História Tensión - Ciúmes

A 5ª temporada de MasterChef Brasil começava e toda a equipe estava animada com a perspectiva de um ótimo ano. Todos se abraçavam, felizes por se reencontrarem, afinal, era difícil conseguir juntar todos em um lugar só. O trio de jurados e a apresentadora batiam um papo animado, contando suas novidades. Cada um tinha trabalhado e viajado tanto que quase não se viram durante o intervalo da temporada do Profissionais e o começo da nova.

Ana Paula contava sobre suas aventuras no Rio de Janeiro planejando seus workshops e encontrando velhas amigas. Jacquin não havia feito muito, falava de Rosangela e dos seus seguidores novos no instagram. Paola tinha enumerado todos os pratos do novo cardápio sazonal do Arturito e como ela tinha tido a ideia para eles. Agora era a vez de Fogaça, o último da roda.

- Então, porra... Cês sabem que eu fui pra Irlanda, né. Foi foda, comida boa, muita cerveja. Eu só não entendia nada do que as pessoas falavam. Todo mundo parecia aquele fulano lá da Paola, já tava esperando alguém tirar uma câmera e começar a tirar umas fotos tremidas minhas.

Ana e Jacquin achavam graça e riram ainda mais quando Paola deu um tapa no braço do chef, irritada com as piadas.

- O nome dele é Jason! Jason! E para de falar así, no entendo por que você não gosta dele.

- Non entende? - Jacquin comentou baixo, levantando as sobrancelhas para Ana, que riu.

Paola ignorou a conversa dos dois e cruzou os braços, esperando uma resposta de Fogaça.

- Só não entendo o que você vê num cara que parece mais seu pai, mas cada um com seu cada um, né. - ele levantou as mãos e continuou, irônico – Ele podia só aprender a se comunicar com a gente alguma hora.

A argentina estava revoltada e já levantava a mão para um novo tapa, mas Fogaça foi salvo pelo grito do diretor Pato mandando todos voltarem a seus lugares. Começariam as audições, então Ana Paula se retirou para a sala de fora e os jurados se dirigiram aos seus bancos habituais, com a mulher no meio dos dois homens.

Os primeiros candidatos entraram e pareciam ter sido escolhidos a dedo pela produção. Todos péssimos. Era assim que aqueciam, depois das férias, para entrarem de volta à dinâmica do programa e conseguirem julgar direito as pessoas boas. Jacquin tinha uma facilidade enorme diante das câmeras, muito treinada pelo sucesso de suas lives no instagram. Fogaça precisava só de um empurrãozinho para sua paciência acabar e começar a ser grosso com os candidatos. Já Paola precisava de um pouco mais tempo para se soltar, ainda morria de vergonha com as câmeras. Normalmente era ajudada por Fogaça, que a estimulava com seus comentários. Mas agora ela estava irritada e se recusava a olhar um tanto que fosse para a direção dele, o que tornava tudo mais difícil.

- Paola! - gritou Patricio – Você precisa falar mais, queremos seu feedback.

A argentina respirou fundo, esfregou as mãos e assentiu para o diretor. Era hora de cair com tudo nos competidores.

A porta se abriu e empurrando o carrinho com a comida entrou um homem. Era alto, forte, com cabelos escuros e suas camiseta deixava à mostra os braços fechados de tatuagens. Paola se endireitou em seu banco, curiosa com essa nova figura – o que não passou despercebido por Fogaça, que logo fechou a cara para o participante.

Jacquin foi o primeiro a falar, com seu sotaque carregado:

- Como se chama?

- Ivan.

- Bom, Ivan, o que vai fazer pra gente hoje?

- Eu vou fazer um lombo de cordeiro com aligot, chef.

Fogaça levantou uma sobrancelha e se inclinou para frente no banco.

- Acho que conheço esse prato de algum lugar.

Ivan riu, envergonhado.

- É, chef... Eu tive uma inspiração.

- Vamos ver se você aguenta o tranco então. Pode começar, você tem 5 minutos.

O participante começou a cozinhar, mexendo-se rápido e com destria na cozinha. Todos observavam admirados a fluidez de seus movimentos. Jacquin e Paola de boca aberta, o chef brasileiro ainda com sua carranca. Em um momento, ele levantou a panela do aligot, misturando bem o purê e levantando-o para ver a liga. Jacquin se virou para os amigos, rindo.

