Depois que finalizo meus serviços na casa de Payne, sigo atrás dele para avisar que estou de saída. Liam permaneceu no quarto o dia todo, nem ao menos desceu para entregar-me a bandeja com as coisas sujas e querendo ou não, isso preocupa-me, tendo em vista que ele quase matou-me de susto.
Chego a porta e após respirar fundo diversas vezes, bato e espero por sua resposta. Segundos passam-se e escuto a tranca virar de um lado para o outro, em seguida, o portal afasta-se para trás e tenho a visão de meu patrão.
― Olá. ― cumprimento-o. ― Bom, já deu o meu horário e achei justo vir te informar.
Liam permanece quieto enquanto olha-me. Por conta disso, sinto-me um enorme incomodo.
― Era só isso mesmo. ― reforço. ― Até amanhã.
Quando estou para virar-me, Liam faz um sinal para que eu espere e assim faço. Ele volta ao quarto e tento não olhar para dentro, é muita invasão para uma pessoa só.
― Tome. ― Liam entrega-me um pequeno rolo de notas. ― Adiantado.
― Mas... ― fico perplexa. Por que ele está pagando-me tão cedo? ― Não! Não posso aceitar, mal trabalhei.
― Apenas pegue, Nikki e não ouse contestar a minha vontade.
― Mas Liam... ― sua cabeça balança de um lado para o outro. Encaro o dinheiro sobre minhas mãos e sinto algo estranho. ― Não foi isso o que acertamos. ― devolvo e olho-o. Liam está confuso. ― E eu não vou querer quebrar nosso contrato. Desculpe-me, mas não irei aceitar porque sei que está dando pelo fato de eu ter salvado sua vida e não quero ser recompensada com dinheiro por conta disso. Poderia ser qualquer um em seu lugar e eu iria salvar da mesma forma.
Ele fica quieto e com o cenho franzido. Eu sei que preciso dessa grana, mas não vou aceitar. Não é certo comigo, nem com ele.
― Agradeço e agora, tenho que ir.
Antes que ele fale algo, caminho para o andar inferior e consequentemente, para a minha casa.
...
Adentro ao apartamento de Payne e desfaço-me das roupas pesadas que estão presas em meu corpo, em seguida, vou para a cozinha e assusto-me ao ver Liam sentado na cadeira que sempre coloco minha bolsa.
― Bom dia, Liam. ― desejo com a voz baixa. Ainda não estou cem por cento feliz depois do caso de ontem. Sinto que ele só fez aquilo para humilhar-me.
― Bom dia. ― responde no mesmo tom. Coloco minha bolsa na outra cadeira e vou atrás de meu avental para dar inicio ao meu trabalho. ― Nikki? ― olho-o.
― Sim, Senhor?
― Por favor, pare de me chamar assim. ― passa a mão por sua testa e suspira pesadamente.
― É questão de respeito. ― encara-me e balanço a cabeça.
― Mas me irrita. ― sua voz aumenta um pouco. ― Vá fazer o seu trabalho logo e não precisa servir o café.
Liam ergue-se e caminha para fora da cozinha, deixando-me um pouco confusa com tal cena. Por que diabos ele estava à minha espera? ― se é que estava mesmo. Espanto qualquer pensamento em relação a Payne de minha mente e vou cumprir meu trabalho.
A cozinha está uma bagunça de pratos e copos com restos de comida e bebidas, deve ser por isso que Liam negou o café e trouxe antes de mim, um batalhão para alimentar-se. Possuo a leve impressão de que será muito difícil trabalhar para ele, mas não darei o braço a torcer.
Após a limpeza dos cômodos inferiores, faço uma pausa para dedicar-me ao almoço. Entre um preparo e outro, a campainha toca e vou atendê-la quando percebo que Liam não descerá. O que estranha-me. Se ele está esperando por alguém porque não vem recebê-la?
Abro a porta e encontro uma mulher e um homem.
― Liam está? ― ele pergunta.
― Sim, está. Entrem. ― vou para o lado e eles entram. ― Só um minuto, irei chamá-lo.
Ambos vão para a sala e eu subo atrás de Liam, rezando para que ele esteja de bom humor para ver suas visitas. Com o som do piano ecoando pelo andar, sigo para a sala e dessa vez, bato na porta fazendo a melodia cessar. Uma fresta abre-se e posso enxergar os olhos dele.
― Você tem visitas. ― aviso e sua expressão torna-se surpresa. ― É um homem e uma mulher.
― Avise que já irei descer.
Assinto e desço de volta para a sala, onde passo as informações recebidas para o casal que agora, encontra-se sentado no sofá. Para não ser uma intrusa, sigo para a cozinha com o intuito de finalizar a refeição que iniciei, porém, segundos depois uma discussão começa e assusta-me.
Desligo o fogo e vou até a entrada do cômodo, onde posso ver Liam apontando dedos para cima dos dois e gritando.
― Olhem só o que vocês fizeram comigo! ― sua fúria é algo que nunca pensei que iria ver. ― Como tiveram coragem? Como puderam?
― Liam, simplesmente, aconteceu. ― a moça tenta explicar. ― Eu e Dan não temos culpa.
