POV NINA DOBREV:
Até me espanto quando as coisas acabam dando certo demais num período seguido, porque no final sempre tem uma granada preparada, no ponto, apenas esperando o momento certo para explodir.
Estava bom demais para ser verdade, estava tudo muito tranquilo para ser a minha vida.
Eu sempre desejei ver meu pai novamente mesmo após 14 anos, mas não conseguia imaginar que isso iria acontecer dessa maneira; e então ele aparece, sem mais nem menos, como se fosse uma coisa completamente natural. Mas não é.
— Nikolina, minha filha... - levou suas mãos até a boca, surpreso. - Você cresceu tanto que nem consigo enxergar mais a minha garotinha nessa mulher que está bem na minha frente.
— O que está fazendo aqui? - foi o que consegui dizer.
— Vim te visitar, meu amor. - se aproximou na tentativa de me abraçar, mas eu recuei.
— Sinto muito, mas você está 14 anos atrasado. - falei friamente. - Como entrou aqui? Cadê a mamãe?
— Sua mãe, felizmente, não está em casa.
— Mas já são quase 22H... - disse baixinho para mim mesmo.
— Se não lembra, fui eu quem comprou essa casa para vocês aqui em Toronto. - me mostrou a chave. - É, provavelmente não deve lembrar.
— Vai jogar na minha cara isso por acaso? - foi meio sem nexo, eu sei. - Quer saber? Esquece! Eu não sei o que você veio fazer aqui e também pouco me importa o porquê, mas seja útil pelo menos uma vez na sua vida. Vá embora!
— Amor, obrigada por ter me deixado usar o banheiro, eu realmente est... - uma mulher, 10 anos mais nova que meu pai, surgiu do corredor onde havia o banheiro no fim. - Então você é a famosa Nikolina? - sorriu. Pronto, era só o que me faltava.
— Perdão? - respondi sarcasticamente.
— Ah, desculpe, é que eu ouvi muito sobre você pelo seu pai. - jura? - Prazer, sou Teresa! - estendeu a mão.
— Já eu não posso dizer o mesmo! - falei com desdém.
— Nikolina, mais respeito por favor. - agora ele havia acordado fera que estava dormecida dentro de mim.
— RESPEITO? - larguei minha bolsinha no chão; nsorri, mas foi de incredulidade. - VOCÊ CHEGA AQUI COM A MAIOR CARA LAVADA 14 ANOS DEPOIS E PEDE RESPEITO? - bati palmas, ironicamente. - Estudando muito para ter essa sua ousadia, está de parabéns viu?
— Não fale dessa forma com o seu pai, menina, respeita os mais velhos. - a tal da Teresa dirigiu palavra à mim.
— Olha, acho melhor você ficar na tua porque a conversa aqui é entre eu e ele; sem interferência de estranhos.
— Filha, você está nervosa, por quê não se acalma um pouco? Eu posso ir na cozinha pegar uma água para você.
— Ah, calma? Calma? Pelo amor de Deus, não me vem pedir para que eu fique calma! E vamos baixando essa bolinha, né? Agir como se estivesse na sua própria casa é o cúmulo, até porque você não está nela. O dinheiro investido pode ter sido seu mas a casa não é sua, esse lar não te pertence.
— Como pode dizer uma coisa dessas, Kote?
— Apenas verdades, pai. Esse lar deixou de te pertencer a partir do momento em que você decidiu nos deixar vir para o Canadá e ficar na Bulgária com o Alex. De fato, eu não sabia o porquê de você e a mamãe terem se divorciado mas agora vejo que está bem claro...- analisei a mulher de cima a baixo. - Me diz, quantas outras além dessa você já iludiu? Ou melhor, quantas outras além dessa você fez inúmeras promessas mas que no fim não cumpriu nenhuma?
— Se você parar e me escutar, ficarei grato. - ele estava tão tranquilo que me irritava mais ainda, porém ignorei sua fala.
— Eu senti tanta, tanta, mais tanta falta sua que essa ausência toda acabou abrindo um buraco dentro de mim incapaz de ser preenchido. - sim, eu já estava chorando. - Dói demais, pai. - levei minha mão ao peito. - Dói tanto que chega a sufocar. - ele estava atento a cada palavra minha mas seu olhar já estava marejado. - Achei que algum dia eu poderia deixar de sentir toda essa dor que a sua ausência me causou, que eu poderia superar como supero qualquer dificuldade na minha vida; mas me enganei: é mais forte do que imaginei. Optei por desistir de lutar contra isso, afinal de contas, tem sido inútil.
