JEONGGUK
“E para completar, eu havia recebido uma ligação indesejada. É... na verdade, eu estava mais irritado com a ligação do que qualquer outro fato, e eu não estava preparado para isso, tanto psicologicamente, quanto... eu não sei. Eu só sei que derramei algumas lágrimas idiotas por isso. [...] eu não estava pronto para contar isso à ela. Ela já estava envolvida demais nos meus problemas. Eu estava realmente irritado com isso.” — Outubro, 20/10.
Suspirei pela quinta vez naquele mesmo minuto que ainda não havia passado. O sofá já se afundava com o peso do meu corpo deitado ali, enquanto eu olhava para o relógio na parede branca. Sinto desespero. Mesmo que não aparente, é isso que sinto no momento. Minha mente parece ter virado um caos, ela manda sinais de alerta para o meu corpo, e todo ele fica tenso.
O céu estava claro, com nuvens brancas e pequenas espalhadas por ele, deixando visível a imensidão de azul presente. Era primavera... mas eu me sentia no frio inverno. _____ estava animada, ela gostava da estação, ela gostava e sentia falta do calor ameno que aqui não tinha tanto. Eu queria poder contar para ela tudo o que sentia naquele momento em que estava no sofá, sem saber o que fazer enquanto esperava pela presença futura da mulher que eu não gostaria de ver nem tão cedo.
Ela não pode saber. Eu não posso contar. Elas não podem se ver. Ninguém entenderia a bagunça que tudo está. Eu gostaria de ter poderes para fazer tudo ir embora como passe de mágica, mas... eu não tenho. O único poder que tenho é de afastar as pessoas... mesmo que agora — algo que sou grato —, eu esteja rodeado de pessoas. Mas... eu queria mesmo que esse poder voltasse para que ela se mantivesse longe de mim novamente.
Por que ela voltou?
“Por que” não adianta absolutamente nada agora. Ela está a caminho... fico grato por _____ não estar em casa agora, já que me disse por ligação ter ido depois da escola com Lauren comprar algo de que não me lembro agora. É, eu estava faltando à algumas aulas, o que deixava _____ ainda mais desconfiada.
— Abra!
Eu me assustei e saí de meus pensamentos de maneira rápida ao ouvir a voz forte e feminina do outro lado da porta, praticamente a esmurrando. Eu bufei, tirando meus pés do sofá, ainda calçados com um tênis de cor marrom, andando até a porta, pensando se abriria ou não.
— Você ainda está pensando em abrir? — Disse do outro lado.
— O quê? — Sussurrei confuso e desacreditado.
— É, Jeongguk, eu ainda te conheço bem. — Deu risada. — Vamos, abra. O tempo de pensar acabou.
Eu, reunindo coragem e fechando meus olhos, girei a maçaneta lentamente. Eu sabia que ela abriria a porta mesmo que eu não abrisse, mas mesmo assim mantive meus olhos fechados porque não saberia como reagir a isso depois de tanto tempo.
Eu me mantive nervoso desde o momento em que pude ouvir sua voz. Ouvir sua voz depois de tanto tempo. Tudo bem. Não era nada. Eu não ouvi mais sua voz, nem seus passos, então deduzi que ela ainda estava parada ali. Argh. Por que justamente agora? Eu vou ter que tomar o primeiro passo, certo.
Eu abri meus olhos devagar, olhando imediatamente para o chão. Eu vi seus pés calçados em uma bota preta, que ia até a altura de seus joelhos, porque meus olhos continuaram a subir lentamente. Ela usava calça jeans, como os jeans claros que uso. Usava blusa branca e jaquetas da mesma cor que seus jeans... e... seu rosto, em seu rosto tinha pouca maquiagem. Eu sempre soube o quanto ela odiava essas coisas em seu rosto, mas as usava porque acreditava a deixar mais bonita. Ela... continuava a mesma. A mesma de sempre. Seus cabelos estavam tão pretos como nunca, e ela piscava atônita para mim.
— Oi, Jeon. — Ela me chamou pelo sobrenome que a mesma dividia comigo: Jeon... ou pelo menos dividia, já que, com a morte do meu pai, ela teria tirado, e com o “novo casamento”, ela já teria outro sobrenome.
Eu sabia que ela havia me chamado assim por não usufruirmos mais daquela “intimidade” e convivência. Mesmo que sejamos mãe e filho.
Eu não sabia o quê dizer. Meu coração palpitava, eu estava arrepiado pela tensão espalhada por meu corpo. O que estava acontecendo? Ela nem significava nada para mim. Eu nem a respondi, preferi continuar calado enquanto engoli aquele seco preso em minha garganta. Eu voltei para o sofá, suspirando. Eu ouvi o barulho da porta se fechando, e passos ficarem mais presentes.
— Então é aqui que têm passado... — Não soou como pergunta, mas pude ver seus olhos analisando todo o local, ela não me parecia surpresa.
Por que ela tinha sorriso doce? Aquele sorriso não me enganava. Ela andou até o canto da sala, deixando sua mala grande e preta encostada, enquanto vinha até o sofá.
— Tire os pezinhos. — Ela disse calmamente, enquanto eu abria meus olhos e suspirava, me sentando corretamente no sofá, enquanto ela se sentava ao meu lado.
A sua voz... ela continua a mesma. Ela entrelaçou suas mãos umas nas outras, apoiando seus cotovelos perto do joelhos, enquanto olhava para frente, assim como eu.
Nos mantemos em silêncio. Ela virou seu rosto em minha direção, me analisando. Eu não a via, porque estava com o rosto virado para frente, mas sentia seu olhar queimando em mim. Eu sei que ela queria dizer tudo. Tudo mesmo. Mas eu não estava preparado. Eu não estava preparado para isso; para essa conversa; para vê-la. Eu não queria. Na verdade, havia resquícios em mim que queriam sim, mas a maioria me dizia que não.
