— Eu não amo a SoJin.
Eu ouvi isso, eu escutei tão claro que quase não pude acreditar. Mas ao mesmo tempo aquelas palavras me fizeram pensar: eu realmente sabia o que era amor?
Talvez nem eu mesma amasse Jeongguk, mas a ideia de que o sentimento que eu senti por ele fosse somente algo fútil, uma paixão adolescente não parecia se encaixar no que eu sentia. Talvez eu estivesse tentando provar a mim mesma que era algo especial quando, na verdade, era exatamente o que ele disse.
Então, eu vi sua expressão ao ver o namorado novo da garota que ele não amava... ver que ele parecia alheio ao o fato dela estar namorando, aquilo não me deixou exatamente como eu esperei que iria ficar, aquilo me deixou triste e incomodada.
O fato de ela estar namorando deveria ser uma alegria, um caminho livre ou algo do tipo, mas tudo que pensei foi que se fosse Jeongguk com uma namorada nova e se eu estivesse naquela situação, eu não saberia o que fazer, então eu sabia que seu rosto inexpressivo não significava absolutamente nada.
Ele estava triste, mesmo que quisesse esconder, eu via isso no fundo de seus olhos.
Eu o observei-o do começo ao fim, enquanto todos pareciam tão introvertidos na conversa, eu ainda continuava a observá-lo, observei-o piscar lentamente e olhar para SoJin e seu namorado novo, enquanto ele abraçava-a por trás e beijava sua mão uma hora ou outra. Eles eram bonitos juntos, eles combinavam bastante, e não era somente eu que achava isso, Jeongguk, com sua carranca indiferente, provavelmente estava chegando à mesma conclusão que eu.
Quando se gosta de alguém que é indiferente ao que você sente, é uma dor desnecessária.
Não tem sentido, dói e é muito irritante, mas ao mesmo tempo é tão forte e te deixa tão iludido que tudo que você faz é se perguntar como pode se livrar de um sentimento que todos veem como algo bom.
Naquela noite nós não nos falamos mais, liguei para meu pai para que ele fosse me buscar e fui embora primeiro.
Nós chegamos em casa bastante tarde, Su Mi estava dormindo e meu pai colocou o dedo indicador em frente aos lábios para que eu ficasse quieta, nós andamos na ponta dos pés pela sala escura, torcendo para que ninguém nos ouvissem. Até que a luz da sala acendeu e a porta que nós tínhamos acabado de fechar se fechou novamente atrás de nós.
— Por que vocês estão andando como se fossem ladrões pela casa?
Meu pai olhou para trás, e eu ele bufamos.
— Meu pai foi me buscar já que alguém — finalmente me virei, dando ênfase na última palavra. — Resolveu me dar um bolo.
Yoongi ergueu uma sobrancelha.
— Não foi bolo, eu te avisei que não iria.
— Vocês vão começar a brigar de novo? — Meu pai disse em voz baixa. — Sério, já são onze da noite, se vão brigar, briguem em voz baixa.
E depois disso, ele simplesmente virou de costas e caminhou se espreguiçando em direção ao quarto. Eu suspirei e andei em direção ao sofá, me jogando nele e procurando pelo controle remoto, o espaço ao meu lado se afundou quando Yoongi sentou ao meu lado, eu o olhei de escanteio.
— E aí, como foi? — Perguntou, embora eu visse que ele não estava muito interessado em saber realmente.
— Foi normal — respondi de má vontade. — Nós comemos, conversando e agora eu estou aqui.
— Pela sua cara não parece que foi normal.
— E o que você quer que eu diga?
— Não sei... uma novidade. — Ele me encarou. — Eu vi você conversando com aquele cara no parque naquele dia, vocês são namorados?
Quando ele me perguntou aquilo, eu tive vontade de dizer que eu e Jeongguk éramos namorados só para ver se eu me sentia melhor. Porém, na mesma hora eu pensei que não importaria o quanto eu mentisse, porque uma mentira era só uma mentira, não iria mudar nada e eu não acreditava que as palavras tivessem tanto poder.
— Não, não somos. — Respondi.
— Entendo. — Ficamos calados por alguns segundos, até que ele quebrou o silêncio. — Mas você gosta dele?
Pisquei lentamente.
— Você sempre foi bom em notar as coisas, não é?
Ele me olhou como se estivesse arrependido do que havia acabado de dizer.
— Ele não te corresponde, não é?
A pior coisa de conversar sobre minha vida com Yoongi, é que por mais que eu quisesse, não conseguia chorar perto dele, era como uma espécie de repelente de lágrimas, talvez fosse meu orgulho pela nossa briga no passado me dizendo para não mostrar minhas fraquezas para ele.
— É... ele meio que gosta de outra garota. — Dei de ombros. — Só que agora ela está namorando e ele está todo depressivo.
