-Bom.. Eu tenho duas coisas para te dar...
-Sim??
-Uma delas é do seu pai.- Ele fala um pouco angustiado ainda.
-Como? Quando... Quando falou com o meu pai?- Pergunto, incrédula.
-Bom... Duas semanas antes de você vir para cá, o seu pai viajou para o Rio, certo?
-Sim...?- Assinto, ainda sem entender onde ele quer chegar.
-Bom... Ele veio para cá, resolver como seria a sua vida aqui. –O encaro. Minha mãe sabia disso?- Sim, a sua mãe estava sabendo.
De novo, penso que as pessoas conseguem ler a minha mente, ou eu sou definitivamente transparente.
-Bom.. Ele falou muito comigo, até ter certeza de que realmente estaria segura aqui, e.. –Ele procura algo na sua mochila, e depois de alguns segundos, tira uma caixa de veludo preta, linda, e um envelope de lá.- Pediu para eu te entregar isso, quando se sentisse triste, sozinha. Para você não perder a fé no que é e no que vai ser. Pra quando você se sentisse perdida, ou quando esquecesse quem você é, ele disse que isso te ajudaria a lembrar. E pediu para te entregar essa carta também.- Ele entrega os mesmos.
Sinto meus olhos marejarem.
-E... Eu também tenho um presente para você.- Ele tira outra caixa preta da mochila.
Quando ele abre a mesma, revela uma corrente dourada com varias pedrinhas vermelhas e um pingente ,vermelho também, pendurado. Fico sem palavras, é lindo.
-A mulher que vendeu para mim me assegurou que dá sorte. Me permite?- Ele pergunta, se referindo ao fato de coloca-la em mim.
-Claro...- Ele se aproxima tanto que consigo sentir a sua respiração, o que me deixa tensa. Parece ter dificuldade para fechar o colar, e isso está me dando nos nervos. Clique.
-Pronto!- Ele fala, vitorioso.
Algumas lágrimas rolam pela minha bochecha, ele passa o dedão por elas, limpando-as, logo depois, ele me abraça.
-Você vai mandar muito bem hoje, no teste, eu sei que vai...- Ele fala durante o abraço.
-Obrigada.- Me desvencilho de seus braços, mas minhas mãos ainda estão enlaçadas nas dele.- Obrigada, por tudo...
Ele beija a minha testa e me abraça de novo, dessa vez, rapidamente. Não consigo evitar, meus olhos ficam marejados novamente.
-Bom, eu tenho que ir...- Suas mãos, agora, acariciam meu rosto.- Nos vemos mais tarde.
Ele levanta, e me ajuda a levantar logo depois.
Caminho até a porta, onde estão Thomas, Peter e Tyler.
-Oii!- Ainda estou com as caixinhas na mão, e a carta.
-Que isso?- Thomas pergunta, se referindo a carta.
-Ah.. É um presente do meu pai.- Eu falo, os guardando na minha bolsa.
-Hm... A gente vai almoçar num restaurante aqui perto, quer vir com a gente?
-Claro!- Sorrio.
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14:30 p.m.
É agora, é agora. Respira, Alice. Entro no vestiário feminino, onde o time de vôlei se encontra, e algumas líderes de torcida também, entro em um dos banheiros, visto o short que havia pego hoje de manhã, e faço o mesmo com a camisa.
Quando saio do banheiro, algumas líderes de torcida me encaram, o que me faz arrepiar por dentro, me sinto incomodada, porém, ignoro e me posiciono na frente do espelho para prender o meu cabelo em um rabo de cavalo. Uma garota de cabelos castanho claro se aproxima de mim, e pergunta:
-Você é a garota que vai fazer teste pro time de basquete?- A garota me encara.
A notícia está se espalhando como um vírus.
-Sim...
-Boa sorte!- Ela sorri, simpática, eu retribuo, e ela sai.
Saio do vestiário, e sigo para a quadra. Lá, o time inteiro está reunido, conversando com o treinador. Fico completamente tensa, congelo.
Quando o treinador me vê, na entrada do ginásio, ele pede para eu me aproximar.
-Bom, quero apresentar a Alice. Ela vai fazer o teste, quero que a tratem igualmente, e que a respeitem, entendido?- Tarde demais.
Todos assentem.
-Caso alguém a desrespeite, é suspenção na hora.
No momento em que ele fala isso, lanço um olhar discreto para Zach, e percebo que eu realmente o machuquei, porque o canto da sua boca está cortado, ainda.
