Leia e eu passamos o resto da semana discutindo formas de tentar localizar meu amado, sem sucesso. Eu saí de sistema em sistema, tentando dispor de todos os meus recursos – e dos recursos da própria Resistência – mas parecia que nada era o suficiente.
Estava começando a acreditar que não iria vê-lo de novo, sentir sua pele contra a minha, ver seu rosto inocente em minha frente, ensinar-lhe todas as coisas que eu tinha vontade... havia tanto do mundo que Finn ainda não tinha visto, ou experimentado e pensar nisso me dava um aperto no coração.
Desde que fui recrutado, eu sempre vivi pela Resistência e meu contato com Finn me fez perceber que a vida era muito mais do que lutar por uma grande causa, ainda que fosse necessário. Quando ele estava perto de mim e eu pensava sobre sua história de vida, sua trajetória me lembrava o porquê de eu sempre ter lutado, para proteger pessoas como ele. Para proteger a galáxia.
Meu contato com Finn também me fez perceber que até mesmo eu – Poe Dameron – poderia desejar ter uma vida normal, uma família. Justo eu, que nunca me dei ao luxo de pensar nesse tipo de coisa, justo eu que sempre almejei apenas o bem-estar dos outros, esquecendo do meu próprio. Cheguei a um ponto de tristeza que parecia que eu estava em uma bolha e tudo o que acontecia a minha volta era como se fosse surreal, como se fosse um pesadelo do qual eu não saía.
Eu não dormia direito há muito tempo, e sempre que comia alguma coisa era como se empurrasse estômago abaixo. Eu havia me instalado nos alojamentos da Resistência de vez e quase não dava as caras na casa de meu pai. A única coisa que me impulsionava a continuar era não ter ouvido nada sobre Finn.
Eu odiava a expressão de piedade com a qual as pessoas me olhavam, sabendo o que eu estava passando, mas sem saber realmente. A única pessoa que parecia compreender de fato a minha dor, era Leia, ela não me forçava a nada, não havia pena em seus olhos, mas apoio, suporte, compreensão. Ela segurou as pontas para mim mesmo tendo de liderar sozinha uma rebelião.
Mesmo Rey e Luke não puderam ficar por muito tempo, sua jornada era rumo ao templo, e eles precisavam encontrá-lo logo, não tínhamos mais muitos recursos e Snoke parecia estar ficando cada vez mais forte. Ainda assim, eu não perguntei nada a eles e deixei que partissem, nada me interessava, nada me importava de fato.
A única forma de manter minha cabeça no lugar era me sentar junto ao conselho e pensar em estratégias, fosse para encontrar Finn, fosse para fazermos algo contra aqueles malditos, contra-atacar, eu era bom naquilo e, portanto, me ajudava a pensar com clareza. Estávamos no meio de uma calorosa discussão quando ouvimos um burburinho pelos arredores, curiosos e assustados, saímos para ver o que estava acontecendo, temendo que fosse um ataque direto da Ordem. Mas não foi.
Um cargueiro grande estava pousando próximo dali,eu abri caminho entre a multidão, meu coração estava acelerado. Quando a plataforma da nave desceu, Finn e seu time saíram de lá de dentro, todos estavam muito machucados e com o semblante abatido, como se as últimas semanas tivessem sido uma espécie de pesadelo, um pesadelo muito pior do que o que eu havia vivenciado.
Eu corri na direção de Finn como quando nos encontramos em D’Qar pela primeira vez, logo após a batalha em Takodana. Ele me viu correndo em sua direção e seu rosto cansado esboçou um sorriso sincero. Nos abraçamos e nos beijamos e o mundo a nossa volta parou.
- O que aconteceu? – perguntei surpreso e incrédulo de que ele realmente estava lá, tocando-o para ter certeza de que eu não estava sonhando.
