História The Best Damn Things - I Have Questions

P.O.V. Laura

Já estávamos na segunda aula e Alicia ainda não tinha voltado, Paulo que tinha acabado de chegar deveria estar de mal humor por ter sido pego estava quase pulando de alegria, fazendo com que todos que foram afetados com sua brincadeira tivessem raiva dele pois se ele estava tão alegre era sinal de que o castigo recebido não foi ruim o suficiente, se ao menos ele tivesse recebido castigo. Eu sinceramente não gostei de ter dificuldade para andar sem escorregar a cada cinco segundos mas o cheirinho que ficou na escola, me fez lembrar de pãezinhos quentes com manteiga da minha mãe, isso quase fez tudo valer a pena, eu disse quase.

Na metade da segunda aula Alicia chegou encarando Paulo com um olhar de ódio, o mesmo desmanchou o sorriso e a encarou de volta como se fosse um desafio de quem tinha o olhar mais feio. Acho que tudo isso é fachada, que no fundo eles se amam mas como são muito orgulhosos para admitir fingem que se odeiam, brigam como cão e gato enquanto gostariam de estar se amando como dois pombinhos. As únicas pessoas que também acham que eles vão acabar juntos são Mario, Marcelina, Kokimoto e Valéria, se até os melhores amigos dos dois veem o mesmo que eu, como eles ainda conseguem negar?

Comecei a observar os outros casais, Daniel e Carmem ainda não estavam namorando mas agora saíam quase todos os dias para passear ou tomar sorvete, Kokimoto e Bibi já estavam há três semanas sem se falar direito e quando falavam eram extremamente grossos um com o outro mas por alguma razão insistiam em continuar andando juntos, Mario e Marcelina que na minha opinião se amam mas tem vergonha de falar estavam bem estranhos ultimamente, às vezes pareciam tristes, outras pareciam discutir baixinho, sempre que notavam alguém olhando ou quando alguém chegava perto eles mudavam de assunto rápido ou paravam de falar, agiam como se ninguém percebesse mas como nos conhecemos desde pequenos, todo mundo notava. Leonor e Cirilo estavam cada dia mais próximos e mesmo ainda sensível ao nome de Maria Joaquina, Cirilo parecia bem melhor, não que eles sejam um casal mas confesso que torço muito para que se tornem um, ele merece alguém que possa o amar na mesma intensidade que ele ama as pessoas e acho que esse alguém é Leonor.

Os romances de nossa turma não eram fáceis e perfeitos como nos contos de fadas mas eu ainda achava todas as histórias lindas, mesmo que a maioria seja só o começo do começo, ao contrário de Valéria e Davi que já estão juntos há 8 anos, é tão romântico encontrar o amor da sua vida tão cedo e permanecer com ele por tanto tempo. Mesmo eles estando juntos há tanto tempo, ainda não tiveram sua primeira vez e eu era a única da turma além de Alicia que sabia disso. Desde o final do ano passado Davi vem pedindo conselhos pra nós duas para preparar a noite perfeita para os dois, até onde sei da turma apenas Margarida não é mais virgem, mas ele perguntava a nós duas por eu entender muito de romance e por Alicia ser a melhor amiga de Valéria. Ele já tinha tentado uma ou duas vezes, nunca os pegaram em flagrante mas alguém sempre aparece e eles acabam adiando. Acho que das meninas eu sou a que menos pensa em sexo, meus pensamentos sempre estão voltados romances mais inocentes.

A terceira aula chegou, era aula de História com a professora Helena, ela estava simpática como sempre mas depois de nos passar exercícios pediu para Alicia e Paulo irem até sua mesa e nesse momento sua cara não estava nada sentimental. Enquanto Paulo mantinha sua cara de paisagem Alicia se levantou com a cara de quem levaria bronca e se arrependia do motivo, mesmo não conseguindo escutar o que ela dizia por causa da distância dava para perceber que não era algo legal só pela sua expressão, ela estava decepcionada e com motivos. Depois de não tão longa conversa, eles voltaram a seus lugares, um bufando e a outra revirando os olhos, e agora tanto Paulo quanto Alicia assumiram cara de irritados.

Logo a melhor parte do dia chegou, o intervalo. Os lanches da lanchonete pareciam ficar mais gostosos a cada dia mas ainda achava que minha mãe que deveria os fazer pois melhor comida que a dela não tem. Durante o intervalo as meninas se reuniram e Alicia contou tudo que a diretora Olívia e a professora Helena tinham dito aos dois, a diretora disse que passariam duas semanas ajudando Graça e Firmino com os afazeres da escola e a professora avisou que por conta de uma discussão que tiveram na frente da diretora, a mesma tinha falado com os professores e ordenado que a cada atividade em grupo ou em dupla eles fossem colocados juntos, consequentemente eles teriam que sentar juntos nas aulas de Biologia, agora sim eu entendia o motivo da irritação de Alicia, eles se gostando ou não, Paulo dificilmente colabora para a convivência deles e aproveitaria cada minuto para a irritar.

O intervalo acabou e fui a primeira das meninas a chegar, os únicos presentes eram Jaime e Adriano, sentei a minha carteira e vi que na mesma tinha um envelope vermelho e um sonho de valsa, abri cuidadosamente o envelope e com muita curiosidade tirei o papel que tinha dentro. Nele estava escrito:

“Não sou marinheiro, tampouco mergulhador…

Mas me afoguei nesse mar traiçoeiro que se chama amor.

A pergunta 'Por que te amo?' é difícil responder

Pois nem tudo o que o coração sente a boca pode dizer.

Eu só amo estar com você,

Eu amo ficar com você,

Seu cheirinho me faz viajar

E sua voz me faz suspirar.

Por ora meu nome não posso dizer,

Pois agora só o que faço é temer

Uma grande rejeição

A minha completa e pura paixão."

Terminei de ler e suspirei, algum garoto tinha me manda uma carta de amor e não queria revelar sua identidade por medo de ser rejeitado, eu tinha um admirador secreto. Olhei para Adriano e Jaime, os dois prestavam atenção em mim, fui até eles e perguntei se era de algum dos dois.

— Não mesmo. – Jaime disse junto de uma risada estranha.

— Olha, Laurinha, quando a gente tava entrando na sala tinha um garoto saindo mas não consigo imaginar nem de que ano ele possa ser, nunca o tinha visto antes. – disse Adriano me dando um sorriso amarelo.

— E ainda tem aquela né? E se foi o garoto que vimos saindo que deixou a carta, mas não foi ele que escreveu? – falou Jaime.

— Ah, tudo bem. Obrigada, meninos. – agradeci e voltei ao meu lugar.

O resto dos alunos foram chegando aos poucos na sala e eu não conseguia parar de ler e reler a tal carta, algum garoto estava apaixonado por mim, algum garoto muito romântico assim como eu. O professor de filosofia chegou e tentei prestar atenção na aula mas uma pergunta não saia de minha cabeça, a de quem seria meu admirador secreto.