JEONGGUK
É um jeito ridículo de se dizer “adeus”. Eu esperava que ela ao menos falaria comigo pessoalmente. Na verdade, eu não esperava nada, deve ter sido melhor assim, certo? Talvez eu não vá sentir mais as sensações estranhas e saberei que não estou... apaixonado. Eu sei que não estou.
Me sinto infantil por não saber nem ao menos o que sinto e o que se passa em meu coração, que não para de acelerar a cada vez que seu nome é falado por Namjoon, Lauren, ou qualquer pessoa.
Foram exatos dois dias na casa de Namjoon. Ele me perguntava a cada cinco minutos o que estava acontecendo comigo, alegando que eu estava estranho.
Eu queria conversar com alguém que realmente eu pudesse confiar. Agora eu me sentia sozinho, literalmente sozinho. É como se a ida daquela estrangeira a um país qualquer, levasse junto tudo o que já aconteceu nos últimos meses que ela esteve aqui, como se tudo que ela já houvesse me falado fosse varrido da minha mente, que parecia um completo deserto sem emoções agora.
Acho que estou criando um drama todo dentro do meu pensamento, ela só vai ficar 1 semana longe, não é nada desesperador, já que ela vai voltar.
Será que ela voltará para o natal mesmo? Eu não pensava em passar o natal com ninguém de qualquer jeito, mas queria que ela estivesse pelo menos no seu andar e eu no meu andar, para garantir que ela não está tão longe e eu não estou “sozinho”.
Ridículo pensamento.
Eu me sentia aliviado por poder me jogar no sofá de casa — depois do cansativo dia de aula — e pensar aleatoriamente. Eu queria pensar que continuava o mesmo de sempre, carregando mágoas comigo e um terrível humor, seguido de mente vazia, mas ultimamente, não sei dizer se estou mudando ou não, se ainda sou o mesmo.
Três batidas na porta foram o suficiente para me fazer levantar e me despertar do meu momento de confusão, mas quando vi minha tia em minha porta — ou a porta dela —, esperei por mais uma de suas conversas cansativas.
— Vamos, me deixe entrar!
Eu me sentia meio tolo por meus pensamentos me distrairem tanto. Eu não disse nada, enquanto a via se sentar no sofá.
— Este sofá não é nada confortável. — Reclamou.
— O que quer?
— Faz um bom tempo que não ouço algo educado sair de sua boca, Jeongguk.
Ela suspirou, mas não adiantava ela tentar mostrar algum tipo de afeto ou fingir se importar, eu já sei como ela é.
— Pois bem, você sabe que eu venho aqui atrás de notícias do Taehyung.
Teria algum outro motivo? Já estou acostumado ao fato das pessoas me procurarem quando precisam realmente de algo, e não por quererem minha presença.
— Então está perdendo seu tempo. — Fui até a cozinha, me sentindo obrigado a fazer café para servi-la. — Ele não me ligou mais, depois daquele dia. — Disse um pouco mais alto, enquanto a via discar alguns números em seu telefone.
— Eu tentei ligar para aquele número que ele ligou pra você. — Ela suspirou. — Mas diz que não existe.
— Não acha melhor chamar a polícia?
A fumaça, juntamente com o cheiro do café, se espalhou pela sala, enquanto eu despejava o líquido quente em uma xícara.
— Eu não posso chamar a polícia, eles vão prender Taehyung! — Deixei a xícara na mesa de centro, para que ela pudesse pegar.
— E o que pretende fazer?
— Preciso achá-lo eu mesma.
— As pessoas sensatas chamariam a polícia.
— Mas se trata de Taehyung.
— E o que você quer que eu faça? — Disse um pouco rude.
— Me informe sobre qualquer coisa que acontecer, apenas. — Ela terminou de beber seu café, deixando a xícara novamente em cima da mesa de centro. — Eu preciso ir, só passei pra saber se tinha notícias. — Ela se levantou. — Ah, Jeongguk, como está a garota?
— Que garota?
— A que foi roubada.
Que frio na barriga.
— Ah. — Respondi sem ânimo. — Ela... vai bem. — Voltei com a xícara em meus lábios, bebendo um gole do fraco café.
— Bom, não deixe de ajudá-la no que pode, eu ainda não tenho todo esse dinheiro para pagá-la. — Ela andou até a porta.
— Tanto faz. — Então ouvi o barulho da porta ser aberta, e logo depois fechada.
