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História The Flame In Your Heart - Sentimentos


Escrita por: SongGayeon

Notas do Autor


Hello!!!

Essa semana eu ando muito pelo Spirit...ainda bem, não é mesmo? kkk
Enfim, essa fanfic é um presente de aniversário super, super, super atrasado para à Bunny.
Exatamente: uma Chanbaek shipper ferrenha \o/ kkk
Enfim...o plot ficou martelando muito tempo na minha cabeça, não faço ideia se vai agradar, mas juro que foi feito de coração.
Aliás: essa é só a primeira parte da fanfic.
Acabou que ela ficou mega grande, então eu betei uma parte hoje e vou deixar postada, e vou tentar terminar de betar a outra até amanhã para postar no fim de semana.
É isso mesmo: dois capítulos (ou três, dependendo se ficar muito grande) de muito Chanbaek só pra você \o/
Enfim, bora lê?
Às demais leitoras: eu espero que vocês também curtam demais essa história, pois ela demorou muito para ser escrita :')

Obs: Essa história é baseada na balada de Hua Mulan, mas é claro que a maioria das coisas são inventadas pela minha mente :')
Obs²: Não sei dizer ao certo em qual dinastia Mulan surgira, pois há várias citadas na internet e como eu, infelizmente, não tive no meu curso de História uma matéria que se voltasse diretamente para a História da Ásia, então eu realmente não sei dizer ao certo.
Obs³: Todo o contexto se passa na época do Império Chinês, portanto nossos coreanos viraram chineses (EXO-K is the new EXO-M kkkkk).

Enfim: bora o/

Me perdoem erros :')

Capítulo 1 - Sentimentos


Fanfic / Fanfiction The Flame In Your Heart - Sentimentos

 

P.O.V Autora

Sentada ereta em frente ao velho tear, os cabelos lisos descendo até a cintura, Hua Mulan tecia algo sem, de fato, parecer prestar atenção no que fazia; os dedos ágeis se movimentando com familiaridade.

Naquela tarde, pegando não só a sua família de surpresa, mas todas as demais do pequeno vilarejo, um oficial imperial havia batido à sua porta; as notícias não poderiam ser mais assustadoras para as mulheres que seriam deixadas para trás, mas aos homens, que agora possuíam um pergaminho de recrutamento em mãos, sua partida era sinônimo de honra, pois estavam marchando para defender aquilo que acreditavam, estavam indo para defender Khan.

Mulan, assim como sua mãe e seus dois irmãos, observaram o pai tomar à dianteira quando o sobrenome da família foi dito; o oficial pedia, em nome do imperador, que o homem da família se apresentasse nas próximas quarenta e oito horas para recrutamento. Não era bem um pedido, era uma ordem explícita, que deixava ainda mais claro o que acarretaria se fosse descumprida.

Enquanto a mãe e a irmã mais velha observavam o pai analisar o pergaminho com brilho nos olhos, como se estivesse em êxtase com a ideia de reviver suas façanhas militares novamente, Hua Mulan se concentrou na dor estampada nos olhos do irmão mais moço.

Huan Baekhyun e Mulan possuíam apenas um ano de diferença um do outro, o que não interferia em nada no relacionamento dos dois, pois ambos se tratavam como iguais. Baekhyun era jovem sim, mas sua idade não era justificativa para não ir a campo de batalha se sacrificar pelo império, afinal, com seus dezenove anos, qualquer rapaz já era considerado capaz e objeto de interesse direto do imperador e suas tropas, mas Baekhyun não era apenas qualquer jovem.

Nascido prematuramente, tendo sua vida segurada por um fio fino demais para se manter esperanças, o jovem Baekhyun sobrevivera por um milagre. Sua saúde, desde muito cedo, se mostrara debilitada e, conforme crescera, isso apenas se tornara mais visível mediante sua fraqueza óssea e sua palidez assustadora.

Todos naquela vila sabiam que o filho homem de Huan Hu, o qual o mesmo tanto sonhara um dia, na verdade era motivo de vergonha para a família, por conta de sua incapacidade. Era claro que os Huan não pensavam da mesma maneira que os demais; Baekhyun sempre fora tratado com muito amor e carinho por todos os familiares, mas sua saúde instável sempre foi uma dificuldade que todos foram obrigados a aceitar e compartilhar conforme os anos se estendiam e Baekhyun chegava à fase adulta.

O curandeiro da vila, que sempre tratara de Baekhyun desde seu nascimento precoce, ainda achava um grande milagre o garoto viver, pois sua expectativa de vida nunca fora longa e todos estavam cientes disso, inclusive o próprio Baekhyun.

Naquela tarde, enquanto o pai olhava para o pergaminho em mãos com felicidade clara, Mulan se concentrou no rosto do irmão e toda a dor e incapacidade que ali se continha. Baekhyun sabia que era doente, mas Mulan, mais do que qualquer outra pessoa ali, conhecia o irmão e entendia o quão terrível se sentia por não ser capaz de levar o nome da família para os campos de batalha; por saber que a morte do pai, em meio ao caos da guerra, poderia ser evitada se não fosse por sua saúde sensível.