O treinador separou dois times de 8 (já que tem 16 pessoas no time). Antes de entrarmos, falo para os garotos do meu time:
-Olha, eu sei que para vocês, eu sou só mais uma garota tentando ser alguém. E também sei que acham que eu não vou conseguir por causa da minha altura, mas, eu só peço uma chance, juro que não vou decepcionar.- Eles assentem.
No começo, os garotos do outro time (incluindo o Zach), resistem e vem para cima de mim, ignorando os esporros. Um tal de Jake, um garoto gigante que está no meu time, está com a bola, corro para o outro lado da quadra, e Bumper me pergunta, do lado esquerdo:
-Você sabe o que tá fazendo??- Eu definitivamente sei o que estou fazendo.
-JÁ FALEI! Me dá uma chance!
Ele pronuncia um “Ai meu Deus! ” mas o ignoro.
-JAKE!! PASSA PRA MIM!
-O que você tá fazendo?!- Ele pergunta, incrédulo.
-Cala a boca e passa logo!- Ele parece discordar, porem, não discute e passa-a para mim.
Saio correndo, e quando chego perto da cesta, não perto demais, o suficiente, jogo a bola na cesta, e a mesma entra perfeitamente. Os garotos do meu time saem correndo para perto de mim, Jake me pega no colo. Encaro Zach, e o mesmo me fulmina.
Retomamos o foco, e o jogo continua.
Faço mais três cestas antes do jogo acabar.
O time se reúne ao redor do treinado para escutar a sua decisão com relação a minha entrada. Fico esperando sentada no banco, tomando um pouco de água.
-Alice! Por favor, venha aqui!- O treinador fala, e eu obedeço.
-Bom...- Meus músculos ficam muito tensos, e tenho a sensação de que vou desmaiar.- Seja bem-vinda ao time!- Ele sorri.
-Ai meu Deus! Obrigada!!!- Fecho as mãos como uma concha em frente a minha boca.
Todos saímos da quadra, decido que vou para casa com a roupa do treino.
~Em casa~
Entro em casa, e Chandler está sentado na bancada.
-Como foi?!- Ele levanta.
-Ah.. Bem... Eu entrei pro time!- Pulo em cima dele.- Ah... Foi mal, eu to toda suada.
-Que bom!!! E.. Não tem problema. To feliz por você!
-Ah.. Eu vou subir para tomar um banho, porque eu to com nojo de mim mesma.
-Tá bem...
Subo as escadas, coloco a minha bolsa em cima da cama e vou para o banheiro, ligo o registro. Entro quando a banheira está completamente cheia, e relaxo. Passo o sabonete pelo rosto e pelo resto do corpo. Lavo o meu cabelo, e saio.
Me enrolo na toalha rosa-claro, e saio do banheiro rumo ao closet.
Visto uma calça jeans, uma blusa vermelha, e saio. Seco o meu cabelo, e o mesmo fica muito armado, então coloco uma touca e desço com os meus óculos na mão.
Sento ao lado do Chandler no sofá, pego o meu celular e mando u a mensagem para o Charlie:
“Oii, como a Emma está? Desculpa não ter perguntado antes, sai da quadra fazem uns 40 minutos, só consegui pegar o meu celular agora.
Tomara que ela esteja bem, diga a ela que mandei um beijo.
-Alice”
Em questão de alguns minutos, ele responde:
“Oii, a Emma está bem, melhor agora. Se bem que ficou assistindo televisão no sofá da sala o dia inteiro, e pela primeira vez, tomou dois potes inteiros de sorvete, sozinha ainda.
Thomas me contou que vai entrar para o time de basquete, meus parabéns. Até amanhã, beijos.
-Charlie”
Quando bloqueio a tela do celular, uma enxaqueca muito forte me nocauteia.
-Ai...- Sussurro para mim mesma, e tento esquecer a dor.
Acho que devo começar a usar mais os óculos.
15:50 p.m.
Tentei ignorar a dor, mas ela não passa. Ainda estou sentada ao lado do Chandler, vendo ele jogar videogame, até que o meu celular apita.
“Oii, minha linda! Charlie disse que está preocupada comigo, obrigada por se importar. Estou melhor agora, quer vir aqui em casa?? A Lu também vem! Até daqui a pouco, beijos.
-Emma”
Respondo:
“Oii, que bom que você está melhor! Será um prazer, chego aí em 15 minutos, beijos.
-Lice”
Levanto, e subo para o meu quarto. Abro a porta e sento na cama para colocar os tênis. Pego a minha bolsa, que está em cima da cama, e tiro as duas caixinhas que Chandler me deu hoje mais cedo, e a carta. Decido que vou ler quando voltar para casa. A coloco delicadamente em cima da mesa, e coloco um casaco antes de descer.
