História Still Loving You - Runnin'

Salve-me, pois estou caindo

Nem consigo respirar direito agora

Porque eu continuo fugindo

Fugindo do meu coração

Adam Lambert — Runnin'

Jimin, Namjoon, Jin, Hoseok, Yoongi e Taehyung estavam reunidos na sala do ômega mais velho. Após a "pequena" provocação do alaranjado, o mesmo imediatamente dirigiu-se até o apartamento, onde todos o esperavam parcialmente impacientes.

O assunto a ser tratado naquela reunião era: o que fazer com Jungkook após o início do plano de Jimin (que por muito pouco não fora espancado por Yoongi, que havia conseguido sentir de longe o cheiro do alfa que não estava presente impregnado nas roupas do menor).

— Eu só acho que agora que o Jimin tem total controle sobre ele, deveríamos coloca-lo em um saco de batatas e joga-lo de cima de uma ponte.

— Yoongi! — repreenderam o ômega de cabelos descoloridos ao mesmo tempo.

— Sinceramente, parece até que o Jin não te deu educação. — Taehyung fez a clássica piada do "Jin mãe" devido ao fato de o mesmo ser o mais velho do grupo e, na grande maioria das situações, mas não em todas, comportava-se como o mais maturo.

— Estou apenas expondo a minha opinião. — ele fez uma pausa, parecendo adquirir uma postura aérea — Mas também não é descartável a ideia de cobri-lo de mel e formigas enquanto ele dorme.

— Yoongi!

— Tudo bem, tudo bem, sem formigas.

— Ok, agora vamos começar a falar sério. — Jin cruzou as pernas e bateu uma palma, pedindo silêncio —  O que faremos com o Kook?

Todos calaram-se, trocando olhares interrogativos entre si. Era óbvio que não chegavam a simpatizar com Jungkook, porém seguir as ideias de Yoongi já era algo um tanto... imaturo.

— Sinceramente, eu não vejo problema nenhum em  voltar a andar com o Jungkook. — Yoongi olhou para Hoseok como se ele tivesse acabado de falar em grego — Quer dizer, nós sabemos que ele errou várias e várias vezes, mas... eu acho que deveríamos dar mais uma chance à ele. Afinal, não sabemos o porquê de ele ter parado de andar com a gente.

O silêncio fez-se presente mais uma vez. Hoseok estava terrivelmente certo.

— Bem, Jimin tem ele praticamente preso à uma coleira, então não temos nada a perder. — comentou Namjoon. Nesse momento, todos (exceto por Yoongi) pareceram concordar.

— Vamos lá, Yoongi, as chances disso dar errado são quase nulas. — insistiu Jimin.

— Na verdade, se pensarmos por um lado, Yoongi e Jungkook tem praticamente a mesma personalidade. — disse Taehyung, rapidamente recebendo um olhar mortal vindo do ômega de cabelos descoloridos — Os dois são explosivos, não abaixam a cabeça para ninguém e resolvem grande parte dos problemas na violência.

— Ora seu...! — prevendo um derramamento de sangue, Hoseok e Namjoon seguraram o menor, contendo-o. Jin respirou fundo, cortando a fala de Yoongi.

— Então, todos concordamos em dar mais uma chance ao Jungkook?

— Sim. — responderam ao mesmo tempo. Yoongi respondera de maneira arrastada e obviamente forçada, mas felizmente havia tido um certo de bom-senso ao concordar.

Afinal, ninguém seria tão burro à ponto de discordar de Jin. Principalmente quando este lhe fitava como se estivesse prestes à rasgar seu pescoço.

◊◊◊

Taehyung estava andando calmamente por uma praça que havia perto de casa. Após os outros terem saído, havia decidido dar uma volta. Afinal, precisava de um certo tempo para engolir tudo aquilo que estava acontecendo. Mentalmente, resumiu tudo o que tinha acabado de acontecer nos últimos dias:

Segunda-feira: as aulas haviam voltado, assim como Jimin. Jimin havia feito um plano quase insano para um ômega e, de alguma forma, conseguira coloca-lo em prática.

Terça-feira: Jimin, de alguma forma (mais uma vez), havia dado um jeito de fazer Jungkook voltar a andar com seus antigos amigos e ainda levantara a voz para o mesmo.