Eu praguejava minha tia de todas as formas possíveis, praguejava Taehyung, praguejava toda a família Jeon a qual nem esteve comigo, inclusive a mulher de estatura média ao meu lado. A mulher a qual passou anos não-presente em minha vida.
Ela sempre foi assim... imatura. Eu não fazia tanta questão de tê-la ao meu lado depois de ter me conformado de que ela era assim, mas, mesmo assim, uma figura materna preenche um bom espaço no seu coração, e a falta dela só deixa aquele espaço um completo vazio.
— Sua tia me deixou ficar aqui por um tempo — Ela se pronunciou.
Eu dei de ombros, afinal, eu já sabia dessa informação. O quê eu não entendia é: porque ela têm de ficar aqui se já é casada? Ou pelos menos era... ao julgar pelo seus dedos pequenos da sua mão esquerda... não havia anel algum ali.
— É, Jeongguk... eu espero que não fique ressentido.
Eu não acredito que ela tinha me dito mesmo isso. Eu preferi me levantar dali, soltando o meu último suspiro alto; aquilo havia me deixado irritado. Sua presença também.
— É, foi uma resposta idiota — Deu de ombros. — É claro que você está.
— Hum — Foi a única coisa que consegui “murmurar”, já que não tinha palavras pra lhe dizer naquele momento.
— Eu sei, não precisa ficar irritado — Suspirou, esfregando as mãos nos jeans. — Mas... eu ainda não te contei tudo.
— Eu não quero saber de nada — Dei de ombros. — Logo ali tem um quarto de hóspedes, e ali do lado um banheiro — Apontei para os respectivos cômodos. — O meu quarto é esse e eu espero não ter surpresas quanto à isso — Me referi a ela dar uma ideia de “entrar no quarto do filho”.
— É arrogante como seu pai é — Soltou uma risada anasalada.
— Como ele foi — A corrigi.
Eu ouvi seu suspiro alto da onde estava.
— Tudo bem.
— Ótimo.
Eu balancei a cabeça e me distanciei da sala, indo até meu quarto. Eu não precisava lhe dar mais informações do que isto, ela já descobriria por si só, e é isso que mais me preocupa... quanto tempo ela ficaria aqui?
(S/N)
(1 hora antes)
— Lauren! — Gritei pela terceira vez.
— Ai! O quê foi? — Ela resmungou.
— Você não percebeu? Não é possível!
— O quê é dessa vez? — Paramos na calçada, esperando o sinal de pedestres abrir.
— Eu sei que o Jeongguk e o Namjoon estão me escondendo alguma coisa. O Namjoon não te falou nada? — Perguntei curiosa, percebendo o quanto o sinal demorava a abrir e os carros passavam em alta velocidade.
— Não. Você não tomou café demais, não? — Bufei, vendo Lauren rolar os olhos.
— Eu nem tomei café — Disse irritada. — Jeongguk está estranho — Resmunguei. — Acho que eu deveria tomar café, mesmo.
— Como assim “estranho”? — Fez aspas.
— Eu não sei, ele me parece inquieto.
— Como?
— Ele está me escondendo alguma coisa. Eu tenho certeza — Disse convicta. — Eu o conheço. Ele tem me dado umas desculpas bem ruins para eu não ir até lá.
— Lá...?
— No apartamento dele — Revirei os olhos.
Quando sinal havia aberto, nós apertamos o passo e atravessamos a rua, segurando firmemente nossas mochilas pesadas de livros escolares.
— _____! Será que ele se cansou? — Ela perguntou assustada.
— Como assim? — Perguntei confusa. — Você tá me assustando!
— Eu digo se cansar... querer terminar, ora! — Arregalei os olhos.
— Você tem certeza? — Meu rosto se entristeceu, eu não queria acreditar que fosse mesmo isso.
— Eu não sei, você tem?
— Não — Eu estava ameaçando chorar, mas eu não queria mostrar a Lauren o quanto eu mesma não era segura quanto meu namoro com Jeongguk.
— Você não acha que é porq-
Lauren teve sua fala cortada devido ao esbarro repentino com alguém, fazendo até mesmo eu me assustar. Eu olhei para a mulher não tão alta em nossa frente, que ajeitava novamente a jaqueta em seu corpo, parecendo não se importar tanto com o acidente. Ela carregava uma mala preta, um pouco grande, e aparentava ser bem nova para a idade que nem sabíamos, devido ao estilo de roupas um pouco ousado.
Ela teve sua mala derrubada pela loura de olhos claros; lauren, que, logo após o esbarro e a mala cair no chão, fora a vez de Lauren cair, mas sua “queda” havia sido amortecida pela mala, onde estava sentada agora.
— Aish! — Ela se levantou rápido, batendo as mãos rapidamente na saia para desamassar. — Podia ter me avisado que eu ia bater! — Lauren me acusou.
Eu cutuquei seu braço com o cotovelo, indicando que ela deveria se desculpar.
— Eu ajudo.
Eu me abaixei para pegar sua mala estirada no chão, onde ela rapidamente me agradeceu.
— Desculpe pelo transtorno — Dissemos juntas, eu e Lauren, nos curvando levemente com as mãos juntas para a mulher coreana a nossa frente.
Era ótimo já saber com mais facilidade as palavras em coreano depois de tanto tempo vivendo aqui. Eu não falava completamente a língua, mas Lauren já havia sido mais rápida e pelo fato de já ter mais facilidade em línguas.
Para a nossa surpresa, a mulher coreana sorriu e proferiu algumas palavras em inglês, e eu me senti aliviada pelo fato dela saber a língua.
— Vocês sabem me dizer onde fica este endereço? — O inglês dela era bom, mas percebemos o pouco sotaque coreano nele, mas era animador ver que eles se esforçavam para comunicar-se conosco.
Eu e Lauren nos inclinamos para frente para poder vermos melhor o endereço escrito naquele papel em que ela segurava.
— Ah, sim, nós vamos para lá agora — Respondi surpresa.
