19 de fevereiro de 2017
||TaeHyung||
– Tae! – Escuto alguém gritar lá de baixo. Não respondo. Apenas continuo sentado em minha cama, no escuro de meu quarto, com as pernas flexionadas e cabeça enterrada entre as mesmas com meus braços em volta. Não queria ouvir a voz de ninguém que não fosse da Sophie dizendo que não vai mais embora – Tae! TaeHyung! – A pessoa havia chegado em minha porta, e batia na mesma freneticamente. Era Yoongi – Tae, por favor, diga alguma coisa!
– Todos nós estamos mal com isso, Tae, mas a vida continua! – NamJoon gritava também – Já se passou mais de uma semana, e você ainda não reage!
– Tae! – Agora era Kookie que gritava. Engulo em seco e tampo meus ouvidos – Tae, nós também amamos a So, mas infelizmente...
– Saem daqui! – Grito ainda com as mãos nos ouvidos.
Silêncio!
Todos ficam em um completo silêncio. Até que Jin se atreve a dizer.
– TaeHyung, estamos todos mal com isso, tenho certeza que ela também, mas... – eu sabia o que ele ia dizer, e as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto – a mãe dela é mais importante que tudo para ela – isso dói. Sei que é a mãe dela. Sei que ela era seu porto seguro, que ela a protegia com todas as forças e que é ela que lhe deu a vida, mas eu queria ser importante. Mais que isso, eu queria ser o mais importante. Eu precisava ser o mais importante para alguém, o número um, se não minha vida nunca mais faria sentido. Eu não tenho ninguém. Não tenho mais uma mãe para me acolher, um pai para me proteger. Sem a Sophie, resta apenas eu em meu mundo vazio e nublado.
– TaeHyung... – era HoSeok. Sua voz estava falha.
Fecho meus olhos e deixo mais lágrimas caírem. Aperto mais minhas mãos contra meus ouvidos e começo a gritar para que eles saem. Eu queria ficar só. Eu e os fantasmas que aqui me cercam, como sempre foi antes dela aparecer em minha vida.
***
– TaeHyung...
– KiHyun? – Levanto minha cabeça para procurá-lo em meio à escuridão, e lá estava ele, parado a minha frente. Grito!
– Tae... – Escuto a voz doce de HyeJin me chamar, olho para outra direção e lá estava ela com sangue em todo seu corpo, escorrendo pelo chão.
– Não. Não. Não! Não pode ser... Não pode ser... – Balanço a cabeça negativamente várias vezes e começo a gritar: – Saem daqui! Eu não preciso mais de vocês! Saem!
Corro em direção a janela aberta. Olho para fora de meu quarto, e vejo tal altura. De repente sinto alguém tocar meu ombro, era HyeJin, chorando. Minha respiração começa a ficar ainda mais descompassada, tento gritar, mas nada mais saia de minha garganta. Ela se aproxima cada vez mais, e KiHyun permanecia atrás dela. Seu olhar era maldoso, cruel. Ele sorria como se ele se divertisse com a situação. Começo a escutar risadas ecoarem pelo quarto, me fazendo dar mais um passo para trás e sentar na janela. Olho para as ruas de Seul e engulo em seco. Mais um pouco, e eu estaria lá embaixo.
– Seu assassino! Você o matou! – HyeJin corre até mim. Imediatamente protejo meu rosto com minhas mãos, mas nada acontece. Olho para frente e vejo que não havia ninguém.
– Tae... Você... Você é um assassino! – Escuto uma voz de choro atrás de mim. Uma voz familiar, seguida por soluços. Olho para trás e vejo Sophie chorando do lado de fora.
– Sophie, não... Eu não...
– Você o matou! – HyeJin aparece ao lado dela gritando com raiva.
– Tae... – Sophie estende as mãos para mim, com lágrimas nos olhos. Estendo minhas mãos em sua direção, para fora da janela tentando alcançá-la, mas a mesma se afasta aos poucos enquanto sumia. Grito seu nome e jogo todo o peso do meu corpo para frente, mas algo me impede de seguir janela a baixo.
||Sophie||
– Mãe! – Corro até ela e a abraço com cuidado. Passara uma semana e três dias que eu havia voltado para o Canadá. Minha mãe estava em coma quando cheguei, mas nada muito sério, como diz o médico, pois ela iria acordar logo. Parece que meu pai havia passado da conta com ela, e quase a matou. Felizmente, hoje mais cedo ela havia aberto os olhos pela primeira vez, fazendo um sorriso surgir em mim após dias de choro.
