História The rules and shame of love - You're starting to get on my skin

EVA 

 Eu não consegui dormi, e ninguém tentou me força com remédios. Nas primeiras horas fiquei aliviada, precisava pensar e entender o que estava acontecendo, porém, as horas foram passando e meus pensamentos foram se transformando em demônios. Eu sentia um vazio em mim, como se algo tivesse partido. Eu não chorei, não gritei e, não procurei saber através de alguém se Chris estava morto. 

 Enquanto eu não tivesse a confirmação nada poderia me atingir. E ele estaria bem, deitado na minha cama, enrolado com meus lenços e sorrindo. 

  Em algum momento um médico veio até meu quarto e me deu alta, disse que meus exames estavam bons. Que eu não sofri nenhum dano e que tudo ficaria bem. Foi a primeira vez que eu quis fazer um escândalo na minha vida. Por que o que eu mais estava adiando se tornaria real. E nada disso ficaria bem, e eu iria sofrer um dano. O pai dele esteve lá, eu já tive todas as confirmações que precisava, o que mais eu queria? Bom, eu sei o que eu quero. Quero chegar em casa, achar o moletom dele no meio das roupas espalhadas no conto do meu quarto, vesti-lo e ligar diversas vezes para o seu celular. Preciso ouvir sua voz uma última vez, e a mensagem da caixa eletrônica me parece uma boa maneira de fazer isso.  

  Então eu choro pela primeira vez. 

   Por mim. Pelo seu pai. Pela minha mãe. Pelas as meninas. Pelo acidente e tudo o que ele causou. E principalmente, por não fazer nada sobre tudo o que aconteceu a não ser receber a minha parcela da culpa. 

 Minha mãe veio me busca, mas avisou que só poderia ficar uns dois dias e me perguntou se eu poderia chamar alguma amiga pra ficar comigo. Eu liguei para Noora, que atendeu depois de três toques, não entro em detalhes, só peço que ela fique uns dias na minha casa e ela me responde com "Eu estive fazendo minha mala a manhã inteira, Will vai me levar para lá de noite". 

 E eu choro de novo. 

 Minha casa está silenciosa, vazia e fria. Convenço minha mãe de que só preciso dormi e ela me deixa em paz. Não consegui achar o moletom, mas achei um echarpe que está com seu cheiro, e me enrolo nele. Tento chorar, tento grita, mas algo dentro de mim não me permite fazer nada disso por ele. E só então eu me dou conta que não chorei pelo fim que teve tudo isso, eu chorei por vários motivos. Mas não não ele. E não consigo. 

 O sono que não senti no hospital me bate, e eu acabo adormecendo. Acordo com Noora deitando na cama comigo. 

 -Você chegou.- É a única coisa que consigo dizer. 

 -É, já anoiteceu. Como se sente?- A preocupação em sua voz é quase papável, mas eu ignoro. 

 -Cansada, minha perna doí e meu pulso está dolorido. Com fome também.- Um risada vazia escapa. 

 -Eva...- Noora começa a falar mas eu a corto com a mão. 

 -Não agora, só...- Balanço a cabeça porque eu não sei o que falar. Eu só não quero falar.- Por favor. 

 -Tudo bem, mas você sabe que essa conversa é inevitável, uma hora vai ter que rola.- Ela se levanta e pega um frasco de comprimidos na mesa do outro lado do quarto. Me da dois e apaga a luz. 

  Os remédios não me dão sono, só alivia minha dor e me ajuda a relaxar. Fico olhando para a escuridão, respirando em sintonia com Noora. 

