História The Key - Stranger Things - Capítulo 03

Joyce desceu as escadas indo diretamente ao porão. Apesar dos momentos que havia passo ao lado de Hop, não deixava de ser incomum para ela receber ligações do delegado, ainda mais quando o assunto se tratava de Will.

Seu filho estava sentado no sofá conversando com o Professor Clarke, os dois pareciam realmente entretidos no bate-papo.

- Hey Joyce. - Hopper a cumprimentou, estudando-a.

- Hop, pode me explicar o que está acontecendo aqui? - Ela sorriu, sem graça.

- Aparentemente, seu filho tem que ser examinado, há uma chance dele ter contraído uma doença no mundo invertido.

- Como assim?

- Will nos contou a pouco que vem vomitando vermes, além de se sentir de volta aquele lugar.

- Ele não tinha me dito isso.

- Provavelmente para não assustá-la. - Ela observou seu filho ternamente, mesmo doente, Will deixava de cuidar de seu próprio bem estar para não alarmá-la. Se não fosse perigoso seria uma graça.

- Mãe - Ao se dar conta da presença de sua mãe, will correu até ela, abraçando-a - Veio falar com Mike?

- Falar com Mike? - Arqueou sua sobrancelha.

- Sim, Mike está um pouco deprimido e os meninos acham que você pode ajudá-lo a se alegrar.

- Não foi para isso que vim mas, não vejo problema em ajudar. - Joyce deu um meio sorriso ao filho, em seguida, caminhou até Mike, sentando-se ao seu lado.

- O que dói exatamente? - Mike a encarou - Não se preocupe, eu vou buscar entender o que você for me dizer, sem nenhum julgamento. - Ele suspiro.

- Não sei, é só que, antes disseram que ela havia morrido e eu estava lá, assisti seu sacrifício para nos salvar, ela nem sequer me deu oportunidade de salvá-la, me senti impotente. Agora estão dizendo que ela pode perder a consciência e sofrer uma mutação virando um novo Demogorgon. Tudo que queria era trazê-la de volta para casa em segurança e cumprir a promessa que eu e ela tínhamos feito, só que cada minuto que passa parece algo tão distante. - Ele abraçou os próprios joelhos, evitando olhá-la nos olhos.

- No pouco tempo em que estive com ela, pude notar o quão forte ela é. Tenho certeza que ela irá lutar contra isso até onde conseguir aguentar, e nesse período de tempo nós estaremos aqui, te ajudando a resgatá-la. Iremos trazê-la de volta, ok? - Mike assentiu, abraçando ainda mais forte seus joelho. Joyce afagou seus cabelos ternamente.

- Cara ele está numa foça tremenda - Dustin cochichou.

- Tudo por conta da esquisitona. - Lucas suspirou, revirando os olhos.

- Vocês acham mesmo que a Eleven pode virar um novo monstro? - Will juntou-se a eles.

- Se virar, temos que ter cuidado, ela tem superpoderes, pode ser ainda pior.

- Eles vieram até aqui mas nenhum deles sugeriu um plano - Dustin apontou sutilmente para Hopper e o Prof. Clarke que conversavam furtivamente em um canto - Enquanto estamos aqui, o tempo está passando para a Eleven.

Um grito vindo do supercomm fez com que todos no porão se sobressaltassem assustados, outros gritos vieram em seguida, um mais agoniante e intenso que o outro.

Mike correu até a cabana, tomando seu supercomm em mãos. Era ela.

- El? Sou eu, Mike! Por favor se acalme, estamos indo salvar você - Outro grito foi ouvido, fazendo-o tapar seus ouvidos - Eleven, por favor, fique calma.

- Mike...

- Isso, sou eu, você está bem? - Todos na sala mantinham os olhos presos em Mike e seu supercomm, prestando atenção em tudo que falavam.

- Dói - Sua voz falhou.

- Você está machucada?

- Sim.