— Mas se ela está namorando, você não devia estar feliz?
— Sim, mas isso não significa que só porque ela está namorando ele vai pular nos meus braços amanhã.
— Isso já funcionou comigo.
Franzi o cenho.
— Porque você é um cara quente e bonito — lhe olhei com ultraje. — Quer mesmo comparar suas situações com a minha?
— Ok, eu só estava tentando ajudar.
— Ah, eu vejo. — Maneei a cabeça. — O melhor que você pode fazer no momento é ir dormir.
Ele bufou, se levantando.
— Tudo bem, mãe — Zombou e me encarou enquanto eu levantava. — Você vai ficar bem?
Dei de ombros.
— E quando foi que eu não fiquei? — Comecei a andar. — Com exceção da morte, tudo na vida é resolvível.
E assim, eu arrastei meus pés até o quarto, não acendi a luz e fiquei tentando tirar meu vestido, o zíper emperrou, eu acabei caindo no chão após tropeçar em uma blusa e, sabe...eu não tive coragem de me levantar.
Minha noite de terça-feira terminou comigo deitada no chão do meu quarto, no escuro, vestindo meu melhor vestido novo, tudo isso porque certo idiota preferia ignorar minhas incontáveis qualidades. Tão incontáveis que eu nem mesmo consegui contar a primeira ainda.
Ah, merda.
Acordei com alguém chutando a minhas costelas, quando abri meus olhos, o meu quarto que outrora esteve escuro, agora era perfeitamente clareado pelos raios solares. E a pessoa que chutou minhas costelas me olhava, sim, eu estava vendo logo pela manhã a cara de bunda da Lauren.
— Bom dia, flor do dia.
Pisquei atônita.
— O que diabos você está fazendo aqui?
Lauren deu de ombros.
— Nada demais, depois que eu descobri seu endereço, me pareceu uma boa ideia passar aqui e tomar café da manhã.
Ela andou pelo meu quarto e abriu minha gaveta de blusas. Essa curiosidade dela era incômoda.
— Meu Deus, você só tem blusa cara, tua mesada está boa mesmo, né? Minha mãe mal me dá dinheiro para comer, mas claro que você já sabe disso, pode presumir que se ela me desse dinheiro para comer eu não estava aqui tentando filar seu café.
Revirei os olhos.
— Que horas são?
— Não se preocupa, eu cheguei bem cedo — ela sentou na minha cama. — Seu pai abriu a porta para mim, e olha, acho melhor você começar a se arrumar, o cargo de quem falta mais já está ocupado pela minha pessoa.
Levantei de má vontade procurando pela toalha, e Lauren jogou ela para mim, caminhei preguiçosa pelo corredor com Lauren no meu encalço.
— Ah, droga — puxei a porta e estava fechada. — Yoongi!
— O quê? — Ouvi sua voz de dentro do banheiro.
— Adianta com esse banho! — Bufei. — Se eu me atrasar, você morre!
Lauren cutucou meu ombro.
— Seu amigo está tomando banho? — Cochichou. — Pergunta para ele se eu posso entrar para tomar banho com ele.
Estreitei os olhos.
— Você não gostava do Namjoon?
— Ainda gosto. — Eu a vi colocar as mãos nos bolsos do casaco. — Mas só porque eu gosto não significa que eu não posso tomar banho com seu colega gostoso.
Então, de repente a ideia veio na minha mente como um golpe de misericórdia.
Obviamente eu não era nem de longe tão boa quanto eu esperava, não o suficientemente boa pra chegar num cara, nem suficiente boa para me declarar na cara dura, foi então que eu tive a ideia que hesitei tanto tempo, a decisão que eu não queria tomar porque tudo que tinha na minha maldita mente era esperança de que com meu lindos olhos castanhos piscando eu conseguiria fazer com que Jeongguk gostasse de mim.
— Lauren, já te disseram que você é um gênio?
— Não, mas se você quiser dizer isso agora eu agradeceria, pelo menos eu ia dizer que sim da próxima vez que alguém perguntasse.
— Quantos caras solteiros e legais você conhece naquela escola?
Lauren pareceu pensar por uns estantes.
— Olha, solteiros eu conheço muitos, legais já é outra história — ela olhou para as unhas.
A agarrei pelos ombros.
— Preciso que me ajude a conseguir um encontro.
— Um encontro? Nossa, que inesperado, acredita que eu pensei que você ia me pedir para arranjar um cara para fazer ciúmes no arrogante lá?
Bati nela.
— Para de brincadeira, é sério. — Suspirei. — Tenho que esquecer do Jeongguk.
— Ah, para... depois desse tempo todo, quando a crush dele arruma um namorado você quer esquecer do menino? Poxa, _______, não estou te entendendo.
