POV IAN SOMERHALDER:
Algumas vezes na vida, encontramos alguém e achamos que esse será conosco para sempre; que a nossa relação será perfeita, que seremos aquele casal de exemplo para aos que estão arredor. Isso geralmente acontece em nosso primeiro namoro, quando somos iniciantes nesse mundo; mas comigo não foi dessa forma. Eu não era iniciante e tampouco era o meu primeiro relacionamento, já tinha tido algumas experiências passadas antes de embarcar na mais recente que tive e preciso confessar que realmente achei que a Lucy seria o amor da minha vida. Sendo que, em um relacionamento, nunca ache: tenha certeza.
[...]
Toronto, Canadá - 2015:
Havia saído de Vancouver e mudado aqui para Toronto, primeiro ano do ensino médio, novato na cidade. Por incrível que pareça, eu não sou muito fácil de socializar e também a ideia de vir para Toronto não foi bem mil maravilhas nos meus ouvidos; mas nos acostumamos depois, não temos escolha. Ou embarca na viagem ou desce pela porta dos fundos. E eu, claro, escolhi a primeira opção.
Era primeiro dia de aula e eu estava com um frio na barriga imenso, nunca gostei da ideia de me sentir como um intruso. Principalmente em meio escolar, porque querendo ou não você acaba as vezes se tornando alvo de bullying; pelo menos era o que eu presenciava em Vancouver. Felizmente, aqui, não enxerguei isso.
Correu tudo bem nesse dia, as pessoas me tratavam educamente e com respeito. Tudo tranquilo, não tinha do que reclamar. Mas em meio à essas pessoas, eu acabei conhecendo Lucy. Era momento de intervalo no externo, eu estava sentado sozinho no banco quando ela veio falar comigo.
— Essa sua solidão chega a me incomodar, novato. - falou a sentar ao meu lado.
— Com tantas pessoas na escola você logo repara em mim? Bom, acho que se incomodou propositalmente! - dei de ombros.
— É, talvez. - respondeu sapeca. - Sei lá, olhei para ti e acho que já gostei de você.
— Um pouco precipitada, não acha? Eu posso ser um serial killer disfarçado de bom moço! - joguei um mistério no ar e ela riu.
— Duvido muito! Você não consegue encostar um dedo em alguém, quem dirá ser serial killer.
— E como a moça sabe disso?
— Intuição! - sorriu. - Brincadeira, eu gosto de psicologia.
— Entendi. - retribuí o sorriso. - Tem futuro hein?
— Eu sei! - super modesta. - Prazer, sou a Lucy. - estendeu a mão.
— O prazer é todo meu, Lucy. Sou o Ian! - apertei-a.
E desde esse dia, Lucy e eu nunca mais nos desgrudamos. Todos os dias estávamos juntos na hora do intervalo, a ponto dela muita das vezes deixar suas amigas de lado para ficar comigo. Eventualmente, ao passar do tempo e dos meses, nossa relação foi evoluindo. Eu passei a gostar dela, em silêncio, mas logo a mesma percebeu (como sempre) e também admitiu estar sentindo algo diferente por mim. Passamos mais um mês nesse lance de apenas abraços e carícias, até chegamos a ficar. Era fim da primavera, estávamos voltando da escola e acabamos nos beijando sem querer; mas logo o beijo se tornou verdadeiro. Naquele mesmo dia, eu a pedi em namoro e ela aceitou. Quando completamos 6 meses de namoro, tivemos um recesso de 4 dias e eu decidi levá-la para uma casa de lago que meus pais haviam comprado em Toronto. Foi tudo muito agradável, muito lindo, ela até falou pela primeira vez que me amava.
Sim, depois de 6 meses que recebi de volta um "eu te amo" da sua parte. Mas na época, não liguei muito até porque Lucy sempre aparentou ser insegura em relação aos seus sentimentos. Eu entendia, claro. Como não? Estava completamente apaixonado e fascinado por ela!