Com os olhos ainda enevoados pelas memórias de um Baekhyun frágil lutando para viver ao longo dos anos, Mulan não percebeu quando parou de tecer; não percebeu quando a mãe a chamou para jantar e nem quando a irmã passou cabisbaixa para dentro de seu quarto, imersa na mesma dor que cada um dos Huan, com exceção do patriarca, se encontrava naquela noite.

A única coisa que Mulan conseguira se lembrar do momento em que o oficial bateu à sua porta até quando selou o cavalo e se despediu silenciosamente da família ao alvorecer, eram dos olhos tristes de Baekhyun. E foi para tentar apaziguar o sofrimento de seu irmão mais novo que ela tomou a decisão mais impulsiva de sua vida, uma decisão que a sentenciava a morte, independente do que acontecesse.

Com um último olhar sobre o ombro para a casa que tanto guardaria em suas memórias até o seu último suspiro, Hua Mulan segurou as rédeas de seu cavalo e sumiu de vista; caminhando direto para os braços da morte.

P.O.V Baekhyun

Com um manto cobrindo meus ombros, enquanto o frio do começo do alvorecer me atingia, vi meu pai olhar desolado para o vazio onde a espada da família jazia na noite anterior, polida cuidadosamente pelo mesmo em sua alegria de retornar a guerra.

Minha mãe, jogada no chão de terra batida, os soluços altos evidenciando que algo estava terrivelmente errado, foi a peça final para que eu compreendesse o que se sucedera.

Senti meu corpo, sempre debilitado e fraco, desfalecer momentaneamente, quase chegando de encontro ao chão, caso não fosse amparado nos últimos segundos por WeiWei, minha irmã mais velha.

_Ela não fez isso, WeiWei._falei encarando-a nos olhos, procurando uma resposta que desejava; procurando a mentira que tanto necessitava, mas que não existia.

WeiWei me abraçou delicadamente como resposta e, por mais que seu gesto tentasse passar conforto, ele teve o sentido inverso.

Desprendi-me de seu toque delicado e andei com cautela para o interior da casa. Meu olhar se deteve no tear e ali, imerso em um passado nada distante, vi a silhueta delicada e pequena de Mulan trabalhar com alegria.

Meu pai acharia que foi por ele que Mulan estava se sacrificando; minha irmã, que conhecia a vontade de Mulan de se desprender das amarras de uma vida cotidiana, acharia que ela fez aquilo por si mesma; minha mãe, que sempre julgava o espírito jocoso e rebelde de minha irmã, colocaria a culpa em sua necessidade de emoção; mas apenas eu saberia que nada daquilo teve peso na decisão de Mulan, porque se agora ela marchava para a guerra, não era por si ou por nosso pai, mas para me manter seguro; para ter certeza que eu estaria bem.

Forcei meus pés a caminharem e adentrei o velho quarto; eu não tinha tempo se quisesse alcança-la; se quisesse salvar Mulan de si mesma.

***

_Tem certeza disso?_foi a pergunta de Minseok, o garoto de aparência delicada que sempre sorria para todos, sem pedir nada em troca.

Estendi a pequena bolsinha de moedas em sua direção; economias de toda uma vida patética. Uma vida que estava fadada a mediocridade desde que nascera prematuramente.

_Sim._foi minha palavra final, enquanto ajeitava os últimos retoques de uma armadura pesada demais para meu tronco.

Minseok estava com o cenho franzido, enquanto me analisava quase tropeçar em meus próprios pés com a vestimenta extremamente trabalhada.

_Vou pegar sua montaria; espere um segundo._anunciou com um último suspiro, enquanto sumia dentro do velho estábulo e retornava, segundos depois, com um cavalo caramelo que parecia manso e veloz; algo perfeito para mim naquele momento.

Com um pouco de sacrifício, um maior do que eu imaginava me consumir, montei no cavalo e ajeitei a armadura, observando de cima Minseok me erguer uma espada simples, sem nenhum brasão, mas afiada o suficiente para decapitar inimigos.

_Você sabe que não viverá, não é, Baekhyun?

Sorri fraco; uma das grandes qualidades de Minseok era sempre ser extremamente sincero. Sua sinceridade era tanta que o tornara alvo de críticas no vilarejo, mas o pequeno Kim não parecia se importar com isso, pois continuava atirando palavras certeiras como facas na direção de qualquer um.

_Eu estou ciente disso.

_Sabe que não vai durar nem dois dias?_tornou a perguntar, parecendo querer frisar até o último segundo que aquela era a última oportunidade para que eu mudasse meus pensamentos; para que recuasse e esperasse a morte com havia feito durante meus dezenove anos: confortavelmente.

_Eu estou contando com isso._disse em tom brincalhão, embora a frase não estivesse muito longe da realidade.

Minseok respirou mais uma vez, parecendo contrariando ainda, mas ciente que nada que falasse me faria mudar de ideia.

_Fique bem, Baekhyun; que possa finalmente ter seu descanso merecido._a frase veio acompanhada de um sorriso pequeno e sem muita convicção, mas que desejava, claramente, o melhor a mim, mesmo que soubesse onde tudo acabaria.

Assenti e levantei as mãos em um adeus mudo, enquanto deixava o vilarejo sem olhar para trás.