Silêncio. Ultimamente tenho odiado silêncio, devo ter me acostumado a _____ sempre falando, que tenho achado todo silêncio estranho. Ela já tinha ido embora, mas por que ela ainda não tinha ido embora da minha cabeça? Estrangeira... intrometida.
Descobri recentemente os sentimentos estranhos à flor da pele, e isso tem me causado desespero por pensar na possibilidade de estar apaixonado, principalmente por aquela estrangeira.
Como posso gostar dela? Ela é intrometida, pervertida, perseguidora, inconveniente boa parte do tempo, e se estou ao seu lado, ela faz questão de me deixar constrangido com seus olhares intensos sobre mim. Assustadora, talvez?
Queria que Taehyung não tivesse estragado minha vida a partir do momento em que fugiu com todo o dinheiro daquela estrangeira.
Eu não me sinto feliz sentindo essas sensações, pelo contrário; me sinto estranho. Talvez eu não esteja apaixonado por ela, e esteja sentindo essas sensações por ser apenas atração física.
Idiota. Paixão é atração física.
Então é isso? Não acredito estar apaixonado. Atração física... será que sinto vontade de beijá-la? Nunca parei para pensar em tais coisas. É fato que eu sentia isso com SoJin, sentia as mesmas sensações... então, isso só pode significar uma coisa: estou apaixonado, mas nem ao menos tenho certeza disso.
Eu não quero gostar dela, não quero sentir tudo que senti novamente, essas sensações só servem para te destruir aos poucos ao perceber que somente você sente isso. Não é recíproco.
Eu não quero me entregar a algo unilateral, que somente eu vá sentir tudo isso, carregar todo esse peso dos sentimentos sozinho. Eu realmente não quero.
Eu nem ao menos terminei o café que havia preparado com a mais má vontade que já tive, e quando bebi, o frio líquido me fez sentir vontade de cuspir tudo no chão.
Estou fazendo tudo lentamente, nem me dando conta.
Os dias seriam diferentes a partir de agora, eu sentia isso. A aula foi a mesma, mas a sensação era de algo faltando. A estrangeira está mexendo com meu psicológico e bagunçando minha rotina, que já não era a mesma “rotina” de sempre.
A única coisa que estou ciente no momento é que estou completamente confuso em relação a tudo. Gostaria de ter mais controle sobre mim mesmo, nem sei o que têm acontecido comigo ultimamente.
Eu realmente não gosto de ficar sozinho agora.
Esses estúpidos sentimentos...
Queria sair, talvez a fonte dos sentimentos seja este fechado apartamento com uma energia de “paixão platônica” no ar. Deprimente, bastante dramático.
Minha mochila ainda estava em cima do sofá, carregada de livros. A peguei, levando até o quarto, mas seu zíper estava aberto, consequentemente a abrindo e jogando alguns livros no chão, e aquele caderno caiu por último.
Maldito caderno!
Ao mesmo tempo que o odeio, me faz ter lembranças dela. Então apenas devo odiá-lo, não quero me lembrar de ninguém, não quero pensar em ninguém.
E todos os pensamentos anteriores foram jogados fora quando eu o peguei, levando-o comigo até a sala. Ah, eu realmente não tenho saída. Queria tanto que aquela estrangeira fosse definitivamente embora, seria bom, talvez assim ela fosse embora de minha mente. Seria bom, eu acho.
Eu olhava para aquele caderno todo o dia, todos os malditos dias desde que o “roubei”. Me sinto em um típico dorama dos mais dramáticos e apaixonados, mas a diferença é que eu não estou apaixonado!
Pelo menos acredito não estar.
Havia uma caneta jogada em cima da mesa de centro, bem ali, na minha frente, enquanto meus olhos ora olhavam para a caneta, ora olhavam para o caderno, decidindo se essa era a melhor ideia. Não. Que idiota. Não farei o que estou pensando.
Mas... sinto que a qualquer momento vou explodir!
Eu preciso colocar tudo que está preso dentro de mim para fora, sentir a sensação de “liberdade” (?) novamente.
Não. Posso ter controle sobre mim mesmo. O deixei de qualquer jeito em cima da mesa de centro, ao lado da caneta, preciso dar um fim neste caderno.
Eu puxei o casaco pendurado ao lado da porta e o vesti apressado, me sentindo aliviado por poder dar um passo para fora de casa. As minhas mãos geladas tentavam se aquecer nos bolsos grandes do casaco e, ora ou outra, ajeitavam os fios de cabelo que caiam sobre meu olho quando o vento gelado batia contra meu rosto.
