Kankurou estava sem seu capuz habitual e havia se vestido a rigor para o casamento de sua irmã. Sabia que se chegasse ao casamento vestido com suas roupas normais de shinobi seria chutado para fora por uma Temari furiosa. Também era um momento importante para ela, sabia que após conhecer Shikamaru ela havia se tornado cada vez melhor e era bom vê-los felizes, mesmo que não fosse admitir tão facilmente para a irmã.
– Kankurou-sama. – Um shinobi gritou enquanto corria atrás do irmão do Kage.
Ele olhou na direção do shinobi até reconhecê-lo como um dos jounins de Suna. Este tinha o rosto pálido como se tivesse visto um fantasma ou algo pior que isso. Era possível notar também a roupa repleta de sangue e a ausência de sua bandana. Se bem lembrava ele tinha sido um dos selecionados de Baki para cuidar do nukenin que havia atacado Gaara e as crianças da Academia.
– O que houve? – Kankurou respondeu em toda sua calma.
– O nukenin foi assassinado. – O shinobi disse sem demora. – E mais dois guardas da prisão foram mortos.
– Baki já está ciente?
– Sim, e o investigador de Konoha chegou.
– Bom. Não diga nada sobre isso a Gaara.
Kankurou concluiu deixando-o ir, sabia que Suna seria o alvo de novos ataques. Teria sido mais sábio cancelar o casamento até que tivessem a certeza de quem estava por trás disso, porém como sempre Temari não lhe deu ouvidos, e até mesmo Gaara havia dito que não ocorreria ataque algum em Suna durante o casamento, e com a segurança dobrada seria descuido dos terroristas fazê-lo em um momento crucial como esse. Como pensou teria que triplicar a segurança do local do casamento e avisar aos Kages para que eles se mantenham em alerta, apenas por precaução. O shinobi das marionetes balançou a cabeça negativamente enquanto pensava como aquela noite seria um grande problema e lamentando internamente por não poder tomar sake em paz como havia planejado desde o inicio.
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Havia um pequeno amontoado de shinobis em uma sala, eles olhavam atentamente em direção a um canto escuro. Alguém se escondia nas sombras dando ordens necessárias para um próximo ataque.
– Dessa vez não sejam inúteis. – A voz esbravejou. – Tolos, não ataquem o Kazekage, vocês não foram contratados para isso.
– O que aconteceu ao Hayte? – Um dos homens presentes questionou a voz.
– Ele foi silenciado. – A voz respondeu com desdém. – O mesmo que acontecer se um de vocês for pego.
Todos se olharam por alguns momentos, nenhum usava de nenhuma camaradagem, apenas estavam preocupados com suas próprias vidas e os ganhos que poderiam ter se o trabalho fosse concluído. Porém poderiam morrer caso descobertos, teriam que agir cuidadosamente se quisessem sair dali ricos e com vida para gastar o dinheiro oferecido. O silêncio reinou e dessa vez por um longo tempo.
//xx//
Hinata olhava Gaara impacientemente, este estava um tanto distante cercado por parlamentares, conselheiros e Daimyos. O sentimento de estar só em um lugar cheio de pessoas que não gostavam de si a deixava desconfortável. Pesando assim resolveu deixar seus pensamentos voltarem para a cerimônia de casamento. Ao seu lado estavam os conselheiros restantes, por algum motivo tinha sido separada de sua família que estava no lado oposto do grande salão, junto a outros convidados de Konoha.
Todos estavam em seus devidos lugares. Os Kages estavam em um local reservado junto a Naruto e Sakura, sua acompanhante. Suas roupas elegantes e exuberantes e as feições risonhas e felizes. O local escolhido por Temari era o templo de Suna, este havia sido totalmente reformado para a ocasião. Estava simples, porém bonito e justo. Hinata nunca esperou nada ‘escandaloso’ vindo da loira, talvez se o casamento pertencesse à outra loira então seria diferente. Devido aos ataques sofridos em Suna todos estavam em alerta, jounins guardavam as portas do templo, pontos estratégicos e a entrada da vila.
Shikamaru estava ao lado de Temari, seu rosto demonstrava um pouco de nervosismo, e se Hinata não tivesse convivido tanto com ele por conta de Mirai, nem mesmo iria perceber a apreensão do shinobi. Ino estava um pouco atrás de ambos. Os olhos molhados denunciavam o choro que a pouco fora contido, lágrimas molhavam seu rosto levemente maquiado, Sai se mantinha ao seu lado esquerdo segurando sua mão em uma fraca tentativa de acalmá-la.
