Os soluços de Isabella finalmente tinham se acabado. Pelo menos por hoje.
A noite tinha sido intensa demais e eu estava preocupado com minha melhor amiga e com o filho que ela carregava.
Seu rosto agora era sereno e seu corpo pequeno estava agarrado ao meu como se pedisse por abrigo. De fato, no momento eu era seu abrigo.
Sem fazer movimentos bruscos me ajeitei na cama e nos cobri com um edredom fino, fechei os olhos e as lembranças dessa noite tomaram conta do meu sono.
- Quem sofreu um princípio de aborto fui eu pai, eu tô grávida - Ela disse aquilo com tanto medo e ao mesmo tempo tanta coragem.
- O que? Você só pode estar brincando comigo Isabella! Você está acobertando seu irmão, é isso? - Seu Renê que normalmente tem a pele pálida se encontrava num vermelho intenso e eu continuava lá sem conseguir pronunciar uma única palavra.
Isabella desceu as escadas devagar, respirou fundo e encarou o pai.
- Pai, eu sei que você vai ficar decepcionado, revoltado e tudo mais… mas é a verdade. Eu tô grávida! - Fui para perto de Isabella com medo da reação de seu pai. Guilherme fez o mesmo, enquanto Caio tinha os olhos arregalados - Não foi planejado, mas aconteceu. Desculpa. - Seus olhos brilhavam, mas nenhuma lágrima caiu.
Depois disso ela teve que ouvir palavras tão duras e indevidas do pai que eu não gosto nem de lembrar. Eu esperava que seu Renê fosse reagir mal a notícia, mas o que ele fez eu jamais cogitei.
- Não quero ouvir uma palavra sua, fez o filho, não quer tira-lo então suma da minha frente! Eu vou sair e quando eu voltar não quero ver rastro seu aqui, a partir de hoje você não é mais a minha filha.
Sim, ele tinha exigido que Isabella tirasse o bebê, ela não aceitou e então ele explodiu. Não adiantaram as reclamações do Guilherme, as minhas tentativas de explicação, os soluços de Isabella. Ele saiu transtornado e decidido.
E por isso aqui estou eu, abraçado a esse corpo pequeno, no meu apartamento.
Os primeiros raios solares da manhã me despertaram, Isabella ainda dormia abraçada a mim e aquecia meu peito. Alisei levemente seus cabelos e vi ela se remexer e me abraçar ainda mais forte.
Minha cabeça estava uma confusão. Não sabia o que faria primeiro.
Eu ia ser pai. Pai de um filho da minha melhor amiga. Melhor amiga essa que eu tinha uma quedinha, mas não queria perder a amizade. Melhor amiga essa que foi expulsa de casa porque está grávida de um filho meu. Como eu ia sustenta-los? Só com a mesada que meus pais me mandavam não ia bastar. Pelo menos o apartamento era meu, não precisaria pagar aluguel. Como seriam nossas vidas agora que Isabella moraria comigo? E quando nosso filho nascer, daqui alguns meses?
Tantas perguntas sem respostas.
- Também está pensando o que será da gente de agora em diante? - A voz sonolenta de Isabella se fez presente e eu voltei minha atenção a ela, sorri disfarçando minha preocupação. Ela não precisava de mais uma.
- Tô pensando no que vamos comer, na verdade - Sorri e vi os cantinhos da sua boca se alargarem um pouco.
- Eu sei que não é isso - Sentou ao meu lado - Olha, eu não vou ficar no seu apartamento por muito tempo, eu só preciso me estabilizar, ta?
- Ei, claro que não. Você é a minha melhor amiga e grande parte do que está acontecendo com você é culpa minha.
- Mas eu sei que você deve estar pensando que agora tem que tomar conta de mim, ser pai de família e bla bla - Revirou os olhos e eu ri. Ela me conhecia bem. - Só que você é adolescente Rafael, não era pra ser assim.
- Mas aconteceu e apesar de estar preocupado se vou dar conta de tudo isso eu tô feliz. Isabella… eu sempre quis ser pai, você sabe. E cara, agora a minha melhor amiga vai morar comigo!
- É, mas eu vou dar um jeito de arrumar um cantinho pra gente - Alisou a barriga e eu senti meu coração apertar - você precisa de privacidade
- Mas eu quero vocês aqui comigo, por favor Bella… fica?!
- Mas Rafael nós não somos um casal, como vai ser isso? E suas peguetes?
- Sério que você tá preocupada com minhas peguetes? - Eu ri e ela deu de ombros - Isabella, você e o nosso filho são tudo que importam agora e eu quero muito que vocês fiquem comigo - Expliquei alisando seu rosto e senti algo molhar minha mão. Ela estava chorando.
- Rafa, ele não podia ter feito isso, ele… - E novamente os soluços se fizeram presentes, a abracei com força e fiz carinho nos seus cabelos - Ele queria me obrigar a tirar o bebê, eu não ia conseguir…
- Ei, calma, vai ficar tudo bem - Disse tentando disfarçar a raiva que sentia de Renê no momento - Ele falou aquelas coisas de cabeça quente, daqui a pouco vem te pedir desculpas
- Não sei não, Tomatinho… ele me odeia.