A rua parecia agitada demais para mais um dia de tempo fechado. Minhas pequenas botas arrastavam no asfalto, talvez por pura preguiça minha de andar até o café que, literalmente, ficava na esquina de casa.
Era possível sentir o frio de final de dezembro congelando algumas partes de meu corpo que não estavam totalmente cobertas e preparadas para a temperatura. Esperava pela tão aguardada neve de inverno, deveria ser a única coisa que eu esperava, pois não tinha as melhores expectativas para o natal.
O problema de não ter expectativas para o natal, e muita das vezes rejeitá-lo, te faziam se sentir mais idiota do que já é. Parece idiotice rejeitar algo que faz muitas pessoas felizes, ou nem todas, assim como eu, mas isso depende do que já vivi. Mas se existe outra pessoa como eu no mundo, essa pessoa sabe como é odiar o fato de odiar o natal e ter de ver enfeites e decorações por todo o lado da cidade.
Isso me remete a tantas lembranças das quais não gostaria de lembrar.
Odeio lembrar do tempo vivido com minha mãe, com minha família. Minha mãe é a responsável pela metade dos tais “problemas” que as pessoas acreditam que eu tenha, mas eu não consigo enxergar isso, por que? Sou um ser humano confuso, admito.
Quando entrei no local, o calor do ambiente aquecido com aquecedor me abraçou, me fazendo lembrar dos cafés fortes e quentes.
Até mesmo da estrangeira ao tomar seu primeiro café coreano com uma careta em seu rosto, embora muitos deles sejam fracos, este é especial.
Ah, queria que fosse mais um dia comum como todos os outros, mas estava sendo um dia produtivo para o meu cérebro, que só sabia me incomodar com pensamentos. Então era um dia... diferente. Mas eu espero que tudo volte ao normal.
Enquanto esperava pacientemente pelo meu café, o pequeno sino ecoou, indicando que alguém havia entrado no local, me fazendo instintivamente olhar para a porta.
Oh, não.
Péssimo dia para péssimas idas a cafés de tarde. Nem ao menos fora de casa eu consigo me libertar dos assuntos — ou, talvez, pessoas — nos quais queria manter distância. Quando tudo dá errado, literalmente, tudo dá errado de uma vez só. Pelo menos era assim que as coisas funcionavam, infelizmente, na minha vida.
Queria poder me livrar das coisas facilmente, ou, talvez, lidar com elas.
Ele ainda tinha coragem de vir em direção a minha mesa, mesmo depois do que fez à mim. Na verdade, tecnicamente, ele não fez nada, mas me causou um terrível peso nas costas no qual carrego até agora. Maldito Hoseok.
— Olá, Jeongguk.
Ele disse, estampando aquele sorriso no rosto, o mesmo que mostrava a _____, como ela pode gostar desse cara? Ele é patético.
Suspirei como resposta, alto por sinal, mostrando meu desinteresse por iniciar uma conversa com Hoseok.
— Tem notícias da _____?
— Eu não vivo com ela para informar tudo o que acontece.
Ouvir essa mesma pergunta me cansa, ouço de todas as pessoas conhecidas dela, como se eu realmente estivesse com ela 24 horas por dia, por que não perguntar a ela mesma? Uma solução tão simples. O quê esse idiota tem na cabeça? Essa pergunta me estressou não só por esse fato, mas por ter que ouvir seu nome em todos os cantos possíveis, não é possível que ela tenha tantos amigos e pessoas ao seu redor...
Talvez eu inveje um pouco isso, mas não justificava o que eu queria dizer. Eu não quero sentir sua falta! É tudo que eu menos quero agora! Por que não me deixa em paz, _____? Até quando você, mesmo longe, vai me torturar? Até quando vou viver preso a sensações que não chegam a uma conclusão exata do que penso?
Tudo isso é porque sinto sua falta? Não pode ser, estou lidando bem com isso, posso lidar.
— Tudo bem, Jeongguk. — Ele ainda estava calmo, sentando-se na cadeira em minha frente. — Não deve estar em um bom dia.
Mas que tom irônico besta, agora isso me fez sentir um idiota. Odeio quando as pessoas descobrem meu pontos fracos.
— Eu não sei. — Menti.
Ele ficou em silêncio, me encarando de forma estranha.
