História The cold heart - The test...

Eram sete horas da manhã e eu estava de pé. Não havia conseguido pregar o olho a noite toda, por conta de minhas suspeitas de estar grávida. Dei uma olhada para Michael que ainda dormia, e ia atrás de dona Lucy para ver se ela trouxe o meu teste. Com o coração nas mãos, desci as escadas.

— Dona Lucy, bom dia. Trouxe meu teste? — perguntei anciosa.

— Bom dia, Kristen. Sim, está aqui! — retirou o teste do bolso e o me entregou.

— Ah, obrigada! — agradeci sorrindo.

— Kristen, ante de mais nada... pense bem no que você vai fazer com essa criança. É só uma criança.

Aquelas palavras, haviam me atingido bem mais do que eu queria.

— Eu tentarei pensar na possibilidade… — abaixei a cabeça acentindo. — Mas eu não me sinto preparada para ser mãe...

— Kristen, toda mulher quando descobre uma gravidez pensa assim. — pousou uma de suas mãos nos meus ombros. — Mas depois que o bebê nasce, você se apega tanto a ele que irá até esquecer que pensou assim um dia…

— Nossa dona Lucy, falando assim até parece que a senhora um dia já passou pelo o mesmo que eu. — disse sorrindo.

— Mas eu realmente passei… — abaixou sua cabeça triste.

Eu estava em choque.

— Como?

— Eu havia ficado grávida também. Eu tinha mais ou menos a sua idade, e assim como você, eu também não me sentia preparada e havia abortado o bebê. Mas depois que fiz isso, percebi o quanto já tinha me apegado a ele. Me arrependi amargamente por ter feito tal coisa, e o pior de tudo isso, é que depois nunca mais consegui engravidar... então Kristen, por favor pense bem.

Eu não conseguia dizer uma palavra se quer. Ela era mesmo muito sábia.

— Eu… não sei o que dizer. — disse espantada.

— Não precisa dizer nada, só precisa pensar...

— Tudo bem. Bem, vou ir fazer o teste. — disse olhando para o mesmo.

— Vai lá. — ela disse sorrindo.

Subi correndo até o banheiro, na esperança de não encontrar Michael pelos os corredores. Se ele visse eu com este teste nas mãos, iria ficar todo feliz e eu ainda não tenho certeza de nada...

Os conselhos de dona Lucy como sempre são eficazes, mas eu ainda não me sentia preparada para ser mãe.

Entrei no banheiro e por sorte não encontrei Michael. Estava pronta para fazer o teste.

[…]

Positivo! O teste deu positivo. Como reagir diante dessa situação? O que fazer? Não sei…

Desci desesperada até a cozinha novamente para falar com dona Lucy.

— Deu positivo! Deu positivo! — falei um pouco mais alto do que realmente queria.

— Oh, meus Deus, Kristen. Meus parabéns! — Dona Lucy disse abraçando-me fortemente.

— É…obrigada, eu acho. — disse um pouco desnorteada.

— E aí, já decidiu o que vai fazer? — ela perguntou desfazendo o abraço.

— Para falar a verdade, ainda não... — ri fraco. — Preciso de um tempo.

— Entendo. Pense da melhor forma. — sorriu e voltou aos seus afazeres.

[…]

— Nossa, meu amor, o que faz de pé as essas horas?! — Michael disse assim que me viu no corredor indo para um outro quarto. Queria ficar sozinha.

— Ah, eu perdi o sono… — sorri tentando desfarçar o meu nervosismo.

— E pra onde você está indo? — ele disse chegando pertinho do meu ouvido, me dando arrepios. — Pensei que podíamos ficar a manhã todinha nos divertindo.

Ah, meu Deus, eu estava ficando louca!

— Eu queria ficar um pouco sozinha se você não se importar... — disse tentando manter a calma já que agora suas mãos percorriam as minhas pernas por debaixo do hobbie que eu estava.

— Pra quê você quer ficar sozinha, quando pode ficar comigo? — perguntou estranhando.