A general se aproximou, dispensando a multidão e seguimos até sua sala. As pessoas do time de Finn estavam mais ou menos inteiras, exceto por Sumula – uma Togruta – que parecia estar bem judiada, além de Finn que parecia ter apanhado algumas vezes, seu olho estava um tanto quanto inchado.
Leia por um momento despiu sua máscara de General e abraçou a Finn sussurrando algo como “bem-vindo de volta” em seu ouvido, ela deu os braços para nós dois, como uma amiga, e voltamos ao quartel general. Finn e seu time estavam bem quietos, eu sabia que algo não estava certo.
- Relatório – ouvi a general pedir.
Eles explicaram que assim que Finn foi capturado seu time se colocou a postos para interceptar a nave do caçador de recompensas, mas assim que estavam no espaço o raio trator simplesmente não funcionou e eles tiveram de se acoplar a sua nave disfarçadamente.
- O destino era uma base da Primeira Ordem – Rozun, o piloto relatava – mas, para nossa sorte, tínhamos um estoque de buzz dróides* e usamos contra eles, assim que a nave foi avariada, conseguimos contra-atacar.
- O que aconteceu depois foi uma sucessão de acontecimentos confusos – Finn dizia – eu só percebi que o pessoal estava me resgatando e vi tiros passando por nós por todos os lados, conseguimos escapar, mas pegaram Sumula.
Finn apontou para a Togruta.
- Ficamos um tempo pensando em uma estratégia para resgatá-la – dessa vez era Thost, um humano versado em combate, que tomava a palavra.
- Não podíamos deixa-la para trás – foi o que Finn falou – ela é uma de nós. E eles estavam agindo sob minhas ordens. Bom, nessa situação toda de tentarmos resgatá-la fomos pegos de novo.
- Por que vocês não nos comunicaram nada? – ouvi a General perguntar - estávamos extremamente preocupados, poderíamos ter enviado ajuda.
- Nós estávamos sem comunicação, estávamos usando uma nave que praticamente não tinha condições de voar, que roubamos de um ferro velho, vários problemas no hiperdrive dentre outros sistemas e nenhum astromech para ajudar – Rozun tomava a palavra novamente.
- E como vocês conseguiram essa nave?
- Maz Kanata – Sumula respondeu – depois que fomos todos pegos de novo – a voz da togruta vacilou e eu tive certeza de que estava prestes a chorar – passamos por uma sessão... de tortura... todos nós. Começamos a estudar o nosso inimigo, seus horários, o que faziam, até que conseguimos nos soltar e tomar a nave.
- A nave que estava Coruscant? – perguntei.
- Sim – Rozun respondeu.
- General, sei que foi imprudente – Finn começou – e se for sua escolha me punir, eu aceito. Não seria a primeira vez que sou punido por salvar meus amigos**. Mas não podíamos deixar Sumula para trás.
Leia estava boquiaberta.
- Punir? – ela perguntou – nós não somos a Primeira Ordem, Finn. Vocês fugiriam de um caçador de recompensas e não tiveram nenhuma baixa, se tem algo que eu tenho de fazer é parabeniza-los. Apenas uma pergunta, esse tal caçador conseguiu extrair alguma coisa de vocês?
Seu olhar foi direto para Sumula, decidida, ela respondeu:
- Sim, extraíram muitas coisas – todos nos entreolhamos – e toda a informação foi repassada para Ordem antes que pudéssemos tomar a nave.
- Eu temo que vá haver uma segunda batalha de Yavin***, General – Finn comunicou, sentindo-se culpado como eu podia perceber.
- Vamos nos preparar, então – a General disse – chega de nos escondermos. O retorno de vocês trouxe esperanças para todos nós. Tirem umas duas horas de descanso e retornem para cá, temos muito a fazer.
- Entendido, general – todos responderam.
Eu apertei a mão de Finn contra a minha enquanto saíamos de lá rumo a meus novos aposentos. Sentir seu calor me dava forças, mesmo sabendo que mais uma batalha estava se aproximando.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.