— Hum. Ela tem estado estranha.
— Não tenho nada a ver com isso. — Eu tentava ao máximo não olhar para ele, em minha frente, enquanto meus olhos estavam presos à visão da rua ao meu lado, pelo vidro.
O café havia sido colocado em minha mesa.
— Você, por acaso, tem o número dela? — Ele estava testando minha paciência?
— Por que acha que eu teria o número dela?
— Eu não sei, vocês são amigos, não são?
— Isso não é da sua conta.
— Realmente, não. — Ele é esquisito.
— Você só veio falar sobre ela? — Bebi um pouco do líquido quente, acabando por queimar minha língua.
— Sim. — Ele deu de ombros.
— Pois eu não tenho nada para falar.
Eu me levantei, vendo que não tinha escapatória para um sossego em qualquer lugar que fosse, aceitando o fato de que minha deprimente casa era o único lugar que me aceitaria e me deixaria ficar em paz.
Eu seguiria, se não fosse por uma mão pesada segurando meu braço.
— Ei, cara. Por que você é assim? — O quê? — Por que trata ela assim? Ela é uma ótima pessoa, uma das melhores que conheci, ela realmente merece mais do que isso.
— O que... O que você tá falando? Me solta. — Puxei meu braço, confuso.
— Estou falando que uma hora ela não vai estar mais aqui pra você.
Meu coração pareceu parar de bater por um instante, mas logo voltou descontrolado. Palavras não costumam me afetar, mas esta, eu diria ter vindo para desenterrar algo que estava escondido lá no fundo do meu peito: o sentimento de abandono.
Eu não sinto isso desde quando minha mãe resolveu me largar para cair no mundo e viver sua nova vida, talvez por ser nova demais e não aguentar ter o peso de uma “criança” em suas costas, ou talvez por ter sido irresponsável desde sempre.
Abandono. Uma das piores sensações que já tive em toda a minha vida.
Eu sai do local com um aperto em meu peito, olhando as pessoas em volta nos olharem algumas vezes.
Por que agora sinto raiva? Sinto raiva por nunca fazer algo direito, por minha vida ter tomado o rumo que tomou, por sentir essa sensação horrível e a dor que ela me causa toda vez que a desinterro de dentro de mim. Uma dor realmente inexplicável.
O caminho de volta pareceu mais rápido por conta dos passos apressados que eu dava de volta para casa, enquanto tentava não esbarrar com as pessoas que passavam por mim na rua.
O meu pesadelo está voltando.
É horrível ser uma pessoa que não consegue lidar com seus próprios problemas. É horrível possuir problemas nos quais você ainda nem entende completamente.
Ao trancar a porta do apartamento, descontei parte da minha raiva em três socos nela, sentindo minha mão queimar, e aos poucos voltar ao normal. Lágrimas de raiva escorreram pelo rosto, até pararem em meu queixo e caírem.
Não me imaginava nessa situação, mas não era a primeira vez.
Desde a chegada da estrangeira, tudo foi desmoronando em minha vida e eu fui engolindo tudo o que acontecia, tentando colocar a ideia de que estava “tudo bem” em meu cérebro, mas eu sei que ora ou outra eu poderia explodir, como aconteceu várias vezes.
Aquele caderno ainda me esperava em cima da mesa de centro.
Caminhei até ele, pegando juntamente com ele a caneta ao seu lado, o abrindo. Me jogar no sofá foi confortável para meu corpo, enquanto eu ainda esfriava a cabeça. Será que devo dar um fim a este caderno? Eu o abri. Minha mão ia até as linhas da folha de caderno, segurando a caneta preta em mãos, pensava em escrever algo, mas acabei soltando um suspiro de frustração.
“idiota”
Foi a única coisa que consegui escrever, mas ao fazer isso, me fez sentir 1% aliviado.
“eu não gosto desses sentimentos”
Já havia sido mais um passo.
“eu odeio. Odeio apenas pensar que estou diferente”
Minha letra saia totalmente horrível. Os traços de Hangul pareciam garranchos para alguém que escrevia perfeitamente bem.