A mulher sorriu, e nós começamos a caminhar juntas. Eu resolvi deixar a conversa sobre Jeongguk com Lauren para depois, enquanto a mulher nos fazia perguntas.
— Qual o nome de vocês? — Ela perguntou amigável.
— Ah, nos perdoe a nossa falta de educação! — Respondi envergonhada.
— Falta de educação? — Lauren perguntou e eu cutuquei seu braço com meu cotovelo, novamente. — Ah, sim, sim.
— Eu sou _____ e ela é Lauren — Respondi sorrindo.
— São lindos nomes — Sorriu.
Poxa, ela era bem simpática.
— Eu sempre gostei de nomes estrangeiros, eu mesma queria que meu filho tivesse um... mas seria meio estranho — Ela riu. — Mas o pai dele que acabou escolhendo.
Nós concordamos, sem saber o que responder àquilo. Estávamos quase chegando, caminhamos por mais alguns minutos até virarmos a rua e entrarmos no condomínio do prédio.
— Vocês moram aqui? — Ela perguntou, puxando sua mala que fazia um barulho chato ao arrastar no chão.
— Eu moro — Respondi de imediato.
Nós fomos em direção ao meu bloco, para pegarmos o elevador. Estávamos prontas para nos despedirmos da mulher carismática, mas acabamos por nos surpreender já que ela também morava no mesmo bloco.
Ficamos em silêncio quando entramos, eu apertei o botão do meu andar, e a mulher apertou o botão do andar próximo ao que desceríamos, enquanto eu mantinha meu olhar fixo na telinha do elevador que mostrava os andares que estávamos passando.
Eu odiava aquele silêncio em que não sabíamos o que dizer. Eu olhei para Lauren, que me olhou em seguida e prendeu seu riso. Ela era mesmo idiota, mas eu era mais ainda por também me sentir afetada e sentir graça daquilo; agora éramos duas garotas em apuros naquele elevador que subia, junto com uma mulher simpaticamente estranha e uma vontade louca de rir como nunca.
O elevador finalmente havia chegado até meu andar, e quando as portas se abriram, nos saímos rapidamente, olhando para trás e sorrindo para a mulher, que também sorriu de volta como agradecimento.
— Até mais... — Ela acenou ainda dentro do elevador. — Meu nome é Na Lee!
E então as portas se fecharam novamente, enquanto Na Lee sumia de vista. Eu e Lauren finalmente soltamos nossas risadas altas, presas àquele tempo todo.
Eu abri a porta de casa, sentindo o quão quentinho estava ali dentro, e Su Mi estava brincando com HaNi no tapete da sala, com alguns brinquedos espalhados por ali.
— Vocês chegaram mais cedo — Su Mi sorriu para nós, que largamos nossas mochilas no sofá e nos sentamos ali.
— É, faltaram alguns professores — Respondi, dando de ombros.
— Sério que chegamos cedo? Eu achei que a gente não chegaria nunca com aquela mulher falando — Lauren suspirou aliviada.
— Lauren! — Eu ri, a repreendendo ao mesmo tempo.
— Mulher? Vocês não estavam falando com estranhos, né? — Su Mi assumiu uma pose de preocupada, como aquela mãe que sempre avisa aos filhos “não fale com estranhos” e eles desobedecem.
— Bem... é que ela apenas precisava de informação — Respondi tirando o blazer do uniforme, devido ao calor, pouco, mas que não necessitava por casaco.
— Que tipo de informação? — Ela semicerrou os olhos para nós, formando dois risquinhos extremamente adoráveis.
— Ela queria saber onde ficava o prédio. Fique tranquila, tia Su Mi, não demos muita bola — Lauren disse, se esparramando no sofá.
— É — Concordei.
— Só respondemos nossos nomes e endereço — Lauren deu de ombros.
— O quê?! — Ela pareceu espantada. — Meninas, isso é o suficiente para um sequestrador!
Nos entreolhamos e prendemos o riso novamente, voltando a olhar Su Mi que percebia que queríamos rir e achávamos a situação ridícula.
— Isso é sério! E se ela for uma criminosa?
— Mas ela não é, mãe — Eu ri.
— Mesmo assim, e se ela fosse? — Ela suspirou, balançando a cabeça negativamente. — Ela subiu com vocês?
— Sim — Respondemos juntas.
— Então ela mora aqui? — Ela perguntou preocupada.
— Eu acho que não, já que ela nem sabia onde ficava o prédio — Respondi pensativa
— Verdade — Lauren concordou. — Você é burra, mas falou uma coisa inteligente — Lauren disse me olhando orgulhosa.
— Ainda bem... pelo menos ela não vai ficar por muito tempo — Su Mi disse aliviada, batendo palminhas com HaNi.
— Mas a Na Lee parecia bem simpática para uma sequestradora — Eu disse rindo.
Eu desci do sofá, indo até o tapete e me sentando juntamente com elas, vendo Lauren ir até a cozinha e abrir a geladeira, ao julgar pelo som.
— Ei! Vocês fizeram as compras do mês, é? — Lauren gritou animada lá da cozinha.
— Espera! Você disse o quê? — Su Mi perguntou surpresa, me olhando.
— Perguntei se fizeram as compras do mês! — Lauren gritou de novo.
— Não é com você, meu bem! — Su Mi gritou de volta. — O que você disse sobre ela? — Ela parecia eufórica.
— Que ela não me parece uma sequestradora. Na Lee é bem simpática — Concordei sorrindo, enquanto pegava nas mãozinhas de HaNi.
— Na Lee! — Ela sorriu surpresa. — _____! A Na Lee está aqui?!
— Ahn... sim, mas, espera. Você a conhece? — Perguntei confusa.
— Sim! — Respondeu num pulo.
— Vocês estão falando de comida? — Lauren apareceu novamente na sala, também se sentando, comendo um pedaço de pão.
— Não, Lauren — Revirei os olhos. — A Su Mi conhece a Na Lee, eu acho.
— Conhece? Ela não é adorável? — Sorriu, falando de boca cheia.
