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História Survive Anyway - 1x02 - To Hold


Escrita por: webdom e dracarysz

Notas do Autor


Hello guys,
Mais um capítulo dessa delícia pra vocês, feito com muito amô!

Espero que gostem, boa leitura <3

Capítulo 3 - 1x02 - To Hold


Fanfic / Fanfiction Survive Anyway - 1x02 - To Hold

Octavian e Lynnie
Estradas de Atlanta, 9:31 AM

Levou quase duas horas – pelos cálculos de Octavian – para percorrer um curto trecho que ele costumava fazer em minutos. Mesmo com o curativo que Lynnie havia feito, ele ainda sentia fortes dores. Sentia o ferimento em sua perna latejar, e, para a sua infelicidade, o que Lynnie havia lhe dito sobre pés torcidos era verdade. Precisava de remédios, e não tinha certeza se iria encontrar algum para onde estava indo. 

No caminho, ele quase não trocou palavras com a mulher, que também não parecia querer conversar muito, embora carregasse um semblante intrigado e questionador, como se tivesse uma enxurrada de perguntas na ponta da língua; mas estava se esforçando para mantê-las dentro da boca.

Ele preferia assim por enquanto. Ainda não a conhecia o suficiente para saber sobre o que falar; o momento certo para conversar viria. Octavian odiava as coisas forçadas, sempre acreditou que para tudo tem seu tempo – até mesmo para conhecer melhor as pessoas estranhas que entram no meio da floresta para livrar sua pele de alguns mordedores.

— Acho que estamos chegando — ela declarou, quebrando o silêncio.

Octavian levantou o olhar e confirmou com a cabeça. Já conseguia ver o telhado da casa e parte do muro.

— Fique em alerta, não sabemos se há alguém por lá — disse Octavian, atento.

— Mas você disse que era seguro! — Lynnie falou em tom elevado, virando o rosto para o do garoto, que curvou um dos cantos de sua boca em um sorriso.

— Eu minto às vezes — virou o rosto, esperando para ver a reação de Lynnie.

— Eu só espero que não minta o tempo todo... — ela murmura e dessa vez Octavian sorri largamente.

— Não, só quando é preciso — se justifica, ainda com um sorriso no rosto, enquanto manca mais um pouco em direção a casa. Lynnie o encara de soslaio — A franqueza é uma de minhas virtudes, mas a mentira é um mal necessário.

Lynnie ri diante de sua explicação, mas não acrescenta nada. Afinal, mesmo que parecesse besteira, havia um fundo de verdade no que ele disse. Podemos ser francos, mas uma hora ou outra, a mentira vai ser algo imprescindível, pra livrar sua pele ou de outros.

Caminharam por mais alguns minutos, até estarem de frente com o portão. Octavian olhou para os lados, se certificando de que estavam sozinhos, e felizmente estavam.

Segurou firme nas barras do portão e o empurrou, até perceber que havia travado em uma parte. Estava tão enferrujado que não seria possível abrir mais do que isso. Octavian se espremeu pela fresta e passou com um pouco de esforço; em seguida foi a vez de Lynnie, que já não sentiu tanta dificuldade.

— Espera — ele pediu pra ela, que já estava indo na direção da casa — Me ajude a fechar isso de volta, assim nada sai e nem entra.

— É, inclusive a gente — ela retrucou, preocupada. Mas ainda assim, o ajudou a fechar a única entrada.

— Bem, nós podemos escalar — argumentou, olhando para o topo do portão.

— Você? Com a perna assim, eu duvido — Lynnie disse, analisando o ferimento dele. Ainda parecia bem dolorido.

— Desse jeito você me ofende, Thompson — ele colocou uma mão sobre o peito, dramaticamente, e a olhou feio — Já passei por tanta merda que escalar um portão de três metros com a perna fodida não é nada.

A garota apenas deu de ombros, estava mais preocupada com a sua fuga do que com a dele.

Octavian seguiu na frente, puxando seu facão do coldre, que estava preso estrategicamente em sua mochila. Sinalizou para Lynnie ir pela frente, enquanto ele ia pelos fundos. A garota não gostou muito do plano, poderia ser uma armadilha. Estava cada vez mais difícil confiar nas pessoas, mas Lynnie não tinha nada a perder, então fez o que o garoto pediu.

Octavian não encontrou muita coisa nos fundos da casa. O quintal na certa era enorme, porém, de ampla visibilidade. Havia um poço, e nenhum mordedor, pelo menos não do lado de fora. Ele empurrou a porta, que rangeu e estalou. O cômodo era uma cozinha, estava empoeirada, mas não parecia ter sido revirada ou saqueada. Talvez estivesse com sorte.