“Eu não quero admitir que estou sentindo um vazio no peito, uma sensação de algo faltando, uma sensação de estar completamente sozinho. Eu gostava de ficar sozinho, e hoje em dia eu odeio, porque sinto medo, porque me acostumei ao fato de ter aquela estrangeira sempre por perto, sempre buscando não me deixar em paz um minuto sequer. Mesmo sendo irritante, me passava conforto. Por que meu cérebro associa isso como algo que preciso? Como uma necessidade... eu não quero ter que depender dela. Ultimamente tenho sido dependente de sua presença, mas não acredito ainda que passei 2 dias inteiros sem ela. 2 insuportáveis dias. Estou conversando sozinho através de folhas de papel, que estão me ajudando a expressar o que realmente não tenho coragem para dizer a minha pessoa mais próxima.”
(...)
Mais um dia. Mais um vazio. Mais uma sensação diferente. A cada dia que passa, descubro mais sobre meus sentimentos, me aprofundo mais neles. Não tenho definição certa, mas sei que há algo crescendo dentro de mim, um sentimento que ainda não tem denominação, eu diria.
3 dias já se passaram.
Eu só sei que não quero ficar tão longe assim. Eu me levantei do sofá, indo até a cozinha. Essas coisas todas que aconteciam, iam me desanimando cada dia mais. Fui até a geladeira, abrindo a porta de forma rápida, vendo os espaços vazios em boa parte dela. Gostaria que tudo fosse mais fácil pra mim, tenho esperança de que as coisas irão melhorar com o tempo. Ao fechar, vi o pequeno pedaço de papel com um número de telefone.
Ah, eu me lembro quando ela me deu aqueles remédios e aqueles biscoitos, seguido do pequeno pedaço de papel com seu número. Uma péssima tentativa de me dar seu número disfarçadamente, já que eu nunca liguei.
Realmente, eu nunca liguei.
É isso. Eu queria ouvir sua voz de novo, acho que pela “convivência” que tive com ela nesses últimos tempos, me fizeram guardar sua voz em minha cabeça, mas, estranhamente, não consigo mais imaginar sua voz em minha mente. Eu preciso ouvi-la de novo.
Mas... eu não consigo ligar.
Por que não consigo ligar? Por que tremo só de pensar em discar o número, e o telefone nem ao menos está em minha mão? Não entendo. Parece algo tão idiota, mas talvez deva ser por eu não ter o costume de falar muito ao telefone, eu só ligo para alguém quando realmente for algo importante.
É, acho melhor não ligar, se eu quero mesmo ficar longe desses pensamentos/sentimentos, eu preciso deixar as coisas como estão. Mas o problema é meu coração, fazendo as escolhas erradas, o que me faz, consequentemente, pensar nela.
Peguei aquele caderno novamente, enquanto folheava todos os papéis gastos com minha horrível letra e meus sentimentos expressados de maneira que ainda não queria expressar nem 10% do que eu realmente estava sentindo. Meus sentimentos estão divididos entre desespero, medo e atração.
Descobri recentemente que o quê posso estar sentindo por ela é apenas atração. Sentir atração não é nada grave, mas sentir atração por uma estrangeira estranha é totalmente fora de controle. Talvez até dos padrões, acredito.
Oh, não! Pare, _____!
Acho que ela não deve sentir nem metade do meu desespero, acho que nem desespero ela sente. Ela realmente não é como eu. Tenho ficado mais intenso, será que isso é algo ruim?
Queria saber se ela realmente voltará antes do natal, queria ter realmente certeza. Será que ela já sabe? Ela com certeza já deve saber, mas eu ainda não posso falar com ela, não posso. Talvez a Sra. Kim saiba, por que não quero que ela pense que estou me importando com ela.
Agora eu tinha um problema a mais: eu não tinha o telefone de sua casa.
Dois suspiros foram o suficiente para me sentir derrotado, até me lembrar dele. Ah, não. Ele é realmente perturbador até em meus pensamentos. Não quero ter que ligar para esse idiota, iria ferir meu orgulho, é contra as leis que eu mesmo impus sobre mim.
Mas eu não tinha opção.
Me senti mais nervoso ainda, discando os números em meu celular enquanto minhas mãos suavam. Foram 6 toques, quando eu já estava quase desistindo, ele atendeu.
— Alô?
Estou sentindo medo de perguntar, será que devo perguntar?
— Tem alguém aí?
— Sim.
— Quem tá falando?
— O garoto do andar de cima.
— Ah, sei. O que você quer?
“Que você suma” é uma opção?
— V-você sabe que dia _____ volta?
Idiota.
— Por que você não pergunta a ela?
Seu tom era debochado, pensei em respondê-lo, mas parei ao ouvir o barulho de chamada encerrada. Ele havia desligado.