Chouji mantinha alguma distância, porém também não escondia a emoção de estar presente no casamento de seu melhor amigo. Em sua mão ele apertava impaciente uma foto de Asuma, desejava que seu sensei estivesse presente para ver como seu preguiçoso aluno agora estava prestes a formar uma família, ter responsabilidades e continuar a proteger o Rei.
O casamento estava muito bonito, embora emotivo. O salão havia sido totalmente reformado, porém sem muitas modificações do original, flores brancas em vasos transparentes decoravam o local minimamente arrumado. A luminosidade atravessava as grandes janelas revestidas por vidros, o sol estava quase se pondo, deixando um bonito misto de cores frias desenhadas pelo céu límpido de Suna. Temari tinha lhe dito que seus pais também haviam casado ali e por esse motivo planejou detalhadamente seu próprio casamento. No fim a loira não tinha explicado muita coisa relacionada entre ela e Shikamaru, mas Hinata podia ver através de pequenos gestos que ela preocupava-se com o noivo e agora marido. Até mesmo esforçou-se para aprender a cozinhar os pratos preferidos do shinobi a fim de agradá-lo, Gaara tinha comentado o quão difícil era levar Temari a fazer qualquer trabalho domestico, e disse que ela sempre foi melhor sendo uma kunoichi.
Mais era disso que se tratava, o amor deveria ser assim. Talvez esse fosse o modo correto de se amar. Hinata lembrou-se de amar Naruto durante muito tempo, a maior parte de sua vida foi dedicada a estar mais forte para caminhar ao seu lado, para alcançá-lo. Pelo menos foi assim que ela pensava até se dar conta de que sempre desejou ser forte, e isso não tinha nada haver com o amor que nutria por Naruto, ela apenas o teve como um exemplo a ser seguido, queria ser reconhecida.
A cerimônia ocorreu sem maiores complicações, um dos conselheiros, Ebizou, havia sido escolhido por Temari e Shikamaru para celebrar o casamento. Após isso uma festa tinha sido organizada ao ar livre para comemorar o casamento. Todos em Suna se responsabilizaram por fazer a festa para os noivos, assim como durante o festival todos ajudaram e trabalharam juntos para promover a melhor festa já vista. O local havia sido iluminado, porém a maior parte vinha da lua que brilhava insistente no céu límpido de Suna. Mesas e cadeiras foram distribuídas e apenas uma grande mesa fora posta no centro do lugar, onde Temari e Shikamaru agora estavam.
Hinata sentia-se estranhamente incomodada pela distância entre ela e Gaara, este já havia sido solicitado pelos Kages que pareciam curiosos em relação ao ataque em Suna. Não poderia culpá-lo, mas queria evitar estar sozinha em meio a pessoas que não gostavam tanto assim de si. Por fim resolveu caminhar um pouco pelos arredores do templo, seria uma boa forma de passar o tempo, evitar olhares, não estar tão apreensiva esperando por Gaara e não observar Naruto e Sakura juntos.
Após algum tempo andando ao redor do templo Hinata pode avistar um pequeno lago. Não era grande como os que Konoha possuía, mas mesmo assim não escondia sua beleza. Algumas plantas e flores tentavam desesperadamente nascer em volta e próximos a água, mas com toda a certeza aquilo seria impossível. Um calafrio percorreu a pele clara de Hinata ao sentir a aproximação de alguém. Seus olhos ganharam veias saltadas em toda sua volta, mostrando seu glorioso Byakugan. Mas apenas um homem minimamente bem vestido de aproximava, e ela imediatamente o reconheceu, era um dos conselheiros que estavam com Gaara mais cedo.
– Hinata-sama. – O homem disse com a voz calma. – O que faz tão longe? Pode ser perigoso.
Os olhos deste eram quase fechados devido a sua idade possivelmente avançada, ele tinha a expressão de quem já viveu o suficiente e possivelmente clamava por algum tipo de sossego e paz. Seu rosto era amável e aparentemente gentil, suas vestes pareciam ser feitas do melhor tecido e por mãos hábeis, eram muito bonitas e elegantes. Hinata sorriu minimamente para o homem e assentiu, realmente era perigoso estar ali.
– Desculpe. – Sussurrou sentindo-se culpada por deixá-lo preocupado. – Eu senti uma pequena brisa e acabei achando esse lago. Não é muito comum em Suna.