***

O sol estava a pino e eu sentia o calor fazer com que meus pensamentos se tornassem nebulosos. Meu corpo, fraco como a casca que era, parecia prestes a sucumbir ao cansaço da longa jornada e do calor incomensurável, mas resisti. Naquele instante tudo que importava era Mulan. Ela tinha uma longa e, se os deuses permitissem, feliz vida pela frente. Deveria voltar à nossa casa e continuar em seu tear, cantarolando baixinho até que algum pretendente surgisse em nossa porta; um homem que realmente a merecesse e a fizesse feliz como deveria.

Pensar na possibilidade de minha irmã ao lado de alguém bom, sorrindo e aproveitando cada pequeno momento de sua vida, podendo gerar novas crianças e trata-las com todo o amor que eu sabia que ela possuía, era o que me mantinha ali em meio a semi-inconsciência de um cansaço doloroso.

Meu corpo estava fraco; nem toda a água que bebi durante o trajeto parecia ter tido efeito em meu organismo e eu podia sentir, ruidosamente, meus ossos frágeis estalarem em protesto. Olhei para minhas próprias mãos e testemunhei, pela primeira vez em dezenove anos, queimaduras causadas pelos raios solares, visíveis e grotescas, deixando a pele, que sempre fora pálida e doentia, áspera e mal cuidada.

Qualquer homem de meu vilarejo a se alistar teria concluído sua caminhada até ali em menos de um dia. Mas eu nunca poderia ser colocado no mesmo patamar de um rapaz de dezenove anos saudável e atlético, pronto para uma batalha sangrenta. Por ser mais lento do que os demais levei o dobro do tempo esperado e foi com uma carranca nada feliz de um dos soldados que fui mandado para a fila de recrutamento ao chegar.

Era irritante ver tantos homens ao meu redor sequer suspirarem em exaustão, quando eu parecia controlar minha respiração para não ser traído pelos meus próprios pulmões. Suas peles não estavam queimadas e hediondas, pelo contrário: estavam bronzeadas e saudáveis. Como se a cavalgada até o campo de recrutamento lhes tivesse sido boa para a própria saúde.

_Sobrenome?_ inqueriu o soldado à frente, olhando para o rapaz em pé à minha frente, sua expressão pesada parecendo não surtir efeito nenhum no outro.

_Do._respondeu sério, em  um único sopro.

O homem nem se deu ao trabalho de erguer a cabeça para encarar o outro, seus olhos estavam cravados no pergaminho que detinha em mãos e só nele. E eu soube o porquê: o Do, assim como eu mesmo, era apenas um dos muitos piões na mão do império. Nossa fisionomia, medos e anseios não significavam nada para aquele homem e nem para o imperador. Muitos homens se tornavam cegos pela ideia de pertencimento e de poder, mas eu não era um deles. Entendia que nada naquele lugar era bom; que vidas demais seriam ceifadas por motivo algum e, saber disso, me dava repulsa.

_Coloque isso junto a si e nunca a tire. Precisamos saber quem é quem._falou jogando uma pequena plaqueta de madeira nas mãos do outro que,  por reflexo, a segurou antes que caísse sob seus pés.

Espichei os olhos por sobre o ombro do outro e li, tão confuso quanto o tal Do, os caracteres de seu nome esculpidos na madeira limpa, enquanto uma corda fina se erguia de um dos lados da placa, formando uma espécie de identificação.

O tal Do se afastou sem mais nada dizer, mesmo que seus olhos pareciam questionar muitas e muitas coisas.

_Sobrenome?_perguntou novamente o homem, o tom estressado não tornando-se suave e nem elevando-se; apenas se mantendo na mesma linha.

_ Huan._falei por entre os dentes, implorando para que ele erguesse os olhos e me dissesse que outro Huan estava ali; que alguém já havia se apresentado.

Aquele era o campo de recrutamento mais próximo de nosso vilarejo; não haviam dúvidas que Mulan seguiria para lá, até porque o outro campo ficava ainda mais distante. Para chegar a tempo ela teria de correr o risco de cavalgar noite adentro e eu duvidava que Mulan não soubesse dos riscos que eram se embrenhar na escuridão da noite com tantos inimigos a solto.

Os segundos em que o homem, com a expressão não modificada um centímetro sequer, encarou o pergaminho foram os mais demorados de toda a minha existência.

Por fim, ele apenas imitou o gesto anterior, fazendo que algo dentro de mim se quebrasse, enquanto eu gritava em desespero no silêncio de meu próprio íntimo.

_ Coloque isso junto a si e nunca a tire. Precisamos saber quem é quem._a mesma frase, dita mecanicamente, só servira para deixar uma coisa clara: Mulan era mais esperta do que eu temia e, agora, estava fadada a morrer de qualquer forma, independente se no campo de batalha quanto descoberta pelos seus camaradas de tropa.

No fim das contas, toda a inutilidade que revestia minha vida não servira nem para aquilo: eu não tinha o poder de salvá-la; não mais.

Encarei a plaqueta de madeira entre meus dedos com firmeza, percebendo isso: no fim, éramos apenas um nome; uma identificação em meio ao massacre de corpos.