Ah, devo ter feito muitas coisas erradas na vida para receber esse troco de volta. Muitas mesmo, das quais eu nem sei, mas tudo que se faz, se paga, e meu preço estava sendo caro.
“Hoje pensei em ligar para ela, mas não consegui. Sou um idiota. Liguei para aquele seu primo imbecil e ele desligou na minha cara. Eu quero matá-lo, mas ouvi Lauren dizer hoje na escola que ele só ficará até o natal, então espero ansiosamente pelo dia de sua ida.”
Escrevi, liberando o pouco de estresse da minha cabeça.
(...)
Eu literalmente não aguento mais um dia sequer. 4 dias haviam se passado, e esses quatro dias só haviam me feito chegar a uma única conclusão: eu acho que gosto dela.
É, acho. Não definitivamente, mas acho. Quanto mais eu escrevia naquele caderno, mais estressado eu ficava. O que antes servia como alívio, agora não serve para mais nada.
Devo ligar para ela.
Estou desesperado, não suporto ficar sem mais algum tipo de contato sequer, ela também nem ao menos tentou se comunicar comigo. Ela está se afastando? Ou eu estou?
Não pareço mais o mesmo garoto de meses atrás, se o eu de antes olhasse o meu eu de agora, com certeza ele daria boas risadas, seguido de um tapa na cara como um sinal de “acorda! Você está louco!”.
Literalmente louco.
Agora esperávamos a última aula sem professor acabar, aguardando o barulho alto do sinal tocar. Foi um dia estranho, como se tudo tivesse mudado.
Vi a amiga estrangeira de _____ me observando junto com Namjoon o dia todo, enquanto dizia a ele coisas como “Verdade”, “É, realmente está estranho”. Acho que ela estava falando de mim, mas nem me importo com comentários alheios.
Aquela sua amiga é realmente muito estranha.
Passei o dia inteiro sozinho. Tenho passado os últimos dias assim. É uma sensação estranha não tê-la aqui, alguns meses atrás eu estaria dando tudo para que ela fosse embora de volta para seu país de origem, ou qualquer lugar que ela tenha vindo, mas hoje... não sei, não parece certo.
Só mais alguns dias e tudo vai voltar ao normal.
Só mais alguns dias. Parece tão simples, mas é um verdadeiro sacrifício. Levei o caderno comigo para escola, na verdade, tenho levado todos os dias, parece um passatempo interessante, escrever…
As aulas de música estão indo mal. A todo momento, algumas lembranças me vinham à cabeça e eu me desconcentrava, as vezes desafinava, saia do tom, minha voz falhava, e o que mais aconteceu: eu subitamente parava de cantar, como se estivesse viajando para outro lugar, o país dos sentimentos confusos os quais as pessoas chamam de paixão.
Não acho que seja paixão.
Eu achava tudo estranho quando ela já estava aqui, imagina ela longe. Eu tenho a sensação de estar caindo no meio do vazio, mas ninguém está ali para estender uma mão para mim, será que estou ficando louco?
Já devo ter feito essa pergunta a mim mesmo várias vezes, repetidamente.
Então, eu simplesmente faltava as aulas de música com alguma desculpa sobre estar com dor de garganta, quando, na verdade, estava na última carteira da sala de aula, escrevendo no maldito caderno. É, este era seu “nome”.
Todos na sala conversavam uns com os outros, enquanto eu folheava novamente o caderno, que estava em meu colo.
“Hoje senti que estava sendo observado, e pra minha surpresa, era a idiota da estrangeira amiga de _____, junto com Namjoon. Sinceramente, quando ela volta? Porque tenho realmente muitas esperanças de que seja antes do natal, mas ela disse com tanta incerteza em seu tom de voz. Gostaria de quebrar algumas coisas na minha parede, mas às vezes me esqueço que esse apartamente não é meu. As vezes, acredito que estou louco.”
Por que ainda perco meu tempo escrevendo nisso? Não sei, me parece atrativo, mas as vezes, idiota. Eu faço as perguntas e as respondo mentalmente, que idiota.
Estou em um castelo de cartas, o qual nem comando, e sinto que ele está desmoronando aos poucos, à medida que sinto algo novo. Como uma carta fora do baralho.
Estou perdido na minha própria confusão.
Sinto falta das folhas de outono caindo, e não da neve forte, que de um dia para outro, caiu.
