Jeongguk
Bom dia!
Desculpe por te deixar almoçar sozinho hoje, querido, mas surgiu um pequeno transtorno aqui na empresa. Então, terei que voltar mais tarde para casa. Não deu tempo de fazer nada para vocês comerem.
Sei que você leva jeito com isso, por isso, faça algo gosto, ok? Pode usar o que quiser da despensa.
Já que sempre acorda cedo, preferi deixar esse bilhete para você ao invés do Taehyung.
Ps. Diga para ele buscar o terno do casamento na costureira, tudo bem?
Cuidem-se!
— Ela disse que era para você cozinhar hoje? — Taehyung, meu primo, perguntou descrente.
— Sim, mas eu tenho que trabalhar hoje — Respondi e dei de ombros. — Você se vira aí, acho que tem comida congelada.
Taehyung me encarou por uns minutos.
— Ok, tanto faz — Respondeu com desinteresse.
27 de maio de 2010.
Não, não tinha nada demais nessa data a não ser o fato de que é o dia de hoje. E eu estou passando alguns dias no apartamento de Taehyung, pois minha mãe decidiu viajar de última hora com meu novo padrasto. Eu não me importo com os relacionamentos posteriores dela, mas o que custa ela ficar com um marido para a vida toda? Somente nesse ano ela já havia trocado de marido umas três vezes, a desculpa era que não tinha encontrado o cara certo.
Eu sempre me perguntei o que exatamente ela considerava como o cara certo. Meu pai era um homem bom, trabalhador e sempre estava lá quando nós precisávamos dele, talvez o fato dela ter o visto morto com um tiro na cabeça dentro de um carro tivesse feito a cabeça dela ficar totalmente pirada.
Mas eu passava tanto tempo na casa de Taehyung por conta das suas "escapatórias" matrimoniais que já me consideravam da casa.
Eu não gosto de sábados.
O fato de eu ter que trabalhar todo final de semana naquela conveniência era ruim, mas era a única maneira que eu podia encontrar de ter algum dinheiro na carteira, afinal, desde que minha mãe viajou ela nem ao menos ligou para saber se eu havia morrido ou algo assim. No final, eu só acho que ela está com medo de se apegar a alguém mais uma vez e essa pessoa ser morta, eu era muito pequeno quando meu pai morreu e ela sempre me repetia que apesar de eu parecer com ela fisicamente, eu era exatamente igual a ele em questão de personalidade.
Eu gostaria de me lembrar dele mais um pouco para saber se isso era realmente verdade.
— Ela está de amarelo hoje.
A voz de Taehyung ecoou pela sala, eu pisquei e parei de arrumar minha mochila para vê-lo debruçado na janela.
— Quem?
Ele soltou um suspiro.
— Eu não sei o nome dela.
Estreitei os olhos.
Eu fui em direção à janela em que ele estava debruçado e olhei por trás de seu ombro.
Então era isso... Uma garota.
Uma garota estrangeira... que estudava na mesma escola que eu.
Eu já havia visto algumas vezes no corredor, com uma menina barulhenta que fazia tumulto na minha sala no intervalo, também havia visto ela com Namjoon outro dia.
Ela morava ali.
Eu lembro que ela havia me entregado meu horário escolar, ou pelo menos mandado alguém me entregar, apesar de ser de uma sala do primeiro andar era normal eu vê-la no andar de baixo cochichando alguma coisa ou rindo. Não era normal para mim ver garotas estrangeiras, então eu não podia dar nenhuma opinião sobre ela.
— Ela estuda na mesma escola que eu — comentei.
Taehyung continuou a olhando, ela ria de alguma coisa ao celular e balançava os cabelos e depois ela desamassou a saia com uma mão livre. por fim, desligou o celular.
— Sério? — Ele perguntou entendiado.
— Sim.
— Sabe o nome dela?
Virei-me, fui até o sofá e peguei minha mochila, a pondo nas costas.
— Não. — Respondi e caminhei até a porta. — Não se esqueça da comida.
— Tá.
Saí de casa.
Eu não era um técnico em relacionamentos, até porquê, eu nunca havia namorado com ninguém antes. O mais próximo que eu tinha desse sentimento era uma garota da minha classe.
O nome dela era Sojin.
De alguma maneira, ela foi a única garota a falar comigo e insistir que eu falasse com ela. Eu havia tentado ser frio o suficiente para afugentá-la, mas parecia que todos os meus esforços eram em vão. Ela era do clube de música, eu gostava da voz dela apesar de tudo, ela sempre estava andando com muitas amigas e ao que parece tem até um namorado.