— Mas você não estava irritada porque a mulher não parava de falar? — Perguntei confusa.
— É? Ah, é — Ela pareceu se lembrar. — Ela fala muito mesmo.
— Eu vou ir vê-la! — Su Mi se levantou, pegando HaNi do chão e procurando seus sapatos.
— Mas, você sabe onde ela mora? — Perguntei me levantando também.
Su Mi riu, nos olhando com os olhinhos brilhando.
— A mãe de Jeongguk deve estar com ele agora, não é óbvio? Estou indo ver Jeon Na Lee, vocês querem vir também?
Lauren imediatamente soltou o pão que estava em mãos no chão, com a boca aberta, e eu não estava muito diferente dela.
(...)
Ok. Foi um choque e tanto e eu estaria mentindo se dissesse que eu já me recuperei. Não. Não mesmo. Afinal, eu havia conversado com uma estranha que era — por acaso ou destino — mãe do meu namorado. Eu falei com a mãe de Jeongguk.
Eu não entendia até agora o porquê dela ter voltado. Muitas perguntas rondavam minha mente como: por que ele não me contou que ela voltou?; por que ele não me falou sobre ela?; por que ela é tão amigável? Eu acho que o que mais martela em minha cabeça é a última pergunta.
Eu me lembro dele ter me dito que ela era egoísta. Apenas isso. Eu também me lembro de não ter insistido para que ele me contasse algo além disso, já que ele me parecia bem desconfortável. Eu também não gostava de falar da minha mãe, mas não escondi sobre ela para ele, e já até tive que lidar com ela pessoalmente e não foi algo agradável. Eu reforço: a minha mãe sempre será Su Mi.
Eu não sei se os espelhos do elevador, a apreensão de Su Mi, HaNi percorrendo seus olhinhos por todo lugar, ou até mesmo Lauren com mais um pedaço de pão na boca conseguiria me distrair, ou me deixar menos nervosa.
Eu sabia que Su Mi e a mãe de Jeongguk eram amigas de faculdade, pelo que me lembro, mas não sabia, nem poderia imaginar que ela voltaria algum dia... será que ela se lembrará de Su Mi... ou melhor... será que ela consegue imaginar que a garota que lhe deu informação é filha da sua antiga colega de faculdade, e que por acaso namora seu filho, o qual ela nem tem tanto contato.
Isso só poderia ser algum tipo de clichê. Em dobro. Eu me sentia naqueles filmes dramáticos de cinema, ou essas novelas coreanas que passam na tv.
Agora nós estávamos em frente a porta do apartamento de Jeongguk, e eu nunca me senti tão nervosa por estar somente aqui, já que eu estava tão acostumada. Su Mi sorria abertamente enquanto eu e Lauren estalávamos nossos dedos por conta da tensão no ar. Eu não poderia ficar mais nervosa ainda quando Su Mi bateu na porta, duas batidas rápidas. Eu ouvi um resmungo alto, e provavelmente era de Jeongguk, e... ele teria de me explicar essa história do começo ao fim.
Eu me mantive parada como uma estátua quando vi seu rosto novamente. Eu sei que a 1 hora atrás eu estava perfeitamente calma, mas eu não poderia saber que essa era a mãe de Jeongguk, agora, eu me sentia fora de mim. Na verdade, eu sentia medo. Eu não sei bem o motivo, mas eu sinto essas coisas por conta de Jeongguk, eu penso em como ele deve estar agora diante dessa situação embaraçosa, e me sinto assim.
Eu a olhei de novo, de cima a baixo, percebendo o quanto ela se vestia semelhante à ele; despojada. No caminho para cá, Su Mi nos deu alguns minutos para que pudéssemos trocar de roupa, e, pela pressa, eu acabei vestindo as roupas de Lauren, e ela vestiu as suas e algumas peças minhas. Era o que acontecia quando ela vinha passar algum tempo aqui em casa. Me sinto até aliviada por ela não reclamar que na maior parte do tempo eu fico com Jeongguk, já que ela também encontra Namjoon e, bem... ela volta no dia seguinte. Eu nem vejo sentido em passar um tempo aqui, já que ela acaba por dormir lá, mas, eu também faço o mesmo. Mas... pelo o que aparenta, eu terei que não fazer mais, já que a mãe dele está aqui.
Pensando bem, não foi tão legal assim essa visita. Eu entendo o Jeongguk.
— Su Mi? É você! — A mulher da mesma altura da mamãe a abraçou animadamente.
— Você... você sumiu! — Elas dialogavam em coreano, mas eu conseguia entender.
Su Mi tinha sua fala um pouco abafada pelos cabelos pretos de Na Lee, onde Su Mi afundou seu rosto.
— Por que vocês não entram? — Ela nos olhou rapidamente, andando para dentro do cômodo do apartamento, enquanto eu fechava a porta. — Ei! Quem é essa coisa linda? — Ela apontou para HaNi no colo de Lauren, que estava quietinha.
— Esta é HaNi.
— Ah, você teve um — Ela parecia feliz, tentando brincar com as mãozinhas de HaNi, que sorriu minimamente para ela.
— Sim — Su Mi sorriu, iniciando mais uma conversa com Na Lee.
Eu me afastei antes que a mulher pudesse notar minha presença, procurando por Jeongguk, vendo que ele estava deitado no sofá da sala.
Eu me aproximei, olhando para o rosto amassado de Jeongguk, que parecia dormir tranquilamente.
— Jeongguk... — Eu sussurrei. — Jeongguk, acorda.
E dessa vez ele abriu os olhos lentamente, parecendo surpreso ao me ver, já que em seguida arregalou seus olhos antes fechados.
— ____, é... é... — Ele se sentou rapidamente, procurando por palavras.
Ele olhou de relance para a direção onde as meninas estavam, voltando seu olhar para mim, engolindo em seco.
— Você não me contou — Disse suspirando.
— Eu iria — Respondeu rápido, abaixando sua cabeça.