É, isso era previsto, mas não achei que demorasse tanto assim. Eu esperava ansioso pela neve, mas agora que ela caiu, não fez a mínima diferença.
Eu dava suspiros altos por falta da minha amiga. Isso era bom, ninguém me escutava ou prestava atenção em mim, tirando algumas meninas realmente insuportáveis. Alguns acham que tenho problemas, outros acham que sou anti-social, quando, na verdade, sou apenas alguém que gosta de ficar sozinho, mas ultimamente tem mudado seus conceitos.
Provei que ficar sozinho depois que se conhece alguém... que muda, de certo modo sua vida, é algo ruim.
Quando o sinal bateu, todos saíram rápido da sala, enquanto eu esperava o amontoado de pessoas se desfazer da porta. As pessoas brincavam com a neve no pátio da escola, enquanto outras tinham sorrisos nos rostos. Saudades de dar um sorriso verdadeiro, nem mesmo forçando ou fingindo eu consigo.
Todos diziam que meu coração era de pedra, mas tenho a sensação de que ele seja de papel. Tão fraco a tantas coisas.
Espero mesmo esquecer de tudo isso em breve, deve ser apenas alguns efeitos colaterais de alguns problemas emocionais, por isso acho que estou sentindo algo pela estrangeira, quando, na verdade, estou passando por algo complicado.
Misturo emocional com realidade.
Só os tolos se deixariam levar por uma paixão, ou se apaixonaram. E eu não sou tolo.
Minha mente têm andado tão perdida quanto eu, por errar o caminho de casa, dias atrás. Agora tenho andado até em casa, é um pouco longe, mas gosto de pensar enquanto caminho, parece a melhor hora.
A neve não facilita tanto assim a caminhada, mas aproveito por ela estar “fraca” ainda. Creio que quando começar a ficar forte, as aulas serão suspensas, os ônibus não circularão por causa das pistas escorregadias e muitos ficarão sem sair de casa.
Tenho guardado minhas chaves no fundo da mochila para garantir que desta vez não perderei, há muitas coisas dentro de casa que são significantes.
Ah, inverno. Quanto mais você vai durar? Acho que o tempo está de acordo com meus sentimentos.
Girei a chave na fechadura, sentindo o calor acolhedor de estar dentro da minha casa. Eu queria que ela estivesse aqui para, pelo menos, colorir o “cinza” que estava os cômodos.
Quanto mais terei que esperar? Ah, sinto alívio, talvez, por saber que faltam apenas 3 dias. Alívio? São 3 dias inteiros!
Desisto, eu sinto desespero.
Caneta preta em minha mão, caderno vermelho sobre meu colo, tudo o que preciso para colocar para “fora” parte das coisas que não me libertam.
“Se passaram 4 dias. Eu queria ter realmente a certeza de que ela voltará antes do natal, sei que não fará diferença, pois passarei o natal sozinho este ano, mas, apenas queria essa certeza.”
(...)
Já devo ter citado alguma vez em meu pensamento o quão esperar por alguém é horrível. Não esperar no sentido de que você acredite que um dia ficarão juntos, até porquê só os fracos e tolos pensariam deste modo, mas no sentido de... espera.
Não sei a definição de espera, mas posso dizer que é algo horrível.
Já me disseram que o amor tem caminhos coloridos, mas tudo que vejo é um grande e insignificante cinza. Um enorme cinza.
5 dias é a definição perfeita de “louco”, que é o estado em que me encontro agora. A cada dia que passa, cada dia em que abro meus olhos e vejo que é um novo dia, sinto que estou me transformando, ou algo está se transformando dentro de mim. Será meu corpo? Devem ser efeitos da adolescência e seus hormônios malucos, mas sempre me olho no espelho e para mim pareço completamente igual.
Tirando algumas olheiras que tenho ganhado ao longo da semana, escrevendo boa parte da madrugada naquele caderno. Quando ela voltar, terei que me livrar deste caderno o mais rápido possível.
O quê você pensa que está fazendo na minha mente a uma hora dessas, _____?
Os exames finais chegarão em breve, espero poder ter tempo e sossego mental para que eu possa estudar. Tenho medo de todos irem e apenas eu ficar.
Daqui a 2 dias terá completado 1 semana, e não só apenas isso, terá o natal.
Espero mais pelo ano novo, já que nunca ganhei algum presente sequer nas noites de natal. Eu nem me importava tanto com isso, já era de se esperar quando se tem uma mãe como a minha e uma “família” assim.
