História The Power Of Liberty - jjk - Capítulo 2

Medo. Um sentimento que sempre detestei desde pequena, mas que no momento se fazia muito presente em mim. Nunca fui do tipo de pessoa que se acanha com esse sentimento; pelo contrário, achava que até escondia bem. Porém, o incomodo de estar com isso dentro de mim era tão grande que simplesmente não conseguia disfarçar.

Encostei minha cabeça na janela do carro em que estava e comecei a olhar a paisagem morta que passava rapidamente de acordo com a velocidade, soltando um suspiro. “Será que isso realmente foi uma boa escolha? ”, pensei. Eu tinha certeza quando aceitei a proposta, mas depois que aconteceu aquilo antes de sairmos de casa com destino a organização, comecei a ter minhas dúvidas. 

[...]

Horas antes.

- Então, bem-vindos a organização. – disse o mais alto do trio, me fazendo vibrar de ansiedade e excitação por dentro.

Havia o medo, mas nada muito significativo. Algo me dizia que aqueles meninos eram confiáveis.

Pedi para esperarem um pouco já que eu e meu irmão não tínhamos malas prontas; até porque ninguém espera esse tipo de coisa - ir morar num lugar novo de uma hora para outra. 

- Não precisa levar quase nada, lá tem tudo que...- o de cabelo castanho com sorriso bonito ia dizendo, mas parou do nada e olhou apreensivo para o mais alto. Os dois pareciam ter uma conversa com o olhar e em seguida o de cabelo preto adquiriu a mesma feição apreensiva e assustada. – Precisamos nos esconder, os agentes do governo estão aqui.

De repente, tudo aconteceu muito rápido. Não tive tempo de ter algum tipo de reação, fui puxada as pressas pelo garoto acastanhado e levada para o quarto do meu irmão, entrando no guarda roupa dele.  Fiquei espremida em um amontoado de roupas pretas com cheiro forte colônia masculina mesclado com o amaciante que eu e ele usávamos em nossas roupas. 

Pensei em meu irmão e fiquei muito mais preocupada, sem saber como onde ele tinha ido se esconder junto com os outros. Meu coração praticamente pulava a cada segundo e estava ofegante mesmo não tendo feito muito esforço. E de uma hora para outra, toda a animação se transformou em medo.

- Você vai precisar usar os seus poderes se for necessário. – disse o garoto. - Eu vou nos deixar invisível no caso de algum agente abrir aqui, mas se precisar, você terá que hipnotiza-lo para dizer que não tem nada, tudo bem? – explicou, quase em um sussurro. Assenti e senti sua mão quente se entrelaçar na minha, me deixando menos nervosa. 

Um estrondo de uma porta se abrindo com brutalidade ecoou pela casa inteira.

Quase gritei de pavor, mas fui impedida antes de sair algum som dos meus lábios; já que na hora a mão do garoto ao meu lado foi parar na minha boca. 

- Olhem em todos os lugares! Precisamos ter certeza de que nenhum deles está aqui! – berrou uma voz masculina.

Passos pesados foram ouvidos pelo quarto. Senti corpo inteiro congelar e em seguida um aperto na minha mão. Olhei para o garoto que ainda tinha a mão sobre os meus lábios e ele me encarou profundamente, tentando passar certa tranquilidade mesmo parecendo tão assustado quanto eu. A porta do guarda-roupa foi aberta e no instante seguinte eu prendi a respiração.

- Achei que tinha ouvido uma respiração vindo daqui, mas não tem ninguém. Quais são as habilidades deles mesmo? – o homem na nossa frente perguntou. 

- O da garota é hipnose, o garoto super velocidade. – o outro respondeu. 

- Então aqui está limpo, não tem nada no guarda roupa. Vamos ver se Sam e Derek encontraram eles. – a porta do guarda roupa fechou e em seguida ouvimos a porta do quarto batendo.