– Filha...você... – falava com dificuldade.
– Não diga nada, omma, apenas descanse. – sorri.
– Você...me...chamou...de...
– Não se esforce! – Fiz com que ela se deitasse e ajeito sua cama – Desculpe, acabei me acostumando com isso de omma. Significa mãe! Lá onde eu ficava vivia chamando o Jin de omma – sorri – quer que eu te conte como foi esse tempo todo que passei lá? Assim você não fala, apenas escuta. Precisa descansar, omma.
– Ok... – sorriu.
– Então, você não vai acreditar! Eu me perdi na Coreia...
Contei absolutamente tudo. Ela parecia preocupada as vezes, mas logo tratei de desfazer tal preocupação. Na maioria das vezes, ela sorria e ria com um pouco de esforço. Tossia algumas vezes, mas ela estava bem, e feliz por eu estar aparentemente bem também. Mas ela me parecia incomodada com algo, só não conseguia falar.
Por fim, ajeitei ela na cama e comecei a cantar. O mais incrível é que eu não consegui cantar outra coisa que não seja Kpop. Claro que eu ficava só na base do "nanana" em ritmo da música, pois não falo coreano, mas foi o suficiente para adormecê-la. Sorrio.
– Voz bonita! – Me assusto e olho para traz. Era o senhor Harden...
– Voz bonita! – pulo de susto ao escutar uma voz extremamente grossa atrás de mim. Me viro para confirmar que era ele, e logo o vejo rindo – Não sabia que você cantava – Tae me olha admirado.
– E não canto. – digo seca tentando esconder minha vergonha e me viro para continuar com meu serviço na cozinha.
– O que está preparando para nós?
– Para mim, você quer dizer, né? O que você está fazendo aqui a essa hora? Está cedo, são duas da tarde ainda!
– Fui liberado mais cedo hoje, aconteceu algumas coisas lá, e dessa vez não tem nada a ver comigo! – sorriu satisfeito.
– Nossa, parabéns! – fui irônica.
– Que música você estava cantando? Eu não conheço.
– How Do You Love Someone da Porcelain Black, minha cantora favorita! – sorri – Uma artista desconhecida, mas que eu amo!
– Legal, se é assim, irei pesquisar mais tarde! Adoro procurar por artistas desconhecidos. Há muita gente brilhante por aí sem ter o talento reconhecido. – sorriu – Você pretende cantar profissionalmente?
– Não, quero ser escritora!
– Wow, que legal! Menina inteligente, gringa, e bonita, ótimo partido! – piscou para mim, fazendo-me rir.
– Ai meu Deus, você e suas cantadas idiotas.
– Na verdade, só estava tentando prolongar o assunto, mas também pode ver dessa forma se achar melhor – sorriu galanteador.
Começo a rir sozinha ao me lembrar daquele dia. Tae estava de ressaca e tinha saído mais cedo do trabalho. Mesmo passando mal, ele continuava com suas brincadeiras idiotas.
– Para quem não estava se sentindo bem na Coreia, você até que...
– Para! – Ri – confesso que me adaptei lá e... – Abaixei a cabeça – esquece. É só uma música que ouvi lá. Nada demais. Sabe...aquelas músicas chatas que ficam na tua cabeça e não saem mais! – dou de ombros.
– Chatas, sei... – riu.
– Vamos lá para fora? Não quero acordá-la!
— Ok.
***
– Eu vi você conversando com ela... – diz ele ao chegarmos no corredor – você deveria ter ficado lá, Sophie.
– E deixar minha mãe aqui sozinha? Olha como ela está!
– Sophie, entenda, você estar aqui ou não, não irá resolver nada! Você não é uma heroína ou algo do tipo. Aprenda uma coisa: sua mãe quer te ver feliz e fora de perigo. Enquanto você estiver aqui com aquele cara à solta, ela não irá sossegar de preocupação! Você não pensa que isso é pior para ela não? Ficar pensando em você o tempo todo, preocupada? Ela precisa pensar nela também... – isso doeu. Ele tem razão — Entenda, você não é a mulher forte, Do Bong Soon. Não tem como você deter seu pai sozinha.