— Como você soube? Ah, não importa. Lauren, só porque a SoJin arrumou um namorado não significa que o Jeongguk vai me querer — eu disse fechando os olhos e encostando a cabeça na porta do banheiro. — Ele não é como os outros caras, aquela criança é maligna.
— Certo, ele é um pouco estranho e tal, mas isso não significa que você tem que desistir dele. — Ela refletiu por um tempo. — Uma outra amiga minha que era do Brasil disse que vocês têm um ditado: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura, sabe o que isso quer dizer? Que você tem que bater nele, sabe, tem homens que adoram uma violência. Já ouviu esse ditado, né? Tu é de lá.
Ergui uma sobrancelha.
— Bater nele?
— Não literalmente, colega — ela chegou mais perto como se fosse me contar um segredo. — O que eu quero dizer é que se divertir não mata ninguém, você pode se divertir com qualquer cara que te der na telha, mas quando você gosta de alguém, não vai esquecer ele saindo com qualquer um. Você tem que sair com alguém que seja divertido e revigore suas forças.
Sorri para Lauren porque, ao que parecia, ela estava finalmente me dando um bom conselho.
— O que você sugere, então?
— Um cara descartável, claro.
Franzi o cenho.
— Lauren...
Ela bateu de leve no meu ombro.
— Relaxa, eu conheço um cara que conhece um cara que é mais descartável que garrafa d’água, e meu amor, ele dá um bom caldo.
(...)
O dia na escola estava calmo.
Calmo demais para ser um dia na minha vida, mas como ele já estava no fim eu não tive suspeitas que fosse mais agitado de alguma maneira, tudo que eu estava pensando era no tal encontro que a Lauren me arranjaria e como eu reagiria a isso.
Sério, eu nunca fui uma garota popular com meninos, eu sou mediana, alguns garotos já gostaram de mim sim, mas eu não sou nenhuma profissional no assunto. E do jeito que eu via Lauren dando em cima de algum cara como se fosse a melhor, me fazia tremer de insegurança.
Andei pelos corredores arrastando os pés, meus livros não pareciam tão pesados, talvez porque eu não estava me concentrando no peso em meus braços. Desci os degraus da escola sem ânimo, esperando não tombar com alguém conhecido só para não ter o desgosto de parar para cumprimentar.
Bem, eu achei alguém conhecido de qualquer maneira. Jeongguk olhou para os livros nos meus braços e ergueu uma sobrancelha, eu me controlei para não revirar os olhos.
— Você está indo para casa? — Perguntei meio alheia, embora que aquela altura eu já estava com o coração batendo como um desgovernado de ansiedade.
— Estou. — Então, ele se virou e começou a andar em direção a saída da escola, sem te mesmo ter a piedade de se virar para me dar uma mão.
— Você quer ajuda com isso? — Alguém me perguntou, obviamente não quem eu queria que me perguntasse, mas ele pareceu gentil ao fazê-lo.
Eu olhei para imagem do garoto, ele era mais alto do que eu e tinha traços leves e bonitos, delineando o rosto dele, além de um ar um tanto simpático e acolhedor e vi que outro garoto acompanhava ele, tinha quase a mesma altura que o simpático e parecia ser alguém gentil e um tanto quieto, os lábios dele eram o que mais chamava atenção em sua aparência, eram cheios e charmosos.
Sério mesmo, eles pareciam brilhar e eu vi algumas garotas que estavam seguindo seu rumo para fora da escola cochicharem e ficarem de risinhos enquanto passavam, elas estavam olhando para os postes de luz em minha frente.
— Não, eu estou legal. — Eu disse ainda desanimada. — Mas obrigada por perguntar.
O garoto me deu o que pareceu ser seu melhor sorriso e não falou mais nada, só se virou e seguiu seu caminho em direção ao portão como os outros alunos, foi então que Lauren agarrou meu braço, estava ofegante, provavelmente ela veio correndo.
— Preparada para conhecer o cara do seu encontro?
Pisquei confusa.
— Como assim?
— Hoseok — ela gritou, e o garoto simpático parou e se virou, eu vi o colega dele bufar. — O que acha de ter um encontro com a estrangeira mais gata da escola?!
O garoto chamado Hoseok sorriu novamente.
— Acho uma ótima ideia. — Ele disse e eu senti meu rosto queimar de vergonha.
Eu juro que queria um lugar para pôr a cara, ainda mais depois de ver que algumas garotas pararam seu trajeto para observar minha segunda mais vergonhosa situação no meio de uma escola, mas elas pareciam meio que enraivadas embora eu não entendesse o porquê.
Eu tentei olhar em direção ao garoto que estava saindo novamente, rindo com seu colega, mas tudo que eu consegui me concentrar foi na imagem de Jeongguk saindo sem nem mesmo olhar para trás para ver o que foi o tal alvoroço.
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