História The Schmütz Family - Uma noite juntos

[...vamos até a sala receosos.]

Percebemos que um quadro caiu e seu vidro quebrou. A foto está virada para o chão. Me ajoelho e tiros os caquinhos com cautela para não me cortar, enquanto Castiel me olha com uma expressão assustada e preocupada.

- Foi apenas o vento, e não vou morrer se eu cortar a ponta do dedo. - Digo dando um leve sorriso sem graça.

Quando, porém, desviro a foto de aspecto antigo, percebo que é a foto das duas crianças gêmeas no balanço. Aquelas expressões me davam medo. Meu coração dispara. Não havia percebido a presença de alguns detalhes estranhos antes. Eu via o ambiente do quadro como um parque alegre. Agora, porém, observando mais de perto, noto alguns brinquedos estranhos ao redor, e uma árvore perto do balanço com símbolos que eu tenho certeza que já vi antes.

Sinto a mão quente e macia de Castiel em um dos meus ombros, fazendo um pequeno carinho com os dedos. Peço ajuda para me levantar. E no momento que levanto, dou um abraço nele como se estivesse procurando proteção, mesmo que fosse em alguém que conheço há pouco tempo. Ele o retribui com carinho, tentando me acalmar.

- Bom, vamos subir. Amanhã limpamos essa bagunça. Merecemos um descanso depois desse susto, certo?

Faço um sinal afirmativo com a cabeça, apago as luzes e subimos as escadas. Chegando no quarto, acendo as luzes fracas e fecho a porta lentamente. O ambiente está muito mais quente e abafado do que antes. Pego algumas cobertas no guarda roupa e as ajeito na cama. Vejo que Castiel está observando a chuva pela janela. Ele solta um longo suspiro, que acaba embaçando um pouco o vidro. Acabo me distraindo e me assusto com o barulho enorme que um trovão qualquer acabara de fazer. Me agarro a Castiel, gritando como uma idiota.

- Sinto que alguém está se aproveitando da ocasião para sentir meu lindo corpo... - Diz ele com uma expressão maliciosa, soltando algumas risadas no final que deixam seu lindo sorriso à mostra.

Ele observa meu olhar de medo e de preocupação.

- Comentário errado, e hora errada?

Digo que sim com a cabeça, e ele fica meio sem jeito. Sento na beira da minha pequena cama de casal, e passo minha mão no cobertor, como se estivesse fazendo carinho em um cão.

- Diga alguma coisa... você está me deixando mais preocupado do que antes.

Vejo que precisava desabafar com ele. Aliás ele precisava saber um pouco mais da minha história. Em meio de algumas lágrimas que ameaçam escorrer pelo meu rosto, Castiel me interrompe rapidamente e diz, subitamente atento:

- Você não está escutando um barulho de água?

Penso que ele estava zoando com a minha cara. Porém, ele abre a porta do quarto e nós observamos um pouco de água escorrendo embaixo da porta do banheiro. Vejo uma água meio turva passando entre as fendas do piso escuro de madeira.

- Ai meu Deus, Castiel, abre a portaaaaa!!!! - Grito desesperada.

Ele se vira assustado, mais pálido do que já é.

- Por que eu? Tá doida? Que eu saiba é você que mora aqui!

Não penso duas vezes, vou até ele e lhe dou um empurrão, fazendo com que ele abra a porta do banheiro rapidamente. Castiel olha para dentro do banheiro, olha para mim, para dentro do banheiro...

- PARABÉNS SENHORITA ISABELLA, ALGUÉM DEIXOU A TORNEIRA DA BANHEIRA ABERTA! - Diz ele batendo palmas e me olhando de forma cínica.

- Como assim, você tá doido?! Eu tenho certeza que fechei, eu juro!!!!

Ele olha com uma expressão de "vou fingir que acredito", e entra no banheiro para fechar a torneira. Vou logo em seguida atrás dele. Sinto que a temperatura do ambiente mudou, e ao invés de sentir calor devido ao vapor da água, sinto um surpreendente frio percorrer meu corpo fazendo com que eu solte um suspiro de ar quente.

Depois que resolvemos o problema do suposto "esquecimento" - eu juro que fechei a torneira, me lembro disso perfeitamente -, tiro minha roupa enquanto Castiel se distrai no celular e coloco um moletom e um shorts de pijama. Me aproximo da cama e me deito, ameaçando apagar a luz.

- Mas e eu, onde vou dormir, garota? - Castiel chega mais perto e diz isso me olhando impaciente.

Eu aponto para o tapete onde havia algumas almofadas e dou uma risadinha.

- Nada disso - ele tira sua blusa e joga seu par de tênis em qualquer canto do quarto, me empurra e deita ao meu lado. Me viro para seu lado e fico vermelha, pois era a primeira vez que um menino, sem ser meu parente ou algo assim, dormia comigo.   

- Não precisa ficar envergonhada, não vou te morder... eu acho. - Sinto seu olhar malicioso sobre mim.

Faço um sinal de silêncio para ele e apago a luz.

- Só no seu sonho, querido. Boa noite - e o empurro para fora da cama.