– O que achou do casamento? – Perguntou mudando totalmente o rumo daquela conversa.
– Foi muito bonito e emocionante. – Hinata respondeu sem muito pensar, ainda estava comovida pelo casamento.
– O casamento do Kazekage será cem vezes mais bonito. – Ele concluiu risonho. – Mas isso trará muitas desgraças para Gaara-sama.
A voz cheia de pesar invadiu os ouvidos da Hyuuga fazendo-a arregalar os olhos pelo comentário dito. Por alguns segundos ela permaneceu quieta, a cabeça estava baixa o suficiente para evitar qualquer contato visual como o conselheiro, constrangimento atravessou seu pequeno corpo causando certo desconforto com a presença do homem ali. A verdade é que ela não havia entendido o motivo do que ele tinha dito naquele momento, então resolveu permanecer em silêncio para evitar confusões por algo que pudesse responder.
– Gaara-sama deveria casar-se com alguém de Suna. – Ele continuou ao notar a falta de resposta da Hyuuga. – As pessoas de Suna não lhe aceitaram como noiva, e não estão felizes com a sua presença. Talvez fosse melhor se esse acordo fosse quebrado, não acha? Aqui não é o seu lar, você não irá se acostumar ao deserto depois de ter morado no paraíso. Gaara-sama perderá credibilidade e autoridade diante dos conselheiros por permitir que isso continue.
O silêncio prosseguiu novamente, os olhos perolados que antes tinham aspectos do Byakugan agora transbordavam de lágrimas ainda contidas e reprimidas. Hinata não entendia o motivo de estar ouvindo tudo aquilo, não era como se ela tivesse escolhido esse casamento desde o início. Queria que ele parasse de falar, e agora se sentia arrependida de ter saído da festa. Em passos firmes e um pouco mais decididos ela caminhou adiante, porém quando passava ao lado do homem ele segurou seu pulso de forma rude o suficiente para que ela sentisse o desprezo através de seu ato.
– Ele será odiado novamente. – Disse com a voz carregada de desgosto. – Gaara-sama vai ser odiado se esse casamento for adiante, e ele trabalhou duro para as pessoas de Suna reconhecerem ele como seu líder, não é justo que tudo aconteça novamente. Se você desistir desse casamento será o melhor.
Hinata não deteve as lágrimas que segurava, dessa vez elas rolavam impiedosas por seu rosto agora pálido. Parecia que em qualquer lugar que fosse às pessoas nunca a aceitavam, sempre procuravam fazer o pior. Diante das palavras amargas jogadas em sua direção ela resolveu puxar seu braço para longe do agarre, soltando-se com facilidade do toque odioso que a prendia. Percebeu a tempo que não adiantaria dizer absolutamente nada para aquele homem, talvez ele estivesse certo, Gaara não merecia ódio, ao pouco que conviveu com ele pode encontrar um homem pouco compreendido que se preocupa com as pessoas a sua volta mesmo que não as conheça. Alguém que é altruísta. Ele era talvez uma das únicas pessoas que não merecia passar por nada que o magoasse.
Sem uma palavra a Hyuuga afastou-se, voltando para a festa. Pessoas sorriam enquanto passavam ao seu lado, mal a notavam. Mas antes que pudesse estar próximo onde todos estavam reunidos ela avistou Gaara ao lado de uma mulher, esta parecia realmente sorridente. Também era bonita o suficiente para ofuscar a beleza que tinha a sua volta. Cabelos longos e marrons assim como seus olhos, um rosto de feições meigas e um sorriso gentil.
– Quem sabe você não precise realmente desistir. – Disse o conselheiro agora ao seu lado, também observando a cena adiante. – Talvez Gaara-sama se dê conta de que o melhor é casar com alguém de Suna. Aquela é a neta preciosa de Ebizou.
A voz carregava de zombaria alcançou os sentidos da Hyuuga e antes que ela pudesse pensar em responder ele a deixou sozinha, seguindo para onde ambos estavam conversando distraidamente. O rosto ainda molhado por lágrimas finalmente foi limpo no próprio kimono, e a pouca maquiagem fora tirada como consequência. Ela era uma Hyuuga, tinha seu orgulho, não deveria demonstrar a mínima fraqueza. Da última vez que havia sido fraca o Uzumaki destruiu seu coração, isso deveria ter lhe servido de lição.