- Vamos tirar você daí, entendeu? Nós vamos te salvar. - Ele tentou sorrir, mesmo sabendo que El não poderia ver.

- Depressa - Um ruído veio em seguida e depois dele, El não falara mais nada.

- Nós temos que ir logo! - Mike gritou, ainda com o aparelho em mãos - Vocês viram? Está começando a ferir ela.

- Mike, eu estava dando uma olhada no que sei sobre dimenções alternativas e sobre a chance de irmos lá sem alterar o andamento do espaço e tempo, e foi quando segui uma linha de raciocínio que percebi algo. Vejam bem - ele virou-se para todos - Existem várias dimenções por ai, e ficou claro desde o começo que sua amiga não deveria ter feito contato com o monstro, isso fez com que houvesse uma explosão de energia não humana, abrindo esse portal. Estive esse tempo todo pensando em um porque do portal ainda estar aberto sendo que a criatura está morta, foi quando lembrei que os experimentos do governo fizeram mexeram não só com o espaço mas também com o tempo.

- O que isso quer dizer professor? - Joyce o questionou.

- É como se tudo o que está acontecendo agora, já tivesse acontecido antes. Hawkins do mundo invertido provavelmente, é Hawkins no futuro.

- O quê?

- Vejam bem, Hopper me disse que só existe um monstro, e se El fosse esse monstro? E se com o tempo ela se tornasse o Demogorgon?

- Sem chance! - Mike gritou.

- Calma Mike - Clarke tentou acalmá-lo, sem sucesso - O melhor que temos a fazer agora é vocês irem dormir enquanto levamos Will para ser examinado, logo cedo vamos até o portal, ok?

- Mas...

- Isso não é algo que vai acontecer do dia pra noite.

- Já tem 2 meses que ela está lá - Ele bufou.

- E só agora ela começou a ser atingida. Vão se deitar, ok? - Clarke falou ainda demostrando uma falsa calma - Will, vamos até um hospital.

Joyce caminhou até o filho pegando em sua mão, logo depois seguiu Clarke, subindo as escadas. Hopper estava prestes a subir também mas parou olhando fixamente para os meninos.

- Não ousem sair daqui para darem uma de detetive a uma hora dessas. Irei avisar para sua mãe ficar de olho em você e, caso saiam, amanhã não poderão ir conosco até o portal. Entenderam? - Hopper saiu antes de ouvir as reclamações dos meninos.

- Filho da mãe. - Mike revirou os olhos.

- O jeito é realmente irmos dormir. - Lucas tentou sorrir.

- Onde você estava? - Karen cruzou os braços a altura de seu peito. Nancy gaguejou.

- Fui dar uma volta.

- Custava ter me avisado? Fiquei procurando feito uma louca por você.

- Precisava pensar um pouco. Sabe, ainda sinto falta de Barb. - Karen suspirou.

- Sei que é difícil aceitar tudo o que aconteceu querida, mas quando você some fico angustiada pensando no pior. - A expressão de Karen suavizou.

- Desculpe.

- Tudo bem. Bom, o delegado Hopper veio até nossa casa conversar com os meninos, ele me pediu para te chamar mas quando cheguei, ele já não estava aqui. Que tal ir falar com os garotos? Eles podem ter algum recado para você.

- Certo. - Nancy sorriu para a mãe, ao se virar de costas deu um suspiro demorado seguindo em direção ao porão. Ao chegar lá, encontrou a todos dormindo, menos seu irmão.

- Mike?

- Oh, olá Nancy.

- O que está fazendo acordado?

- Não consigo dormir. - Mike deu um meio sorriso.

- Quando foi com Barb, senti a mesma coisa. - Nancy se aproximou, sentando ao seu lado.

- A diferença é que talvez Eleven seja o Demogorgon e simplesmente tenho que esperar.

- Como assim? - Mike contou para Nancy toda a teoria montada do prof. Clarke, não esquecendo os detalhes de quando falou com el pelo supercomm e quando Will conversou pessoalmente com ela.