Sem falar que várias vezes já havia se pego pensando no ômega de cabelos de alaranjados, mesmo sabendo que nunca teria chances com ele. E agora que havia voltado, pensar naquilo de novo era estranho.

Desde antes de Jimin voltar, já tinha ciência do que sentia por ele, e amaldiçoava-se por isso. Sabia que o ômega poderia encontrar alguém melhor, alguém que pudesse satisfazê-lo de verdade. Alguém que pudesse amá-lo de verdade.

Jimin nunca, em momento algum, cogitara na possibilidade de Taehyung possuir algum interesse amoroso em si, pois este fazia o máximo possível para esconder. Geralmente conseguia comportar-se normalmente na presença de outras pessoas, porém com Jimin era diferente: sempre que o ômega estava presente, sentia-se nervoso e tímido, como se o seu coração pudesse explodir a qualquer momento. Na verdade, também nunca cogitara em contar para o alaranjado à respeito do que sentia, pois sabia que seria rejeitado. Era impossível um beta e um ômega manterem um relacionamento estáve.

Esse era o fardo que um beta carregava: podia relacionar-se de forma saudável apenas com outro beta. Era estranho, mas era a realidade. De acordo com relatos que ouvira de outros betas, se tentasse se relacionar com outro ômega ou alfa, seria extremamente doloroso e desagradável. Como um beta, não sabia o que era sofrer ao passar por um cio, não sabia como era o cheiro de um alfa, muito menos o de um ômega.

Meu caro leitor, não pense que ser beta é algo relativamente bom.

Assim como diversos betas, Taehyung era excluído de ambas as camadas. Entre ômegas, porque não entendia como era ser oprimido e forçado à comportar-se como submisso, já entre alfas, porque não sentia vontade alguma de dominar ou exibir qualquer tipo de controle.

Ou seja, era tratado como uma incógnita pelos dois lados. Sem falar que quando completara 10 no final do ano, seus pais haviam decidido mudar-se para uma cidade onde quase não haviam betas. Tentou ao máximo não demonstrar incômodo com sua situação, sempre aparentando ser o Taehyung sorridente e brincalhão por fora, enquanto por dentro, estava prestes a explodir. E depois que seus pais expulsaram-no de casa, sua situação apenas piorou. Sentia-se abandonado e completamente isolado do mundo.

Tinha medo.

Tinha muito medo não conseguir encontrar alguém.

Tinha um medo extremo de morrer sozinho, incapaz de dizer para alguém o que sentia durante anos.

Admitia: havia sentido-se bem melhor após conhecer Jimin e os outros. Eles não pareciam se importar com qualquer tipo de estereótipo. Mesmo que depois Jungkook tenha tornando-se aquela pessoa, ainda assim seu estado psicológico estava bem melhor do que antes, quando tinha de ficar sozinho, contando os tijolos das calçadas.

Estava tão absorto nos próprios pensamentos que mal percebeu que havia uma certa pessoa andando ao seu lado e olhando-o com certa curiosidade.

Assustou-se por meio segundo. O rapaz era um pouco mais baixo que si. Seus cabelos castanhos por muito pouco não alcançavam os olhos parcialmente puxados. Taehyung instintivamente respirou fundo devido ao susto.

Mesmo que não pudesse sentir o cheiro característico de um alfa ou de um ômega, seu organismo, de alguma forma, conseguia saber quando se tratava de tal.  E naquele momento, a surpresa tomou conta de si.

Beta.

 — Oi. — o rapaz piscou algumas vezes, sem desviar o olhar — Qual o seu nome?

— K... Kim Taehyung. E o seu? — era a primeira vez que sentia-se tímido na presença de alguém que não fosse Jimin.

— Byun Baekhyun.

◊◊◊

Uma semana após tudo aquilo, o grupo saía da escola. Jin esperava-os pacientemente na calçada. O cio de Jungkook, sofregamente, havia passado. E é claro que o mesmo fora vítima de diversas provocações vindas de Jimin, pondo à prova seu auto-controle. Sabia que se fizesse algo com o alaranjado, este não hesitaria em expor o vídeo polêmico para o mundo.

Era uma fria tarde de sexta, como qualquer outra tarde. A única diferença era que era sexta.