Com a postura tão imponente quanto a de seu pai Hinata caminhou ao redor da festa, seu kimono tornava-se iluminado pela lua assim como seus olhos perolados. Sua presença chamava atenção de todos por onde passava. Uns comentavam sobre seus cabelos que comparavam com o véu da noite, outros intrigados pela cor de seus olhos e sua forma sinuosa. Nenhum desses comentários a interessava, e por isso procurou seu clã e alguém de Konoha, mas antes que pudesse avistar qualquer um deles algo bateu em seu corpo.
Ao olhar para baixo pode encontrar dois olhos castanhos a encarando. Um garotinho estava caído diante de si, cabelos bagunçados e um pouco suado, talvez de uma breve corrida, ele parecia ter quatro ou cinco anos. Hinata sorriu para ele a fim de não assustá-lo e estendeu a mão para que ele pudesse apoiar-se para levantar. O garoto prontamente ergueu a mão para a Hyuuga, sorrindo finalmente.
– Você se machucou? – Ela perguntou apreensiva enquanto examinava o menor. – Dói em algum lugar?
– Não. – O garoto respondeu timidamente. – Eu estava fugindo quando caí.
Hinata não pode deixar de sorrir ao lembrar-se de Mirai quando fugia de Shikamaru para lhe encontrar e sempre ganhava novos cortes e machucados, isso deixava Kurenai sempre apreensiva. Ela abaixou-se o suficiente para segurar o pequeno corpo e ergue-lo para junto de si. As bochechas do garoto tomavam cores avermelhadas fazendo-a lembrar de si mesma na infância. Sempre fora muito tímida.
– De que você estava fugindo? – Perguntou curiosa.
– Os meninos maiores sempre são malvados comigo. – O menor respondeu choroso.
– Onde estão os seus pais? – Hinata disse calmamente enquanto voltava a caminhar com o pequeno nos braços. – Vou te ajudar a encontrá-los, e então os outros não vão te incomodar.
– Obrigado, nee-chan.
– Qual o seu nome?
– Seiko. – Respondeu prontamente com um sorriso nos lábios. – É o nome do meu avô, mas ele morreu.
– Seiko-kun... – Hinata pronunciou docemente. – É um bom nome.
– Hime-sama. – A voz de Ko chamou a atenção da Hyuuga. – Eu estava preocupado com o seu sumiço.
Hinata sorriu abertamente para Ko, suas feições mostravam desagrado por sempre fugir e deixá-lo preocupado com o seu paradeiro. Seiko brincava timidamente com seus fios de cabelo e o Kanzashi que o prendia. O olhar de Ko em direção ao menino fez Hinata balançar a cabeça despreocupadamente, ele deveria querer saber quem era o menor, mas isso não importava por agora.
– Então ela é uma Hime? – Perguntou a Ko com o interesse transbordando em sua voz.
– Hai. – Ko respondeu prontamente com um sorriso. – Ela é a Byakugan no Hime.
– Não diga bobagens, Ko. – Hinata o repreendeu antes de sorrir para o garoto novamente. – Vou encontrar os pais do Seiko-kun e depois irei para casa.
Estava cansada, não tinha nem mesmo animação o suficiente para continuar ali. Ko parecia querer avisar-lhe alguma coisa, mas ela o ignorou carinhosamente, seguindo a direção oposta de onde vinha para continuar a procura dos pais do garotinho. Ambos conversavam sobre como Seiko queria estar forte para proteger Suna, ele falou sobre sua irmã estar presente durante os ataques, e o desejo de protegê-la fez Hinata lembrar-se de Neji.
– Seiko. – Alguém gritou em meio à multidão, os olhos arregalados e as lágrimas a acompanhavam. – Onde você estava?
– Okaa-san! – Disse choroso estendendo os pequenos braços em direção a mulher. – Eu me perdi.
– Kami-sama, você está bem? – Perguntou ansiosa, ignorando totalmente a presença de Hinata. – Por Kami, não faça isso de novo.
– Não se preocupe Okaa-san, a Hime me encontrou. – Respondeu indicando a direção de Hinata.
– Arigatou. – Ela sorriu para Hinata enquanto se curvava em uma mensura. – Você é a noiva do Kazekage-sama? Você também salvou minha filha durante o ataque de hoje.
– Hai! Ela esta bem? – Perguntou curiosa. – Eu soube que algumas crianças ainda se machucaram.
