Os dias que se seguiram foram tranquilos, uma missão de escolta aqui e ali, mas nada digno de real preocupação. Eu estava ficando impaciente, queria que começássemos a agir, mas Rey e Luke não retornavam o contato da General. Era incrível e ao mesmo tempo bizarro saber que tínhamos uma fonte de conhecimento praticamente inesgotável e que só era acessível às pessoas que estavam praticamente extintas na galáxia.
Passei boa parte do tempo com Finn, nós andávamos o tempo todo juntos quando não estávamos em missão, por vezes eu era mandado para um extremo da galáxia e ele para o outro, o que resultava em dias sem nos vermos e quando nos víamos era simplesmente incrível e maravilhoso tudo porquê Finn era tudo isso e muito mais. Desenvolvemos o hábito de dormirmos juntos e, quando saía em missão e acordava sem ele ao meu lado parecia simplesmente errado.
Haviam vários comentários por toda a base sobre nossa situação, muitas pessoas mostravam apoio a nós, outras achavam absurdo, mas a maioria simplesmente não se importava, a quantidade de casais formados pela guerra absurda, acho que muitos procuram apenas conforto nos braços de alguém que gosta.
Demorou mais uns dias até que as coisas ficassem realmente tensas. Estávamos a mesa do café e os comunicadores no meu braço e no braço de Finn começaram a apitar, deveríamos nos reportar ao QG imediatamente, percebi uma movimentação por toda a base, a convocação havia sido geral. O que será que tinha acontecido? Eu e Finn nos olhamos.
Ao chegarmos a sala da General haviam muitas pessoas ali, o que me deixou um tanto quanto preocupado. O burburinho pela sala era insuportável e só aumentava o temor, o que será que essa guerra estava trazendo para nós agora? Eu olhava para Finn e ele olhava de volta para mim, ambos estávamos assustados, ele pegou em minha mão e esperamos a General se pronunciar.
- Silêncio, por favor – todo o barulho na sala cessou, cada homem, mulher e alien prestavam extrema atenção no que ela tinha a dizer – bom, eu não vou enrolar para dizer a vocês o que está acontecendo. A Primeira Ordem se aliou aos Hutt.
Eu esperava ouvir qualquer coisa, menos isso. Os Hutt não costumavam se envolver com esse tipo de coisa, mesmo na época do Império não conseguiram tomar o seu território, o que estava acontecendo?
- Mas – ouvi alguém falar – os Hutt não têm interesse algum nessa guerra, o que os levaria a tomar partido?
- Eles são uns parasitas! – ouvi uma outra voz responder, a sala estava tão cheia que era difícil distinguir quem falava o quê – gângsteres* malditos, aposto que a Primeira Ordem fez uma proposta irrecusável a eles em troca de algo que queiram.
Leia levantou uma das mãos e todos ficaram em silêncio.
- Realmente – ela começou – eles devem querer algo, como eles chegaram a esse acordo não nos importa, o que importa a nós é nos protegermos, certo?
- Mas o que a primeira ordem quer com eles? – perguntei, mas meio que já sabia a resposta, apertei a mão de Finn.
- Eles querem aumentar seus recursos para encontrar o ex-stormtrooper conhecido por FN-2187, o nosso Finn, e agora com a ajuda dos Hutt ficará mais fácil de conseguirem.
Senti Finn tenso ao meu lado. Abriu-se uma roda em torno de nós, General Organa dirigiu seu olhar a Finn, eu apertei sua mão mais ainda.
- Precisamos escondê-lo, Finn – ela falou.
- Por que não o entregamos? – um Twi’lek** perguntou, algumas pessoas concordaram outras discordaram veementemente – quem garante que ele ainda não está com a Ordem? Que toda essa história não é uma farsa?
- Por que não entregamos a localização de Luke de uma vez? – Leia replicou – Finn é um de nós e nós iremos protege-lo custe o que custar. Se alguém não está de acordo e quiser deixar a Resistência, fique à vontade. Aqui é um lugar para acolhermos a todos que querem derrubar a Primeira Ordem e o senhor Finn aqui já provou isso várias vezes.
Eu me senti extremamente irritado e tive de entrar no meio da conversa.
- Vocês não se cansam, não é mesmo? – falei estressado e soltei uma risada irônica – se cada um de vocês soubessem o que esse homem aqui já fez pela galáxia iriam calar a boca.