Finalmente soltei o ar que ainda prendia e o garoto tirou a mão dos meus lábios, soltando um suspiro pesado.

- Como a gente vai sair daqui? E meu irmão e seus amigos, onde eles estão? E se acontecer algo com eles? – cochichei com a voz trêmula, exalando medo e desespero. 

Só conseguia pensar no pior. Ainda conseguia ouvir vozes em outros cômodos da casa, mas nenhuma delas era do meu irmão ou dos outros aliados. Não tinha certeza se isso era bom ou ruim.

- O Namjoon hyung controla mentes e lê pensamentos. Ele vai ter tudo sobre controle, vamos esperar o sinal dele para sair daqui. Só fica calma, okay? Vai ficar tudo bem. – senti um leve aperto em minha mão novamente e tentei não me desesperar mais. Precisava confiar nas palavras ditas pelo menino antes que eu surtasse e tivesse uma crise de choro compulsivo. 

Em um ato de impulsividade me vi abraçando de modo meio desengonçado devido as roupas do meu irmão o garoto que eu ao menos lembrava o nome, em uma tentativa de me acalmar.

Não estava nem aí se eu não tinha intimidade para fazer tal ato tão inesperadamente; naquele momento nem a minha timidez fez com que eu me afastasse. A única coisa que queria era não deixar que o pânico tomasse conta de mim.

- Eveline, cadê você?! – ouvi a voz do meu irmão e quase caí do guarda-roupa.

- Ashton, estou aqui! – sai do quarto e dei cara com ele, provavelmente indo me procurar. Pulei em seu colo, sentindo seu abraço reconfortante. 

Eu estava mais aliviada, mas tinha em mente que o que tínhamos passado era apenas o começo nessa nova vida. 

[...]

- Você está bem? – perguntou Ashton, me despertando dos pensamentos.

- Estou bem, não precisa se preocupar. – respondi, dando um sorriso forcado.

Eu sabia que ele tinha certeza de eu estava tudo, menos bem. Mas quem se importa? Talvez eu quisesse mesmo que ele visse que eu não estava psicologicamente bem, as vezes ter um pouco de conforto era tudo que se precisava.

Senti os seus braços me rodeando, então me aconcheguei em seu peito. Estava ficando mais calma, confortável. Tudo acontecera muito rápido, e agora estávamos dentro de um carro indo para um lugar que eu nem sabia onde ficava.

- Chegamos. – anunciou o rapaz de cabelo preto, cujo nome eu não lembrava. Saímos do carro e eu olhei em volta. Tinha ido o caminho inteiro tão distraída que mal percebi que havíamos entrado em um estacionamento subterrâneo em algum lugar por aí. 

Ashton e eu começamos a seguir os garotos, lado a lado. Vários carros de grande porte estavam estacionados, todos muito bonitos. A iluminação baixa deixava o ar mais sombrio, mas não tinha como não dizer que o espaço era bem legal. Daria um ótimo lugar para uma cena de ação ou um clipe de alguma música. 

- Espero que não se importem de esperarem um pouco, até suas instalações estiverem devidamente arrumadas. Normalmente sempre está tudo arrumado, mas como tivemos aquele pequeno contratempo, eu não avisei a base a tempo de que vocês aceitaram a nossa proposta. – informou o garoto de nome Namjoon.

- Finalmente chegaram! Eu já estava ficando preocupado. – foi se aproximando um cara alto de olhos puxados. “Será que todo mundo aqui tem traços asiáticos? ” pensei.

Não que isso fosse um problema, mas tive a impressão que eu estava em um covil de asiáticos. Ri sozinha com o pensamento.

– Oh, olá novatos! Fico feliz por terem aceitado a se juntar a nós. Meu nome é Kim Seokjin, mas podem me chamar de Jin. Sejam bem-vindos. – o mesmo disse com sorriso doce, fazendo uma reverencia. Sorri de volta e também me curvei em sinal de respeito. 

- Obrigada. Meu nome é Eveline e esse é meu irmão Ashton. 

