Já havia se passado mais de uma semana que eu estou aqui, meus dias são cada vez mais cinzentos, como se o mundo tivesse perdido a graça, o encanto, e refletisse somente a tristeza e solidão. Me vejo mais uma vez pressa nessa caverna fria e inóspita que há dentro de mim. Estou como um viciado que precisa da droga para se acalmar e viajar, meu corpo clama por ele, clama por uma overdose que somente ele pode me proporcionar. As noites tem sido as mais frias e solitárias, sonho com ele toda noite , ele vindo ao meu encontro, me estendendo a mão e tudo se iluminando com apenas um sorriso, sonhos esses que me deixam feliz e acabam comigo ao mesmo tempo. Era preferível eu viver em um eterno sonho, pois ele está me proporcionando o que a realidade insiste em me negar.
Dentro de uma banheira cheia d’agua eu me encontro, peguei uma das giletes que encontrei no armário do banheiro, comecei a pressiona-la contra meu pulso, fui aprofundando cada vez mais e a lamina brilhante começava a ficar suja com o sangue e o mesmo escorrer pelo restante do braço, era uma dor necessária e prazerosa, era o meio que eu achei para me encontrar com ele, de vê-lo, toca-lo, senti-lo. O sangue começava a gotejar na agua a tingindo de vermelho, vermelho esse que se espalhava tomando conta da banheira. Larguei a lamina que gotejava sangue e mergulhei o braço cortado debaixo d’ agua , fazendo a agua adquirir um tom mais escuro. Eu encarava meu reflexo no suporte de metal que havia em frente a banheira, os olhos perdidos, a expressão vazia, os cabelos já havia perdido o brilho, eu não me reconhecia mais. Me imergi na água vermelha da banheira, ali de olhos abertos eu podia ver perfeitamente o busto dele por cima da agua, abri um sorriso ao vê-lo, e balbuciei seu nome, via as bolhas de oxigênio subirem da agua e duas mãos me puxarem de volta para a superfície.
- Você esta louca. – ele dizia enquanto me tirava da banheira. Meus olhos piscavam incansavelmente, eu não estava acreditando no que estava vendo, era ele, sim era ele.
- Justin? – balbuciei o nome dele em meio a tose.
- Você esta querendo se matar? – ele disse enquanto amarrava uma atadura em meu pulso. Neguei com a cabeça, minha visão estava meio embasada. Senti quando ele me pegou nos braços me levando até a cama, aonde me colocou na mesma.
- Justin?! É você mesmo? – disse ainda tossindo. Ele assentiu.
- não foi você mesma quem me prometeu que aquele não seria um adeus permanente, e sim um temporário?! – ele deu um sorriso de lado.
Ele começou a tirar minha roupa que estava ensopada, pegou minha toalha e começou a me secar, o toque nele era real, eu o sentia. Ele pegou uma muda de roupa na cômoda ao lado da cama e começou a me ajudar a vestir. Me pôs sentada na cama, de jeito que eu ficasse encostada na cabeceira.
- você tem que se alimentar. Olha seu estado, está fraca. – ele pegou um prato que estava ao lado da cama, o conteúdo parecia ser uma sopa. Ele encheu uma colher e levou até minha boca, recusei. Ele me olhou serio. – Você precisa comer… para ficar forte para mim. – ele sorriu fraco. – Vai Lilyan, por mim! – abri minha boca e ele começou a me dar o alimento. Depois de alguns tempo acabou .
Ele se sentou do meu lado e eu encostei minha cabeça em seu ombro, ele começou a acariciar meus cabelos. Seu cheiro era tão singular, assim como seu toque.
- Justin, me leve embora daqui. – disse olhando em seus olhos. – Por favor! - ele tocou em meu rosto e sorriu fraco.
- tudo vai ficar bem! Tudo vai se resolver! – ele deu um beijo em minha testa.
- LILYAN, LILYAN! - uma voz dizia enquanto me sacodia. Fui abrindo os olhos aos poucos e pude ver o semblante assustado de Victoria. Comecei a tossir engasgada com a agua que tinha ingerido da banheira. – Você esta ficando louca? Não come direito, agora esta tentando se matar? - ela disse me ajudando a levantar .
Não acredito, aquilo foi só mais um sonho, um sonho que parecia ser tão real. Eu o toquei, o senti, mas era só fruto da minha cabeça, fruto de um sonho, o reflexo do maior desejo do fundo da minha alma.
- fica ai que eu vou pegar uma roupa para você tomar um banho. – ela disse e eu assenti. Não demorou muito para ela voltar com uma muda de roupa e uma toalha. Ela me conduziu ate o box, aonde me ajudou a tirar minhas roupas e ligou o chuveiro. A agua quente entrava em contato com meu corpo frio o que parecia me dar um choque. – Você consegue se esfregar sozinha? – apenas assenti. Ela me deu a esponja e o sabonete e comecei a me esfregar. Logo quando terminei ela me ajudou a sair do box me enrolando em uma toalha.
Ela ajudou a me secar e a vesti uma roupa. Me conduziu até a cama , aonde me deitei.
- aonde você pensa que esta com a cabeça. – ela pegou o braço machucado e jogou um remédio que o fez arder, gemi de dor. –foi você quem procurou isso. – ela disse agora amarrando uma tala em meu braço.
- eu o vi! Foi tão real! – ela me encarou. – ele tinha vindo me buscar Vick! Ele veio para mim. – não contive minhas lagrimas e elas rolaram pelo meu rosto.
- não fica assim! Tudo vai se resolver, você vai ver. – ela disse deitando minha cabeça em seu colo. – vai ficar tudo bem. – ela começou a acariciar meus cabelos, enquanto minhas lagrimas rolavam.
POV. Pattie
- Como ele está doutor? Qual o real estado do meu filho? – perguntei olhando fixamente nos olhos do médico que estava em minha frente.
- Bom, o quadro dele já é estável. Esta reagindo muito bem, as dosagens dos remédios estão sendo diminuídas. Ele já esta saindo do coma. – respirei mais aliviada quando ele disse isso. – mas tente poupa-lo de noticias que o deixaram preocupado, estressado ou coisas do tipo. Nesse processo de recuperação ele tem que evitar ao máximo fortes emoções. – assenti.
- mas eu posso vê-lo doutor? – ele me olhou.
- O horário de visitas já acabou. Ele tem que repousar, recebeu muitas visitas hoje. – ele disse.
- por favor. Eu te peço, só por alguns minutos. - implorei.
- Está bem. Dou-lhe dez minutos. - assenti e caminhei até onde ele estava.
Entrei no quarto que ele estava. Era estranho e ver daquele jeito, uma pessoa tão agitada agora imóvel ligada por vários aparelhos. Me aproximei mais dele e toquei sua mão , que estava com aparelhos.
- você não sabe a saudade que eu estou de você, meu filho! – disse em um sussurro.
Comecei a acariciar sua mão de leve e depois seu rosto, seus cabelos não estavam alinhados em um topete como era de costume, estava desgrenhado, os acariciei de leve.
Senti a mão dele se mexer de leve, confesso que tomei um susto. Olhei para o aparelho do coração e as batidas do mesmo estava aceleradas. Me virei para chamar algum enfermeiro , mas parei quando o ouvi resmungar algo. Me virei para ele e afastei um pouco o aparelho de oxigênio que estava em sua boca e pude ouvi.
- Li-li-lia….
- o que? – perguntei , pois não estava conseguindo compreender.
- Li-li-lilyan…
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