apenas para te dar o espaço necessário que você precisa, que eu te deixe voar, e se encontrar, e que se for para ficarmos juntos, você voltará. Mas isso exige confiança demais, e eu não tenho muita. Eu sei que ficou preocupada quando disse que não estava dormindo direito. Não era minha intenção. Não quero que pense que você esta me fazendo mal. Na verdade eu não consigo dormi pois fico pensando se você esta bem, se você está se alimentando direito, se o dinheiro está dando para pagar as contas, para se divertir, para comer, e se você não vai precisar mais. Fico acordado até as 4 da manhã pensando se você esta conseguindo descansar. E torcendo para que não esteja chorando, para que não esteja sentindo dor. Penso se você dormiu bem. Rezo para que não pegue nenhuma doença. Que esteja saudável. Peço a lua para que no dia seguinte você tenha motivos para sorrir, faço isso todas as noites.

Sabe, não precisa voltar correndo. Eu vou estar aqui. Não importa quantos anos passe. Eu vou esperar por muito tempo, mesmo que você esteja tão longe que eu mal consiga te ver. É uma promessa que fiz a Hannah, que eu não desistiria por qualquer coisa. E eu vou cumprir essa promessa. Então o que eu puder fazer para ajudar, por menor que seja, eu farei. Mesmo que você ache que seja gentileza demais.

Eu não quero que você dependa de mim, pois sei que também não é isso que você quer. Mas quero poder ajudar.

Nós começamos no inverno, com muita neve, ventania e alguns beijos. Terminamos na primavera, que será sem pétalas de cerejeira, sem beijos, sem amor.

Faz alguns dias que você chegou em Nova York, reclamou porque seu hotel é longe dos parques, e que você só sente o cheiro de asfalto, óleo e gasolina por causa de um posto que tem em frente a janela do seu quarto. Você sente saudade dos perfumes das flores que tinha perto da sua casa. Saudade de uma temperatura mais fresca, pois segundo você, “a temperatura de Nova York é sufocante”, isso me faz rir, e você entende que estou querendo fazer piadinhas, mas não é isso, é engraçado te ouvir dizer tudo isso, e eu me sinto bem em ouvir sua voz, você sabe que poderia me contar sobre como foi ir na padaria escolher um pão francês e eu iria me interessar pela história apenas porque era você quem estava contando. E eu te explico isso, e você em fica em silêncio depois sorri também. Acho que te deixei constrangida. Me desculpa. Você pergunta sobre meus dias, sobre Hannah, e o trabalho. Eu fico feliz em dizer que consegui voltar a dormir. Ainda não é o melhor horário, mas é mais do que apenas duas horas de sono. Hannah sempre pergunta de você, ela não para quieta mais, e eu quase não a vejo, ela vive saindo, marcando coisas e mais coisas, e mexendo na agenda, me sinto uma criança abandonada pela babá. Você comenta sobre Hannah, e me diz para avisá-la, que cortou o cabelo.

- Por que eu não recebo esse aviso?

Risos

- Mas você acabou de ser informado...

- Não, não, você disse “avise a Hannah”, você não disse “Kim, cortei o cabelo, avise a Hannah”. Demônia.

- Kim, cortei o cabelo, avise a Hannah. Satisfeito?

- Não, eu não vi o corte ainda.

- Mas eu mandei fotos pra ela.

- Eu não sou ela.

- Não mesmo, você é chato.

- Estou ofendido.

- Não, não está... Olha está normal... Só, um pouco curto...

- Por que eu não posso receber fotos?

- Por que você tem que ser uma criança mimada e querer tudo?

- Porque você me acostumou assim. Agora lide com isso.

- Ahh, que saco. Estou enviando as fotos.

- Oh, acho que recebi. Um minuto, vou olhar.

- NÃO, NÃO. Olhe, depois, não precisa agora, deixa eu desligar primeiro e-

- Shh

- Você fez shh pra mim? – Eu sabia q reagiria assim, e fiz por pura implicância.

- Desculpa, mas você não calava a boca, espera um minuto só. Não desliga.

Eu vi suas fotos. Tem razão estava curto. Não, era o cabelo mais curto da face da terra. Mas o cabelo que antes, ia até o meio da sua coluna, isso com ele preso num rabo de cavalo. Agora está na altura dos seus ombros. Eu consigo entender o porquê de você ter cortado. Você reclamava que era “cabelo demais”, que você não sabia lidar, e  você sempre o prendia por isso, eu tive poucas chances de ver seu cabelo solto. E agora, ele esta de um tamanho que talvez você não consiga prender. E isso te deixa mais livre, mais solta. Talvez você se preocupe menos com ele. Perca menos tempo. Eu não consigo evitar de pensar que você está linda. E que combina com você. E quão feliz estou por você ter conseguido cortar seu cabelo mesmo tendo medo que ele fique feio. Você está maravilhosa. E isso é tudo o que eu quero dizer. Mas não digo. Não posso. Então guardo.

- Gostei.

-Ahh... Obrigado.

E a ligação termina um pouco depois disso.