 -Will quer que eu vá morar com ele.- Não consigo ver nada no escuro do quarto, mas me viro de lado e tento ver o seu rosto.
-E você quer ir? É como um casamento, certo?
-Eu sei! Mas depois de tudo que passamos, não sei como dizer não para ele.
Respiro fundo. A vida amorosa dela não era bem o melhor tópico de conversar para ter nesse momento. Mas eu não tinha outro assuntos, todo o resto me parecia irrelevante agora. 
-Você o ama tanto ao ponto de ir morar com ele? E como vai funcionar, ano que vem com a faculdade?- Tento não soar brava, por que não estou. Mas minha voz ainda assim sai irritada. 
-Eu não sei Eva, não pensei em nada ainda. Não sei nem se eu quero!- Sua voz está mais alta, e agonizante. 
-Desculpa, Noora.- Me deito de costas e fico olhando o borrão do teto.- Se você o ama então deveria tentar ir, aproveitar cada momento.
Algo dentro de mim se quebra mais ainda. Eu tenho duas certezas nesse momento: Primeiro, eu não amava Chris. E segunda, eu estava caminhando para ama-ló. 
Mas isso foi antes. Minha mente me lembra, antes... 
-O que está rolando entre vocês dois?- Noora é cautelosa, ainda que eu possa sentir sua curiosidade irradiar dela. 
-Sexo, basicamente. Ele é um babaca, que diz as coisas erradas na hora errada, mas é... Ou era, bom de cama. 
-Era? Eva, você sabe que...
Meu celular toca, impedindo ela de continuar. Pego ele debaixo do travesseiro e vejo que horas são, quase duas da manhã. Verifico o número de chamada mas é privado. Espero um próximo toque e atendo. 
-Alô?- Ouço uma respiração ofegante do outro lado da linha no mesmo instante que a minha fica irregular também.
-Eva? Eva, você está bem? Já está em casa? Eva, eu não tenho muito tempo, me diz algo.- Eu tento dizer algo mais ele continua dizendo meu nome.- Eva! Eva! Eu preciso ir.
  Um ruído alto faz minha orelha doer, consigo ouvir alguém gritando algo e depois um silêncio. Quase não acredito que é real quando ele diz: 
-Sinto sua falta, Eeevaa! 
Meu coração pula no meu peito.
-Chris? 
Então a ligação se encerra. 
 

CHRIS 

 Meu enfermeiro está vermelho de raiva. Me olhando como se quisesse me matar com as suas próprias mãos. Eu sei que depois de tudo o que aconteceu nós últimos dias, e meu estado de saúde grave, eu deveria ter ficado na minha cama. No meu quarto. Em um hospital. 

 O único problema é que eu não consigo. Tudo aqui me irrita, as paredes brancas, a calma, o silêncio. Os enfermeiros agindo como se eu estivesse em estado terminal. Qual é, eu estou bem. Eu me sinto bem. Ainda mais agora. 

 Esperei começar a troca de turno entre os enfermeiros e médicos para poder colocar meu plano em ação. A recepcionista saiu para toma café com o novo plantão. Fiquei de espreita no corredor e quando vi o caminho livre, corri e usei o telefone. Minha primeira chamada foi para o Will, meu mais novo amigo, Dr.Skipp tinha me dito que ele passava o dia inteiro na recepção tentando saber se eu estava bem. Depois de uma conversa de 45 segundos, liguei para Eva. Mas dessa vez não fui tão bem sucedido assim, um enfermeiro que cuida de mim no plantão da noite me pegou e eu tive que encerrar minha aventura. 

 E agora estou rindo tanto que não consigo andar. Lágrimas escorrem dos meus olhos e eu estou me curvando com dor na barriga. Acho que sai vitorioso mesmo com alguns imprevistos. Quando minha euforia começa a diminuir consigo me lembrar da respiração dela do outro lado da linha. Ela está em casa com Noora, uma de suas melhores amigas. E isso me deixa aliviado. E eu nem tenho bons motivos para isso. 

 Eva e Chris não são um casal. E nunca seremos. Digo a mim mesmo. 

 Porém, nada disso tem a menor importância. Eu só queria que ela soubesse que estou bem. Não tenho total certeza, mas sei que meu pai fez algo para ela, e sei que não foi agradável. Eu não o julgo ou o culpo, ele teve lá seus motivos. E irei contar a ela cada um deles, mesmo sem saber o porque, uma parte de mim quer que ela saiba todos os meus segredos. 

 E depois de tudo que passamos acho que é o mínimo que podemos fazer. Quero saber sobre a parte sombria de Eva. E quero que ela veja a minha.  

 Caminho até meu quarto, deito em minha cama. O meu enfermeiro, agora com um sorriso de compreensão no rosto, enfia uma agulha em meu braço. Apago o abajur e fecho os olhos para dormi. 

 A respiração rápida e desregular de Eva é a última coisa que consigo me lembrar. E quando eu estava começando a ficar bem animadinho, acabado dormindo.