Prendi a madeira junto ao peito; dentro de minha armadura, sabendo que aquele pedaço pequeno e insignificante significava o fim de minha existência e, consequentemente, o da de Mulan.

***

Três semanas depois...

_Mais rápido!_berrava o capitão de pavio curto, enquanto não se apiedava com o peso que as toras de madeira faziam nos ombros dos soldados.

Arquejei quando ficou complicado de respirar devido ao cansaço máximo. Eu sabia que havia atingido meu limite, mas as ordens, sempre vindas de forma áspera e humilhante, me impediam de implorar piedade.

Mesmo que eu soubesse não possuir possibilidades de continuar com o treinamento forçado, ainda assim me recusava a desistir, mesmo que fosse o último a cumprir o treinamento do dia. Se havia uma coisa que Mulan e eu éramos iguais era no orgulho: perder sim, mas desistir: jamais.

Estava anoitecendo e já havíamos feito um circuito de trinta voltas; todos os homens estavam exaustos e o próprio capitão percebia aquilo, logo encerraria aquele dia, mas não enquanto o primeiro homem não caísse de joelhos; entregue totalmente ao cansaço.

Forcei minhas pernas a se arrastarem, sabendo que o olhar avaliativo do homem me censurava de longe, percebendo que, enquanto todos haviam cumprido todo o circuito, eu ainda estava na minha vigésima primeira volta; muito atrás daqueles que já almejavam o fim do dia.

_Tropa, descansar!_sua voz não precisou se elevar muito; os soldados já esperavam aquilo e, assim que ouviram, todos caíram com um baque sobre a terra batida; não parecendo se importarem com o quão mais puídas suas roupas ficariam de encontro direto com o solo.

Driblei a vontade de imitar meus camaradas de tropa. Eu não poderia mesmo se quisesse, não quando, mesmo ao fim da fala, o olhar pesado do capitão persistia sobre mim, alegando que, mesmo que suas palavras não fossem ditas, eu deveria continuar minha jornada até completar meu trajeto. Deveria agir como os demais soldados e não aproveitar a oportunidade.

Suspirei baixo, sentindo uma dor dilacerante que eu não fazia ideia de onde começava e onde acabava. Era complexo em um nível que jamais havia sentido. Mas o orgulho, queimando em minhas bochechas, falou mais alto que qualquer outra coisa.

O tempo se arrastou e vi meus colegas deixarem o campo de treinamento, olhando-me de soslaio, enquanto corriam para o riacho para banharem-se. Aos poucos, o céu se tornou negro, e o silêncio da noite reinou, enquanto eu completava minha vigésima nona volta, sabendo que alguns passos eram tudo que me separava da inconsciência certa.

_Soldado se apresentando!_o grito me sobressaltou, fazendo com que a tora em meus ombros quase caísse e me levasse consigo.

Surpreendendo-me com sua aparição repentina, vi o garoto moreno e de feições carregadas, correr até mim e me ajudar a sustentar o peso da tora.

Abri a boca para impedi-lo de continuar, mas a voz grave do capitão me cortou antes que eu o fizesse:

_Andem logo com isso._cuspiu as palavras, seu olhar cravado em mim como se pudesse me fulminar por completo.

Engoli em seco e aceitei a ajuda bem-vinda do Do, percebendo que suas roupas continuavam sujas e seu corpo encharcado de suor; diferente dos demais, o Do continuara no campo de treinamento, talvez por querer ver até onde eu aguentava ou, inusitadamente, por sentir pena de meu estado deplorável.

Menos de cinco minutos depois, um tempo recorde comparado ao que eu fazia sozinho, terminávamos o trajeto juntos; eu sentindo que desmaiaria a qualquer instante, enquanto o outro apenas parecia com a respiração levemente entrecortada.

A tora foi colocada no chão e continuei de pé, sendo avaliado pelos olhos perspicazes do capitão.

_Vão se lavar e comam algo. Amanhã temos um longo dia pela frente._diferente do que achei, o capitão não utilizou de sua voz de comando ou proferiu seus xingamentos casuais. Ele apenas nos deixou ali, enquanto caminhava para longe. Parecendo tão cansado quanto eu mesmo me sentia, embora tudo que fez fora ficar parado avaliando sua tropa.

Com o capitão ao longe, deixei que meu corpo fosse de encontro com a terra e senti o baque de ossos instantaneamente.

_Venha, você precisa se lavar._disse o outro, parecendo esgotado e sem paciência.

_Obrigado, mas você pode ir primeiro. Preciso de um tempo aqui._informei, vendo-o franzir o cenho, mas não discutir, se afastando a longas passadas em seguida.

Fechei os olhos ao sentir que estava só e, antes que eu pudesse controlar, meu corpo se impulsionou para frente e arqueou, tossindo uma dose significativa de líquido escarlate.

Esfreguei as costas da mão nos lábios e não me importei com o gosto de areia que os impregnou.

Eu estava fraco, desidratado e com a vida pendurada por um fio, mas quando minha cabeça tombou novamente no solo duro, meus olhos visualizando as estrelas acima de mim, a única coisa que senti foi remorso por não poder fazer nada; por não poder salvar Mulan.