Abriu algumas gavetas e encontrou apenas utensílios de cozinha, nada relevante. Mas nos armários haviam alguns enlatados, e para a sua provável felicidade, uma barra de chocolate e uma garrafa de vodca na geladeira. Octavian provavelmente teria uma intoxicação alimentar se comesse o chocolate, mas pensou:

"O que é uma mera intoxicação alimentar perto da possibilidade de ser atacado por algum canibal a qualquer momento?" — ele pensou — "Esse é o fim do mundo e provavelmente acabei de encontrar a última barra de chocolate e a última garrafa de vodca existente."

Ele colocou as duas coisas na mochila, comeria e beberia mais tarde quando tivesse a oportunidade. Ouviu o piso ranger ao dar um passo; o chão da casa estava bem gasto. Ele se virou lentamente na direção do próximo cômodo. Adentrou no mesmo, vasculhou, e não encontrou nada, muito menos Lynnie. Por um instante, pensou na possibilidade da garota ter dado no pé e deixado o branquelo moribundo com a perna ferrada pra trás. 

Assim que ele deu fim a tal pensamento, virou-se para subir as escadas, e quase deu de cara com Lynnie, que se assustou tanto quanto ele.

— Jesus Cristo! — a garota exclamou levando ambas as mãos ao coração.

— Não. Sou eu, Octavian — respondeu com um sorriso melancólico, ao lembrar-se do dia que encontrara o pai.

— Encontrou alguma coisa? — ela perguntou

— Só alguns poucos enlatados, chocolate e vodka — respondeu coçando a testa, com um sorriso vitorioso, era a melhor coisa que havia encontrado em meses — E você? Algum mordedor?

— Nenhum. A casa está completamente inabitada, e há um bom tempo, se for julgar pela poeira — disse, batendo o pé no chão sujo — Parece seguro, dá pra passar a noite.

Octavian concordou com a cabeça. Daria uma última ronda pelo quintal. Afinal, nunca se sabe as pequenas surpresas que se pode encontrar. Era sempre melhor se previnir.

[...]

Estava escurecendo quando Octavian terminou de limpar um dos quartos; haviam três, e ele preferiu ficar no maior, que surpreendentemente não era a suíte. Lynnie o ajudou; pelo menos eles concordaram que, se fossem passar a noite ali, seria num ambiente adequado, e não rodeados de teias de aranha e entre outras sujeiras de característica duvidosa.

Ele estava terminando de arrumar um lençol – mais ou menos limpo – sobre a cama de solteiro, enquanto Lynnie fazia o mesmo ao lado. Sentiu sua barriga roncar, e quase como num coro, ou reflexo, a de Lynnie fez o mesmo. Os dois trocaram olhares sobre os ombros e riram fracamente. Estavam tão ocupados em suas atividades, sendo úteis e fazendo coisas consideravelmente normais, que haviam esquecido de almoçar. Lynnie se dirigiu até a mochila, e tirou de lá seu enlatado, sentado-se no chão agora limpo. Nunca havia se sentido tão relaxada desde o início da epidemia.

Octavian se sentou a poucos metros da garota, puxando sua mochila e pegando o que havia encontrado mais cedo.

— Você só pode ser louco pra comer isso — Lynnie falou, o observando, enquanto abria a lata.

— Não me diga que você não está interessada em um pedacinho?! — ele a olhou por cima da mochila e ela devolveu o olhar.

— Não — respondeu.

— Seus olhos dizem outra coisa.

— Meus olhos dizem um "vai se ferrar".

— Ui! — ele fez um bico — Finalmente achei alguém a minha altura nos xingamentos.

— Que azar o meu — Lynnie resmungou falsamente, escondendo um sorriso.

Para ela, era um alívio finalmente ter alguém para conversar, e até mesmo implicar. Havia vagado por tanto tempo sozinha, que quase se esqueceu de como era interagir com outras pessoas.

— Me diga, o que você fazia antes de tudo começar? — a morena perguntou, mordiscando o almoço.

— Faculdade de música... — Octavian respondeu, arrancando mais um pedaço do chocolate com os dentes — E você?

— Advinha. 

— Nutricionismo. 

— Errou feio, errou rude.

— Sério? Eu tinha quase certeza que era isso, você é tão magrela — o rapaz respondeu normalmente, como se não fosse nada, sequer uma ofensa.

O queixo de Lynnie foi ao chão, e ela pensou se não seria má ideia tacar a lata na cabeça dele.

"Quanto atrevimento!" — pensou.