— Quando, Jeongguk? — Balancei a cabeça em negação. — Era por isso que você não queria que eu viesse.
— Não é isso! — Eu senti sua mão pesada segurar meu pulso, me puxando rapidamente para si, me fazendo cair em cima do mesmo.
— Aish, Jeongguk! — Reclamei, passando a mão em meus cabelos.
— É que... eu não estava...
— Mas, espera! Eu conheço você! — Na Lee disse alto, fazendo Jeongguk interromper o que dizia para mim.
Ela apontava para Lauren, estreitando os olhos.
— Você é uma das meninas que me ajudou lá embaixo! — Ela exclamou.
— É, sou eu — Lauren disse, dando de ombros. — Espera, sou eu, né? — Lauren olhou em minha direção, fazendo Su Mi e Na Lee olharem também.
Eu me sentia completamente constrangida, e senti minhas bochechas se queimarem, e podia jurar que elas estariam vermelhas agora.
— Aish! A gente acaba de chegar e ela já se atraca com o Jeongguk — Lauren revirou os olhos e eu arregalei os olhos, recebendo os olhares das duas mulheres.
— Você também não é a menina que me ajudou? — Na Lee perguntou e Lauren disse “sim” por mim.
— É-é... — Su Mi tentou dizer, desconcertada, olhando para mim com uma expressão nada boa, me repreendendo, e eu rapidamente me afastei de Jeongguk. — Essa... essa é...
— Essa é a minha namorada.
Eu quase me engasguei com a fala repentina de Jeongguk. Meu coração acelerou e meu corpo mandou sinais de alerta, enquanto minha mãos suavam. Lauren arregalou os olhos, prendendo uma risada cúmplice e movendo os lábios em silêncio, dizendo um “mandou bem, garoto” para Jeongguk.
Jeongguk se mantinha incrivelmente sério, como se aquilo não fizesse a menor importância. Como se sua mãe dissesse “você não vai namorar essa menina” fosse mudar em algo. Eu estava surpresa, mas me mantive calada. Isso não era assunto meu, mesmo que me envolvesse, e confesso que estava nervosa para saber a reação de Na Lee.
— É... a minha filha — Su Mi disse minutos depois, quase como um sussurro de tão baixo, devido a surpresa também.
— A sua filha namora o meu filho?! — Ela disse alto, e eu fechei meus olhos, esperando pelo pior. — Eu não acredito! — Ela gritou tão eufórica que achei que fosse explodir. — Por que sou sempre a última a saber? — Perguntou chateada.
— É que...
— Ah! Isso é incrível! — Ela exclamou para Su Mi, segurando suas mãos. — Nós vamos casar nossos filhos?! Isso vai ser tão lindo! Eu gosto de casamentos americanos, eu nunca gostei de Hanboks, são tão enormes — Fez careta. — Ela também não gostaria, já que não é coreana... ah, meu Deus! Ela não é coreana! — Ela exclamou depois de se dar conta. — Jeongguk, você andou inovando! — Ela abriu a boca.
— Pois é — Lauren concordou rindo. — Eu também não vou casar com aquele vestido estranho, eu vou casar de calça — Lauren disse fazendo careta. — E all star.
— Isso mesmo, docinho, a vida é muito moderna, vestido é do passado.
Eu e Jeongguk nos entreolhamos confusos, percebendo o quanto Lauren e Na Lee eram duas estranhas, que estranhamente eram parecidas nos gostos.
— Eu gostaria que ela se casasse da maneira tradicional coreana, mas se ela não gostar... — Su Mi deu de ombros, sorrindo.
— Por que você tá fazendo isso? — Jeongguk finalmente falou.
— Ahn? — Na Lee virou-se para nós.
— Por que tá tão feliz? Você nem estava aqui, nem fazia parte da minha vida, eu poderia me casar agora mesmo e você nem mesmo saberia.
As palavras de Jeongguk deixaram o ar tenso, fazendo com que Su Mi abaixasse a cabeça, sem saber o que dizer, Lauren ajeitou HaNi no colo e saiu dali, indo até a cozinha, e Na Lee estava sem expressão, piscando rapidamente enquanto olhava para Jeongguk sem saber o que dizer.
— Jeongguk, você não pode me dizer essas coisas — Ela disse calmamente, parecendo se chatear.
— E você? Você pode chegar aqui de repente? E ainda querer dar uma de “mãe” — Ele se exaltou. — Você não é minha mãe. Eu não tenho mãe.
Ele se levantou, parecendo controlar seu estresse, enquanto ia em direção ao corredor, até a porta de seu quarto e sumiu de nossas vistas.
Aquilo foi um tanto chocante, eu nunca esperaria uma reação dessas de Jeongguk, mas eu não era a melhor pessoa para fazer algo diante daquela situação constrangedora que ficou. Eu me senti culpada, não sabia exatamente pelo quê, mas sentia. Eu não segui Jeongguk porque não sabia se isso iria desencadear uma reação negativa em Na Lee, então me levantei, indo até Su Mi.
Su Mi tentou miseravelmente puxar assunto com Na Lee, que parecia não estar prestando atenção em nada, eu via em seus olhos um certo tipo de tristeza... os olhos de Jeongguk são iguais aos dela.
Su Mi e Lauren, juntamente com HaNi, se despediram de Na Lee, que mesmo incomodada com algo, se despediu devidamente educada. Eu continuei ali, parada, vendo as meninas passarem pela porta de entrada e se afastarem, recebendo um gesto de Su Mi para que as seguisse, eu apenas balancei a cabeça negativamente.
Eu caminhei até a porta, fechando-a lentamente, enquanto olhava para Na Lee, que se sentava agora no sofá, esfregando as mãos nos jeans meio rasgados. Eu não sabia o quê fazer, nem dizer, e muito menos o porquê de não ter ido embora com as meninas, mas algo me dizia para ficar ali com Na Lee, porque ela não me parecia bem.