– Eu sou uma pedra no caminho da minha mãe... Merda! E aquele estúpido está à solta!
– Não sei se é boa ideia você ficar aqui o tempo todo. Pode estressar sua mãe a deixando preocupada. Como disse, ele está solto. Pode aparecer aqui de repente. Ele já deve saber que você voltou e... Ele está com muita raiva. Preciso fazer com você, o que não pude fazer com sua mãe.
– O que? – Pergunto com a voz falha. Engulo em seco.
– Te proteger...
— Eu sinto que devo lhe proteger!
— Me proteger? Mas me proteger de que? Eu sei me virar sozinho!
— Não é o que parece! Você muitas vezes cria um mundinho só teu e se isola. Não que isso vá me incomodar, mas é que sinto que esse mundinho do qual você cria, não é bom. Sinto que esse mundo é perigoso, solitário e triste. Isso não é bom pra ninguém, Tae...
— E por que se importa?
— Não sei, eu ainda não sei! — falo já nervosa — Eu apenas me preocupo com você!
— Nunca ninguém me conheceu tanto assim em tão pouco tempo... — fecho meus olhos — Eu tentei me afastar no começo, mas mesmo assim, você conseguiu abrir as portas para o meu mundo e foi se aproximando cada vez mais.
— Por que se afastar? Pra ficar sozinho? Qual é a graça disso? — digo já de olhos abertos o encarando.
— Sozinho, eu protejo as pessoas de mim mesmo. — fico surpresa com suas palavras e olho profundamente em seus olhos.
— Por que proteger as pessoas de você, Tae? Pra que se isolar se você é um cara incrível? Olha o jeito que você tratou a menina hoje mais cedo? E a forma que você me tratou e me ajudou... você é um cara bom, doce, brincalhão, pra que isso?
— Você não me conhece, Sophie!
— Então me deixa entrar mais em seu mundo? Deixa eu passar pela porta que abri? Deixa eu te conhecer melhor?
— Mas...eu não quero que você sofra. — respirou fundo — Meu mundo pode ser perigoso para você e não sei se posso te proteger de mim mesmo!
— E quem vai te proteger? — ele me encara sem palavras e eu apenas o abraço — Eu te protejo! Não vou te deixar sozinho...
— Tae... — deixo escapar seu nome em um leve sussurro, ao me lembrar de minha promessa não cumprida, e logo lagrimas escorrem pelo meu rosto — Como será que você está nesse momento...?
— O que? — senhor Harden pergunta confuso, me fazendo despertar.
— Nada. — digo após limpar minhas lagrimas e forçar um sorriso. — Vamos voltar para o quarto. Minha mãe deve estar sentindo nossa falta — sorrio mais uma vez e caminho em direção ao quarto.
***
||TaeHyung||
– Me soltem! – grito me debatendo enquanto alguns homens desconhecidos me seguravam a força.
– Tae, por favor, colabora! Isso é para seu próprio bem – escuto a voz de NamJoon ao meu lado.
– Não, não é! Você me odeia, sempre me odiou! Você quer me ver no inferno, você fez isso comigo!
– Tae, do que você está falando? O Nam só está preocupado com suas atitudes como todos nós sempre tivemos! – Jin dizia com nervosismo aparente em sua voz.
– Eu só fiz o que deveria ter feito a muito tempo, Tae. Você não é normal. Você tem sérios problemas e precisa de tratamento.
– O que? Foi o KiHyun que disse isso? Você quer me matar também?
– Ele não está falando coisa com coisa. – Nam responde por fim.
– Tae... – HoSeok se aproxima.