***

Foram apenas alguns segundos; pelo menos eu jurava que haviam sido apenas alguns segundos, mas antes que eu me desse conta acordei sobressaltado, ainda estirado no campo de treinamento, enquanto o silvo das corujas indicavam que havia cochilado por tempo o suficiente para esquecer do mundo e adentrar a madrugada sem perceber.

Com os ossos doloridos e o corpo clamando apenas por descanso, me obriguei a ir de encontro ao riacho e deixar que a água límpida e gelada lavasse a crosta de sujeira que revestia cada centímetro de minha pele.

A noite estava fria e a água ainda mais, mas tudo que fiz foi ficar ali por longos minutos, enquanto observava a lua refletir em minha pele e indicar com sua luz opaca as escoriações que agora a cobriam.

Quando o frio tornou-se insuportável e meus dentes começaram a baterem uns nos outros, me ergui e voltei à margem, me vestindo sem pressa alguma, pois a rapidez exigia força e eu, naquele instante, tudo que não possuía era força.

Com os cabelos encharcados, pingando irrefreáveis, sentei nas pedras que cobriam a entrada do riacho, o sono dissipado por completo, mesmo que meu corpo insistisse em deixar claro sua exaustão.

Impedi que um grito ecoasse pela minha garganta quando, surpreendido, senti meus cabelos serem desalinhados por um par de mãos longas que enxugavam, com uma certa delicadeza, os fios ensopados.

Tentei me virar para ver o autor daquilo, mas ele repeliu meu gesto, ajeitando meus ombros em uma postura ereta, enquanto continuava seu trabalho.

Com os olhos arregalados e o corpo em atenção máxima, senti a terra sumir abaixo de meus pés quando a voz grossa e áspera do capitão se fez presente, me arrancando da realidade por segundos:

_Você tem uma batalha para participar, soldado. Como quer sobreviver se continuar tratando seu corpo com descaso?!_não era uma pergunta e, naquele segundo, não ousei abrir a boca para contradizê-lo.

Mesmo que eu pudesse distinguir o tom raivoso característico em sua fala, ainda assim seus gestos, enquanto secava meus cabelos com cuidado, não pareciam pertencer ao mesmo homem que passava o dia proferindo xingamentos e forçando cada homem a chegar no limite de seu próprio corpo.

Aos poucos, minha postura defensiva recuou; culpei a exaustão e o fato de ter alguém secando minhas madeixas para justificar o sentimento bom que golpeou-me.

Mesmo que em silêncio, enquanto só as estrelas serviam como testemunhas daquela personalidade completamente singular do capitão, não me senti incomodado, mesmo quando as mãos pararam abruptamente de trabalhar em meus fios e se afastaram, deixando um sensação boa e que, silenciosamente, rogava por mais.

Não me virei para encarar o capitão, sabia que se o fizesse ele se sentiria extremamente acanhado e, até mesmo, estressado com o agradecimento implícito que estampariam minhas íris, então, com um sorriso simples, enquanto continuava a observar a lua brilhar majestosamente no céu, soltei a única palavra que poderia, evitando deixa-lo duas vezes mais constrangido do que seu silêncio já denunciava estar:

_Obrigado.

Alguns segundos silenciosos se seguiram até que o homem, que ainda parecia se manter parado às minhas costas, quebrou-o com um pigarro; antes de seus passos se tornarem audíveis, anunciando sua partida.

Sozinho, os olhos ainda pregados no grande círculo de luz que se destacava no plano de fundo negro que era o céu noturno, deixei que meus lábios sorrissem para ninguém em específico, enquanto reviviam a sensação indescritível de sentir alguém tocar em meus cabelos com tanto cuidado e zelo.

Naquela noite eu não percebi o que estava acontecendo. Talvez o sono e o fato de estar estupefato demais para raciocinar direito tenham feito que nada fizesse sentido. Mas, nos dias que se seguiram e, consequentemente, os meses, eu pude dar significado a um gesto tão pequeno e simples, mas que fazia toda a diferença do mundo.

***

Duas semanas depois...

A neve havia começado a cair e o boato entre os soldados era que isso apenas serviria como obstáculo, mediante a emboscada que o General Park, pai do capitão, pretendia fazer à tropa inimiga dali algumas semanas.

Se comparado a cinco semanas antes, quando cheguei a primeira vez no campo de recrutamento, pode-se dizer que toda a animação dos soldados havia se dissipado por completo. O cansaço pelo treinamento árduo estava estampado em cada face, mas, se por um lado seus corpos reclamavam do trabalho excessivo, uma parte deles também percebia o quão tal treinamento havia feito a diferença em suas próprias táticas em campo.

Embora as palavras do capitão fossem sempre ásperas e ele, com frequência, tornasse pública qualquer tipo de escorregada que um dos soldados dessem, culminando em certas inimizades por parte dos mesmos, ainda assim ninguém podia negar que o trabalho que estava fazendo era exemplar e havia tornado homens sem nenhuma habilidade em verdadeiros soldados em tempo recorde.

Em momentos como aquele eu sentia que poderia realmente me orgulhar em pertencer àquele exército, caso não fosse minha incapacidade óbvia que ficava visível a cada dia.