- Parece muito alguém, no? Podiam ser primos até.

- Parece... - Paola olhou de soslaio para Fogaça - Mas muito mais bonito, olha esse cabelo.

Jacquin gargalhava enquanto Fogaça cruzava seus braços no peito. Deu uma risada debochada para os dois, mas era óbvio em sua feição que se sentia atacado pela piada. Paola sorria, satisfeita, e começou a contagem regressiva.

- Ivan, vamos... - seu sotaque parecia mais carregado – Cinco, cuatro, tres, dos, uno...

Ele colocou as mãos para cima, o prato pronto à sua frente. A argentina foi a primeira a se levantar para experimentar. Andava lentamente, os quadris se mexendo acentuadamente de um lado para o outro, um sorriso nos lábios. Olhava nos olhos do participante ao experimentar a comida, fazendo sua típica cara de surpresa misteriosa. Piscou um dos olhos para ele, mas sem dar nenhum comentário voltou ao lugar, ignorando o olhar penetrante de Fogaça.

Jacquin provou a comida sem muitas cerimônias e por fim era a vez de Fogaça. Com seu olhar mais intimidador, olhou Ivan dos pés à cabeça e, um talher em cada mão, sorriu para ele, mas nada em seu sorriso era convidativo.

- Você tem coragem.

- Eu tento, chef. - ele sorriu, sem se deixar intimidar – Espero que seja bom o bastante.

Fogaça cortou a carne e o barulho pesado da faca no prato era um indicativo de que não estava para papo. Observou bem o cordeiro, levantando um pedaço até a altura do rosto do homem.

- Você acha que o ponto tá certo?

- Acho que podia ter ficado mais tempo. - Ivan respondeu, impassível.

O jurado enfiou a comida na boca, sem desviar seu olhar do participante enquanto mastigava. Ao final, levantou uma sobrancelha e retornou ao seu lugar, já começando a falar antes mesmo de se sentar.

- Bom, mano... Você tentou, né. O ponto do cordeiro tá errado, o certo é ao ponto e esse aqui tá mal. Também achei sem sal. O aligot... - ele alisou o cavanhaque, pensativo – Dá pro gasto.

Paola e Jacquin se assustaram com a secura do colega. Ele não costumava ser muito afetuoso com os competidores, mas também não era grosso sem necessidade. Trocaram olhares confusos e seguiram em frente, o francês falando antes.

- Para mim está bom. O cordeiro podia ter ficado um pouco mais, mas está bem tomperado. E o aligot eu gostei bastante. Acho que você tem futuro, pode se tornar um mini Fogaça.

Ivan sorriu e olhou para Paola com expectativa. Ela cruzou as pernas e chegou um pouco mais para a frente no banco, já tinha uma boa ideia do que dizer.

- Eu adorei. Delicioso. - ela sorriu, sua voz animada – Concordo com eles sobre o ponto do cordeiro, mas dá para ver que você sabe muito bem o que fazer. E o aligot talvez seja o melhor que eu já comi.

Paola podia sentir o olhar de Fogaça a queimando, quase implorando para ela olhar para ele para que pudesse rebater, mas ela se manteve forte rindo para o competidor. Sabia que teria uma reação dele com o comentário – poucas coisas atingiam Henrique Fogaça tanto quanto falar de sua comida. A vingança é doce, pensou.

Era o momento da votação e, como era de se esperar, Jacquin e Paola deram um sim para o homem. Fogaça se absteve da decisão, qualquer comentário dele agora não faria diferença alguma. A argentina fez questão de levantar para dar o avental a Ivan e foi logo tomada num abraço por ele, que vibrava de felicidade.

Assim que o recém-aceito competidor saiu da sala, o diretor anunciou uma pausa para a equipe. “Graças a Deus”, Paola murmurou e se virou em direção ao camarim, louca para tirar o salto e deitar um pouco – não estava com humor para a gravação hoje.

Dentro da sala, começou a fechar a porta com seu nome, mas foi impedida de continuar por uma mão que empurrava a maçaneta.

- Vamos conversar – a voz de Fogaça pingava irritação.