POV Rafael
- Fala mano, a loirinha ta ai? – Perguntei à Guilherme assim que cheguei na sua casa
- Ta... sobe lá no quarto – Respondeu sério, parecendo preocupado
- Ta tudo bem? – O questionei adentrando a casa
- Comigo sim, mas Isabella ta estranha, talvez ela te conte, já que eu não consegui arrancar nada – Ele disse passando a mão pelos cabelos
- É, ela ta distante essas últimas semanas... – observei - será que eu fiz alguma coisa de errado? – Perguntei mais para mim mesmo do que para meu amigo
- Não sei cara, sobe lá e descobre – Deu de ombros e foi para a cozinha.
Eu já tinha reparado no quanto Isabella estava distraída nas últimas semanas, sempre que eu conversava com ela suas respostas eram curtas, e ela parecia estar sempre em outra galáxia, viajando mentalmente num mundo só dela. Sexta passada eu perguntei se tava acontecendo alguma coisa, ela disse que estava tudo bem, então deixei o assunto morrer, mas hoje quando ela mandou mensagem pedindo para que eu fosse vê-la depois da aula, que inclusive ela não foi, eu estranhei.
Abri seu quarto devagar e a encontrei sentada na cama com os joelhos encolhidos, suas mãos estavam abraçando as próprias pernas e seu queixo apoiado nos joelhos. Acendi a luz e vi que seu rosto estava inchado e avermelhado, ela estava chorando, conclui.
- Oi – Sentei na ponta da cama – o que aconteceu? – acariciei seu rosto e vi uma lagrima rolar da sua bochecha
- Eu estraguei tudo Rafael – disse fechando os olhos e negando com a cabeça
- Porque você está chorando loirinha? – Me aproximei mais e a abracei de lado, um pouco desajeitado – foi o Cadu? Ele fez alguma coisa?
- Não... a culpa é toda minha, eu sou uma burra mesmo – disse com a voz embargada e ao fitar seu rosto vi que chorava ainda mais. Pensei no que poderia ter acontecido de tão grave para Isabella estar chorando... desde a morte de sua mãe ela se fechou, o que poderia ter ferido seus sentimentos?!
- Você não é burra, Isabella – Segurei seu rosto para que ela visse a verdade nos meus olhos – e independente do que tenha acontecido eu to aqui com você, sempre vou estar
- Você não entende... eu acabei com a minha vida - disse soluçando e aquilo estava me deixando assustado – com a sua também – sussurrou, mas eu ouvi e a olhei confuso
- Me fala o que ta acontecendo, por favor... – Pedi secando as lágrimas que não paravam de escorrer de seus olhos
- Você nunca vai me perdoar! Vo-você não vai acreditar em mim... meu pai vai me matar, e-eu... meu Deus – Afirmou passando as mãos nos cabelos, em desespero, sem me encarar
- Olha pra mim – pedi e ela olhou – respira fundo, para de chorar e me conta o que ta acontecendo. Eu não vou te abandonar, já disse... – entrelacei minha mão na sua e pude ver seus músculos relaxarem – eu vou te ajudar, confia em mim Bella – Ela assentiu e segurou minha mão com mais força.
- E-eu... – fez uma pausa me deixando mais nervoso – É que... – levou nossas mãos entrelaçadas até sua barriga, fazendo com que eu tocasse o local. A encarei confuso, mas um estalo na minha mente me fez entender o que ela estava querendo dizer. Arregalei os olhos e provavelmente minha cara era de puro pânico
- Você ta...
- Grávida – Dissemos ao mesmo tempo e eu tranquei a respiração.
Grávida. Isabella estava grávida. De repente seu sussurro voltou a minha mente como um soco “com a sua também”. O filho era meu, obviamente, era isso que ela queria dizer. Eu ia ser pai. Eu ia ser pai aos 18. PUTA QUE PARIU.
- Tá vendo? Eu sabia que você ia ficar assim.... – ela disse nervosa e vi uma única lágrima solitária cair como pedra e como um estalo Isabella soltou minha mão, mas a segurei
- A gente vai resolver as coisas juntos ok? – disse forçando um sorriso e ela assentiu – a quanto tempo sabe?
