História The New Mockingjay - Primeira Temporada - Time to Share

Cansado, muito cansado. Depois da minha conversa com Finnick ele me incentivou a fazer uma série de exercícios que quase me mataram. Cato me ajudou com alguns, sempre me lançando aquele olhar estranho enquanto eu o provocava com poses sensuais (Ou pelo menos era a minha intenção, sendo que sensualidade não é algo que faça parte de mim).

-Tudo bem, chega de suar, vamos comer algo, estou faminto.

Finnick passa a mão sobre a barriga indicando fome, e eu devo concordar com ele, me sinto vazio por dentro. Vou até a Sala de Jantar seguido pelos dois Tributos, e nos deparamos com uma mesa exuberante. Carneiro assado e amoras roxas, creme de laranja e pilhas de outros tipos de carne que eu nunca havia provado. Não quero descrever essa cena, afinal, nós estamos parecendo animais que nunca viram comida em toda vida. E agora estou cheio, ou melhor, inchado. A fome foi muito mais que saciada, o que me deixa contente, mas agora tenho de tomar banho, estou me sentindo imundo.

-Atenção, estejam prontos nas próximas duas horas, logo vocês serão levados para suas entrevistas! – Uma voz se propaga pela casa. Fico animado em saber que o confinamento já vai ser desfeito, temporariamente, é claro.

Finnick e Cato passam por mim indo para seus quartos e eu sigo para o meu, entrando direto no banheiro. A água quente sobre meu corpo é maravilhoso, apenas sinto ela escorrer e me limpar enquanto uso aquelas opções de limpeza que ainda não conheço, liberando aromas extravagantes. De repente me vejo pensando em Cato e Finnick, em como eles me fazem sentir, em como eles são belos e gentis comigo. Isso me deixa transtornado, não estou acostumado a me sentir assim.

A água para e eu me seco e penteio meu cabelo com cuidado, vagarosamente. Encontro um conjunto de roupas sobre minha cama. Um terno branco (eu achei mais parecido com um casaco, ainda mais pelo zíper), junto de calças e sapatos da mesma coloração, assim como o suéter que vem por baixo do terno. A coisa mais estranha nessa roupa é duas placas douradas em meu queixo, anexadas ao tecido. A roupa é confortável, embora me deixe estranho.

- Pareço alguém da Capital. – sussurrar para mim mesmo me acalma um pouco, mesmo que seja uma crítica.

Me sento na cama e fico olhando para a TV do quarto, que exibe programações entediantes. Meu aroma de rosas misturado a algo doce é como um veneno, mas um veneno viciante. Me lembra do fragrância de Cato e Finnick... Droga, tudo me lembra deles agora. Talvez eu devesse escolher um logo mas...

-Peeta, eles chegaram, precisamos ir.

Cato está batendo na porta, com certo cuidado, o que não é do feitio dele.

-Estou indo.

Ouço seus passos se afastando e espero alguns segundos até me erguer e seguir pelo corredor até chegar nas escadas e descê-las calmamente. Vejo meus dois pretendentes em pé, me esperando. Cato está em roupas formais pretas com detalhes vermelhos, nada extravagante, enquanto Finnick segue quase a mesma linha, porém os detalhes de seu conjunto são azuis, e ele deixa mais botões da camisa abertos, como se a Capital o forçasse a se vestir assim (o que tenho quase certeza que é verdade). Os dois estão especialmente atraentes, devo admitir.

-Peeta! – Cato está boquiaberto – Pensei que era impossível te deixar mais bonito do que você já era!

Dou um tapa em seu ombro, mas mantenho meu sorriso mais tímido possível.

-É verdade, ele não está mentindo. – Finnick se aproxima de mim e nos dirigimos a porta.

O pátio ao redor da casa está totalmente iluminado, mas nenhuma câmera. Quem gostaria de ver aquele corredor de Pacificadores nos levando até o portão? Entramos no carro e me preparo psicologicamente para a entrevista com Caesar Flickerman.

...

Cato e Finnick foram chamados para a entrevista, mas me nego a ver eles lá, prefiro ficar aqui na sala de espera.  Ninguém pode entrar aqui, nem para me dizer um “oi”, então me sinto como um prisioneiro. Após dez minutos longos, reconheço que este é o som das salvas de palmas finais, e realmente. O Pacificador abre a porta e me conduz até a entrada do palco.

