'' T e l e - ''
D e : V e r o n i ka R i b e i r o
@GratidaoLerigou
Toda noite eu ligo a televisão para assistir o telejornal, porque lá é o único lugar que eu posso te ver; te amar.
Na morfologia o tele- significa distância, e o exemplo de tele- é televisão. Nada mais adequado a nossa "relação", certo? O visão significa... bom, visão. E a melhor visão que eu tenho todas as noites é a de você desejando-me boa noite e noticiando me dos bons - e maus - acontecimentos sobre nosso país.
Vem noite, vai noite, no telejornal vejo você dar a notícia de mais um grupo homofóbico que espancou e matou um gay; outro gay.
Quando o telejornal acaba, trato de te ver nas minhas redes sociais. No Instagram você postou uma foto com um cara bonito; seu cara bonito. Na legenda da foto você está se assumindo gay, e na mesma rapidez que meu sorriso se forma ao saber dessa maravilhosa notícia, ele se esvai ao perceber que o cara bonito que te faz companhia na foto, faz-te companhia na vida; no amor.
Sei que é estúpido, mas é amor. Eu te amo e essa tela de televisão só dá a ilusão da sua companhia. É um programa gravado, você não me deseja boa noite. A televisão com a sua imagem está na minha casa, mas você está na sua, com outro, quilômetros e quilômetros de distância daqui.
Leia essa carta no verbo passado, por favor, mesmo que está esteja sendo escrita no presente. O presente de agora já é passado, e o eu-vivo de agora já está morto.
Consigo imaginar você abrindo o telejornal da televisão ainda assustado com a notícia que anunciará: "jovem estudante de jornalismo é encontrado enforcado em seu apartamento. Consigo é encontrada, também, uma carta de despedida à um apresentador desconhecido no momento". Desconhecido para os outros telespectadores, porque você sabe que é você, não é mesmo?
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