Mas como nem tudo são arco-íris e unicórnios, nossa relação chegou ao fim um dia antes de completarmos 10 meses de namoro. Estávamos numa festa em que Lucy organizou em sua casa para comemorar a chegada das férias e o término do primeiro ano, o lugar estava completamente lotado. Só tinha visto-a quando cheguei e depois disso, não mais. Queria conversar com ela sobre evoluir uma etapa na nossa relação, pois eu estava pronto.
Sim, o rapaz aqui era virgem!
Rodei a casa a fim de encontrá-la mas acabei não tendo muito sucesso, as pessoas para quem eu perguntava disseram não ter visto mais a Lucy. Então resolvi ir até o único lugar onde eu não havia ido: seu quarto! Passei pela multidão novamente e fui subindo as escadas cuidadosamente, já que o pessoal lá praticamente estavam se comendo. Seu quarto ficava no final do corredor e borboletas no meu estômago já estavam fazendo a festa. Ao chegar próximo da porta, coloquei a mão na maçaneta; mas hesitei ao ouvir gemidos vindo do outro lado. Não podia ser, eu estava sob efeito de álcool com toda a certeza.
Quando tomei coragem e abri a porta, presenciei uma cena que quebrou o meu coração: Lucy, em sua cama, transando com outro garoto. Lucy, minha namorada, em sua casa, transando com outro garoto. Outro. Garoto!
— Lucy? - falei ao bater a porta na parede.
— I-Ian? - saiu de cima do garoto e se cobriu rapidamente com o lençol. - Eu posso explicar! - clássico.
— Não se preocupe em gastar saliva comigo, me poupe das suas palavras. Não há nada o que explicar, está tudo bem nítido aqui!
— Me desculpe, eu não queria que as coisas tivessem que ser dessa maneira.
— Mas você escolheu que fosse.
— Tenta entender o meu lado, Ian, eu sou mulher e tenho necessidades. Você hesitava sempre que tínhamos oportunidade.
— Eu não estava pronto, Lucy! - gritei. - Mas isso não justifica o que eu acabei de presenciar aqui. Você, ao menos, poderia ter sido honesta comigo ou terminasse caso não se sentisse confortável com essa situação.
— Eu não queria te magoar, Ian, me perdoe. - ela estava quase chorando.
— Sabe, eu rodei a casa inteira te procurando para dizer que finalmente estou pronto, que queria me entregar para você mas aparentemente não se importou nem um pouco comigo ou com o que eu sentia.
— Você está mesmo?
— Sim! - respondi ríspido. - Sendo que não vale mais a pena. - suspirei. - Não com você!
— Ian...
— Eu te amei, Lucy, como pôde fazer algo desse tipo comigo? - meus olhos nesse momento já queimavam por causa das lágrimas. - Espero que possa aproveitar a sua noite e me desculpe pelo incômodo, não quis atrapalhar. - falei ironicamente e deixei o cômodo mesmo com Lucy praticamente implorando para que eu não fosse embora.
[...]
E foi dessa maneira que meu relacionamento com ela terminou e é por isso que meu pai disse o que disse sobre antes de eu ir para a casa da Nina. Agora consigo enxergar o quão certo ele estava o tempo inteiro quando me alertava!
Mas agora, saindo da casa dela após um café da manhã maravilhoso com Nina e sua mãe, só tive a certeza de que essa garota sim será o amor da minha vida; e mal posso esperar pelo dia em que nossos corações finalmente se encontrarão.
[...]
(NINA DOBREV)
Minha manhã, apesar de alguns contras, não poderia ter sido melhor. Alex me ligou dizendo que vai dar um jeito de vir para Toronto e Ian veio até aqui apenas saber como eu estava, ele realmente se preocupou comigo. Nosso café foi maravilhoso, minha mãe está completamente apaixonada pelo Ian e não para de falar nele desde que saiu. Pelo menos isso de bom, já que de ontem para hoje as coisas não saíram tão bem como eu esperava. Essa é a sua vida, Nikolina, e você já deveria ter se acostumado com ela.
Era hora de ir para a escola novamente, e posso dizer que já estou bem melhor do que quando acordei depois desse ocorrido matinal. Resolvi mandar uma mensagem para a minha Candy antes de sair.