Sexta era como um dia sagrado para todos os alunos, que merecia ser louvado e aproveitado de todas as maneiras possíveis. Alguns saíam para festejar, outros aproveitavam o resto da tarde e madrugada para terminar a série favorita.

Porém a forma como os sete aproveitariam seria um pouco diferente.

Durante toda aquela semana que passara-se, pouca coisa havia mudado. Mesmo com as repreensões de Jimin e Jin, Jungkook e Yoongi brigavam como cão e gato. E com o passar dos dias, Taehyung parecia (mais) estranho. Mas estranho de um jeito... bom.

O clima entre os sete não era lá o melhor. E tanto Jimin quanto Jin sabiam que não poderiam continuar daquele jeito. Assim, os dois haviam decidido reunir todo o grupo na casa do ômega mais velho e tentar uni-los novamente, da mesma forma como eram antigamente.

Silenciosamente, trilhavam o caminho para a casa de Jin.

Mesmo com Namjoon no meio dos dois para evitar que alguém fosse morto na calçada, Jungkook e Yoongi trocavam olhares mortais entre si, enquanto a expressão "Me mata, por favor" estava praticamente talhada na testa do alfa mais alto.

Paralelamente, Taehyung parecia trocar mensagens de texto com alguém. O beta vez ou outra deixava escapar um sorriso radiante ao ler algo que a outra pessoa lhe mandava.

Jimin estava prestando extrema atenção nisso, pois já havia percebido que tinha algo de errado com Taehyung. Quando eram mais jovens, começara a achar "forçados" os sorrisos que o beta dava,mas aquilo era apenas uma suposição. Porém agora tinha certeza disso.

Mas naquele momento, seus sorrisos eram completamente naturais e perfeitos. Jimin sentia-se tentado à espiar a tela do aparelho e saber o que estava deixando-o tão radiante. Porém não faria isso. Respeitava a privacidade de Taehyung. Se aquilo tratava-se de algo que ele não sentia-se seguro o suficiente para contar no momento, Jimin entendia perfeitamente bem.

Assim, seguiam rumo à casa de Jin.

Em certo ponto, o ômega mais velho parou de andar e olhou para uma casa abandonada. Todos pararam ao mesmo tempo, olhando para o mesmo local. Aquele local trazia lembranças aos sete.

Naquela época, quase todos tinham completado 13 anos. Exceto por Jin, que estava próximo de concluir 15 anos.

Sempre que faziam o caminho para a escola, passavam por uma casa abandonada há anos. Haviam pessoas que diziam que ela pertencera a um burguês que tinha enlouquecido completamente  e matado a esposa e os filhos. Alguns afirmavam que se alguém se aproximasse da porta, ainda poderiam ouvir o choro das crianças.

A curiosidade sempre cutucava os sete. Não era como se realmente acreditassem que a casa fosse assombrada, porém tinham vontade de saber de onde vinham os sons estranhos que vez ou outra ouviam de lá.

Até que certo dia, decidiram criar coragem para entrar na casa.

Encobertos pela penumbra da noite, facilmente entraram na propriedade. O local era iluminado apenas pela luz da lua, e os quartos exalavam um cheiro pútrido, como se algo tivesse morrido ali.

— Yoongi... se você ficar com medo, você pode segurar na minha mão, ok? — disse Hoseok, sorrindo docemente. O ômega assentiu, por um momento fazendo os cantos de seus lábios curvarem-se em um micro-sorriso. Porém o momento não durou muito tempo, pois algo caiu no chão, emitindo um som alto o suficiente para assustar Hoseok e Jimin ao mesmo tempo.

O alfa deu um pulo tão alto que por um momento Yoongi pensou que fosse acabar parando em seu colo, exatamente como ocorriam em desenhos animados.

Jimin acabou escondendo-se atrás de Jungkook, que apenas demonstrara apatia à situação.

— É só um gato... — o pequeno animal revelou-se, esfregando-se nas pernas de Jungkook. O jovem alfa pegou o gato no colo, fazendo uma leve carícia em suas orelhas — Você está perdido, não é mesmo?

Naquele momento, algo ficou realmente claro para todos ali: nem tudo o que as pessoas falavam era inteiramente verdade. A casa "mal-assombrada" na verdade era apenas fruto das ações de um gatinho perdido.