– Sai! – Consigo soltar minhas mãos e pego na gola da camisa de Hope – seu traidor! – Sinto mãos a me envolver me segurando novamente – Sai! Me soltem! Não! Eu não quero morrer! Ele vai me matar! – Começo a me debater ainda mais. Sinto algo prendendo minhas mãos, depois todo meu corpo. Eu estava enrolado em um pano branco igual um maluco e não conseguiria me soltar mais – Não! Eu vou morrer! – Eles me levantam e colocam-me em uma maca – Eu quero morrer! Não, eu não quero... – grito ainda me debatendo. De repente sinto algo pontudo perfurar minha pele, e logo meu corpo amolece. Escuto risadas, e lá estava ele me olhando – KiHyun...
– Assassino! Eu vou te matar! – Tento gritar em resposta a ele, mas minha voz sai abafada. Começo a ficar tonto, tudo gira, inclusive meus olhos, e a última imagem que eu vejo é dela: Sophie.
– Miane... – minha cabeça tomba e tudo fica escuro. Apenas escuto as gritarias a minha volta e o desespero aparente na voz dos meus amigos.
Eu morri...
***
Abro meus olhos lentamente, mas logo os fecho pela claridade estonteante que se estabelecia no local. Tento coçar meus olhos, para me despertar e acostumar-me com a claridade, porém não conseguia. Estava preso. Abro novamente meus olhos, em seguida fecho novamente os apertando, e logo reabro os mesmos. Encaro o local e vejo que não havia mais nada além de um eterno branco. Abaixo meu olhar para minhas mãos e vejo que havia algo de metal prendendo meus pulsos na cama.
– Meu Deus, onde eu estou! – Arregalo os olhos e começo a me mexer descontroladamente tentando me soltar. Mas não conseguia nada além de dor em meus punhos – socorro! – grito – me tirem daqui!
Uma senhora vestida de branco entra desesperada seguida de dois caras que me seguram a força para que eu não me mexesse e logo sinto de novo aquela sensação de tontura, após ter minha pele perfurada.
***
– Ele está acordando... – escuto alguém dizer enquanto eu tentava abrir meus olhos – Tae... por favor, não grita, não tente me bater, não tente se bater, não faça nada. Se não eles vão te furar de novo com aquela agulha enorme! – Abro meus olhos lentamente e vejo HoSeok. Logo atrás dele estava Jimin com uma cara triste, e NamJoon conversando com uma mulher de branco.
– Onde estou? Por que estou com minhas mãos presas? Por que me sinto mal nesse lugar? – tento me segurar para não gritar, nem me debater para tentar sair.
– Você está em uma clínica, Tae. Está internado!
– O que? Não estou doente... Espera! Isso aqui por acaso é um hospício? Eu não sou maluco! – Aumento meu tom de voz já ficando nervoso. Sinto o olhar da mulher em mim, e logo tento me conter – O que eu estou fazendo aqui?
– Você teve um surto, Tae. Quase se jogou da janela. Ficou falando aqueles nomes estranhos de novo. Tentou bater no Hope, brigou com NamJoon e...– Jimin dizia nervoso.
– Eu fiz isso? – perguntei, espantado.
– Sim, fez... – suspiro e fecho meus olhos. Não acredito que tudo aquilo havia voltado.
– Tae, o que aconteceu com você para ficar assim? Quem são essas pessoas das quais você tanto fala? – HoSeok pergunta preocupado.
– TaeHyung! – NamJoon vem em nossa direção – Tudo bem?
– Acho que não, né?
– Tae, entenda que isso é para o seu próprio bem. Você tem alguns distúrbios psicóticos. Precisamos descobrir o que é isso. Você havia parado com os surtos, mas agora voltou ainda pior que antes. Você tentou se matar de novo! Precisa de tratamento.
– Eu não quero ficar aqui, hyung. Me tira daqui! – digo em lágrimas.
– Não posso... Me desculpe! – ele diz com uma voz falha e se retira do quarto.
– Tchau, Tae... – Jimin e HoSeok dizem ao mesmo tempo e saíram do meu quarto.
Suspiro e deixo as lágrimas escorrerem em meu rosto. Após alguns minutos, um homem alto também vestido de branco entra em meu quarto e sorri.
– Kim TaeHyung... Tudo bem?
– Não... – dou um meio sorriso.
– Foi o que eu pensei! TaeHyung, você sabe me dizer a quanto tempo anda tendo esses surtos?
– Há dois anos mais ou menos.