- Vamos logo entrando, vou apresentar a nova casa de vocês. – Jin começou a andar, gesticulando para que nós o seguíssemos. Minha cabeça doía de tanta informação ao mesmo tempo; queria dormir e acordar em casa, ver tudo do jeito que sempre era e constatar que os acontecimentos não passaram de um sonho muito louco. 

Ele ia explicando todos os lugares que íamos passando, mas eu não estava prestando atenção – por mais que ele fosse do tipo bem simpático. Mesmo assim, eles não esperavam que fossemos gravar tudo, certo? Estava confiante nisso, ou iriamos ter problemas. 

- ... e aquele corredor ali será onde terá o dormitório de vocês. – olhei para Ashton, que parecia ouvir atentamente a Jin. Revirei os olhos, que perdedor. - Somos um grupo grande, mas nos dividimos em equipes. Eu creio que vocês serão do Namjoon, já que foi ele quem trouxe vocês, depende se o Hoseok conseguiu trazer alguém junto com o Taehyung e a Jeongyeon.

Não fazia ideia do que ele estava falando, muito menos de que ele estava falando. 

- Todos aqui são asiáticos? – perguntou o meu irmão e na hora eu quis me esconder. Que pergunta desnecessária.

- Oh, que pergunta interessante. – Jin começou a falar. - A grande maioria dos recrutados são asiáticos assim como eu, mas existem ocidentais como vocês aqui. Temos um número consideravelmente pequeno de pessoas como nós, porque normalmente ninguém aceita fazer parte da organização. Aliás, fazia um certo tempo que não tinha gente nova por aqui. – assentimos em entendimento. - Agora vamos esperar na recepção até os seus dormitórios estejam devidamente arrumados.

- Então, se você é como a gente também, qual é o seu poder? – Ashton questionou. Vi um sorriso sacana brotar no rosto de Jin e em seguida um vaso começar a flutuar, indo em direção ao meu irmão. A cara de espanto dele foi impagável. 

- Pega! – Jin quase gritou e empurrou o vaso para cima de Ashton que o agarrou assustado. Comecei a rir da situação. – Muito bem, novato! 

Chegamos na recepção e nos sentamos em um sofá vermelho. A sala era bem iluminada e os tons pasteis das paredes davam um ar calmo e aconchegante ao lugar. Definitivamente bom para esperar. 

– Vocês não vão esperar muito, fiquem tranquilos. Creio eu que em menos de meia hora estará tudo pronto, os funcionários daqui costumam ser muito rápidos.

- Gente nova! – um menino gritou ao chegar na porta da recepção. 

- Pelo amor de Deus, Hoseok, deixa de ser escandaloso. – Jin revirou os olhos. 

- Desculpe hyung e olá novatos, meu nome é Jung Hoseok. – ele abriu um sorriso e se curvou. 

- Ai, graças a Deus vocês já estão aqui, Namjoon oppa pediu para eu ir atrás de vocês. Já que estavam andando pela organização, eu tive que procurar vocês por todo lugar!  – outra figura entrou na recepção, ofegante. - Meu nome é Yoo Jeongyeon, eu vim avisa-los que os seus quartos estão prontos. – terminou de dizer, se curvando também.

- Desde quando você é tão prestativa, Jeongyeon? – disse o Jung alguma coisa rindo. Seus nomes eram meio complicados de se pronunciar. 

- Eu sempre sou prestativa oppa, para de ser implicante. – ela deu um tapa em Jung. 

- Aí Jeongyeon, eu só estava brincando!  

- Então, vamos novatos? Eu acompanho vocês até o dormitório. – Yoo chamou, e no mesmo instante nos levantamos. Fomos caminhando enquanto ela conversava animadamente com o meu irmão, ignorando a minha existência por alguns minutos. Eu não me importei. - ... então Eveline, quais são suas habilidades?

Estava tão absorta em meus pensamentos que nem percebi quando garota começou a falar comigo.