Ela não disse nada, enquanto olhava para um ponto fixo no chão. Eu calmamente, em passos lentos, caminhei até o sofá, ao seu lado, me sentando ali.
— Eu não entendo...
Eu ouvi seu primeiro sussurro, onde me aproximei calmamente.
— A-ah... você quer... conversar? — Perguntei receosa.
Ela me olhou serenamente, sorrindo fraco, enquanto suspirava.
— Eu acho que vou ter que conviver com isso, por enquanto — Ela parecia se referir ao que estava dentro de si, algo que ela não queria revelar.
— Não há nada que eu possa fazer? — Perguntei chateada por ela parecer perder as esperanças.
Ela me olhou por alguns segundos, voltando a olhar para seus jeans.
— Ele não me aceitaria de volta... nunca.
— Eu posso ajudar — Insisti.
— Eu não sei se é certo contar à você. Por favor, não se chateie...
— Tudo bem — Sorri.
— Você... me ajudaria? — Ela perguntou, enquanto eu assenti. — Então... eu conto à você, se me ajudar a me aproximar de Jeongguk... por favor — Assenti novamente rapidamente. — Então, por hora, não conte à ele o quê vou te contar.
Eu me senti nervosa, ela me parecia tensa, talvez desconfortável por ter que contar algo que parecia entalado em sua garganta de forma pesada. Me ajeitei no sofá logo depois que ela se ajeitou também, enquanto a via olhando por cima de meus ombros o corredor, para se certificar de que Jeongguk não estaria ouvindo.
— Eu... eu não o abandonei — Fiz expressão confusa. — Ahn, quer dizer, em parte, não — Suspirou. — Alguns anos atrás, Jeongguk ainda morava comigo. Foi um pouco difícil para ele no início, já que não tinha pai, mas ao longo do tempo em que ele ia crescendo, ele passou a não ligar para isso. Então... eu tive que ir embora.
— Mas, por quê?
— Acho que você precisa entender o porquê da tia dele não ser tão carinhosa conosco — Assenti, pedindo para que continuasse. — A verdade é que, naquela época, eu acabei tendo problemas com o chefe do lugar onde eu trabalhava, por hora. Eu acabei sendo demitida, e foi aí que as coisas começaram a desandar. No começo, eu ainda tinha um pouco de dinheiro, não era muito, mas conseguimos nos manter por algumas semanas curtas... mas, chegou um determinado tempo em que aquilo não era mais o suficiente, e aí, ele acabou — Suspirou. — Eu não tinha como criar Jeongguk, e a família Jung, a minha família, não é das mais unidas... é bem diferente da família Jeon, a família do pai dele, mas aqui nós fazemos a nossa própria vida, então eu não poderia pedir dinheiro a todo momento, nem mesmo pedindo um teto pra ficarmos, já que as despesas da casa começaram a aparecer e ficarem mais altas.
— Mas... eu não entendo, aonde a tia de Jeongguk se encaixa na história?
— Aí é que tá — Ela se encostou no sofá, olhando para o teto. — Nós fomos despejados — Eu arregalei os olhos. — Mas eu não contei ao Jeon... então, ele ainda pensa que eu saí da casa que era do pai dele e a vendi para fugir com o meu possível “marido”. Eu não me casei, quer dizer, não de verdade. É delicado... mas, eu não abandonei o Jeon. Ele acha que eu não sofri pela morte do pai dele; eu sofri sim, eu nunca pensei que poderia chorar tanto de uma vez só — Ela voltou a me olhar. — Então eu não tive alternativa, a não ser... a não ser... — Engoliu em seco. — Usar a mim mesma pra conseguir o dinheiro que precisava.
Ela tinha dito nas entrelinhas, mas eu havia captado a mensagem. Eu arregalei meus olhos, eu não deveria me mostrar muito assustada, já que eu mesma não queria assustar ela também, mas, foi inevitável. Eu nunca pensei que a mãe de Jeongguk fosse chegar a esse ponto porque... porque se importava com ele.
— E-então... o que aconteceu com Jeongguk quando você estava ausente?
— Eu o deixei com a tia dele e o primo, Taehyung.
— Ah, sim, o ladrão de mesadas — Resmunguei.
— Ahn? — Ela parecia não ter ouvido.
— Continue — Sorri minimamente para que ela se sentisse melhor, mesmo que isso não fosse ajudar em absolutamente nada.
— Sim, sim. Eu não mantive contato desde então, eu achava que Jeongguk não me perdoaria se soubesse do que eu fazia na época, então preferi me afastar... mesmo que isso ferisse à mim de maneira absurda. O mais perto que eu chegava da casa da tia de Jeon era quando eu levava dinheiro para ela sustentar Jeongguk. — Piscou os olhos rapidamente, parecendo se lembrar. — A tia dele nunca concordou com isso, eu não a julgo, eu também não concordaria, mas nas condições em que eu estava... eu não tinha alternativa, já que o mercado de trabalho estava inacessível. Isso fez com que eu e ela nos afastássemos também, ela cuidou de Jeongguk por muito tempo, o trata bem, pelo que sei, mas quando eu estava perto, ela o tratava como me tratava.
— Ele já me disse isso uma vez.
— É. Mas eu queria ver Jeongguk depois de tudo, mesmo lutando contra mim mesma. É óbvio que ela não me deixou ver... não me deixou ver meu próprio filho. Ela me dizia que ele não queria me ver, eu compreendi, eu deveria tê-lo magoado, mas soube que ela implantava na cabeça dele que eu havia “casado” de novo, e que eu não ligava para ele — Ela parecia estar alterada, ao mesmo tempo que dizia tudo com tanta mágoa e tristeza. — Então me surgiu uma saída. Ela me disse que eu só o veria se aceitasse a proposta dela, e eu acabei aceitando. Eu fui trabalhar na casa de um senhor já de idade como faxineira. Era o máximo que eu conseguiria no momento, mas aquilo foi a maior oportunidade que tive. Eu não sei como, talvez a tia de Jeon tivesse contado ao senhor dono da casa sobre mim, e isso acabou o comovendo. Olha, eu nunca gostei que sentissem pena de mim, existem pessoas que passam pelas mesma dificuldades, mas ele insistiu em uma proposta; ele não tinha mais família, e tinha uma quantia relativamente boa em dinheiro e bens. Não tendo com quem deixar, ele sugeriu que eu casasse com ele apenas para que ele pudesse passar tudo para mim.