- Eu comecei a ter enjoos, mas achei que era só algo que eu estava comendo que não me fazia bem... – suspirou e eu fiz sinal para que continuasse – depois quase desmaiei na escola, foi aquele dia que sai mais cedo, sabe?! – perguntou e eu assenti – e também percebi que minha menstruação estava atrasada
- Você já fez algum exame? – Perguntei com receio de que ela ficasse ofendida
- Eu fiz o de farmácia semana passada... aqui – pegou a pequena caixa que estava em cima da comoda e respirou fundo mais uma vez, procurando forças para continuar – deu positivo, mas eu quis ter certeza então fiz o exame de sangue... eu abri o resultado hoje
- Tudo bem, então você está mesmo grávida – respondi tentando assimilar o que eu mesmo acabara de dizer
- Sim... e eu sei que talvez você não acredite em mim, mas eu tenho certeza que é seu – afirmou tremendo um pouco – você foi o único que eu... enfim, mas se quiser fazer teste de DNA, tudo bem
- Claro que não! Eu acredito em você – Protestei e sua expressão suavizou – mais ninguém sabe?
- Não... achei que você deveria ser o primeiro a saber
- Obrigado – sorri e encarei sua barriga por uns instantes, imaginando que um pedacinho de mim estava crescendo lá dentro, era estranho... fui pego de surpresa. Mas eu não conseguia ficar triste com a notícia. Assustado? Sim! Mas triste? Acho que impossível... – Você... pensou na possibilidade de abortar? – Perguntei temendo sua resposta
- Você quer que eu tire? Rafa, eu não.. – Começou a se desculpar e eu respirei aliviado por ela não querer tirar o bebê
- Não, eu não quero que você tire! – Esclareci e ela me olhou confusa – Eu perguntei porque é o seu corpo, né? É claro que eu quero esse bebê, mas é você quem mais vai sofrer com as mudanças, entende? É um direito seu
- Obrigada por pensar em mim, mas eu não quero tirar não... sabe, eu nunca pensei em ser mãe e eu provavelmente nem sei ser uma, mas já que aconteceu...
- Também acho isso, era pra acontecer loirinha, podemos achar ruim agora, mas tenho certeza que vamos ser recompensados no futuro
- É, tomara! – Ela disse com um sorriso discreto - Como vai ser agora? Nós vamos ter um filho...
- É, eu vou ser pai...
- Pois é.... - Senti Isabella inspirar pesadamente.
- Você pode ir morar no meu apartamento... – sugeri e me dei conta das próprias palavras. Seria legal ter Isabella por perto, eu queria acompanhar a gravidez, o nascimento, o primeiro sorriso do bebê.... mas nós não éramos um casal, definitivamente não éramos um casal.
- A nossa relação ficaria ainda mais estranha! Melhores amigos adolescentes que vão ter um bebê... como vamos explicar isso a ele? – Eu ri das suas preocupações futuras
- Ou ela – Alisei sua barriga e a vi sorrir – isso não importa agora loirinha, nós daremos um jeito
- Rafa... – disse séria depois de alguns minutos – desculpa por isso – seus olhos estavam marejados novamente e antes que ela começasse a chorar a envolvi num abraço apertado
- Isabella, isso simplesmente aconteceu... bebemos, eu não usei camisinha... – suspirei a soltando do abraço - A culpa não é sua! – Ela assentiu e eu continuei – e não trate isso como uma coisa ruim, tem um bebê ai dentro, nosso filho... - sorri - vai dar tudo certo, eu prometo
- E se a gente não conseguir?
- A gente vai Bella, temos que acreditar nisso... – sorri e afastei uma mecha de cabelo que havia caído sobre seu rosto - nossa vida vai mudar muito a partir de agora, mas estaremos juntos, não importa o que aconteça.
- Obrigada – Ela disse sorrindo e me deu um beijo na bochecha
- Precisamos contar isso pra nossa família... como você acha que eles vão reagir?
- Mal, muito mal! – Ela disse com os olhos arregalados ao imaginar a cena
- Eu também acho, principalmente seu pai
- Ele vai me matar!
- Não vai!
- Você me ajuda a contar pra ele?
- Meu Deus...
- Que foi?
- Eu nunca mais vou poder ter outro filho!
- Como assim?
- Teu pai vai me capar Santoni - E pela primeira vez na noite, Isabella deu espaço para um lindo sorriso, nossa, como eu preferia ela assim... - To ferrado.
- Deixa de ser bobo Rafael
- Mas acho que precisamos esperar um tempo, porque não contamos pro Gui primeiro?
- Ele é outro que nunca vai me perdoar!
- Porque?
- Ele confia em mim, sempre me defendeu das implicâncias do pai e eu vou decepcionar ele desse jeito
- Ei, vai nada! Ele vai babar nessa criança! – Eu disse tentando descontrair e Isabella sorriu minimamente
- Você sabe que ele vai brigar com você também, não é?
- Eu sei – Disse depois de um longo suspiro – mas ele vai ter que entender que não planejamos isso
- É...
- Agora vamos preparar alguma coisa pra vocês comerem, vem – Eu disse puxando sua mão e ela me seguiu se arrastando pelo corredor.
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