– Só dois anos? – Assenti – Entendi. Teve algum tipo de trauma antes dos surtos começarem? – Olhei para baixo e me encolhi – Pode se abrir comigo. Não sou uma pessoa ruim e tudo que você disser aqui, ficará só entre nós. – Olho para o lado – Olha, Tae, temos que descobrir a origem de seu problema, já que é evidente que isso não é um problema genético. – Suspira – Tudo bem, tudo em seu tempo, ok? Descanse e quando estiver pronto, estarei aqui para te ajudar. – Dito isso, ele sai me deixando em completa solidão.
***
20 de março de 2017
– Não podemos mantê-lo aqui.
– Mas...
– Eu sinto muito.
Se passaram um mês após eu ter sido internado. Esse "hospício" já havia se tornado minha moradia, porém, ninguém queria um "morador de rua" aqui.
A minha frente, NamJoon tentava convencer o médico de autorizar minha internação por mais tempo, enquanto eu ficava aqui deitado na cama observando toda a cena. É claro que, o médico não tem controle de nada. Ordens são ordens. Sendo assim, ele não poderia me autorizar a ficar sem pagar, além do fato de que eu não havia documentos meus e não queria e nem quero ficar aqui. Como o médico disse, eu sou maior de idade, ninguém pode me obrigar a nada. A menos que a situação seja extrema, mas mesmo assim, só meus pais poderiam autorizar a minha internação.
– Nós vamos agora? – pergunto ao ver NamJoon pegando minhas coisas.
– Sim... A enfermeira já está vindo.
– Olha, se não é o menino de sorriso lindo e quadrado sendo liberado! Feliz? – a enfermeira diz ao entrar e começa a me liberar da cama da qual me mantinham preso.
– Ele não está sendo "liberado" e sim expulso! É um absurdo isso, sendo que é evidente que ele precisa de internação.
– De qualquer forma, ele está melhor, não está? – Ela pergunta e eu assenti – Eu sinto muito, mas ordens são ordens. Não podemos interná-lo aqui sem documentos e...o pagamento. – Ela diz a última palavra com cuidado – Mas nosso querido Tae é um ótimo menino. É só ele tomar a medicação certa, que nada irá acontecer – sorriu simpática.
– Assim espero...
– Eu ainda estou aqui, parem de conversar sobre mim como se eu não estivesse. Não sou uma criança! – me levanto após ser libertado.
– Se ele tivesse cem por cento curado, não teriam o mantido preso.
– NamJoon, chega! – eu disse vendo que a enfermeira estava desconfortável – ela não tem culpa...
– Mianhae... Eu só obedeço ordens. Sinto muito! – Disse a senhora enfermeira, antes de se retirar.
***
– Tae! – Jimin grita ao me ver passar pela porta do hotel e pula em meu colo me derrubando no chão – Você chegou! Que saudades!
– Jimin... – digo com dificuldade – Você pesa. E muito. Assim você me mata!
– Ai, se eu te pego! Ai, ai, se eu te pego! — Hoseok começa a cantar e dançar aquela música brasileira extremamente famosa – Saudade, Mongtae! – Ele grita e se joga na gente.
– Socorro...
– Vem... – NamJoon começa a tirar um por um de cima de mim e me puxa – está na hora de sua medicação. Tem que tomar tudo certinho, ouviu? Jin, você me ajuda a controlar tudo!
– Ne! – responde.
– Eu não vou tomar porra nenhuma! – Grito furioso e corro para meu quarto.
"Eu não sou maluco!"
***
||Sophie||
Um mês havia se passado e minha mãe ainda permanecia naquele hospital. Senhor Harden achou melhor que fosse assim, alegando que lá ela estava protegida. Temíamos que meu pai aparecesse para fazer algum mal a nós duas, e por isso tentávamos manter o maior cuidado possível. Aqui, nada poderia acontecer, eu acho. Tem seguranças, médicos, pacientes, enfermeiras...câmeras. Ele não poderia fazer nada aqui, poderia?
Ela já estava curada, mas ainda tinha todo aquele trauma do ocorrido em sua cabeça. Infelizmente, com isso, ela não conseguia depor sem chorar, travar e ficar sem palavras. Era sempre a mesma coisa. O delegado ia lá interrogá-la, mas ela nunca conseguia falar. Sua respiração ficava descontrolada, seus batimentos ficavam descompassados. Logo os enfermeiros apareciam e mandavam todos irem embora para que eles injetassem um calmante nela. Era uma cena horrível de se ver, e era o que acontecia quase todo dia.