– Ela está bem, teria sido pior se não estive lá, Hime-sama. – Disse baixinho. – Se ela tivesse aqui estaria agradecendo, mas ela precisava de repouso e não veio.
– Não precisa me chamar assim, meu nome é Hinata. – Disse curvando-se e sorriu novamente após o feito. – Pode me chamar apenas de Hinata. Tenho que ir, mas foi bom conhecê-lo, Seiko-kun, Okaa-san.
Ao terminar as despedidas Hinata partiu, deixado seu Kanzashi como um presente para a garota que ela havia salvado. Sentiu-se menos apreensiva após passar esse tempo com Seiko, ele era tão meigo quanto Mirai e talvez menos imprevisível que ela. Enquanto caminhava sozinha por entre as ruas pode sentir a presença que conhecia bem o suficiente. Ignorou o incomodo em seu coração e continuou a caminhada de volta para a casa onde estaria hospedada apenas por mais uma noite antes de voltar para Konoha. Felizmente.
– Aonde vai?
A voz doce chamou sua atenção, mais nada que a fizesse olhar na direção da mesma. Apenas tratou de caminhar o mais rápido que o pesado kimono permitiria. Seu corpo clamava por algum descanso, aquele tinha sido um dia realmente longo e cansativo. Seu chakra ainda estava um pouco bagunçado, mesmo que tivessem feito uma infusão em seu corpo, não foi bem aceito. Mas uma boa noite de sono resolveria, e então ela estaria voltando para Konoha no dia seguinte.
– Hinata. – A voz disse suplicante por alguma atenção.
A Hyuuga finalmente parou, até que ele pudesse alcançá-la e logo voltou a caminhar com ele ao seu lado. Suas feições transbordavam confusão e falta de entendimento, a máscara comum de frieza encontrava-se falha no momento, deixando transparecer suas emoções. E pelo que podia ver ele estava cansado, talvez tanto quanto ela estava. A mão esquerda do shinobi veio a procura da sua, mas o contato foi negado. Nem mesmo Hinata sabia por que se afastava dele.
– O que houve? – Gaara perguntou de maneira fria. – Porque está sozinha? Porque não me esperou?
– Eu estou cansada, Gaara. – Ela respondeu sem muito interesse. – Preciso descansar, vou partir amanhã cedo.
Gaara parou diante do comentário feito, algo dentro de si soou de forma errada. Não entendia o motivo de Hinata precisar voltar para Konoha, estava ciente que na manhã seguinte os membros do Clã Hyuuga voltariam para a vila, por saber que o líder do clã não poderia ficar ausente por tanto tempo, mas que voltariam em algumas semanas para o casamento. Hinata agora pertencia a Suna, seria sua esposa, porque voltar?
– Você não vai para Konoha amanhã. – Gaara disse friamente. – Porque quer ir embora?
– Gaara.
Antes que pudesse continuar a distância entre eles foi extinta e os braços fortes do Kage agora a rodeavam de forma íntima. Em um primeiro momento o corpo da Hyuuga tornou-se rígido e seus olhos tornaram-se úmidos, não planejava chorar, mas fora pega de surpresa pela demonstração de Gaara.
– Você não vai. – Ele sussurrou com os lábios próximos ao pescoço pálido da Hyuuga.
– Eu voltarei, mas preciso ir até Konoha. – Hinata respondeu tentando acalmá-lo da melhor forma que conseguia, e ainda tentando afastá-lo de si.
– Entendo.
Aos poucos o corpo firme de Gaara afastou-se de Hinata o suficiente para que ainda tivesse seus olhos fixos nos da Hyuuga. Ele levou sua mão agora livre ao rosto perfeito diante de si, tocando-o com simplicidade até que seu polegar pudesse contornar seu queixo. A pele macia causava sensações desconhecidas, mas que o instigavam a continuar o carinho feito até que os lábios de Hinata tornaram-se entreabertos o suficiente para encaixar os seus próprios ali. Ele a beijou intimamente e desejosamente como não havia feito antes, o encostar de lábios anterior não pareceu tão grandioso comparado ao beijo que acontecia. Os dentes do Kage beliscaram os lábios doces da Hyuuga, fazendo-a arfar.
– Abra-os.
Após as palavras, como se a ordem tivesse algum efeito, Hinata entreabriu os lábios, permitindo que a língua aveludada deslizasse impiedosamente para dentro de sua boca. Os olhos perolados permaneceram arregalados por alguns instantes, mas Hinata logo os fechou enquanto levava os braços em volta do pescoço de Gaara, puxando-o para si com uma necessidade recém descoberta. O beijo tornou-se mais intenso e ousado, as respirações fundiam-se de forma acelerada.