- Eu sinto muito.

- Agora tenho que ficar aqui, esperando até amanhã para poder fazer algo.

- Que tal dormir um pouco? Você não vai ajudar muito amanhã se estiver indisposto. - Mike encarou a irmã por alguns instantes.

- Tudo bem - Ele caminhou até a cabana de El, onde deitou-se observando Nancy sair aos poucos.

- Boa noite Mike. - Ela sorriu.

- Boa noite Nancy.

Will deitou-se virado para cima, enquanto observava um doutor preparar o equipamento para tirar um raio-x de seu tórax. O homem se aproximou de Will, sorrindo por de baixo da máscara.

- Não precisa ficar nervoso, prometo que será bem rápido. Só preciso que me conte o que está sentindo.

- Agora nada.

- Algo em você dói? - Will balançou a cabeça negativamente. O doutor flexionou o tórax de Will aguardando por sua reação -  E agora?

- Continuo não sentindo nada.

- Vamos tirar um raio-x seu e talvez uma radiografia também, não se preocupe nada irá doer. - Will assentiu.

O homem puxou o equipamento até que o mesmo ficasse posicionado sobre o peito de Will.

Joyce observava atentamente a tudo num canto do consultório ao lado de Hopper e Clarke.

- O que acham que pode ser? - Joyce os questionou.

- Talvez tenha sido infectado no mundo invertido.

- Isso pode matá-lo?

- Não faço ideia.

Hopper apertou o ombro de Joyce, buscando reconfortá-la.

- Ele vai ficar bem.

- É o que espero.

Mike se viu caminhando em um lugar escuro, não havia nada a sua volta.

Olhando para o chão era possivel ver ele mesmo refletido de forma embaçada, quase como se estivesse andando sobre um mar negro.

Ouvia o barulho de gotas de água caindo, ficava cada vez mais alto a medida que ele andava. Logo a frente, podia ver um vulto negro caminhando de um lado para o outro de forma impaciente e, um pouco mais distante. El deitada no chão, encolhida.

Mike não pensou duas vezes antes de correr até ela, ignorando por completo o vulto escuro que flutuava para lá e para cá, parecendo querer pegá-la.

Quando enfim chegou junto de Eleven, notou que sua pele estava toda marcada, com bolhas e feridas, quase como se seu tecido de pele estivesse derretendo aos poucos. Ele agachou-se pegando em sua mão, ficando de joelhos ao seu lado.

- Mike?

- El - Ele tinha uma vontade imensa de chorar, não tinha a minima ideia do que falar ou de como ajudá-la- Isso é um sonho ou você que conseguiu fazer isso? - Ela apontou para si mesma - Por que não fez isso antes?  Eu poderia ter pedido ajuda, não sei.

- Fome.

- Você está fraca - Ele suspirou - Me desculpe. Só me sinto impotente por não saber como te ajudar.

- Homens ruins.

- Homens ruins? Eles podem tirar você daqui? - El assentiu - Como?

A figura de Eleven então, começou a virar uma espécie de vapor e Mike se viu acordando aos poucos.

- Hey, Mike - Lucas o chacoalhava - Acorda cara. - Ele abriu seus olhos suavemente, até que a figura de seu amigo entrasse em foco.

- Lucas.

- É, sou eu. O professor nos ligou, temos que ir até o hospital.

- Lucas.

- Sim?

- Eu a vi, estava toda machucada.

- Viu quem?

- A El.

- Espera, você viu a Eleven? - Dustin levantou-se, se aproximando dos amigos.

- Vi, tinha algo flutuando em volta dela, algo sombrio.

- Temos que contar isso para o Professor.

O doutor sentou-se, fazendo menção para que Joyce, Hopper e Clarke se sentassem também.

- E então doutor?

- Não apareceu nada, tanto no raio-x quanto na radiografia.

