História Tenioenai (Incontrolável) - Linda Linda, Linda Linda Lindaaaaa

A cabine era normal, como todas as outras cabines de karaokê. Acusticamente isolada, com um sistema de som razoável, quatro microfones, sofás confortáveis, uma mesa. Sentaram-se cada um em frente ao seu respectivo par, deixando Nobu e Rin frente a frente.

Entretidos com o local, os dois só se olhavam de relance, porém o clima era melhor que a catástrofe do segundo ano. Ambos pareciam ter superado o incidente. Mas parece que outras pessoas na cabine queriam remexer o passado.
—Ouvi falar que os nossos Kouhais aqui também já se conhecem... – Hayato parecia interessado em saber da história dos dois — Será que... AI! O que houve, Saori, porque chutou minha canela?

—Hayato-kun, não incomode os nossos Kouhais, provavelmente o passado é vergonhoso demais para eles... Não esqueça, nós também tivemos vidas escolares chatas!

— Yamauchi, deixe elas dizerem o que quiser. Vamos cantar pra elas enquanto isso. Você vem também, Nobu? – Ryoichi parecia animado para cantar, pela septuagésima vez, sua canção preferida, e também a mais clichê da história dos Karaokês, “Linda Linda” ...
Os rapazes se levantaram e quase explodem em risadas ao ver a escolha de Ryo.

—Espera... nós vamos mesmo cantar isso? – Yamauchi perguntou

—Ah, cadê o senso de humor de vocês? Vamos cantar!

Nobu olhou para a irmã, como se pedisse aprovação para entrar na brincadeira do cunhado. Ela consentiu.

—Vamos lá! Ei Yamauchi, larga esse telefone! Tem cerveja na geladeira ali! — Ryo apontou o frigobar para o amigo e passou a falar no microfone — Aaaa... Aaaa... Mic Test... Mic Test... Vamos lá! É hora dos grandes sucessos do Karaokê! Esse vai especialmente de Hayato para Saori, do incrível Ryoichi para sua amada Keiko-chan...

—PARA VOCÊ É KEIKO-SAMA! – Keiko gritou, arrancando risadas das meninas.

—Isso, Keiko-sama! Mil desculpas, Keiko-sama... e de Nobu-chan para Rinrin!

Nobu pegou-se sorrindocom a recordação. Depois voltou a si e olhou para Rin. Ela retribuiu o olhar e continuou sorrindo.

-Um, dois, três...

Dobunezumi mitai ni (como um rato marrom)
Utsukushiku naritai (lindo eu queria ser)
Shashin ni wa utsuranai (com uma beleza)
Utsukushisa ga aru kara (que as fotos não conseguem ver)

A primeira estrofe calma, cantada por Ryo ao pé do ouvido de Keiko, num tom bem romântico, teria composto uma cena linda se não fosse a letra punk. E como todo punk, deu lugar ao refrão nada original, cantado em gritos realmente incômodos:

Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!
Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!

Ryo balançava a cabeça como um punk, quase como se tivesse tendo um ataque epilético. Hayato e Nobu eram mais comedidos, mas estavam indo na onda, até faziam backing vocal do refrão. O vocalista punk da vez seguiu cantando, a próxima estrofe.

Moshimo boku ga itsuka (se um dia gente se encontrar)
Kimi to deai hanashiau nara (e eu falar com você)
Sonna toki wa doka ai no (por favor, esse amor)
Imi wo shitte kudasai (consiga entender)

E lá veio o refrão, dessa vez cantado por Hayato:

Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!
Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!

Na estrofe seguinte, foi a vez de Saori receber a poesia sobre o rato.

Dobunezumi mitai ni (como um rato marrom)
Dare yorimo yasashii (o mais gentil que há)
Dobunezumi mitai ni (como um rato marrom)
Nani yorimo atatakaku (o mais quente que você pode encontrar)

Hayato estava definitivamente animado... deitou a cabeça no colo de Saori para cantar.

— Faça carinho no ratinho, Saori-chan! – Rin e Keiko pediam, rindo...
 

Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!
Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!

A música, apesar de clichê, grudava na mente.

—Sua vez, Nobu! Tem que cantar para a Rin! – Ryo falou.

—Espera aí, como é? — Nobu se deu conta do que ia fazer de última hora.

—Vai lá, guardamos a melhor parte para você!

“Depois de dois anos, e é assim que a gente vai voltar a fazer contato? Agora vai tudo por água abaixo... Espera... Pensar isso depois dos três anos que eu me esforcei para superar isso de me apaixonar é admitir a derrota depois de ganhar... Quer saber... Vou cantar sim... vou me divertir...”

Respirou fundo, encostou na mesa e cantou, olhando para Rin e controlando o riso.

Moshimo boku ga itsuka (se um dia gente se encontrar)
Kimi to deai hanashiau nara (e eu falar com você)
Sonna toki wa doka ai no(por favor, esse amor)
Imi wo shitte kudasai (consiga entender)

Ai ja nakutemo koi ja nakutemo (Mesmo se não for amor, e se carinho não for)
Kimi wo hanashi wa shinai (Eu nunca vou conseguir deixar você)
Keshite makenai (Tudo o que resta enfim)
Tsuyoi chikara wo (é a força que há em mim)
Boku wa hitotsu dake motsu (e a força desse amor não vai morrer)

—REFRÃO! — Como um Punk, Nobu levantou e voltou para seu lugar no trio de cantores, para o refrão final:

Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!
Linda! Linda!
Linda! Linda! Linda!

Quando acabou a música, as garotas aplaudiram efusivamente, com direito a assobios. O trio de malucos havia ganhado no carisma.

— Nobu... estou muito decepcionada com você. — Keiko fazia uma cara séria. — Eu já tinha te avisado para não fazer essas bobagens junto com o Ryo... — mas logo a expressão mudou — Você tem que ficar do meu lado que sou sua irmã, e não do lado dele. As piadas dele são muito piores que as minhas... Isso é impressão que você deva passar para a Kawaguchi, depois de tantos anos?

Rin interrompeu.

— Yoshida-san, o Nobu-san não foi tão mal assim. Pra ser sincera ele tá bem melhor que da última vez que nos falamos... Foi na formatura, lembra, Nobu-san? Você estava meio nervoso, parecia apressado para ir embora.

—É, naquele dia eu tinha teste de admissão no Polo Aquático da Toyotomi. Falei bem rápido pois estava atrasado. E bem... você me deu sorte, porque no mesmo dia eu ganhei a vaga para a faculdade com bolsa de esportista.

—Puxa, que legal, fico feliz mesmo que você tenha se dado tão bem... mas agora que eu me lembro... Você não falava muito comigo... Pelo menos não nos dois últimos anos. Quase nunca. Foi depois da confissão que você ficou mais calado.

—E continua até hoje. — Keiko emendou a fala de Rin.

—Ei, vocês vão falar disso? — Nobu não estava gostando nada do rumo daquela conversa.

—Confissão? Que história é essa? Não vai dizer que o Nobu-chan e a Rinrin... — Saori estava interessada em ouvir a fofoca.
—É, o Nobu-kun era apaixonado por mim no colegial. Ele até se confessou pra mim e deu uma surra num amigo dele que me ofendeu. Levou uma semana de suspensão por aquilo.

—Então quer dizer que vocês já...

—Não. Eu recusei a confissão dele.