_O que você tem, hein?_estávamos sentados em uma noite de inverno, aquecidos por um fogo medíocre no centro do acampamento, quando o silencioso Do Kyungsoo se sentou ao meu lado, sua pergunta e, principalmente, seus olhos curiosos, me pegando de surpresa.

Kyungsoo era quieto ao máximo e, mesmo após o episódio da tora, onde ele me ajudou silenciosamente a completar minha própria tarefa, nenhuma outra palavra havia sido trocada entre nós dois.

Ele parecia não querer se aproximar de ninguém naquele lugar e, de alguma forma, me vi simpatizando com ele por exatamente isso: Kyungsoo não queria aprofundar laços para depois ver a morte rompê-los em um só golpe.

Virei-me novamente para o fogo, deixando que seus olhos me analisassem; a ansiedade por uma resposta estampada naquelas órbitas negras.

_Faz diferença?_perguntei retórico, fugindo da resposta com afinco.

Ser incapacitado era uma coisa; saber que as pessoas sabiam da sua inutilidade era outra completamente diferente.

Eu não estava lidando com alguns amigos; eu estava lidando com soldados que confiavam um nos outros para não morrer em campo inimigo. Expor que eu era fraco e que meu treinamento era inválido, pois antes que eu pudesse levantar uma espada já estaria morto, era o mesmo que dizer que minha existência em auxilia-los era nula. E aquilo, mesmo para o mais compreensível dos soldados, era inadmissível. Todos queriam viver ali, confiar no seu camarada para lutar ao seu lado era a única chance de voltar dos campos de batalha com vida; eu não poderia ditar o óbvio e apagar qualquer esperança.

_Depende._fora sua resposta curta, enquanto ainda me avaliava inquiridor.

Sorri parcialmente com a sinceridade do outro; Kyungsoo sabia ser bem direto, ao que tudo indicava.

_Eu acho que não. Há uma fina linha que divide o que devemos revelar do que não devemos; e nesse segundo eu escolho apenas não dizer e evitar qualquer tipo de conflito._sussurrei sincero, enquanto via as labaredas instáveis lamberem a madeira preguiçosamente, divididas entre sucumbir a neve ou permanecer acesas.

_Acha mesmo que ninguém notou que você é mais fraco que os outros?_perguntou com um arquear dos lábios, o tom irônico preenchendo suas palavras.

Sorri igualmente sarcástico para Kyungsoo; ele tinha razão, mas não era por ter razão que eu lhe daria espaço:

_Não; pelo contrário: eles sabem que sou mais fraco. Mas é só isso: eu sou fraco. Não há provas que digam o contrário.

Kyungsoo direcionou seus olhos para o chão e sorriu, parecendo conversar internamente.

_Tem razão..._fora sua resposta, sendo seguida do primeiro sorriso amplo que eu já havia visto ganhar vida na face do Do.

Não pude evitar sorrir àquela gesto. Se Kyungsoo não queria formar raízes, eu diria que ele estava começando a sair do curso de seu objetivo central.

Meus olhos se desviaram dos de Kyungsoo para olharem as labaredas novamente, mas quando o fiz percebi um par de olhos silenciosos e confusos analisar-me de longe, sentado na outra extremidade da fogueira.

O capitão Park evitou me encarar depois daquela noite em que, como um fantasma, surgira das sombras e me tratara com uma delicadeza surpreendente em meio as suas mãos calejadas pelo trabalho físico. Desde então sua atenção só era direcionada à mim para esbravejar durante os treinamentos ou para humilhação em frente aos demais.

Eu não poderia o culpar por isso e nem poderia dizer que era o único a receber aquele tratamento; o capitão Park estava fazendo, mesmo que abaixo de gritos estridentes, seu trabalho. Embora humilhasse e ofendesse, sua única preocupação era que aprendêssemos o máximo e que, quando a guerra findasse, pudéssemos retornar aos nossos lares, sãos e salvos; agradecidos pelas centenas de vezes que tivemos de engolir o orgulho e abaixar a cabeça às suas ordens.

Sustentei o olhar de longe, mesmo pego de surpresa.

Mas o capitão, diferente do que imaginara, não desviara seus grandes olhos castanhos para longe; pelo contrário: ele parecia insistir em manter aquele pequeno contato. Como se me desafiasse a ceder à sua autoridade e desviar primeiro.

Como não o fiz, vi o capitão se erguer silenciosamente e com calma, ainda me encarando com firmeza. Antes de se virar, se afastando da roda de soldados que tentavam aliviar o frio na mediocridade de uma fogueira patética, o capitão me encarou por mais um período de tempo, antes de dar-me as costas e partir para longe; o cabo de sua espada, sempre colada ao corpo, sendo envolto em seus dedos, enquanto os mesmos se tornavam brancos a medida que ele descontava uma pressão desnecessária.

Gradativamente retornei à realidade, sentido, em espanto, meu coração correr uma maratona no peito; ensandecido demais para fazer sentido.

_Se afaste dele enquanto há tempo.

Olhei para o lado e pareci acordar para o fato de ainda estar na presença de Kyungsoo.