— E você sem dúvida deveria ter feito uma faculdade de engenharia elétrica — ela rebateu, completando em seguida: — Só que ao invés de cuidar dos serviços da área você serviria mais como poste.

Octavian riu alto e a garota o olhou indignada.

— A gente vai se dar muito bem, Thompson — ele murmurou, só que dessa vez, não a olhou nos olhos.

[...]

— Que horas são? — Lynnie perguntou para Octavian, que estava sentado no pátio do quarto, de vigia.

Ele mexeu nos bolsos e puxou um relógio. Era de sua mãe. Todas as coisas que restaram de sua família, ele carregava nos dedos e no bolso.

— Oito e meia — respondeu, fitando o céu escuro lá fora, e depois se voltando para a garota deitada na cama.

Ela havia se oferecido para ficar de vigia, mas Octavian não permitiu. Afinal de contas, ele não dormia, pois não conseguia. Tirava breves cochilos, mas não sabia o que era dormir uma noite inteira há muito tempo. Por isso, preferia fazer o que podia e deixar os outros descansar, do que passar uma noite em claro sem ter feito algo de útil.

Ele gostava de ocupar a mente, o impedia de perder completamente o pouco de sanidade que lhe restava. Em algum momento, durante a conversa que tiveram a tarde, Lynnie percebeu algo em Octavian. Percebeu em seu olhar, que ele era um homem tão quebrado por dentro quanto ela. Era possível ver as rachaduras no fundo de suas íris, em volta de um oceano azul revolto, que eram seus olhos. 

Ela se perguntou o que poderia ter acontecido com ele, pelo o que havia passado, mas manteve a boca fechada. Não ia se permitir conhecê-lo mais do que o suficiente. Não ia se permitir apegar-se, pois, todos com quem ela um dia se importou se foram, ou estão mortos. Ela não queria que isso se repetisse, prefere proteger a si própria e a seu coração.

— Está com frio? — ele perguntou de repente, a tirando de seus pensamentos bruscamente.

— Não — mentiu.

— Ah tá, conta outra. Dá pra ouvir seus dentes batendo aqui.

Ele levantou-se de onde estava e foi até sua cama. Pegou alguns cobertores que tinha achado em um closet e jogou sobre ela. Lynnie corou com o gesto. Enquanto ela pensava em não conhecê-lo, em não se apegar, Octavian estava preocupado com o fato dela estar tremendo de frio. Sentiu vergonha de si mesma diante disso. Ela abriu a boca pra agradecer, mas ele havia acabado de sumir pelo corredor. Sentou-se na cama, escutando os sons que vinham lá de baixo, e depois o som da escada rangendo. Em alguns segundos, Octavian já estava de volta ao quarto.

— Fui pegar uma jarra e alguns copos. Por sorte tem um poço no quintal, e a água parece limpa, dá de beber — ele colocou os objetos sobre o criado-mudo e se sentou na cama.

Lynnie o encarou. Na luz das velas, seus cabelos loiros pareciam brancos, e as linhas pretas de seu ombro – que Lynn julgava ser uma tatuagem – se destacavam mais no escuro, como se fossem sombras que envolviam seu corpo.
Octavian puxou a garrafa de vodka de dentro da mochila, jogou a tampa fora e entornou sobre a boca, ignorando completamente os copos ao lado.

— Se você ficar bêbado e nós formos atacados por sua incompetência, e eu acabar sendo transformada em uma daquelas coisas, eu te mordo! Juro que te mordo! — ela exclamou lhe apontando o dedo. Ele sorriu de canto sarcasticamente.

— Não se preocupe, lindinha, eu nunca fico bêbado. 

— Pois eu acho que já está. Não me chame de lindinha. 

— Ok. Magrela, então — ele apontou a boca da garrafa para ela, que o olhou como se tivesse perdido a cabeça.

— Eu não vou beber isso. 

— Relaxa, não é forte. 

Lynnie o encarou por um tempo que mais pareceu uma eternidade. Sabia que aquela era uma péssima ideia, mas ela já havia tomado decisões piores. Tomou a garrafa das mãos de Octavian e entornou da mesma forma que ele. Sentir o líquido lhe queimar a garganta não foi uma das melhores sensações. Sentiu seus olhos se encherem de lágrimas e arder; mas continuava achando que a situação em que se encontrava era suportável.

— Só que alguns de nós não são tão tolerantes quanto outros, então vai com calma  — Octavian a alertou, pegando a garrafa de volta, e tentando em vão esconder o olhar de divertimento.

Lynnie riu e revirou os olhos. 
 


Notas Finais


Quem gostou bate palma, quem não gostou paciência.
Bejos e até a próxima, mores sz


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