Acho que, dependendo do presente, ele só se torna “especial” quando é dado pela pessoa que realmente significa algo para nós, seja da família ou apenas um bom amigo. Eu não sei como funciona, sempre acreditei ser deste jeito, já que nunca ganhei nada.
Eu posso até não ganhar nada este ano, novamente. Mas eu queria presentear alguém. Ela têm feito tantas coisas por mim, mesmo sem eu perceber, sou verdadeiramente um ingrato. Eu não sei se teria coragem de dar algo à ela, já que não tenho tido ultimamente coragem para ligar para ela para apenas ouvir sua voz. Me sinto nervoso, minhas mãos suam, é difícil de se explicar.
Não posso comprar aquilo que talvez ela mereça, mas posso dar o que estiver ao meu alcance. Realmente estou nervoso, será que ela vai aceitar?
Sou tão fracassado que nem ao menos posso fazer isso.
Não sei nem ao menos o que ela gosta, não sei o que ela deverá usar, não sei do que ela realmente gostaria de receber. Eu tinha o número de Namjoon, ele poderia me ajudar, talvez. Sua amiga é tão esquisita que se eu confiasse essa tarefa à ela, capaz de tudo sair errado.
Ele estava demorando a atender, suspirei, eu não iria desistir da ideia. Liguei novamente, até que 5 toques depois, ele finalmente havia atendido.
— Jeongguk? — Ele parecia preocupado.
— Namjoon, eu preciso... que me ajuda com algo.
— Só dizer.
— O natal... é daqui a três dias.
— Sim... — Silêncio. — Jeongguk, o que está acontecendo?
— Você gosta da Lauren, que presente você daria à ela no natal?
— Você quer presentear alguém?! — Ele parecia estar espantado, pelo seu tom de voz.
— Responda minha pergunta.
— Depende muito, Jeongguk. Lauren é uma pessoa... Tá, ela é um ser humano bem esquisito, também não faço a mínima ideia do que daria à ela.
— Você não vai dar nada à ela no natal?
— Acho que não, Jeongguk. Eu nem ao menos me declarei, não sei se sou correspondido. Tenho medo.
Eu o entendia perfeitamente.
— Ei, Jeongguk? Ainda tá ai?
— Sim.
— Posso saber quem é finalmente a sortuda?
— Alguém que me faz sentir a mesma sensação que você.
— Quer um conselho?
— Diga.
— Não sinta, se entregue. Já me ferrei muito na vida por não ter tomado as decisões certas.
— O quê quer dizer com isso?
— Eu notei que está estranho, Jeongguk. E sei como você é, pare de pensar tanto, quando você deveria agir.
— Você diz como se fosse simples.
— Realmente não é, mas se isso serve de ajuda: quanto mais você está aí sentado, mais tempo você perde.
— Você tá me dando medo. — Ouvi sua risada ao fundo.
— Não era minha intenção. Mas se for a pessoa que estou pensando... acho que ela gosta de ouvir você cantar.
— Me ouvir cantar? — Bufei. — Eu não vou cantar...
— Então o que tem em mente?
— Nada.
— Então cante.
— M-mas eu... Não vou conseguir cantar.
— Não faça por você, faça por ela.
— O que eu devo cantar?
— Ah, eu não sei.
— Então, desisto.
— Não têm nenhuma música que te faça lembrar dela?
— Hum... eu não sei, talvez tenha.
— Então se apresse, você não tem muito tempo.
— Ok, eu já sei, obrigado.
— Você me disse obrigado?!
Desliguei. Já esperava por sua empolgação.
Talvez Namjoon tenha razão. Na verdade, ele teve razão em absolutamente tudo o que disse. Eu queria pensar como ele, seu modo de ver as coisas deve ser menos complicado do que o meu. Mas, como sempre, eu sou o mais intenso com as coisas.
Crio tempestades em copos d'água.
Eu sou educado! Sei dizer obrigado! Por que as pessoas acham que vindo de mim, é algo tão extraordinário? idiotas.
Uma música. Ela não poderia preferir qualquer outra coisa? Provavelmente desmaiaria enquanto estivesse na metade da música, mas se é por ela... não sei, irei pensar sobre isso. Não tenho muito tempo, sei disso, mas é algo que vai exigir muito de mim.
Principalmente, muito dos meus sentimentos.
Só espero que ela não demore a voltar, porque... eu acho que sinto mesmo sua falta.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.