Levou alguns segundos até que suas palavras se formulassem em minha mente e eu pudesse questioná-las:

_Do que você está falando?

Os olhos de Kyungsoo, pregados no ponto onde o capitão sumira, se voltaram para mim abruptamente, se tornando sérios:

_Ele não é algo alcançável, Baekhyun. Apenas estou alertando-o antes que se machuque.

Franzi o cenho, atordoado com suas palavras.

_Ainda não o compreendo._tornei a falar, sendo o mais sincero que conseguia.

Kyungsoo soltou uma risada seca, desprovida de qualquer graça.

_Então você entenderá quando chegar a hora._alertou se levantando e se afastando para longe, deixando aquelas palavras rondando minha mente não apenas por horas, mas durante todos os dias que se seguiram.

***

Sete semanas depois...

Amanhã marcharíamos para junto do exército inimigo, antes que o mesmo atacasse a aldeia ao Norte, plano esse que havia chegado aos ouvidos do general Park e sido transportado por um mensageiro até o capitão.

Naquela noite, diferente das conversas paralelas que tornavam o dia mais suportável, ninguém falou. Todos estavam extremamente concentrados em seus próprios pensamentos, muito provavelmente fazendo preces silenciosas para que suas vidas fossem poupadas em campo de batalha.

O silêncio era desconfortável; era como se indicasse a aproximação da morte e aquilo, por mais esperado que fosse, estava me tirando os nervos.

Eu já havia aceitado que não duraria dois segundos em batalha; muito provavelmente seria morto antes que percebesse o que havia me atingido. Mas meus pensamentos não estavam em mim e em minha morte certa; Mulan estava no outro campo de treinamento e, assim como esse, também marchava para a batalha, mas ao Sul; se distanciando ainda mais de mim.

Aquela sensação desnorteadora de antecipar a morte, estava me deixando insano.

Mesmo que eu me sentisse mais fraco do que normal, ainda assim percebi que não conseguia ficar parado. Não havia calma em meus gestos e em minha inquietação; eu estava prestes a ruir de preocupação e não fazia ideia de como extravasar isso.

Rumei para longe de todos; desejando ar puro para acalentar aquela sensação terrível que me golpeava gradativamente.

Quando dei por mim eu estava lá mais uma vez: em frente a margem do riacho, olhando para a mesma lua de semanas antes e desejando sentir a calma daquela mesma noite; embora eu desconfiasse que o lugar nada tivesse haver com uma suposta paz, mas sim a pessoa que estava lá naquele dia.

_Não deveria estar aqui.

Eu deveria ter me assustado com o tom áspero de sua voz; deveria ter sentido que não havia compassividade sendo dirigida à mim e, muito menos, deveria ter sentido meu corpo relaxar àquele som.

Mas eu não pude evitar: sua voz adentrou em minha alma como um bálsamo, tranquilizando-me por inteiro em questão de segundos.

Por mais que Mulan estivesse em meus pensamentos, ainda assim aquela voz abafava grande parte de minha preocupação; como confidenciasse que eu não estava sozinho em minha própria bolha de apreensão.

_Por que não?_perguntei, tomando uma coragem que sabia não possuir; a voz, mesmo baixa, saindo estável.

Vi o capitão Park endurecer a mandíbula, engolindo em seco uma única vez; seus olhos, um pouco camuflados pela franja que caia sobre os mesmos, tentavam se manter enigmáticos, mas pareciam cada vez mais fadados ao fracasso.

_Você deve voltar._disse, fugindo de minha resposta sem se importa com o fato de aquilo ser extremamente patético.

Fechei os punhos com força. Mesmo que estivesse me sentindo fraco e atordoado, percebi que não possuir uma resposta clara do capitão fazia com que uma carga de energia e adrenalina brincassem em meu ser; criando uma fortaleza que eu jamais imaginei possuir.

_E se eu não quiser voltar?_questionei com o queixo erguido; os olhos sustentando seu olhar duro sem medo, implicitamente implorando para que ele me respondesse à altura.

Em um único gesto o capitão desembainhou sua espada, pressionando-a em minha garganta; seus olhos ameaçadores deixando claro que não estava para brincadeira.

_Vou ter que lhe obrigar a voltar, seja por bem ou por mal._esclareceu em um fio de voz, sua respiração entrecortada não se assemelhando em nada a calma que, estranhamente, pareceu tomar conta de mim.

WeiWei já havia se apaixonado uma vez, mas sua decepção veio meses após essa descoberta. Minha irmã mais velha, depois de se ver pega na armadilha de um coração partido, enclausurou-se em nossa casa e jamais quis colocar seu coração em jogo novamente.

Mulan, por outro lado, era metódica e, por mais que atraísse olhares e sorrisos de todos os homens do vilarejo, jamais se empenhou em desejar a atenção de qualquer um deles. Ela ansiava ser livre e seguir sem medo; mesmo, embora, eu soubesse que estava apenas esperando a pessoa certa adentrar em sua vida e mudar tudo em questão de segundos.

Meus pais não falavam muito sobre sua relação no passado, porque havia sido algo superficial e arranjado: a união de duas pessoas que não se conheciam, tendo como ponte os pais e apenas isso. Não pode-se dizer que a relação deles era ruim, mas não havia o brilho do amor que vi WeiWei sentir, mesmo que passageiramente, em seus olhos.