- Bella, ele não te odeia, só ta revoltado. Vamos dar tempo ao tempo, ta bom? - Ela secou as lágrimas e concordou - Você precisa se alimentar já que ontem não quis comer nada
- Eu não vou ficar aqui chorando pra sempre, preciso dar um rumo a minha vida
- É assim que se fala!! - Sorri e me levantei a puxando junto
- Vou arranjar um emprego!
- O que? Não, Isabella, você tá grávida sabe que tem que repousar
- É só nesses primeiros dias, mas depois posso achar alguma coisa… se bem que grávida, o máximo que vou conseguir é trabalho com faxina
- Mas você só vai trabalhar com faxina por cima do meu cadáver!
- Mas Tomatinho…
- Nada de Tomatinho, você não vai fazer esforço físico dessa maneira estando grávida! Ta louca?
- Ai que saco Rafael! Ninguém vai querer me dar um emprego, eu não terminei nem o ensino médio ainda, sou menor de idade e não tenho experiência
- Se você quer tanto trabalhar - Suspirei e ela me encarou com aqueles olhos hipnotizantes em expectativa - deixa que eu arranjo um serviço pra você, nada de faxina, entendeu?
- Entendi! Obrigada amorzinho da minha vida - Usou seu tom irônico e eu sorri, ela estava melhor que ontem, felizmente.
- Não vem não hein? Pensa que não sei que essa é sua maneira de conseguir tudo que quer? Nada de hambúrguer por enquanto
- Que? Que grande absurdo Vitti, eu nem tava pensando em comida…
- Claro que tava, eu te conheço!
- Droga! Odeio quando você faz isso, mas assim né... Eu to com desejo, tem que ser hambúrguer
- Não faz assim comigo! - Pedi voltando a me sentar na cama - Você sabe que tem se alimentar direito pelo menos por enquanto… lembra o que o médico falou, né?
- É, você ta certo - Suspirou rendida - mas então o que vamos comer?
- Vai tomando seu banho, eu vou comprar algo pra gente, na volta aproveito e passo na sua casa e pego o restante das tuas roupas
- Você acha uma boa ir lá? Não é melhor pedir pro Gui trazer?
- Melhor não, deixa o Guilherme fora disso, pelo menos agora.
- Ta bom, obrigada - Agradeceu ainda preocupada.
Sorri e concordei, saindo assim de casa. Segui para a padaria e comprei as coisas mais saudáveis e deliciosas possíveis, saindo de lá fui voando pra casa de Isabella, pois não queria deixa-la muito tempo sozinha. Chegando na casa que eu conhecia melhor que a dos meus pais, como não havia ninguém ali, subi as escadas até o quarto de Isabella. Coloquei suas roupas dentro de uma mala e a fechei, logo depois senti uma respiração pesada na porta. René me olhava sério, seu ar de superior me deixava nervoso, fui interrompido dos devaneios quando ele pigarriou algo.
- O que faz aqui? Achei que fosse a Isabella.
- Vim buscar roupas e algumas coisas que ela está precisando, queria falar com ela?
- Que? - Sorriu ironicamente - Falar com aquela traidora? Jamais! Eu preferia que ela desaparecesse, lugar de puta não é na casa de uma família respeitada
- Como ousa falar dela assim? Isabella é uma pessoa maravilhosa! Se tirasse seu tempo e a escutasse saberia como ela é uma mulher incrível, mas você só olha pro próprio umbigo!
- Escuta aqui rapazinho, você está na minha casa...
- Escuta aqui você, o senhor até pode ser pai da minha loirinha, mas jamais vou deixar alguém machuca-la como você esta fazendo, ela não merece isso e pode ficar tranquilo, não voltarei aqui, a não ser que Isabella peça, adeus.
Desci aquelas escadas atordoado, não podia ter explodido daquele jeito, mas foi tanta injustiça que não podia me conter, puta que pariu que raiva! Peguei as coisas de Isabella junto com seu lanche e fui para meu... não, nosso apartamento, abri a porta e encontrei uma Isabella de camiseta branca batendo alguma coisa no balcão e dançando ao som de burn, conhecia essa música muito bem, era a que tocava na festa... vários flashes daquela noite invadiram minha mente.
"Seu beijo é bom, até que a gente combina, né?" Ela disse quando eu analisava seu rosto com muita atenção. Concordei e então a vi sorrir timidamente, peguei sua mão e a convidei para ir para a pista novamente.
- RAFAEL!!! que susto porra! - Ela gritou fazendo com que eu voltasse a realidade.
- Me desculpe eu... - Ela estava tão linda, com os cabelos amarrados num coque solto, usando minha blusa que ficava quase um vestido nela...
- Quer matar seu filho do coração? - Continuou e eu sorri negando
- Eu não queria te assustar, desculpa
- Tudo bem - Sorriu de volta - Ei, como você demorou, fiz chantilly pra comer com meu sanduíche, você quer?
- Sanduíche com chantilly? - Fiz cara de nojo e ela riu - Eu dispenso, obrigado
- Você quem sabe - Voltou a bater enquanto eu sentei na mesa - passou na minha casa?
- É... - Ela me encarou - Passei
- Meu pai tava lá?
Eu não queria mentir pra Isabella, mas se eu dissesse que sim, ela ia querer saber de tudo e eu não podia relatar o que aconteceu, não mesmo!
- Não, não estava, peguei as coisas e sai
- Ah! Que bom, eu acho... vem, vamos comer na sala? Quero ver TV
- Claro, você pode tudo.
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