- Claro que você vai defendê-lo, Dameron – um humano chamado Jack com quem eu já havia estranhado algumas vezes, falou – está transando com ele.
Levei minha mãe a testa, eu realmente não deveria misturar meus relacionamentos com trabalho, ouvir meus colegas falar sobre isso como se estivéssemos fazendo algo errado me dava dor de cabeça. Se alguém ainda não sabia que estávamos juntos passou a saber naquele momento.
- Com quem o senhor Dameron ou o senhor Finn dormem não vem ao caso – a General continuou, impassível, com a sobrancelha levantada, seu olhar diretamente em Jack e no Twi’Lek que eu não sabia o nome – quero soluções práticas. Alguém mais vai me atrapalhar? Se alguém quiser desistir o momento é agora.
Houve um silêncio mortal na sala, nem a respiração de quem estava por ali era possível ouvir e ninguém se levantou com o intuito de abandonar a Resistência também, apesar das diferenças todos lutávamos pela mesma causa.
- Precisamos enviá-lo para algum lugar aliado da Resistência, mas também não pode ser onde haja bases operantes nem nada do tipo – Snap sugeriu.
A General concordou, pensativa, depois de um tempo virou-se para mim e perguntou.
- Seu pai ainda está em Yavin 4***?
Eu assenti.
- Pois bem, mandaremos Finn para Kes Dameron.
- Posso aprontar as coisas para levá-lo imediatamente – prontifiquei-me.
- Não, Poe – ela pousou a mão em meu ombro – eu tenho outra missão para você.
Aquelas palavras me atravessaram, em nenhum momento eu pensei que eu iria me separar de Finn, embora soubesse que era muito provável que acontecesse, minha dor de cabeça aumentou. Finn não havia dito uma palavra ainda, até que quebrou seu silêncio.
- Tudo bem, Poe. Não é por muito tempo, apenas até despistarmos a Ordem. Certo, General?
- Certo, Finn – ela concordou – mudaremos a base de lugar também, é chegada a hora de abandonarmos D’Qar.
Meu coração ficou mais apertado ainda, já havia um tempo que estávamos procurando uma nova base, mas era como se deixássemos parte de nossas vidas para trás, mas a general tinha razão, precisávamos abandonar D’Qar urgentemente, com o apoio dos Hutt, aquele planeta ficaria infestado de caçadores de recompensa em breve. Provavelmente iríamos separar a Resistência em bases menores em diferentes sistemas, para que não nos destruíssem em apenas um ataque, como quase aconteceu em Starkiller.
- Finn, eu designarei um time para você, tudo bem? Esse time deverá seguir suas ordens e farão de tudo para o manter vivo.
Finn assentiu.
- Encontrem-me aqui novamente em uma hora – ela declarou.
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Eu sai do QG com Finn ao meu lado, estávamos quietos, meu peito estava dolorido eu olhava aqueles olhos tão cheios de inocência e não queria deixa-lo ir, mas eu deveria. Eu sabia que era a melhor escolha e, no mais, ele iria ficar com meu pai, mas ainda assim, vê-lo partir me machucava.
Rumamos até meu dormitório, minha cabeça ainda doía muito, eu com certeza estava deixando transparecer minha preocupação, Finn pousou suas mãos em meus ombros e olhou em meus olhos.
- Fica tranquilo, Poe – ele tentava me convencer de que tudo iria dar certo – é apenas até estabelecermos uma base em algum lugar confiável.
- Eu sei, Finn, eu só não esperava que nos separássemos tão cedo – proferi.
- Você é tão bom para mim, Poe – ele disse, beijando-me a testa – tão maravilhoso.
- Não, nem se compara em quão incrível você é para mim, Finn. – eu trouxe seu rosto perto do meu, nossas testas estavam coladas – quando eu voltar da missão que a General me designou irei visitá-lo em Yavin 4.
- Estarei te esperando.
Beijamo-nos um pouco, permanecemos um tempo abraçados, não iriamos partir imediatamente, mas apenas saber que teríamos de nos separar era o suficiente para que nos sentíssemos estranhos, eu havia me acostumado com Finn perto de mim e só de pensar em sua ausência eu já perdia o chão.