― Cale a boca, Fay! ― arregalo os olhos com a proporção que está tomando a briga. ― Eu nunca pensei que você fosse capaz de ser tão baixa.
― Não escolhemos isso. ― Dan justifica. ― Aconteceu há muito tempo, mas queríamos te contar agora porque é o momento certo.
― O momento certo? ― sua indignação só cresce. ― Dan, esse não é o momento certo para nada.
― Para nós é. ― Fay olha-o de um jeito penetrante, mas em segundos, sua atenção muda para mim. ― O que sua criada faz ali? ― viro o centro das atenções e praguejo-me por tal acontecimento.
― A deixe em paz e não a meta nisso. ― Liam defende-me.
― Ela deveria se pôr em seu lugar. ― sinto-me um bicho por conta da forma que ela fala.
― Você não tem do que reclamar, não mora aqui e Nikki faz o que bem entender.
― Bom, nesse caso, ela também irá adorar a noticia que tenho para dar.
― Fay... ― Dan segura-a pelo braço e ela sorri.
― Sabe Liam, além de eu e Dan estarmos namorando, vamos casar. ― Sua mão é erguida e mesmo de longe, avisto uma coisa enorme e brilhante em seu dedo.
Payne dá passos para trás e percebo que suas mãos passam a tremer. Meu coração dispara quando ele joga-se no sofá e deixa as lágrimas caírem por seu rosto. Ele está entrando em um estado do qual nunca vi, mas alguém precisa intervir.
― Saiam daqui! ― berro contra os dois e ambos olham-me. ― Saiam já daqui! ― vou para cima deles.
― E quem você pensa que é para nos mandar embora? ― Fay aponta seu dedo para mim. ― Você é simplesmente a empregada, não manda em nada. Vá fazer seus serviços e nos deixe tratar de nossos assuntos em paz.
― Você não vai falar assim comigo, não. ― tento impor-me, mas é tão difícil tendo em vista que ela é uma pessoa mais chegada a Liam do que eu, que sou simplesmente a empregada.
― E como você quer que eu diga? Com palavras mais fáceis para você entender?
― Quero que retire-se, ou eu irei chamar a segurança do prédio, ou até mesmo a polícia. Tenho certeza de que a madame não gostaria de ir parar na delegacia por conta de sua própria insistência.
― Fay, vamos embora. ― Dan arrasta-a em direção a porta e eles saem, batendo-a.
Volto-me para Liam e tomo consciência de que ele está passando mais mal do que pensei. Sua respiração está acelerada, o suor toma conta de sua face e suas roupas já encontram-se um pouco molhadas. Ajudo-o a retirar a camisa que veste e deito-o com o máximo de conforto possível.
Busco uma garrafa com água e uma toalha. Sento ao lado de meu patrão e passo a toalha por seu rosto, secando seu suor. Em seguida, dou-lhe um pouco de água para tomar e tento acalmá-lo com algumas palavras.
― Vai ficar tudo bem, Liam. ― aliso seu rosto com a toalha. Ele está suando tanto que receio ter que pegar outra peça.
― Por que eles fizeram isso comigo? Por quê? ― sinto uma pontada no peito ao vê-lo falando daquela forma. Tão desolado, perdido e confuso.
― Eu queria poder te dar essa resposta, mas não a possuo. Me desculpe. ― abaixo o cabeça e encaro o pano sobre meus dedos. ― Mas não se importe com aqueles que querem o seu mal, Liam. Isso só aumentará a carga negativa dentro de você e você não pode. Não depois que foi parar no hospital. ― retorno a olhá-lo. Liam parece mais calmo, ou é o que seus olhos fechados aparentam.
Ele não responde-me e entendo seu silêncio. Pelo que pude observar, ele, Fay e Dan tinham uma grande amizade e provavelmente, ela era mais que uma amizade para ele. Parte-me o coração saber que apunhalaram Liam de forma tão covarde. Ele pode possuir um milhão de defeitos ― dos quais não sei por não conhecê-lo, mas não merecia isso. Ninguém merece isso.
― Eu quero me desculpar por ontem. ― fala. ― Eu não tive a intenção de te deixar mal por conta do dinheiro, mas sim, queria que já pudesse ter algo para gastar... Entende?
― Tudo bem Liam. ― sorrio. ― Esqueça isso, esqueça ontem.
― E por hoje de manhã também. Fui rude sem necessidade.
― É, isso é verdade. Mas está tudo bem agora, fique tranquilo.
― Eu sei que não deu o seu horário, mas pode ir. Eu quero ficar sozinho.
― Você tem certeza? ― assente. ― Bom, qualquer coisa, pode me ligar. Eu estarei perto do telefone.
― Obrigado.
Ele vira-se para o outro lado e suspiro com a face derrotada que meu chefe ostenta. Liam não terá um fim de dia bom e isso entristece-me, mas nada posso fazer para mudar isso, muito menos, contestar sua palavra.
...
Finalizo meu jantar e sirvo-me da refeição, logo, sento a mesa e alimento-me. Depois de três garfadas, sinto uma vibração sobre o tampo e vejo ser meu celular. Um número desconhecido liga-me.
― Alô, quem gostaria? ― pergunto.
― Você disse que qualquer coisa, eu poderia ligar. Bom, eu te liguei.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.