- O que? Desculpa, mas eu não estava prestando atenção. 

- Eu estava te perguntando qual é a sua habilidade. – repetiu, simpática. 

- Hipnose e só. – disse fazendo cara de nada.

- Que interessante! Ah, eu queria dizer que estou muito feliz por você ter entrado para a organização. Aqui a maioria são homens, e eu sou a única mulher da equipe principal, acredita? Acho que temos tudo para sermos grandes amigas. – ela me deu um abraço de lado, me deixando um pouco sem jeito. - Chegamos. – Yoo parou, entregando uma chave para mim e outra para meu irmão. – Ashton, o seu quarto é o da direita. O da esquerda é da Eveline. Os dormitórios são individuais, então fique tranquilos na questão de privacidade. Se precisaram de algo podem falar com qualquer um dessa ala que eles irão ajudar. E no criado mudo de vocês tem os horários das atividades, espero que fiquem bem instalados. Eu vou indo, até logo. –terminou de falar, se curvando e seguindo para fora do corredor.

- Eu vou entrar agora e vou direto tomar um banho pra descansar um pouco Evy, o dia foi muito cansativo. Faça o mesmo também, a sua cara está péssima. – ele deu uma leve risada, me fazendo rir também. – Depois eu vou no seu quarto te fazer uma visita. – ganhei um beijo na bochecha e o vi destrancar seu quarto e entrar.

Fiz o mesmo e ao abrir dei de cara com um quarto muito bonito. As paredes tinham um tom de azul claro que passava uma certa calma para o ambiente. A cama era de casal, e tinha um banheiro dentro do aposento com uma ducha que parecia muito boa. Abri o closet e vi várias roupas, todas do meu tamanho e a grande maioria era preta. 

Percebi que a única mochila que havia levado estava em cima da cama e me lembrei que sai do carro sem pega-la. “Ainda bem que um dos meninos que nos trouxe pra cá deixou eu aqui”, pensei. Decidi tomar um banho e dormir um pouco, precisava descansar.

[..]

Em algum momento, ouvi leves batidas na porta. Ainda meio sonolenta, me levantei para ver quem era.

- Olá? – perguntei, enquanto me aproximava da porta. Ao abrir, me deparei com o garoto que eu supunha ser Jungkook. 

Ainda não tinha certeza do seu nome mesmo nós já tendo uma certa proximidade comparado as outras pessoas daqui; afinal fiquei dentro de um guarda roupa junto com ele enquanto achava que estava prestes a morrer. Definitivamente um péssimo lugar e ocasião para se criar “intimidade” com alguém. 

- Err... me desculpe por estar te incomodando, não sabia que estava dormindo. – ele coçou a nuca. Sorri, achando fofo.

- Não precisa pedir desculpa, foi até bom você ter me acordado. Eu já dormi demais. – continuei sorrindo, mas um tanto sem graça.

- Eu vim saber se você está bem. Você e seu irmão mal entraram aqui e já tiveram um baita susto. 

- Eu estou melhor sim, mas na hora eu achei que iria morrer. – ri. 

- Imagino, e ainda bem que você está melhor. Se precisar de algo, meu quarto é na frente do seu. Pode me chamar pra qualquer coisa, tanto pra pedir algo ou quiser companhia. Se eu não estiver ocupado, ficarei muito feliz em ajudar. – sorriu torto. 

- Seu nome é Jungkook, certo? – perguntei e ele assentiu. – Muito obrigada por tudo, inclusive por ter tentado me acalmar quando estávamos naquela situação. Se eu precisar de ajuda em algo ou companhia eu irei chama-lo sim. 

- Então, eu vou indo.- murmurou, fazendo uns gestos estranhos que acabaram me fazendo rir um pouco. – Até mais, Eveline. 

- Até mais, Jungkook. – fechei a porta. 

Naquele momento eu pensei, talvez esse lugar não fosse tão ruim.