— Eu só queria um tempinho sozinha… só isso! — sorri.

— Bem, tudo bem.

— Depois eu prometo que irei ficar com você. — sorri.

— Okay. É por causa do meu tio, não é?

— É... — menti.

— Então está bem. Entendo sua tristeza.

— Obrigada! — dei um selinho nele e entrei no quarto que eu queria.

Deitei sobre a cama, e tentei relaxar para pensar no que eu ia fazer. Contar para o Michael? Como contar, sem ainda ter certeza do que fazer? Isto não era uma coisa que eu queria ser… pelo menos não agora: ser mãe. Passei a mão em minha barriga, na tentativa de tentar começar a me "apegar" aquela criança. Somente assim, eu poderia mudar de idéia.

— Ei, serzinho que está aí dentro! Você pode me ouvir? Se puder, saiba que eu não queria que você estivesse aí... — comecei a falar em voz alta. Mas aquela não era a melhor maneira de se falar com uma pessoa que está dentro de você. — Não me sinto preparada para te ter, mas seria muita maldade minha te tirar daí sem ao menos te conhecer. Me perdoe caso eu faça isso... mas eu só quero ser uma boa mãe, e sinto que ainda não é a hora. — uma lágrima escapou, assim que imaginei eu tirando a vida de um ser tão inocente. — Eu prometo que ainda irei pensar mais sobre você. Prometo que irei pensar da melhor maneira possível. Michael com certeza vai querer te conhecer, até mais do que eu mesma. Saiba que ele já te ama mesmo sem ele saber ainda...

Parei de falar e comecei a refletir. Assim que fechei os olhos, lembrei que eu havia deixado o teste de gravidez em cima da pia do banheiro. Não podia estar acontecendo isso comigo! Oh, céus, Michael iria ver e iria descobrir tudo!

Sai correndo do quarto, e fui direto para o banheiro onde fiz o teste — que por acaso, era o banheiro que Michael costumava usar para fazer suas higienes pessoais. Eu estava tão anciosa para fazer o teste, que nem havia lembrado disso. Abri a porta do banheiro com tudo e por sorte não havia ninguém. Coloquei a mão no coração e dei graças por isso. Peguei o teste e o joguei no lixo, antes que alguém o visse. Não sei se aquela foi uma boa idéia, mas foi tudo o que pude fazer.

[…]

— Kristen, pode vir almoçar! — Dona Lucy disse abrindo a porta do quarto que eu estava enquanto eu me arrumava para o almoço.

— Já estou indo!

— Tudo bem. — piscou e saiu.

Me olhei no espelho e conclui que minha demora a descer para o almoço, valeu a pena. Eu estava treinando para ser rica mesmo não querendo ter que fazer isso.

— Cheguei! — disse sentando-me em uma cadeira que estava vazia na mesa.

— Que linda você está, meu anjo. — Michael disse também se sentando na cadeira ao meu lado.

— Obrigada. — sorri.

O cheiro de salmão se fazia presente em toda a sala de jantar. Por mais que eu estivesse com fome, o cheiro estava me enjoando. Sentia que que queria vomitar, e aos poucos minha fome foi dando espaço para o enjoo.

O cheiro do perfume de Michael também não estava ajudando muito. Nunca reclamei de ele passar perfume, mas precisava ser tanto assim?

— Prontinho, aqui está o almoço de vocês! — Dona Lucy disse colocando o prato a nossa frente.

— É, Dona Lucy, eu não quero parecer chata, mas a senhora não podia fazer algo mais leve pra mim… — dei uma piscada pra ela, e ela pareceu entender.

— Oh, claro minha querida... — também piscou e foi fazer algo mais leve.

— O que houve? — Michael perguntou preocupado.

— Nada. Só estou um pouco enjoada hoje.

    — Ah, entendi. Acho que você deve ir no médico ver isso... — ele disse de uma forma irônica, juntamente com um sorriso. Por um breve momento, ele parecia saber o que eu tanto escondia.