"SISTAAAAAAAAA, você não adivinha no que aconteceu hoje. Tenho tantas coisas para te contar, mal posso esperar para vê-la na escola. Até mais, xoxo."
— Estou indo, Mama! - falei ao descer as escadas praticamente flutuando.
— E essa alegria toda, Kote? - me fiz de desentendida e ela riu. - Boa aula, filha. Te vejo mais tarde!
— Obrigada, minha joia. Te amo! - a abracei e saí.
O quarteirão da rua onde moro é bem grande, inclusive alguns de meus amigos moram aqui como Kat e Paul. Por falar em Paul, acabo de encontrá-lo há alguns centímetros à minha frente.
— Hey, P-dubb! - o chamei e ele virou, sorrindo.
— Hey, Neens... - me abraçou. - Como vai?
— Apesar de algumas coisas ali e aqui, estou bem. E você?
— Estou levando. - encostei minha cabeça em seu ombro, apoiei em seu braço e continuamos a caminhar. - "Apesar de algumas coisas ali e aqui", o que aconteceu Nina? Foi o Ian?
— O quê? Não! - suspirei. - Quer dizer, envolve ele também.
— Sim...- fez menção para que eu prosseguisse.
— A gente ficou na festa. - percebi Paul desviando o olhar. - Desculpe, eu não...
— Não precisa se desculpar, Neens. - beijou minha cabeça. - É a sua vida, é quem você gosta e eu não posso interferir nisso! - forçou um sorriso. - O que mais aconteceu? Sem ser com o Ian?
— Papai voltou da Bulgária. E Alex me telefonou hoje de manhã dizendo que provavelmente volte para Toronto!
— Mas ele não estava com o seu pai?
— Não... - respirei fundo ao lembrar da nossa conversa. - Alex está morando no Brasil e mal fala com o papai, a última vez foi quando quis contar sobre o emprego que conseguiu.
— E você já o viu?
— Sim, quando cheguei da festa o grande Papa Dobrev me esperava na sala e ainda por cima trouxe sua mulher para debaixo do mesmo teto onde moro! Nem queira imaginar minha reação...
— Nossa, Neens, eu sinto muito.
— Honestamente? Eu também! - beijou minha testa e fomos o resto do caminho até à escola em silêncio.
Como não era tão longe assim, chegamos em questão de 5 minutos. Candice já me esperava na porta da escola, com certeza tinha visto a mensagem que mandei antes de sair.
— NEENS! - gritou e eu olhei para Paul como se tivesse pedindo permissão.
— Vá. - ele sorriu e eu atravessei a rua correndo.
— Ah, Candice... - a abracei e ela retribuiu.
— Como está, minha morena?
— Considerando tudo, estou melhor. Levando né!
— Que bom, meu anjo. - sorriu.
— Onde está Chris?
— Ressaca! - dissemos em uníssono e rimos.
— E Kat?
— Acho que ela não vai vir hoje, Neens. - Candice falou. - Mas bom, vamos ao que interessa: o que tão especial aconteceu, tirando o fato de que você e Ian ficaram na festa?
— Ah, ele foi na minha casa hoje de manhã. - disse enquanto entrávamos na escola.
— Sério? - estava começando a ficar eufórica e eu apenas assenti. - O que ele foi fazer lá?
— Ele disse que queria saber pessoalmente se eu estava bem, já que saí da festa meio abatida e tal.
— AWWWWWWN! - típico da Candice. - Ai amiga, ele está...
— Gostando de mim. - corei e ela arregalou os olhos. - Ele próprio disse! Mas sei lá, eu ainda estou com um pé atrás, sabe? Tenho medo, Ian é tão...
— Ian é tão o quê? - levei minha mão ao peito ao ouvir sua voz de surpresa atrás de mim.
— Fofo! - Candice completou e eu arqueei a sobrancelha. Ela deu de ombros.
— É mesmo, Nina? - disse enquanto me abraçava por trás.
— Sim... - respondi docemente.
— Vocês dois são tão lindos juntos, por quê não estão namorando ainda?
— Estou planejando isso. - ele falou e Candice só faltou surtar. - Boa aula, princesa. Te vejo por aí! - deu um beijo na minha bochecha e foi pra sua sala.