Fomos até minha "casa" em busca de mais provas, fotos dele, mas nada. Ele havia dado sumiço em tudo. Tentei caracterizar ele, para que pudessem desenhá-lo e começarem as buscas, mas eu simplesmente não conseguia. Nunca ficava como deveria ficar, o desenho nunca se parecia com ele. Infelizmente assim foi esse mês. Fomos à estaca zero.
Hoje, ao perceber que estávamos perdidos e sem chances, o senhor Harden pagou para que a estadia de minha mãe durasse por mais tempo no hospital e contratou mais seguranças para ficar por ali à espreita. Era incrível como ele fazia tudo para nos proteger. Acho que ele gosta dela e isso me faz ter esperanças. Sinto que um dia poderei ter uma família de verdade, como nunca tive... Ou será que tive?
Lembro dos meninos...
– Soph! – escuto senhor Harden me chamar.
– Sen... Oh, me desculpe. Serj! – Ri – E aí? Conseguiu?
– Sim, acho que podemos enrolar mais um pouco com ela aqui. – Ele desfaz o sorriso e me olha atentamente – O que houve? Você não me parece bem...
– Não é nada. Não precisa se preocupar.
– Como não, Sophie? É meu dever cuidar de você enquanto sua mãe não pode! – suspira – você está preocupada, né? Olha, eu já fiz tudo que podia. Calma, está tudo tranquilo. Tem seguranças até na porta do quarto dela!
– Não é isso... eu sei que ela está segura. Acho que se ela fosse para nossa casa, ou para sua, iria ser pior. Não duvido nada que ele nos seguisse. Algo me diz que ele está lá fora, atento a qualquer movimento.
– Eu não entendo... Por que uma pessoa faz isso? Qual é o prazer que ele sente em fazer uma maldade dessas? O que ela fez para ele? Não faz sentido!
– Não sei, acho que é por causa do passado deles, porque eu nasci...ou talvez ele só goste disso mesmo. Existe tantos caras covardes que gostam de bater em suas mulheres. – dou de ombros – eu só queria que não fosse com a gente – suspiro.
– Hey... – ele sorriu – não fique assim. Bom, tem outra coisa que está te incomodando... O que é, hein?
Sorri. Ele já me conhece tão bem...
– Sabe, queria que você fosse meu pai. Minha vida teria sido perfeita se fosse assim e minha mãe teria sido feliz. Está na cara que vocês se amam – sorrio para ele, que cora imediatamente – não fique com vergonha. Ninguém me contou nada ainda, mas já percebi.
– Queríamos esperar um pouco para contar e...não queríamos que ficasse triste, que achasse que sua mãe estava...
– Eu nunca pensaria nada do tipo. Meu pai merecia ser traído, ele não amava minha mãe, só fazia mal a ela! Serj, minha mãe merece ser feliz, e não existe jeito melhor que esse: ficar ao seu lado! – sorrio – ela merece um amor de verdade... – abaixo a cabeça lembrando dele.
TaeHyung nunca saiu de minha cabeça. Não posso evitar pensar como seria nossa vida juntos. Vejo minha mãe finalmente feliz ao lado de um cara incrível e me pergunto quando que poderei ser feliz ao lado do homem que eu amo também.
– E você?
– Hã? – pergunto sem entender.
– Você tem dezenove anos, não acredito que nunca se apaixonou por ninguém.
– Nunca me deixaram viver como uma adolescente normal, Harden! Eu nunca nem havia beijado alguém...
– Havia beijado? Então... – ele sorriu – Há alguém, não é? Lá na Coreia. Eu reparo seu olhar de vez em quando. Você fica suspirando pelos cantos, pensativa... e esse olhar tristinho? Sei que está feliz por sua mãe, mas sinto que também está triste por algo.
– É complicado...
– Filha? – escuto minha mãe me chamar, olho para sua cama e a vejo sorrindo para nós.
– Então você acordou, ham? Está muito tempo acordada?