Eu me peguei surpresa, derramando até algumas lágrimas que nem havia percebido escorrer, mas que se secaram com o tempo. Eu não sabia oque dizer, era realmente um choque, era realmente uma história da qual eu nunca desconfiaria.
Jeongguk, a sua mãe precisa do seu perdão.
— Eu aceitei depois de tanto relutar e ver que com isso eu poderia voltar para Jeongguk. Então... é isso — Ela pareceu tirar um peso das costas após suspirar pesadamente. — Ele não sabe mas... eu não voltei porque meu “marido” me deixou, voltei porque... porque agora tenho dinheiro para viver com Jeongguk de novo.
Um silêncio permaneceu no cômodo. Eu não sabia oque dizer, ela olhava para todos os lados da sala, alheia, enquanto eu pensava em quanto Jeongguk estava sendo ignorante sem saber.
— Na Lee... — A chamei.
— Ah, por favor, me chame de mãe — Ela sorriu.
— Tudo bem — Sorri. — Eu acho que deveria contar à Jeongguk.
Ela se assustou levemente, arregalando seus olhos. Ela não parecia estar pronta para isso, para contar à ele, mesmo que fosse sua vontade.
— E-eu... eu acho que não é uma boa hora — Pigarreou.
— Mas, por que?
— Ele não entenderia.
— Ele não entende o porquê de ter voltado, não entende o porquê de ter o “abandonado”, porque é isso que ele pensa — Eu aleguei, segurando suas mãos como conforto.
— Ele não me aceitaria de uma hora para outra, eu o conheço. De qualquer maneira, eu pretendo contar à ele um dia.
— Se você esperar mais, talvez será tarde. O tempo é muito curto. Me escute, você quer voltar a conviver com ele, por que não simplificar as coisas?
— Sei que está certa — Ela tentou argumentar algo. — Está certa... — Desistiu.
— Vocês são mãe e filho, não podem viver assim para sempre — Ponderei.
Ela sorriu como forma de agradecimento, enquanto segurava firmemente minhas mãos e eu sentia as suas transpirarem. Ela estava nervosa. Tudo bem, é compreensível, ela o encontrou depois de tanto tempo, mesmo não sendo da forma que planejou. Mas... ela o ama, ela sente sua falta.
Ela me olhou uma última vez, enquanto eu assenti para que ela insistisse em minha ideia. Eu me levantei puxando-a pela mão para irmos em direção ao quarto de Jeongguk, entrando pelo corredor escuro.
A sua porta estava fechada, e quando levei minha mão até a maçaneta para abrir, eu notei que estava trancada, e não apenas fechada.
— Jeongguk? — Bati na porta duas vezes seguidas.
Ele nem hesitou em abrir segundos depois quando minha voz soou do outro lado da porta.
— Esquece.
E simplesmente, depois de abrir a porta, ele a fechou, mas eu tentei abrir antes que ele pudesse trancar novamente, invadindo o cômodo.
— O que você quer? — Perguntou grosseiro.
— Você ainda está nessa fase comigo, Jeon? — Eu sabia que ele odiava que o chamassem pelo sobrenome, já que pensava que ainda dividia com sua mãe, mas ela já havia retirado, Jeongguk que quis mantê-lo, por causa de seu pai.
Ele apenas me deu um olhar mortal como resposta a minha pergunta.
— Jeongguk. É Jeongguk — Ele me corrigiu, ah, mesmo ele fazendo ela cara de bravo, era tão fofo.
Ele se sentou na cama, pegando seu celular de volta e se entretendo com o mesmo.
— Senhor Jeongguk — O chamei e ele virou seu rosto em minha direção, negando com a cabeça. — Pode fazer um favor à mim?
Ele me olhou, estreitando os olhos.
— Depende.
— Interesseiro.
— Ela tem a ver com esse favor? — Assenti enquanto ele apontava para Na Lee. — Então, não.
Eu suspirei, derrotada, mas não desistindo.
— Então, sim — O olhei irritada. — Senta aqui.
Eu arrastei Na Lee até a cama, fazendo-a se sentar na beirada dela, enquanto eu ia até Jeongguk, tirando o celular de suas mãos, enquanto o ouvi resmungar.
— Ouça.
— Por que eu deveria? — Se levantou. — Ela me abandonou! Eu pensei que você ficaria comigo agora, não do lado dela! Você é minha namorada! Você tem que me ouvir, não ficar caindo na ladainha que ela diz! — Ele começou a se exaltar, e eu realmente não sabia mais o quê fazer diante daquilo, já que Na Lee só ouvia calada.
— Para de dizer essas coisas! — Gritei, ele pareceu ter odiado minha atitude.
— Você que deveria se pôr no seu lugar e não se envolver com assuntos que não são pra você! — Ele gritou tão alto que acabou por ficar vermelho, me assustando ao ponto de dar passos para trás devido aos passos que ele dava para frente.
— Mas... mas não é assim! Você está sendo egoísta... — Eu já estava chorando. — Eu só quero ajudar... você entendeu tudo errado.
— Então, sinto muito, mas você está só piorando as coisas em vez de ajudar.
Ele foi rude de novo.
Eu só conseguia pensar nisso, o quão fui idiota, o quão estava sendo fraca por estar chorando tanto naquele momento apenas porque suas palavras geram tanto efeito em mim a ponto de me sufocar.