Alguns segundos se passaram até que um dos dois afastou-se para recuperar seu próprio fôlego. O rosto de Hinata, antes pálido, agora estava rubro pelo constrangimento. Em nenhum momento de sua vida havia sido beijada daquela forma. Nem mesmo correspondido tão rapidamente. Seu primeiro beijo havia sido com Naruto, mas esse tinha sido casto e fora o único que ganhou do mesmo durante o mês que estiveram juntos, já que quase não se viam.
O fôlego aos poucos foi recuperado, até que Hinata pudesse notar o olhar de Gaara direcionado a ela. Os lábios do Kage estavam levemente avermelhados devido ao contato. A Hyuuga constatou que ele parecia bonito após um beijo, e o pensamento trouxe consigo o constrangimento. Ela olhou imediatamente ao redor, procurando por qualquer pessoa que pudesse ter visto o momento.
– Venha. – Gaara chamou a atenção de Hinata enquanto segurava sua mão fria. – Vamos voltar para a festa.
Ele não esperou por nenhuma resposta vinda da noiva, ela parecia um pouco nervosa e constrangida, mas precisava provar seu ponto. Pensou sentir-se desconfortável quando foi ignorado. A ausência de dialogo com ela em apenas alguns segundos tornou-se incomoda. Precisava provar para si mesmo que ela não estaria chateada, ou mesmo por ter sentido vontade de beijá-la daquela forma. Talvez ele lhe devesse alguma explicação sobre o acontecimento, mas ele não o faria dessa vez.
//xx//
Gaara olhava Hinata de longe, tinha a sensação de que ela estava evitando-o. Ela estava rodeada por algumas crianças de Suna, algumas que tinham sido salvas durante o ataque e insistentemente a agradeciam. Pouco tempo depois Sakura aproximou-se de todos e mesmo que estivesse longe o suficiente ele sentiu que Hinata havia estremecido com a presença da kunoichi.
– Gaara. – Naruto chamou enquanto caminhava em sua direção, as mãos atrás da cabeça como sempre. – Foi um bom casamento, ’ttebayo!
– Sim. – O Kage respondeu sem delongas. – Temari parece estar feliz.
Naruto olhou na direção do amigo e pode vê-lo observando Hinata de forma atenta. Durante o casamento também pode constatar a atenção do Kage voltado apenas a sua noiva, assim como a de quase todos os presentes, Hinata tinha estado muito bonita durante a cerimônia. Sakura tinha comentado que o kimono que ela usava tinha pertencido a sua falecida mãe, pelo menos era o que Ino havia lhe dito uns dias antes.
Pensar sobre isso ainda causava desconforto dentro de si. Gaara casaria com Hinata de qualquer forma? Ele provavelmente nem mesmo a ama, só esta cumprindo ordens. Bee tinha falado sobre como os conselheiros haviam pressionado seu amigo para um casamento e que possivelmente o único motivo da escolha teria sido o chakra de Hamura que Hinata carregava consigo, o Byakugan era apenas um bônus para eles. Estavam provavelmente procurando por um herdeiro forte, ninguém estava ali preocupado com o bem estar de Hinata. Ela só deveria casar com alguém que ela amasse. Mesmo que o pensamento deixasse Naruto ainda pior por saber que ele era essa pessoa.
– No passado, “amigo” era apenas uma palavra pra mim. Nada mais, nada menos. Mas depois de te conhecer, você me fez perceber que... O significado dessa palavra é importante. – Gaara falou abertamente sobre o que sentia. – Ela aceitou, Naruto.
O loiro observou o amigo passar diante de si e ir em direção a Hinata. A expressão de espanto demorou a dissipar das feições. Era como se ele tivesse lendo sua mente, sabia que Gaara estava observando atentamente tudo que era relacionado a Hinata, talvez ele tenha percebido que tinha algo diferente entre eles, possivelmente nem sabia do relacionamento que tiveram no passado não tão distante daquele. E o que ele poderia querer dizer com ‘ela aceitou’, Hinata teria aceitado por vontade própria casar-se com ele? Esse pensamento deixava-o um pouco desnorteado, mas calmo, por saber que ela não estava sendo forçada. Finalmente decidiu não pensar tanto sobre isso, andando rápido o suficiente para acompanhar o amigo.
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