— CANDICE! - a repreendi.
— Ele vai te pedir em namoro, amiga...- colocou a mão na boca, tentando conter o que estava sentindo. Eu só conseguia sorrir diante dessa situação.
— Vamos pra aula, é melhor! - a abracei de lado e fomos até nossa sala.
Nosso primeiro período é de música, com um professor chamado Berg. Ele é moreno e tem olhos verdes, um verdadeiro pedaço enorme de mal caminho.
— Bom dia, turma! Meu nome é Berg e serei o professor de música esse ano. - falou simpático. - Para a nossa primeira aula, eu queria propor algo; se concordarem, é claro.
— O que seria, professor? - perguntei.
— Todos os anos eu faço um tipo de "sarau" para apresentar meus novos alunos, e esse ano não será diferente. Já falei com a direção e eles, claro, aceitaram de bom grado. Gostaria de saber quem aqui vai participar! - um grupo de quatro meninas levantaram a mão, mais dois meninos na frente e Candice, puxando a minha logo em seguida; mas eu baixei rapidamente.
— Ah não, vamos Nina! Por favor! - Candice praticamente fez drama.
— Não, eu não gosto de cantar na frente de muitas pessoas e você sabe.
— Por quê? - o professor perguntou curioso.
— A música para mim é algo bem pessoal e só consigo me expressar bem quando estou sozinha! Além disso, preciso de violão e aqui na escola...
— É só o que mais tem. - ele completou. - Pode usar o meu também se preferir.
— Não, obrigada, eu realmente não...
— Ela vai, professor. Pode anotar o nome aí: Nikolina.
— Candice, mas...
— Sem "mas", você vai e ponto!
— Autoritária sua amiga hein? - riu. - A apresentação será no próximo período, preparem-se. Quem sabe faz ao vivo!
[...]
O primeiro período passou voando, por mais que eu não eu quisesse. Berg começou a falar sobre o porquê de fazer isso com os alunos, disse que descobriu talentos aqui na escola e que hoje em dia eles não tem mais vergonha de ser quem são. Mas eu não tenho vergonha de ser quem sou, só não queria ter que compartilhar com todos a minha dor.
Agora não dá mais pra voltar atrás!
Valeu, Candice!
Quando fomos para o auditório, o professor estava terminando de dar os toques finais no "palco." Ficava olhando por trás da cortina a quantidade de pessoas que só chegava e chegava, logo comecei a ficar nervosa.
— Candice, eu não vou conseguir! Por quê fez isso?
— Vai me agradecer depois, eu sei que sim!
Depois que o pessoal se acomodou nas cadeiras, Berg logo tomou o microfone para dar início à esse "sarau".
— Bom dia, queridos! Como a maioria sabe, todos os anos... - parou de falar ao ser interrompido.
— Corta essa, professor. Vamos para o que interessa! - um garoto gritou e ele riu.
— Ok. Ok. - olhou para mim e sorriu. - Para dar início, vou começar com os meus amados segundos anos. Recebam com aplausos a aluna Nina, da turma B! - Candice praticamente me empurrou e eu apareci completamente envergonhada. Forcei um sorriso e o professor me ajudou com o violão enquanto me acomodava no banquinho.
— É, oi... - sim, eu estava quase tremendo.
— Mostra o que você sabe, morena! - um outro garoto atrás gritou.
— Ei, ela é a minha morena. Mais respeito por favor! - Ian se levantou e olhou para trás, dando seu recado. Ele estava sentado na primeira fileira, literalmente de frente para mim. Ao sentar novamente, sorriu; a tal da Megan estava do lado dele. Agora ela estuda aqui, mereço!