Eu não queria ficar ali, como se já não bastasse me magoar, ele ainda tinha que fazer meu coração se despedaçar. Não era como se terminássemos, ou nosso amor acabasse, nada como isso, mas nós nunca havíamos brigado. Acredite ou não, nós nunca tivemos motivos para brigar feio deste jeito desde que começamos a namorar... nós só discutíamos por coisa boba, mas era uma discussão saudável.
Eu cobri meu rosto com minhas duas mãos, logo as tirando dali, limpando minhas lágrimas antes, mesmo não adiantando de nada, já que eu já estava vermelha o suficiente e já chorava de novo.
Ele me analisou por breve minutos, parecendo se tocar do que havia dito, tentando dar um mísero passo para chegar mais perto; eu estava assustada.
— ____...
— P-para, Jeongguk...
Eu me afastei rapidamente, me pondo a sair dali o mais rápido que pude, em passos pesados e carregador de melancolia e dor.
— Tá vendo o quê você fez?!
Foi tudo que ouvi ele gritar logo depois que bati a porta de seu apartamento bruscamente. Eu não fiz por birra, mas foi inevitável.
— Volta aqui!
Eu ouvi a voz de Jeongguk de longe, quando já havia descido as escadas ao invés de esperar uma eternidade pelo elevador, saindo do bloco para continuar a caminhar rapidamente, quase correndo, pelo condomínio. Ele sabia onde me encontrar, ele sabia para onde estava indo.
— _____, para! — Ele gritou novamente, enquanto eu o ignorava.
Eu parei antes de chegar ao balanço, que era meu destino, devido ao aperto um pouco brusco que senti em meu braço direito, sendo segurada pela mão pesada de Jeongguk, que me olhava intensamente.
— Me solta.
Eu estava sendo seca e rude também, mas não chegava nem a um terço do que ele havia falado para mim.
— Não adianta.
Ele disse e eu tentei me soltar de seu aperto, que mesmo sabendo que não era proposital de sua parte, estava me machucando, de certa forma. Por um descuido de sua parte, eu me soltei com muito custo, seguindo até o balanço.
— Por que não podemos resolver isso como pessoas adultas? — Perguntou quando eu já estava sentada no balanço.
Ele veio até minha direção, se ajoelhando no chão, em minha frente, apoiando seus braços em minhas coxas, enquanto buscava meu olhar, que eu insistia em desviar.
— Porque não somos adultos, Jeon.
— Pare com esse Jeon! — Disse rude.
— Pare de gritar comigo! — Gritei de volta.
— Então pare de me chamar de Jeon!
— Pare de dizer que somos adultos!
— Somos adolescentes-adultos! — Gritou, por fim, pondo em fim naquela discussão idiota e sem sentido.
— Está bem — Dei de ombros.
"Você que deveria se pôr no seu lugar e não se envolver com assuntos que não são pra você!"
Eu estava novamente me lembrando das suas palavras, nem me dando conta de que já estava derramando lágrimas quentes, quando Jeongguk as enxugou com seus polegares gelados.
— Eu quero que você me deixe sozinha.
Eu suspirei, segurando suas mãos calmamente e as tirando do meu rosto. Ele riu anasalado, balançando a cabeça negativamente, deitando a cabeça em minhas coxas.
Os seus cabelos sedosos são sempre tão convidativos...
— Me desculpe... ainda é difícil pra mim — Disse baixinho. — Por favor... me ajude, eu preciso que me ajude... eu não aguento mais isso — Ele fechou seus olhinhos quando sentiu minhas mãos tocarem calmamente seus fios castanhos claros tingidos a pouco tempo... combinava muito bem com ele.
— Não foi isso que me pareceu à minutos atrás — Disse rancorosa.
— Não me abandona agora não... — Por que ele sussurrava essas coisas?
Eu me sentia sempre vencida por ele completo; sua voz, seu jeito, sua atitude repentina.
— Me ajude a passar por isso...
— Então você me fará uma promessa — Disse firme. — Você vai ouvi-la.
— Mas...
— Não existe “mas”, Jeon... gguk! — Me corrigi rapidamente.
Ele levantou a cabeça por uns instantes, olhando para mim brevemente, suspirando em seguida.
— Se isso te deixa feliz...
— Não, não quero que faça por mim...
— Eu vou fazer por você.
Ele reforçou. Eu suspirei, pelo menos ele a ouviria.
Nós nos levantamos dali, enquanto esperei alguns minutos para que Jeongguk tirasse a areia de seus joelhos, devido a posição que estava antes. Ele veio até mim, que o esperava um pouco mais a frente, enquanto tentava tocar minhas mãos.
Ok, talvez tenha sido birra esta parte, até porque eu ainda estava chateada e muito brava por sinal, mas era comigo mesma, já que eu o perdoo muito facilmente. Isso me irrita as vezes, então não segurei sua mão.
Ele estava suspirando pelo caminho. Subimos de elevador, já que este estava parado no andar em que estávamos, vazio. Pelo corredor, ele parecia inquieto; sabia que estava nervoso.
— Jeongguk — O chamei. — Eu quero que respire fundo.
Ele não me entendeu, me olhando confuso.
— Tudo que ouvirá a partir de agora, está prestes a mudar tudo.
Eu disse sem jeito, brincando com meus fios de cabelo arrepiados e fora do lugar. Ele assentiu, dando de ombros, levando ao pé da letra minhas palavras.
— São só umas palavras — Deu de ombros.
— Não, Jeongguk, não são só algumas palavras...
Nós passamos pela porta principal novamente, fazendo Na Lee se levantar do sofá e vir até nós apreensiva. Ela estava preocupada, era visível, sabia que se importava com Jeongguk de verdade.
— Jeon... eu estava aqui pensando, eu acho que é melhor mesmo eu não ficar por perto... eu sei que você não me quer por aqui, nem mesmo quer me-
— Diga o quê tem para dizer de uma vez por todas — Ele interrompeu sua fala, indo até o sofá para jogar seu corpo confortavelmente por ali. — Você tem 1 hora para me dizer tudo que quer, e então, você vai embora.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.