— Kote, me perdoe. - dessa vez, ele me abraçou. Não impedi mas também não retribuí, eu não tinha forças para mais nada. - Eu me arrependo muito por ter feito você passar por tudo isso, não conseguia imaginar o tamanho da dor que a minha ausência causou. - dizia enquanto afagava meu rosto sobre si. - Me perdoe por achar que eu te abandonei, que eu não me importo com nada relacionado à sua vida, que eu simplesmente te larguei por orgulho, por necessidade de momento devido ao divórcio. Eu deveria ter vindo para o Canadá e ter ficado perto de você, ter te visto crescer, amadurecer. Eu deveria ter sido presente, ter sido uma figura a qual você se orgulharia de ter como pai. E mais ainda, eu não deveria ter te privado do Alex. Sei que acabei fazendo isso no momento em que permaneci na Bulgária enquanto você e sua mãe partiram, e agora vejo o tamanho da burrada que fiz. Mas eu te peço que, por favor, me perdoe; dê uma chance para que eu possa me redimir e fazer valer a pena todo esse tempo perdido. - com minúsculas forças, me soltei de seus braços e o encarei. Meus olhos já estavam queimando e com certeza meu rosto estava todo borrado por causa da maquiagem, mas não ligo.
— Está pensado o quê? Que basta aparecer, fazer o seu melhor discurso e achar que eu vou te receber de braços abertos, com beijos e carícias, ignorando completamente tudo o que eu passei por sua causa? Eu sofri, pai. Sofri muito! Foi doloroso ver que os pais das minhas amigas iam deixar e buscar ela na escola e o meu não, que eles sempre estavam nas apresentações de dia dos pais e o meu não; foi doloroso ouvir sobre os melhores finais de semana com o melhor pai do mundo, enquanto eu sequer poderia ter oportunidades como essas. O pior de tudo, era mentir sobre você; principalmente quando chegava datas comemorativas na escola! E qual era a minha resposta? Trabalho ou viagem. Acabou se tornando monótono de tanto que eu abria minha boca para falar uma dessas duas palavras. - balancei a cabeça tentando conter a raiva. - Ao passar dos anos, isso foi diminuindo mas a dor continuava a mesma. E continua até hoje! - ele abriu a boca para dizer algo mas foi cortado.
— Não acha que já causou estragos demais na vida dela? - a voz autoritária da minha mãe invadiu o ambiente e eu nem tinha sentido sua presença. Se entrou, não havia percebido e nem sequer ouvido o barulho da maçaneta abrindo.
— Michaela, eu só queria conversar com a minha filha. Apenas isso.
— Agora ela é sua filha? Por Deus, tenha o mínimo de vergonha na cara; e ainda por cima trás uma de suas mulheres para a minha casa. Certas coisas nunca mudam e uma delas é você!
— Tudo bem, não vou discutir. - cedeu. - Mas saiba que dessa vez eu estou aqui e não vou deixar que escape das minhas mãos novamente, Nikolina. Eu te amo, filha, acredite. Eu mudei e vou provar que sim! - pegou seu paletó que havia colocado sobre o sofá. - Vamos, Teresa. - chamou a sua "mulher".
— Me desculpe pelo transtorno, eu...- Teresa tentou falar algo mas foi interrompida.
— Se poupe de tentar explicar algo. - minha mãe falou. - Se calada você está errada, imagina falando. - abriu a porta e se afastou para que eles pudessem sair.
— Boa noite, Michaela! - ele disse mas minha mãe apenas fechou a porta, logo vindo até mim.
— Ah, minha Kote... - me abraçou. - Eu sinto muito que tenha passado por isso justo no dia de hoje, espero que esse sem escrúpulo não tenha estragado sua noite!
— Só não entendo, Mama, como ele pôde aparecer dessa maneira 14 anos depois. - falei enquanto limpava as lágrimas.
— É fetio de seu pai, ele sempre fez isso e não é de hoje. Some por um longo tempo e quando já está tudo bem aparece como se nada, absolutamente nada, tivesse acontecido. - ela tirou o cabelo que grudou no meu rosto. - Mas não vamos mais falar do seu pai, vamos falar da sua noite. Conta pra mim, como foi a festa? O Ian estava lá? - pegou minha bolsinha que estava largada, segurou numa das minhas mãos e me levou até o sofá, sentando comigo
— A festa foi boa. - respondi. - E sim, ele estava lá. - até que pude sorrir ao lembrar.
— Com esse sorriso, já até imagino que tenha acontecido algo. - ela falou num tom divertido.
— E aconteceu, Mama. - meus olhos, que antes queimavam, agora brilhavam. - Nos beijamos!
— Ah, Kote, estou tão feliz por você! Quero que traga esse rapaz o mais rápido possível para que eu possa conhecê-lo, finalmente minha menina encontrou alguém que valha a pena!
— Também estou feliz por mim. - ri fraca. - Pode deixar, vou providenciar esse encontro tão desejado.
— Esperarei ansiosa! - beijou minha testa. Por quê todo mundo gosta de fazer isso?
— Mama, eu sinto muito pelo que aconteceu com o papai. Você merece alguém que te faça feliz a ponto de querer passar o dia todo falando sobre ele.
