História Sui Generis - Miosótis

O cantar de pássaros suavemente acolhia seus tímpanos num despertar atípico. Remexendo-se, notou um outro corpo junto ao seu, não conseguindo lhe irritar de fato. Na verdade, sentiu uma calmaria desigual com aquela presença. Suas narinas captavam o aroma particular que o mais jovem emanava, dando-lhe um sentimento peculiar. Incrível como as borboletas não paravam de dançar em seu estômago, ainda que estava tão acostumado a conviver com o rapaz.

O incomum toque na campainha lhe sobressaltou, mas logo apressou-se em vestir-se e ir até a porta. Uma entrega destinada à si, porém vinda de alguém muito conhecido. Viu as horas depois de assinar a confirmação que lhe fora imposto, assustando-se por já se passar das dez horas. Pousou seu peso na cadeira da cozinha e se pôs a abrir a caixa, sorrindo feito um bobo ao perceber do que se tratava.

Uma pequena fotografia de ambos num quadro simples, porém elegante; um papel dobrado e um sutil e pequeno buque de miosótis.

“Você já ouviu falar da flor miosótis?

Existe uma lenda que conta um cavalheiro inclinando-se perto de um rio para agarrar uma dessas flores para a amada, mas acabou caindo e por conta do peso de sua armadura não conseguiu se salvar. Essas pétalas azuis ficaram conhecidas por ‘não-me-esqueças’, e simboliza a fidelidade, recordação e amor verdadeiro.

Nós temos muitas recordações, e por mais que exista uma péssima no meio de tantas maravilhosas, não me canso de rememorá-las. A fidelidade é mais que clara, e sobre o amor verdadeiro?

Confesso que antes nunca acreditava nisso, mas você me fez crer, pois depois de anos ainda tenho você ao meu lado.

Obrigado por me aguentar e por me amar desse jeito único.”

Mark sorriu. Sorriu que jurou que os cantos de seus lábios tocariam suas orelhas.

Sorriu e olhou para frente, encontrando aquele que sorria junto consigo, embora nitidamente tímido.

Ambos riram envergonhados.

Aquele sentimento era algo que não tinha correspondência igual ou mesmo semelhante.