-Vou na casa da Emma, ok?- Dou um beijo na bochecha dele.
-Tá bem... Não chegue muito tarde, por favor.- Ele fala sem tirar os olhos da televisão.
-Você sabe que não vou, pai.- Reviro os olhos.
-Me chamar de pai ta virando costume ou o que?- Ele pausa o jogo e caminha na direção, se apoiando na porta.
-O que.- Respondo, rindo.- Posso ir?
Ele me dá passagem.
-Tchau.- Beijo a sua bochecha.
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Uns 15 minutos depois, chego na casa da Emma, e a mesma atende:
-Oi!- Ela sorri, e me abraça.
-Oi!- Retribuo o sorriso e o abraço.
-Vem, vou te mostrar a casa.- Ela me puxa pelo pulso, animada.
Descubro que Charlie tem uma irmã mais velha chamada Amanda, e os três tem uma irmã de três anos chamada Mindy. Sentamos no sofá da sala e ficamos conversando, até que uma mulher de cabelos compridos aparece na sala.
-Emma, eu.. Ah, oi! Você deve ser a Alice!- Ela sorri, e caminha na minha direção. Sorrio de volta.
-Sou, sim!- Passa pela minha cabeça que ela é a madrasta de Emma, mas não sei ao certo, peço mentalmente para Emma me dar uma luz aqui.
-Ahn, Lice.. Essa é Jessica, minha madrasta, Jessie, essa é Lice.
-É um prazer conhece-la!- Falo sorrindo.
-Igualmente.- Ela fala.- Bom, estou fazendo brownie, vão querer quando estiver pronto?
-Não, obrigada, Sra. Higgins.- Falo.
-Ah, eu vou querer um pedaço, sim, Jessie! Obrigada.
-Imagina, se precisarem, estou na cozinha
Ela sai da sala.
Fiquei um tanto quanto surpresa com Jessica, ela parece mais uma amiga de Amanda do que mãe dela, se bem que a semelhança entre ela e Charlie é notável.
-É.. Eu sei, Jessie tem cara de 20 anos. Mas ela faz um bom papel de mãe para mim...- Ela olha para o além, e sou forçada a mudar de assunto, lembrando do que Thomas me disse hoje mais cedo.
-Então... Você vai para a aula amanhã?
-Não sei... Não estou com vontade de fazer nada.
-Ahn...
Nisso a campainha toca, e vamos atender. Lu está na porta.
-EMMA NUNCA MAIS FAZ ISSO!- Ela agarra os ombros de Em, preocupada, e depois a abraça.
-Eu to bem.. Eu to bem..- Ela sorri sem mostrar os dentes.
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Estou caminhando para casa sozinha, são quase 18:30, não está tão tarde.
Ao entrar em casa, percebo que estou muito tonta. Fecho a porta rápido, e me apoio na parede.
-Chandler??- Pergunto, querendo gritar, mas a voz sai fraca, quase inaudível.
Percebo que Chandler está no seu quarto. Droga. Tá bem, eu vou ter que fazer isso sozinha, eu consigo. Tateio a parede e começo a caminhar, ao chegar na escada, respiro fundo. Mas tudo parece girar, e a minha respiração começa a ficar desregulada, sinto que tudo vai cair.
-Chandler!- Não funciona, sai como um sussurro.- GRAAY???- Nada. Nadinha. Parece um pesadelo.
Sento na escada e espero passar. Até que escuto uma porta abrindo. Olho para trás.
-Lice?? Tá tudo bem?- Grayson me pergunta, descendo a escada rápido. Nego, não consigo reunir forças para falar.- Espera um segundo... CHAAANDLER!!! Vem aqui em baixo! RÁPIDO!
-CALMAAA!- Ele grita de dentro do quarto.
Apenas observo tudo, desnorteada.
-O que foi?? Ai meu Deus. Alice, ta tudo bem??
-Acho que ela ta tonta, ou sem ar, não falou nada.
-Você ta sem ar??- Assinto.- Tonta também??- Assinto de novo.
-Me ajuda...- Falo num tom muito baixo, quase inaudível, mas Chandler segura as pontas e toca o meu rosto me encarando.
A última coisa que escuto é:
-Calma, vai ficar tudo bem, Lice. Lice, por favor, não fecha os olhos. Não se atreva a fechar os olhos. Ah não. Gray, chama a Sra. Mitchell, agora!
E tudo fica escuro.
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