— Eu tenho a você, Nina e isso já basta. Nessa jornada que chamamos de vida, estamos juntas para encarar o que der e vier. Apenas por te ter ao meu lado, todas as coisas fazem sentido, valem a pena e eu acabo me tornando a pessoa mais feliz. - acariciou minha mão. - Agora vai, lava esse rosto, tira essa roupa e descansa. Se quiser tomar um banho, fique à vontade; mas se não, também não tem problema. Dessa vez eu dou um desconto!
— Obrigada, mãe. Eu te amo demais da conta.
— Eu também te amo, minha joinha. - dei um beijo em sua bocecha e fui para o meu quarto.
Que noite hein? Já posso até pensar em escrever um livro sobre a minha vida: Diários de uma Adolescente Sofredora!
[...]
Encarei meu demaquilante em cima da penteadeira por 3 minutos mas desisti, estava cansada demais para remover toda a maquiagem que eu havia passado. Apenas joguei minhas botas em qualquer canto e tirei minha roupa colocando-a em outro, ficando apenas com roupas íntimas e a meia calça arrastão.
Eu não ligo.
Me deitei na cama, peguei meu celular e abri a caixa de mensagens no whatsapp; mais precisamente numa aba de conversa com a Candice.
"911. Meu pai voltou da Bulgária e veio aqui em casa; na verdade, ele acabou de sair."
"Não tenha pressa para responder, aproveita a festa. Quando chegar, avise. Juízo, viu? Eu te amo, Candy."
Enviei duas mensagens seguidas para ela, larguei o aparelho ao meu lado e fiquei encarando o teto.
Minutos depois, ela respondeu.
"Que ridículo, Neens, não acredito que ele foi capaz de aparecer dessa maneira. Entenderei caso não vá à escola amanhã, se fosse eu no seu lugar iria optar por não ir. Mas você quem decide, estarei aqui de qualquer maneira para ajudar. PS: estou voltando para casa, Kat está dirigindo e Chris está ao meu lado. Ele não está bêbado mas também não está sóbrio. (emoji nerd) Bom, é o Chris né? (risos) Ah, e Chace foi com o pai. SOS com o carrão viu!"
Eu ri e sorri ao mesmo tempo, fico mais aliviada em saber que eles estão todos bem. Só a Candice para dar uma "animada" nessa minha situação atual.
Pois é, Nikolina, ao que parece seu desejo de todas as noites foi atendido: seu pai, que tanto sentia falta, está de volta. E dessa vez, não se vai facilmente.
Hora de encarar a realidade e lidar com os fatos.
But she knew that she would be okay
So she didn't let it get in her way
Sometimes it all gets a little too much
But you gotta realize that soon the fog
will clear up
- A Little Too Much
[...]
(CANDICE ACCOLA)
Nina, desde que nos conhecemos, sempre transpareceu ser aquela pessoa (e amiga) que se preocupa com o bem estar de quem está arredor, que toma as dores para si e que insiste passar pelos maus bocados ao seu lado; e foi por esse e outros motivos que ela acabou me cativando de uma forma que somos amigas até hoje. É como uma irmã, até mais do que a Katerina! Eu sou capaz de fazer qualquer coisa por essa menina e ela sabe disso, pois também é capaz de atravessar oceanos por mim.
O divórcio de seus pais não foi algo bem aceito por ela, mesmo que ainda tivesse dois anos de idade quando tudo aconteceu. Nina passou o início da sua adolescência sofrendo pela ausência do pai e quase chegou a se cortar por causa disso, sorte que Paul e eu impedimos. Para ser honesta, eu não sei se conseguiria sobreviver à tudo o que Nina passou e eu a admiro bastante por toda essa força.
— Pra quem está mandando mensagem, Candice? Pro seu novo boy magia? - Chris falou com a voz meio enrolada, ele estava bêbado.
— Sim, como adivinhou? - ironizei.
— Sério mesmo? Eu estava apenas brincando!
— Claro que não seu bocó, estou mandando mensagem para a Nina. Ela acabou de dizer por 911 via whatsapp que o seu pai voltou da Bulgária.
— 911? Esse exagero todo para isso? - revirou os olhos. - Acho melhor mudarem esse código, qualquer dia desses alguém pode se confundir hein.
— Você por exemplo? - retruquei.
— Chris, desde os dois anos que a Nina não vê mais o pai desde que veio para o Canadá. - Kat falou enquanto dirigia. - Ela passou por altos e baixos na adolescência e quase afundou de vez por causa disso! Se não percebeu, ela é super sentimental e sensível; agir perto da Nina é como caminhar sobre cacos de vidro.
— Poxa, eu não sabia. - pude perceber culpa na sua voz e ele foi caindo para o meu lado, encostando a cabeça no meu braço.
— Tudo bem, Wood! - falei suavemente. - Nina sempre mentiu sobre o seu pai na época do fundamental, mas apenas eu, Kat e Paul que sabíamos de toda a história e os motivos por ela quase todos os dias sair chorando do banheiro antes de ir para a aula.
— Espero que ela fique bem, de coração.
— É o que mais desejo... - respondi enquanto mexia no cabelo do Chris.
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