— A música que eu escolhi fala sobre amor mas apesar de ser sobre aquele amor clichê que conhecemos, eu costumo cantá-la não lembrando de relacionamentos ou algo do tipo; e sim do meu pai. - falei sem jeito. - Bom, é isso! - me acomodei mais uma vez e me posicionei com o violão. Respirei fundo e comecei a cantar e tocar. - Don't know, don't know if I can do this on my own, why do you have to leave me? - meus olhos logo marejaram, essa música significa demais para mim. - It seems I'm losing something deep inside of me, hold on, on to me - fechei meus olhos a fim de tentar expulsar as lágrimas sem derramá-las. - Now I see, now I see - quando encarei a plateia novamente, enxerguei uma figura adulta no canto direito. Era o meu pai! - Everybody hurts some days, it's ok to be afraid - cantava enquanto o encarava. - Everybody hurts, everybody screams, everybody feels this way - ele sorria para mim, como se também estivesse quase chorando. - And it's ok, la di da di da da, it's ok - sorri fracamente e finalizei com o violão e todos aplaudiram. Ian sussurrou pra mim um "eu estou aqui" e eu apenas assenti com a cabeça. Ao sair do palco, corri para fora do auditório e me desmanchei em lágrimas no corredor. Candice chamou mas ignorei. Logo senti mãos em meu ombro.
— O que está fazendo aqui?
— Nikolina, minha filha... - meu pai falou num tom baixo.
— O que está fazendo aqui? Por quê está aqui?
— Eu vim te ver, quero conversar com você.
— Aqui? - perguntei incrédula. - Já não basta ter acabado comigo em casa, quer me ver destruída no meu meio escolar também? - tirei bruscamente sua mão do meu ombro. - Vai embora, pai. Já causou estragos demais em menos de 24H, tem sido difícil me reconstruir desde então; você surgindo a todo momento não facilita isso.
— Kote, por favor. Eu quero conversar com você, quero te dar explicações, quero que possa me entender mas você não me deixa. Está deixando que a sua angústia, sua dor, sua fúria, sua mágoa e seu rancor, te consuma inteira e sei que não é assim. Sei que no fundo ainda vive a minha doce garotinha!
— Acontece que essa doce garotinha não existe mais, custa entender isso?
— Por favor, me dê uma chance. Só uma! - tirou algo de seu bolso. - Aqui, tome seu convite da reserva no melhor restaurante de Toronto. Passo para te buscar às 20H na sua casa!
— Não! - gritei e algumas pessoas no corredor apareceram, incluindo Ian, Megan e Paul. Candice ainda estava na sua apresentação. - Não, não, não e não! Já disse que não quero ouvir nada de você, porque sei que não passará de um discurso pronto, mentiras, entenda como quiser! Isso não é o suficiente para me ter de volta, não é me dando os presentes mais caros ou me levando aos melhores restaurantes da cidade que eu vou me jogar em seus braços e perdoar tudo o que me fez passar na sua ausência. Não será por causa de coisas materiais que verá dentro dos meus olhos o amor que sua filha sente por você, apesar de tudo. Acabei construindo um muro dentro de mim quando você se foi, pai, e acredite: ele é praticamente indestrutível. Se quer que eu te admire e te respeite novamente, vai ter que fazer muito melhor que isso; começando a agir como um ser humano de verdade! - limpei as lágrimas dos meus olhos. - Agora vá embora, por favor. Não vou pedir mais uma vez!
— Kote... - eu o encarei fixadamente e ele foi saindo, devagarzinho. As pessoas arredor me olhavam com um tipo de dó, pena.
— O que estão olhando? O show acabou! Vocês não tem vida para cuidar, hein? - ouvi murmúrios com meu nome e logo o corredor se esvaziou, sobrando apenas Ian, Megan, Paul e Candice que veio correndo do auditório.
— O que aconteceu, Neens? - ela disse ofegante. - Você saiu como se tivesse fugindo de alguém.
— Papa estava aqui, Candy. Ele veio me ver, estava no auditório! Isso é uma droga, não queria demonstrar fraqueza na frente dele.
— Nem precisa demonstrar, garota, está estampado na sua cara! - Megan sussurrou mas eu acabei ouvindo.
— Licença, por um acaso você não tem mais nada de interessante pra fazer? Como estudar, por exemplo? - cruzei os braços.
— Ela é bravinha hein! - riu.
— Megan... - Ian a "repreendeu" mas ela deu de ombros.
— Vocês não tem senso de humor? - bufou.
— Como você consegue enxergar humor numa situação dessas, sua insensível? - Candice se pronunciou, irritada. - Ian, tira sua amiguinha daqui por favor!