Eu comecei a me perguntar, se ela já tinha um namorado e muitos amigos, por que insistir num cara que sentava no fundo da sala?
Eu não entendi exatamente se a intenção dela era me fazer se apaixonar por ela, me levar até o alto e depois me empurrar de seus braços. Era mais ou menos assim que eu me sentia, longe demais dela apesar dela sentar-se ao meu lado quase todos os dias na escola.
Entrei no ônibus e me sentei no último banco da fileira. O balanço constante e o barulho silencioso das rodas na pista me fizeram adormecer, mas não foi um sono longo, eu acordei no meio da viagem e o ônibus antes vazio agora estava cheio. O meu ponto estava próximo, e foi um pouco difícil chegar até a saída com tantas pessoas em minha frente.
Quando saltei em frente ao posto de gasolina, havia algumas pessoas conversando na porta da loja de conveniência.
Eu abri a porta de vidro e entrei, o local climatizado me fez sentir frio imediatamente.
— Oh! Bom dia, Jeongguk — cumprimentou Hyeri assim que cheguei com um sorriso no rosto.
— Bom dia.
Ela me encarou séria.
— Sabe, sua constante falta de entusiasmo vai espantar o cliente — ela colocou as mãos na cintura. — Sorria e acene, recruta!
Ignorei ela e caminhei até o vestiário nos fundos da loja, o fato de o espaço não ser muito grande fez com que ela continuasse a falar sabendo que eu a ouviria.
— Então, Jeongguk — ela começou. — Hoje você vai ter uma nova colega de trabalho, não é o máximo?
Tirei minha camisa e coloquei dentro da mochila.
— Colega?
— Sim! O nome dela é ______, o Minhyuk disse que ela é da escola de vocês, você conhece ela?
— Não.
— Bom, vai ter oportunidade para conhecer ela, quero que ajude a moça.
Arregalei os olhos.
— Eu?!
— Sim, você mesmo. Ela é americana, não fala nenhuma vírgula em coreano, como quer que eu fale com ela?
Eu? Falar com uma garota que eu nunca vi na vida?
— Não, acho melhor você arranjar outra pessoa.
— Nada disso, tem que ser você mesmo, te dou um aumento.
Aumento, é?
— Ok.
— Ah... Por que tão capitalista, Jeongguk?
Eu não respondi a chacota dela, mas aturar uma estrangeira do meu colégio de graça não me parecia nada justo. O pior de saber falar inglês são os favores que lhe pedem, talvez eu devesse me demitir desse emprego e trabalhar como tradutor, eu ganharia bem mais.
Eu caminhei até o lado de fora novamente, e me coloquei atrás do balcão, Hyeri arrumava algumas coisas nas prateleiras.
Até que duas pessoas entraram pela porta, Minhyuk e uma garota...
A garota que o Taehyung estava olhando da janela.
— Ah! Ela chegou! — Hyeri agitou as mãos.
— É... É ela que vai trabalhar aqui?
Foi uma pergunta que saiu automaticamente, porque de alguma maneira a presença daquela estrangeira me... Incomodava.
Eu não queria não gostar de alguém que eu não conhecia, mas ela havia ganhado minha antipatia tão de repente. Eu a vi abaixar a cabeça, a pele se ruborizou, os olhos grandes ocidentais, e aparentavam ser um pouco inocentes, ela estava de amarelo, vestido amarelo e um casaco de lã amarelo. Ela sorriu de leve e levou a mão a nuca parecendo sem graça por alguma coisa.
Embora eu saiba que ela não havia entendido o que eu disse.
— Prazer em conhecer — ela disse baixo, e hesitante.
Eu não pude respondê-la.
— ______, aquela é Hyeri — apresentou Minhyuk. — Ela é filha do dono.
Hyeri acenou alegremente ao ser apontada.
— E acho que você já conhece o Jeongguk.
Ela me encarou, com seus olhos curiosos.
— Eu conheço sim.
Ela estava me olhando, com aquele brilho nos olhos e os lábios entreabertos.
Novamente eu repeti a mim mesmo que não iria criar qualquer tipo de antipatia por alguém que eu acabava de conhecer.
O que era um pouco tarde, já que eu tinha certeza que não gostava dela.
Eu absolutamente não vou com a cara dessa menina.
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