Então aceitei, principalmente depois de crescido, que não viveria o suficiente para me apaixonar por alguma moça da aldeia. As poucas que eu conhecia evitavam se aproximar, pois, mesmo que dito em voz baixa, eu sabia que todos ali me chamavam de vergonha para os Huan e, verdadeiramente, eu não os julgava por isso, afinal: quem gostaria de ter um fracassado como marido e, principalmente, um que estava fadado a ter pouco tempo de vida?!

Dessa forma apenas percebi que eu deveria aceitar meu destino e não desejar mais do que tinha; deveria aceitar o pouco que ainda possuía e viver o resto dos meus dias de migalhas.

Mas não agora; não quando eu encarava seus olhos e percebia o que Kyungsoo prevera antecipadamente e eu, tolo, não percebera de antemão.

Era errado aquele sentimento?

Sim; muito. A resposta à essa perguntava estava estampada no olhar duro do capitão e em meu próprio.

Sabíamos que era errado e aquilo era o que nos detinha; era aquilo que agora fazia a espada dele ser pressionada em minha garganta, fria e mordaz; crente que deveria fazer o serviço completo se eu insistisse no contrário.

Pensei em Mulan e no quanto eu me odiava por saber que ela estava em perigo; por saber que, nesse instante, ela se sentia extremamente miserável no meio de algo que lhe era tão diferente de seu tear e a tranquilidade de nossa aldeia.

Mas, pela primeira vez, também pensei em mim e no quão pouco eu era útil para quem quer que fosse. Por mais que negasse o contrário, eu não poderia brecar nada. O destino estava lançado e eu era apenas uma peça no tabuleiro da vida.

Foi com essa certeza, a de que meu fim estava próximo e que eu deveria fazer o possível e o impossível pelas horas, minutos ou segundos que me restavam, que dei um passo para frente, vendo os olhos do capitão Park se arregalarem, enquanto a espada fora pressionada mais profundamente em minha pele, fazendo com que um filete de sangue começasse a trilhar o caminho despudoradamente; incitando o outro a terminar o serviço.

_Eu não tenho mais nada a perder, capitão._falei sincero, sentindo lágrimas, até então despercebidas, banharem meu rosto, enquanto encarava a morte nos olhos dele e via apenas a resolução dela explícita.

Dei mais um passo e senti o desconforto da lâmina adentrar ainda mais o tecido de minha garganta, mas não me importei; aquela dor ela mínima comparada aos anos que convivi com a mesma.

_O que está tentando provar?_urrou o outro, a mão no cabo da espada tremendo minimamente, enquanto parecia perder a compostura de outrora.

_Tomando coragem antes que amanhã seja tarde demais._as palavras escoaram de meus lábios vindas direto da alma: reais e verdadeiras em todos os sentidos.

A lâmina se tornou mais funda e, antes que eu percebesse, já libertava meu pescoço de sua frieza, caindo com um baque no chão ao meu lado, enquanto o capitão Park encurtava a distância até mim e, parecendo movido pela urgência, tomava meus lábios num beijo cheio de volúpia.

Suas mãos calejadas passearam pelo meu rosto como se alisasse uma escultura preciosa, enquanto seus lábios, destonando completamente da delicadeza de suas mãos, trabalhavam com necessidade sobre os meus; saciando uma vontade reprimida que impregnava ambos.

Ao findar do beijo senti o capitão beijar cada parte de meu rosto, desde as têmporas até o queijo, seus beijos se tornando castos conforme trilhava-os.

Senti seus lábios repousarem em minha testa e ali permanecerem, enquanto ambos nos recuperávamos da sensação indescritível que revestia cada célula de nossos corpos.

Se um dia eu me senti fraco, nada se comparava ao presente momento.

O capitão Park, percebendo o bambear de minhas próprias pernas, ergueu-me em seus braços e acomodou-me sobre uma pedra, ajoelhado à minha frente; os olhos preocupados verificando se eu estava bem.

_Não se preocupe..._garanti, juntando o pouco de fôlego que detinha para formular a frase.

Sua expressão estava vincada pela preocupação óbvia, enquanto levava uma das mãos até meu pescoço e pressionava-a ali, interrompendo o fluxo de sangue.

_Me desculpe..._sussurrou, parecendo incomodado pelo estrago que havia feito.

Sorri fraco; imaginei que o perdoaria mesmo que a situação tivesse chegado aos extremos, pois já era tarde demais para não perceber o que estava acontecendo entre nós dois.

_Sempre._foi minha resposta, enquanto encarava aqueles olhos profundos que sempre fingiam não dizer nada, mas que, naquele instante, se tornavam transparentes como água.

E, em um silêncio tão bom quanto o primeiro que compartilhamos, continuamos assim por um bom tempo, até que a marcha soasse e nos lembrasse que longe de toda aquela magia existia uma outra realidade, uma realidade cruel e que descartava a possibilidade de um final feliz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Me digam o que acharam.
Ficarei feliz em compartilhar o surto com cada um de vocês kkk
Beijos e até mais com a segunda parte ;*


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