— Calma aí, loira. Não precisa dessa irritação toda, eu já estou indo. - piscou. - Vê se não demora, Ian, temos um trabalho de português para fazermos juntos. - deu um beijo na bochecha dele e saiu.
— Você e Megan... - falei quando não vi mais resquícios dela. - Desde quando estão assim, juntinhos?
— Resolvi dar uma trégua com ela! Afinal de contas o que passou, passou.
— Ah, então ela é a sua nova amiga agora?
— Posso dizer que sim!
— Então vai lá, vai pra tua sala, ela está te esperando. Vocês tem um trabalho de português para fazer, não é mesmo?
— Está com ciúmes? - ri ao ouvir aquilo.
— Nina... - Candice falou cansada tentando fazer com que eu parasse, mas não dei ouvidos.
— Só tenho ciúmes do que é meu, Ian, coisa que você não é! - fixei meu olhar no seu por alguns segundos e saí. Candice veio logo atrás de mim sussurrando para Ian um "me desculpe".
— Você viu só isso, cara? - riu fraco. - Não acredito que mesmo após todas as coisas que já falei pra ela, ainda continua com essa besteira toda por causa da Megan.
— Ian, não acho que seja besteira como você diz. - Paul finalmente abriu a boca. - Deixa eu te dizer uma coisa: ela está passando por uma barra pesada com a volta do pai, já te aviso que vai ter que ter muita paciência se quiser conquistá-la de fato. Neens não é do tipo que se abre de primeira, logo de cara, não é dessas que permite se envolver depois de trocar meia dúzia de palavras com alguém em uma festa ou em qualquer lugar; ela não vai começar a sonhar acordada com o casamento de vocês depois do primeiro encontro, talvez no décimo ainda nem tenha nem cogitado essa possibilidade. É que ela demora pra confiar, sabe? Demora pra acreditar que pode se jogar sem ter medo de quebrar a cara e o coração. - Ian o ouvia atentamente, mas com um pouco de irritação por saber que aquilo era realmente verdade. - Pode até parecer no começo, mas logo você vai perceber que não é joguinho. Aliás, ela nem gosta desse tipo de coisa! Não tem nada a ver com ser difícil ou fazer doce pra parecer mais desapegada, interessante, sabe? Sinceramente, é só uma forma de evitar traumas desnecessários. Aprendeu bem cedo a não desperdiçar seu tempo mergulhando em águas rasas, que só vão causar feridas; é por isso que ela só afunda em quem não dá pé. E não adianta achar que com você vai ser diferente só porque seu sorriso é bonito e todas as meninas morrem pra te ter, ela não se importa com isso. Ela não está nem aí se você é o cara mais disputado dos seus amigos, se vive arrancando suspiros por onde passa ou se tem um monte de outras garotas no seu pé, porque ela não mede a beleza de alguém pela cor dos olhos ou pelo formato do rosto; beleza, pra ela, é a capacidade de que alguém tem de tocar o outro sem precisar encostar. Por isso, pode esquecer suas cantadas e seu discursinho ensaiado para apenas levá-la para cama e todas as táticas que você decorou até então. Com ela vai ter que ser diferente. Por isso, só continua nesse lance se você estiver pronto pro que vai enfrentar, porque ela é complicada mesmo! - riu pelo nariz. - É toda sensível, cheia de insegurança e vai continuar assim até perceber que você vale a pena, que ela pode se abrir literalmente. Se está procurando algo rápido, tudo bem, mas vai embora agora porque não é ela que você quer. Ela não vai se permitir cair de amores por alguém que mal conhece, por mais que aparente que sim, ela não vai deixar você balançar as suas estruturas ou bagunçar a sua vida; não vai se entregar tão fácil, porque ela quer alguém que não se assuste na primeira dificuldade. Alguém que saiba ficar. - o encarou. - E aí, você sabe? Espero do fundo do meu coração que sim, porque não vou deixar que ninguém, e tampouco um cara do seu tipo, magoe os sentimentos da Nina! Passar bem. - deu um tapinha no braço de Ian e foi pra sua sala novamente.
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