-Vocês já o conhecem – Caesar faz o povo ir a loucura – Com vocês, o nosso Anjo de Fogo, o Garoto em Chamas, Peeta Mellark.

Uma porta se abre a minha frente e sigo até as cadeiras, acenando para o público e cumprimento Caesar que tem aquela cara de bobo como suas sobrancelhas e cabelo rosa, como eu odeio ele.

-Então, Peeta- ele começa enquanto nos sentamos- Como você está se sentindo?

Olho para Cato e Finnick sentados mais atrás de nós dois.

-Meio preso. – Falo dando um lindo sorriso. A maioria fica confuso: Foi uma piada ou uma crítica?

- Eu adoro isso – Caesar força uma de suas risadas extravagantes – Tenho certeza que logo sairá dessa!

-Eu não acreditaria nem se o Presidente Snow me prometesse.

Outra risada e dessa vez o público o acompanha.

-Mas Peeta, me fala, o que acha dos seus pretendentes?

-Qual deles?

-Comece por Cato!

- Bom – Mantenho meus dois Tributos no campo de visão enquanto me preparo para falar- Ele é gentil e bonito. – Suspiros românticos por toda plateia. – Um pouco abusado demais.

-Com certeza! – Caesar parece que vai ter um ataque cardíaco quando dá sua risada- Como foi o treinamento com a espada?

-Um pouco quente demais, embora eu só possa usar aquelas armas contra os Pacificadores.

Sim, eu sei o que vocês estão pensando. Eu enlouqueci? Talvez. Mas se Snow fizer algo contra mim ou alguém que me é importante será óbvio que foi uma contramedida para minhas ações. Ele tem uma faca no meu pescoço, mas se me cortar ele se corta junto.

-Tenho certeza que eles tem um ótimo treinamento. – dessa vez a demora de Caesar causa certo desconforto na plateia. – Então, Peeta, me conta como foi sua primeira noite aqui?

-Devo admitir que foi boa, tirando os pesadelos. – Digo com outro sorriso idiota.

-Acho que todos aqui concordam – Risadas percorrem o local desfazendo a tensão anterior- E o que você desejaria agora?

-Mais tempo para partilhar antes da minha perda de liberdade.

Agora eu extrapolei os limites, e Caesar fica em choque, mas os múrmuros na plateia o fazem despertar daquele estado.

-Peeta Mellark, O Anjo de Fogo. – Seu grito ecoa pela plateia e todos aplaudem.

Eu me retiro do palco o mais rápido possível e vou até o encontro de Cato e Finnick que estão me esperando na saída.

-Você foi ótimo! – Cato parece até tímido com minha atuação.

Somos levados pelos Pacificadores até o carro e dali direto para nossa “casa”. O local está novamente cheio de guardas com armas grandes e roupas brancas, mas a tensão é desfeita por uma piada de Finnick sobre as expressões de Caesar. Na sala de estar temos uma mesa de centro cheia de aperitivos e bebidas que nós degustamos com prazer.

“Oh Horn of Plenty...”, o maldito hino começa a tocar na TV e logo depois vemos Snow no palco em que estávamos a pouco tempo. Após uma apresentação e ele falar sobre o nosso casamento de modo superficial um prisma hexagonal se ergue do chão com uma caixa e dentro dela há vários pequenos envelopes.

-Deve ser a escolha do Massacre Quaternário, já está chegando essa nova edição. – Cato fala enquanto bebe um líquido azulado.

O Presidente Snow estende a mão para pegar um envelope, mas, quando se aproxima apenas fecha a tampa de madeira. Seu olhar se foca na câmera, sinto como se ele estivesse olhando para mim.

- Nesta Septuagésima Quinta edição dos Jogos Vorazes e na comemoração do Terceiro Massacre Quaternário, para relembrar a todos que nem mesmo o amor é capaz de vencer a Capital, todas as Coalizões, formadas e não formadas serão selecionadas como Tributos.

Meu sangue gela, eu ainda não entendi o que ele disse. Sinto tudo girar, mas quatro braços me envolvem e me prendem a realidade. Ouço algumas vaias vindas da plateia.

-Bom Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre a seu favor. Espero que tenham tempo suficiente para partilhar.

Ele falou isso para mim. Vou voltar para a Arena. Cato, Finnick, Haymitch, Katniss, Johanna... Todos nós vamos voltar para sermos mortos. Tudo ficou escuro.