◊◊◊

Em toda a sua vida, Jungkook nunca pensou que fosse se encontrar em tal situação, principalmente com Yoongi;

— Vamos lá... não podemos ficar assim pra sempre. — murmurou Jin, já cansado de olhar para as gotas de chuva que caíam constantemente do lado de fora.

Estavam todos sentados ao redor da mesa, em um clima razoavelmente estranho. Ninguém queria puxar assunto e havia começado a chover fortemente do lado de fora, o que impedia que pudessem voltar pra casa.

Jungkook e Yoongi continuavam naquela troca de olhares mortíferos, ato que ocasionava na dificuldade de alguém tentar puxar assunto sem que os dois começassem a se provocar e terminassem rolando no chão, espancando-se.

— Tive uma ideia.

E agora lá estavam os sete. Parcialmente bêbados e rindo da história de Hoseok sobre o dia em que teve de comprar absorvente para a irmã.

— E Então, quando eu fui passar no caixa, a atendente olhou para a embalagem do absorvente e falou "Nossa, eu não sabia que tinha dessa marca aqui" e aí ela começou a chamar as outras atendentes só pra ver a marca. E a única coisa que eu queria fazer era ir embora dali. Então, uma das atendentes olhou pra minha cara e disse "Moça, você deve ter um talento especial pra isso. Nenhuma de nós conseguiu achar essa marca". — ele fez uma pausa, dando tempo para que os outros rissem histericamente. Afinal, não era todo dia que Hoseok era confundido com uma mulher.

— Ah, isso me lembra um antigo namorado meu... — a voz de Jimin estava levemente embriagada devido ao álcool — Ele parecia muito uma garota, mas quando fodia... minha nossa.

De repente, o ômega pareceu lembrar-se de algo. Ele piscou os olhos várias vezes, parecendo estar levemente estático. Sentiu como se uma carga emocional muito grande estivesse percorrendo o seu corpo de uma vez só.

Ele só te comeu e foi embora.

Não era amor.

Você era apenas mais um brinquedo pra ele.

Várias lembranças vinham à tona naquele momento. Lembranças que Jimin tinha vontade de esquecer-se, pelo seu próprio bem.

— Jimin? — chamou Jin, livrando-se por um momento de seu estado de embriaguez.

Jimin levou as mãos aos lados da cabeça, tapando os ouvidos. Então, lágrimas solitárias começaram a cair por seus olhos. Sentia um misto de dor, tristeza e solidão. Não importava-se de estar chorando na frente dos outros, principalmente Jungkook. A única coisa que queria era esquecer daquilo, esquecer que algum dia tudo aquilo fora real, acontecera de verdade em sua pele.

Sabia muito bem o que estava acontecendo consigo: aquilo era um sinal de que ainda não havia superado a perda. Ou melhor, nenhuma de suas perdas.

As lágrimas embaçavam sua visão e rolavam livremente por suas bochechas.

— Mas o que foi que- — a fala de Yoongi foi interrompida por Jungkook, que acabou abraçando o alaranjado.

— Não fala mais nada. — pela sua voz, dava-se para perceber que estava tão bêbado quanto os outros.

Jungkook não sabia dizer muito bem o que estava fazendo. Só sabia que se o ômega continuasse ali daquele jeito, teriam sérios problemas. Já havia lidado com vários tipos de bêbados, e o alaranjado era um dos piores: o tipo que lembrava de coisas que não queria lembrar. E dependendo do caso, acabava até falando do que se tratava e se arrependendo no dia seguinte.

Ele se levantou, levando Jimin junto consigo, então levantou-o sem dificuldade e colocou-o por cima de seus ombros

— Você deve estar com sono.

Com uma coordenação surpreendente, Jungkook levou-o até o quarto, deixando os outros cinco razoavelmente chocados na sala.

— O que foi que acabou de acontecer? — perguntou Taehyung, confuso.

— Algo que não se vê todo dia: Jungkook se importando com alguém. — mesmo bêbado, o ômega de cabelos descoloridos não perderia a chance de alfinetar o alfa que não estava presente.

— Mas ele 'tá bêbado.

Foi a vez de Jin tomar a fala.

— Bom, meus amigos sempre disseram que quando estamos bêbados, o álcool não nos força a fazer algo que não queremos. Somos nós quem criamos coragem para fazer tudo o que quisermos.

— Jin, você também 'tá bêbado.