- Isso é bom ou ruim? - Joyce puxou sua cadeira mais pra frente, acomodando-se.

- Ruim. Se ele está mesmo vomitando lesmas como ele diz e não conseguimos encontrar, dificulta para o tratamento. Como vamos tratar algo se não podemos ver?

- E o que tem em mente? - Hopper arqueou uma de suas sobrancelhas.

- Algum remédio que o faça vomitar, talvez ele vomitando tudo o que está supostamente dentro dele, dê um fim no problema.

- Ele vai poder voltar para casa comigo? - Joyce deslizou as mãos pelo cabelo, nervosa.

- Sim, no entato quero que entre em contato comigo imediatamente caso algo maior aconteça. - Joyce assentiu.

As crianças entraram receosas na sala de espera acompanhadas de Nancy. Mike ainda se sentia nervoso pelo suposto sonho que tivera na noite passada. A imagem de El deitada no chão com a pele cheia de bolhas lhe causava arrepios internos.

- Cadê o professor Clarke?

- Não faço ideia - Lucas acomodou-se numa das cadeiras.

- Será que encontraram algo no Will?

- Algo do tipo...? - Mike juntou-se a Lucas.

- Não sei, uma nova lesma. - Dustin suspirou.

- Arg. Que nojo. - Lucas fez uma careta azeda.

- Espero que ele melhore logo.

- Eu também - Mike concluiu.

El se contorseu debatendo-se algumas vezes. Sua pele estava ardendo derrerendo ao poucos, a ponto de sangrar.

Sua mente continuava sussurrando-lhe coisas, coisas que ela não queria fazer.

Eleven estava numa luta interna contra si mesma, entre a parte que a mandava matar para comer e a outra que à dizia que Mike viria buscá-la e tudo acabaria bem.

Ela gritou, a dor era insuportável, não sabia se aguentaria aquilo por mais tempo. No mundo real, ainda podia usar seus poderes para conseguir comida e até se livrar do perigo, mas ali, naquele lugar, seus poderes eram inúteis e ela simplesmente não podia fazer nada além de esperar.

- Bom dia meninos - Clarke sorriu.

- Bom dia - Disseram em uníssono.

- Vamos aguardar o Will tomar alguns medicamentos e depois seguiremos até o departamento de energia, tudo bem?

- Por mim tudo bem.

Aproximadamente 30 minutos se passaram e os meninos continuavam aguardando na sala de espera. Clarke continuava calmo, Dustin e Lucas cochilaram um por cima do outro, já Mike, observava fixamente um ponto da sala, pensando em tudo e em nada ao mesmo tempo.

- Ela se tornou uma boa amiga para você, não é? - Clarke perguntou, sem encará-lo. Mike apenas assentiu - Você deve ter ciência que de certa forma ela é perigosa. Estar próximo à ela, é um risco constante.

- El não me machucaria, pelo contrário, ela me salvou, ela nos salvou.

- Eu entendo Mike, mas você não acha que o melhor para ela, seria um lugar onde pudesse aprender a lidar consigo mesma? - Mike permaneceu em silêncio.

Joyce e Hopper saíram de uma sala acompanhados de Will e o doutor que os atendeu a pouco. Will aparentava ser o mesmo de sempre.

- É hora de irmos. - Hopper continuou sério, apesar de tudo, estava nervoso.

- Will, Jonathan está vindo lhe buscar - Joyce sorriu, afagando os cabelos do filho.

- Mas mãe, eu quero ir junto.

- É perigoso, querido.

- Essa garota, ela nos salvou, é um pouco de ingratidão eu não ir.

- Will, obedeça sua mãe. - Hopper concluiu, exausto.

- Por favor, me deixem ir também. - Joyce suspirou.

- Tudo bem mas irei junto e quero você perto de mim o tempo todo - Will sorriu.

- Muito bem, hora de irmos até o departamento de energia. - Disse Hopper.