História Sunshine - Laura

Fechei a porta e com ela a luz pareceu ficar clara demais. Tudo começou a pulsar intensamente e eu fiquei com muita náusea. Me senti tão fraca que dobrei meus joelhos e cai sobre eles. Um abismo abriu-se sob mim. Meu estômago começou a doer. Fui correndo para o banheiro. Por sorte estava com um elástico preto no pulso e no caminho consegui prender meu cabelo.

O táxi desapareceu como uma nuvem úmida e logo me vi parada na porta. O relógio marcava 8:50h. Em minhas mãos, conferi o pequeno pedaço de papel amassado que anotei o endereço da locação onde seria o teste. Minhas pernas estavam presas. Mas eu precisava desmoronar os muros da minha vida. E só eu sabia do que precisava naquele momento. Eu só queria extrair aquele medo que eu tinha de mim.

Vestida de coragem, olhei ao redor e vi algumas poucas pessoas, uma câmera em trilho e várias hastes de iluminação. O cenário era simples e tinha uma cama com dossel. Parecia tão confortável que senti vontade de tirar um cochilo. Um livro de capa vermelha repousava em cima da cama de travesseiros revestidos com fronhas vermelhas. Uma cômoda aos pés da cama e uma música ambiente. A vontade de tirar um cochilo aumentou, mas fugiu de mim quando vi uma cadeira escrito “Jenji”. Mas Jenji não estava lá.

— Taylor! - Jess veio em minha direção. — Venha! Jenji disse-me para te levar num camarim para você se trocar. Você fará o teste em uma cena com Laura Prepon. Ela será Alex Vause.

Laura Prepon... eu quase nada sabia dela. Apenas que tinha interpretado por muitos anos uma personagem de um seriado famoso, That 70s Show, era alta, ruiva e tinha olhos claros.

Fui até o camarim acompanhada de Jess para me aprontar.

Jess me ajudava a arrumar as ondas do meu cabelo quando escuto uma batida na porta.

— Entre! – Jess tomou a iniciativa.

— Taylor Schilling! Vejo que desta vez você está vestida! – irrompeu o ambiente uma bem humorada Jenji.

Claro que ela brincava com o fato de eu tê-la recebido de camiseta e meias na minha casa.

— Me desculpe, Jenji! – continuei sentindo meu rosto ruborizar. — Além de eu não estar vestida adequadamente, sequer ofereci-lhe um chá.

— Não se preocupe comigo! Eu também estava com muita pressa! Como você está?

— Estou pronta, apenas aguardando! – e somente depois da resposta percebi o que ela queria dizer com “como você está?”

— Prontíssima pelo visto. Observei quando você chegou. Entrou aqui com uma determinação de aço gravada em seu rosto.

— Isso é muito importante para mim, Jenji. Sempre fui sua fã e quando recebi o roteiro, fiquei muito impressionada que era uma mulher a peça central e que não era o suporte de nenhum homem. Ela era o próprio centro de sua narrativa. Eu amei a ideia e estou pronta para fazer qualquer coisa para ser uma parte do seu projeto.

— Eu olho para você e parece que você faz parte deste ambiente. Quando vi seu vídeo...

— Nossa! Não acredito que você viu aquilo! – interrompi.

— Ah se vi! – disse entre gargalhadas. E revi. Vi mais uma vez. Quando parecia que já tinha visto o suficiente liguei para Liz! Então ela me contou como te achou e como teve a certeza de que você era a escolha certa.

— Acabei de ganhar a minha manhã!

— Você arrasou! Liz me contou que você estava sem dinheiro e que mandou um vídeo para o papel de Verônica Callaghan. Isso foi ousado.

— Para mim, como atriz, ser ousada é dizer a verdade, ser eu mesma, não importando como o mundo vai interagir com isso. Ousada é a sua criação de Orange Is The New Black. Piper Chapman para mim, tira a máscara social de que somos perfeitos. Ela é ambígua e cheia de falhas. Eu acho isso emocionante.

— Você está sendo uma grande descoberta para mim... Pedi a Liz indicação de outros atores que farão testes a partir de amanhã. Hoje eu preciso definir Alex Vause e Piper Chapman.

— Posso saber quem são os atores? – perguntei timidamente. Às vezes eu não sabia ficar de boca fechada.

— Claro! – respondeu aos risos. — Convidei a Jessica Pimentel, o Nick Sandow, seu grande e hilário “irmão” Michael Chernus e a Kate.

— Mulgrew? – disse esperançosa.

— Obviamente! Minha opção como Vause era a Michele...

“Michele Trachtenberg não, por favor!” Foi a única coisa que que consegui pensar no momento. Quando voltei minha atenção para Jenji, ela continuou:

— Mas Liz me adiantou brevemente o que aconteceu entre vocês. Cheguei a trabalhar com ela rapidamente. Não precisa fazer essa cara – completou aos risos - optei por uma mudança e vamos ver como Prepon dará vida a Alex. Liz também me disse que se eu quisesse saber mais detalhes, eu tinha que perguntar direto para você!

Não consegui me controlar e ri nervosamente para começar a história enquanto Jess e Jenji ainda riam de mim.

— Enquanto fazíamos Mercy, Michele e eu tivemos... – comecei.

As batidas na porta entreaberta interromperam nossos risos em torno do que havia acontecido entre Michele e eu para a entrada de Laura, a alta mulher de olhos claros que era ruiva. Era.

A beleza dela era muito mais do que meus olhos podiam enxergar. Longos cabelos negros, pele de alabastro, lábios rosados... e atrás dos óculos de armação preta, o olhar verde mais profundo e brilhante que eu já tinha visto.

Devastada com a presença marcante de Laura, e sob o novo tom singular de verde que eu acabara de conhecer, abri um sorriso, limpei a garganta e me apresentei.

Ela inclinou a cabeça de forma suave para o lado, sem desviar nossos olhares.

— Prazer em te conhecer Taylor! Meu nome é Laura. – disse em uma voz rouca mais baixa e em um tom profundo.