– O suficiente para ver essa cena linda dos dois conversando como se fossem pai e filha. – sorriu – Sophie, eu ouvi...
– Vou deixar vocês a sós – senhor Harden disse enquanto se aproximava de minha mãe e beijava seu rosto. Em seguida, me beijava também e se retirava.
– Você encontrou alguém lá na Coreia, minha filha? Está apaixonada?
– Não... É que...
– Você não devia ter vindo. Você deveria ter ficado lá e ser feliz. Por que não me contou que tinha conhecido alguém? Que havia se apaixonado. Sabe o que é isso? Você nunca pôde se apaixonar por ninguém, Sophie! Você sempre ficou trancada em casa aturando seu pai e quando ia para escola ficava com medo de tudo e de todos. Pela primeira vez na vida, você se sentiu bem em algum lugar mesmo nas circunstâncias que se encontrava. Mesmo estando perdida num lugar desconhecido. Eu lembro a maneira que você me contou tudo o que aconteceu lá, o jeito que seus olhos brilharam a falar daqueles meninos. Você nunca teve amigos, Sophie, muito menos um amor. Deveria ter vivido isso.
– Eu nunca te deixaria...
– Pois devia! – ela grita, parecia revoltada – Chame o Serj, por favor.
– Mãe...
– Chama logo! – assenti.
Corri para fora do quarto com lágrimas em meus olhos. Nunca imaginei minha mãe falando comigo daquela maneira. Era assustador ver a pessoa da qual eu mais amava falando assim comigo.
Fungo e respiro fundo pronta para ir atrás do senhor Harden, mas sinto uma mão em meu ombro.
– Hey! – levo um susto e dou um pulo. Estava com medo. – Calma, sou eu. O que houve?
– Minha mãe está te chamando! – Digo para Serj, que me olha preocupado. Logo ele assente e seguimos para o quarto dela.
Chegamos no quarto e logo minha mãe me encara com um olhar triste. Em seguida, olha para ele com um olhar determinado, e diz:
– Quero que você mande a Sophie de volta para a Coreia, que é o lugar onde ela nunca deveria ter saído!
– Com que dinheiro, mãe? – cruzo os braços e a encaro com raiva – Eu não quero voltar lá!
– Ah, você quer sim! A única coisa que te prende aqui sou eu e a falta de dinheiro. Se não fosse por mim, você nem teria saído de lá! – Bufa – Você vai voltar para lá, que eu estou mandando. Eu estou bem, o Serj cuida de mim como ninguém. Então você vai voltar, sim!
– Com que dinheiro, mãe? – pergunto novamente, já em prantos.
– O Serj tem dinheiro, ele já havia me oferecido para isso, mas não quis aceitar.
– O que? – encaro Serj, perplexa.
– Eu aceito sua proposta, Serj, mas digo uma coisa, irei te devolver cada centavo quando eu puder. Eu sei que temos uma relação, mas isso não signi... – eu não podia ouvir o resto.
Imediatamente, saí correndo dali e fui em direção para rua. Me sento na calçada e começo a chorar sem conseguir evitar as lembranças...
– Garota, você quer morrer? – me pergunta ofegante.
–Eu...eu... – olho espantada para onde eu estava sentada.
–Aqui nós disputamos as ruas com os carros e as poucas calçadas com as motos, tem que ter cuidado!
– Eu não sabia...eu... – volto a olhar pra ele ainda pasma com tudo, mas mesmo assim, o reconheço – Espera! Você não é...?
– Sim, o menino que riu da sua cara...me desculpe? – ele parecia sincero, mas eu não conseguia falar nada, ainda estava assustada – prazer, meu nome é NamJoon; mas costumam me chamar de Rap Monster; mas também pode me chamar de Mon, se achar que mereço carinho.
Enxugo minhas lágrimas com minhas mãos e de repente sinto uma mão em meu ombro, me fazendo levantar enquanto terminava de enxugar as lágrimas. Não queria que ele me visse chorando.
– Serj, eu... – arregalo os olhos e sinto meu peito doer. Eu queria gritar, mas não conseguia.
– Achou mesmo que iria fugir de mim? – De repente sinto uma pancada em minha cabeça, e tudo escurece.
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