Percebi, finalmente, que estava apaixonado por Finn. Talvez eu tivesse me apaixonado por ele quando ele tirou aquele capacete me oferecendo um resgate e precisando de um piloto, ou quando ele murmurava para si mesmo para ficar calmo durante nossa fuga, ou até mesmo quando ele gritava animadamente enquanto acertava os turbo lasers do Star Destroyer da Ordem.
Quando acordei em Jakku, sem nave, sem Finn, nem nada, não conseguia tirá-lo da cabeça. E fiquei tão feliz quando nos encontramos e mais feliz ainda quando soube que ele havia cumprido minha missão, e todas as vezes que eu fui visita-lo enquanto ainda estava inconsciente e que cuidei dele achando que era a minha obrigação era porque, na verdade, eu estava apaixonado.
Era estranho admitir isso para mim mesmo, eu nunca acreditei em amor a não ser pelas naves, pela causa ou pela república, mas eu sentia isso por Finn, e só percebi realmente quando ele estava prestes a partir.
Pousei minha cabeça em seu ombro, seus dedos enrolavam-se entre meus cabelos, ficamos posicionados assim durante um tempo, Finn levantou minha cabeça em sua direção e me beijou e era como se fosse a primeira vez.
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Uma hora depois retornamos ao QG, haviam mais quatro pessoas lá, além de mim e Finn, Leia usou desse tempo para esquematizar como iríamos proceder, eram pessoas que iriam acompanha-lo e escolta-lo à Yavin 4, seus nomes eram Lakva, Thost, Sumula, e o piloto, Rozun, a quem eu conhecia e sabia ser confiável. Eram todos humanos exceto por Sumula que era uma Togruta****.
A general explicou a eles como deveriam proceder, que rota segura deveriam tomar, eu também dei minha opinião e dei algumas dicas sobre o assunto, comuniquei meu pai da situação e pedi para que cuidasse de Finn, falei que ele era muito importante, talvez até tivesse percebido o tipo de relação que tínhamos.
Eles iriam partir na manhã seguinte, não havia tempo a perder e, em breve, evacuaríamos a base. A guerra estava realmente nos assolando de tal modo que era possível ver o cansaço nos olhos de Leia que, mesmo senhora, sempre parecia jovem e impenetrável. Após passarmos e repassarmos a rota de Finn, Leia dispensou a eles e a seu grupo e me pediu para ficar.
- Pois não, general?
- Como eu já havia dito mais cedo, tenho uma missão para você – ela estava completamente séria.
- Que seria?
- Eu não consigo contatar Luke e Rey – ela suspirou, cansada – preciso que você leve os holocrons até eles.
Essa realmente era uma missão crucial, uma missão que dependia de mim, o melhor piloto da Resistência, para que houvesse sucesso.
- É uma missão solo, imagino?
- Sim, Poe.
- Tudo bem, general, temos o mapa, não será tão difícil. Quando partirei?
- Você pode partir amanhã quando a nave de Finn partir também.
- Entendido.
- Poe?
- Hm?
- Fique tranquilo a respeito de Finn.
- Ficarei tranquilo quando essa guerra acabar.
- Eu também, querido. Desculpa por colocar o destino da galáxia mais uma vez em suas mãos.
- Prometo que dessa vez não falharei.
- Tenho certeza que não.
Eu tinha muito apreço pela General, para começo de conversa foi ela quem me recrutou, lembro-me de como me senti todas as vezes que achava que estava falando demais, mas que ela me ouvia com toda a paciência do mundo, ela era diferente de qualquer superior que já passou por minha vida*****. Eu devia muito a ela e dessa vez a missão iria dar certo.
- Você deve usar uma nave limpa, Poe. Nada de x-wings. Algo simples e não militar. – ela acrescentou antes que eu saísse.
Essa parte da missão eu realmente não gostei muito, se eu caísse nas mãos da Resistência novamente os holocrons também cairiam, assim como o mapa até Luke, dessa vez não haveria tortura, não haveria Finn para me salvar, dessa vez eu morreria e comigo o sonho da democracia.
Eu ainda estava processando tudo o que estava acontecendo, a dor de cabeça que eu senti mais cedo naquele momento estava simplesmente insuportável, mas eu faria o que tinha de ser feito, e depois voltaria para à Resistência e voltaria para Finn.
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