Paola contemplou fechar a porta com força na cara dele, mas achou melhor evitar mais fofocas no estúdio. Com um suspiro contrariado, virou-se para sentar no sofá, deixando-o entrar.
- Sobre o que você quer conversar?
Fogaça fechou a porta e caminhou para frente do sofá. De braços cruzados, ali parou e a encarou. Paola podia ver toda a raiva dele, evidente na cara fechada e vermelha. Se fosse um desenho animado, fumaça sairia de suas orelhas.
- Você sabe muito bem sobre o que eu quero falar.
- No, no sé. Me explica, por favor – ela não queria ser assim, mas a ironia corria em seu sangue. Além do mais, era sempre divertido provocar Henrique.
- Você... - ele passou uma mão pelo resto e respirou fundo, tentando se controlar – Não basta dar em cima daquele moleque lá, ainda tem que me humilhar pra ele?
- Humilhar? Onde exatamente eu te humilhei?
- “É o melhor aligot que eu já comi” – ele imitou a voz dela, as mãos fazendo aspas no ar, e voltou para sua voz normal – Não acha que isso é me humilhar?
- En serio? Eu não posso mais ter minha opinião sobre comida ahora? Achei que era esse meu trabalho.
Ele respirou fundo, coisa que parecia estar fazendo o tempo todo, e respondeu:
- Você sabe tão bem quanto eu que aquele prato não estava perfeito. Muito menos chega aos pés do que eu faço.
- Então é esse o problema? O seu ego? Por que você não foi reclamar com o Jacquin também? Ele também aprovou.
- O Jacquin não ficou dando mole pro cara falando que ele era mais bonito que eu só porque tem cabelo.
Paola jogou a cabeça para trás, gargalhando alto. Sabia que ia conseguir irritar Fogaça, mas nunca imaginaria que ele teria a coragem de reclamar sobre isso com ela. Ele devia estar mesmo muito incomodado para não perceber que soava como uma criança enciumada.
- Você no pode estar falando sério. Primeiro que eu não – ela levantou as mãos, imitando as aspas dele - “dei mole” pra ninguém. Segundo que eu não tô entendendo esse ciúme seu.
- Que ciúme? Eu não to com ciúme nenhum. Só quero entender esse seu comportamento louco de repente. Tá sem falar comigo desde que a gente chegou, porra.
Ela se levantou e parou em pé na frente dele. Com os saltos – que ainda não havia conseguido tirar – se viam quase na mesma altura, ela um pouco mais alta. Na maioria das vezes, odiava os saltos. Nas outras, gostava dessa situação de se sentir superior. Cruzou os braços, combinando a postura dele, e respondeu, irritada:
- Desde que você começou a xingar meu marido?
- Que marido, Paola? Eu não me lembro de ter sido convidado pra casamento nenhum. - ele tentou se controlar, mas escapou de sua boca. Fechou os olhos para se preparar para o impacto, mas só a ouviu puxando o ar. Quando os abriu de novo, podia ver toda a irritação dela. As sobrancelhas franzidas, as narinas infladas, os lábios comprimidos. Sabia que devia ter medo, mas o aperto que sentia era nas calças, não no peito.
- Yo só queria que você me dissesse por quê é tão contra o meu relacionamento.
- Você fala como se não fosse contra o MEU relacionamento - ele rebateu.
Paola deu um passo para trás, confusa. Quando que o jogo virou pra cima dela? Ela estava ganhando e foi pega de surpresa pela pergunta.
- O que que eu tenho com o seu relacionamento?
- Admite que você nunca gostou da Carine.
- Ella no gosta de mim.
- E você nunca se esforçou pra gostar dela também – Fogaça pressionou, tentando arrancar uma resposta dela.
- Claro que não! - ela respondeu, sincera e ácida – Ciumenta daquele jeito, desagradável. Não dá nem pra chamar o que vocês têm de relacionamento. Pra que eu vou me esforçar se vocês terminam todo dia?
Fogaça levantou uma mão e coçou a barba, fingindo despreocupação.
- Pelo menos eu não estou com alguém que parece o meu pai.
- No – ela rebateu, áspera – Porque o pai é você, que paga todas as contas dela.
Estavam em pé de guerra, uma que parecia não ter fim. Os dois de braços cruzados, se encarando. O clima no camarim estava pesado e qualquer um que entrasse agora conseguiria sentir a tensão entre eles. Fogaça estava irritado, queria entender quando que uma discussão que tinha a ver com o programa se virou contra ele e se tornou sobre os dois. Paola queria voar em cima dele por ter começado tudo. Nunca dava certo quando tentavam falar de seus relacionamentos. Nunca daria. Ele provavelmente nunca aceitaria Jason e ela já sabia que Carine apenas não descia. Era um assunto delicado demais e nenhum dos dois sabia o porquê – ou fingia não saber.
Ficaram parados, tentando decidir qual dos dois falaria primeiro, pelo que pareceram horas. Na verdade foram alguns segundos. Logo uma batida na porta os trouxe à realidade, era um dos assistentes de direção avisando que já era hora de voltar a filmar. Paola foi a primeira a se encaminhar para a porta, frustrada por não ter tido seu descanso.
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As gravações pelo resto de dia se arrastaram lentamente. Paola e Fogaça continuavam sem se falar, na mesma tensão mal resolvida. Com alguns gritos do diretor, por algumas vezes tiveram que interagir, mas se recusaram a fazer qualquer coisa mais do que o necessário. Foi um dia cansativo para todos, ninguém aguentava quando os dois brigavam – o ar ficava pesado no estúdio inteiro.
Agora, porém, já era noite e Paola tentava o seu máximo para relaxar em casa. Estava recostada na cama de pijama de mangas compridas, com um chá, um livro e Jason roncando ao seu lado – nada poderia ser mais confortável que isso. Chegava na melhor parte do livro – seu clímax – quando foi interrompida por um bip de seu celular. Esticou a mão para o aparelho na mesa de cabeceira e viu que era uma mensagem do WhatsApp – 1 mensagem não lida de Henrique Fogaça. Olhou o horário – 00:20 – e sorriu. Não podia ser nada de importante a essa hora, provavelmente era ele pedindo desculpas por hoje. Marcou a página de seu livro, o colocou na cabeceira e abriu a mensagem.
“desnecessária essa melação – Henrique Fogaça”
Acima da mensagem estava um print da foto que Paola tinha postado no instagram quando chegou em casa: o irlandês olhando para o nada atrás de um prato de salada e a legenda “my love and my best friend”.
Paola franziu os olhos e entrou no instagram de Fogaça, procurando a última foto que ele havia postado. Tinha sido publicada uma hora antes da foto dela e era uma imagem dele com Carine com a legenda “eu e a minha gata”. Paola tirou um print e enviou para ele como resposta, sem dizer nada. Um minuto depois, seu celular vibrou, uma única notificação apareceu na tela.
“touché – Henrique Fogaça”
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