História The Secret Of Us - Entre anjos e vampiros

Eu sentia que estava tremendo,mas estava longe de ser de frio.Meus pés andavam,cada passo mais longe da chance de voltar e dizer "Tudo bem,vocês venceram,sou uma feiticeira e eu nem sabia,me levem para fora de Grimorland agora".Agora eu percebo que chegaria ao ponto de mentir apenas para sair dessa dimensão desconhecida.

Eu me abraçava enquanto caminhava em meio às árvores altas,fantasmagóricas e escuras.Os únicos sons ali eram os meus passos e as folhas mortas que se quebravam sobre os meus pés,nada de animais.

Mas que droga.Eu estava perdida, mesmo o caminho de pedras sendo fácil de travar.Porém,havia passado por tantas bifurcações e encruzilhadas que nem me lembro mais de onde vim.

-Mas que droga,Ian - murmurei para mim mesma.

Por que eu corri?Por que saí de lá a toda,como uma criança imatura fugindo de casa?Eu não conhecia Grimorland, não sabia o que me esperava,não sabia onde ficavam as saídas,mas mesmo assim corri.

Analisando a situação melhor,percebi que eu não queria correr.Fora como se do nada alguém falasse "Corra!" para mim e eu tivesse saído correndo para o primeiro caminho de pedra que entrava na floresta que eu vira.

Mas que burrisse.

O ar ali estava úmido e pesado,como se chafarizes fracos estivessem ligados numa sala cheia de pessoas suadas respirando.

Tive nojo da ideia.

Ande,Ian Aust.Ache uma saída e trate de não perder a sanidade.Não é normal alguém pensar em chafarizes e pessoas suadas.

Fiz uma careta e continuei andando,um passo de cada vez,desviando de buracos,raízes finas que sumiam na mata,ervas,pedaços de pedra...Ali parecia ser uma cena de filme medieval onde os mocinhos têm de entrar na floresta e matar a bruxa má em seu covil.Será que havia um covil ali?Não sei.

Caramba,Grimorland está me deixando louca.Devia ser o calor.Justo quando eu havia me acostumado com o frio de Graylake Falls...Achei até anormal sentir o suor escorrer pela testa.

Passei a mão na fronte e continuei andando,olhando em volta.

E ouvi gritos.Longe,mas ainda assim eram gritos.Parei de andar bruscamente,batendo o pé sem querer numa raíz grossa que rangeu pela batida do meu pé.Praguejei,ficando em silêncio para ouvir o que as vozes diziam.

Demorou,mas finalmente consegui identificar meu nome.

Eram Mareena e Algustos.

E novamente recebi aquele impulso,aquela voz dizendo "Corra!" em minha cabeça,minhas pernas se mexendo.Corri com todas as forças que pude,suando mais que nunca,e xingando meu pé dolorido dentro do tênis.Novamente me perguntei o porque de estar fugindo deles sendo que era para estar indo até eles.

Pare Ian,pare.

Parei de correr,ofegante,e apoiei as mãos nos joelhos.Olhei para trás,ouvindo os "Ian?Ian!Ian!" atrás de mim,ecoando na floresta.A voz de Mareena parecia mais próxima,enquanto a de Algustos permanecia distante.Lembrei dos contos e dos filmes de vampiros.Eles tinham os sentidos e as habilidades apurados...É claro que Mareena ia estar mais perto.

Cogitei a ideia de gritar algo em resposta,mas hesitei.Iria pagar papel de garota humana perdida e em apuros,seriam apenas mais motivos para eu me sentir ridícula.Não,iria apenas voltar.Voltar e acabar encontrando Mareena no meio do caminho.

Me ergui, respirando fundo,e comecei a voltar.

Apenas para parar um segundo depois.

⚫◽⚫

Ela teria caído se eu não tivesse sido rápido o bastante.Segurei seus ombros antes que despencasse de costas e a olhei.Estava assustada.Se livrou de mim e recuou, trôpega.

Sorri ao ver o susto em seu rosto.

-O que...?

-Shiu - coloquei o dedo sobre meus próprios lábios.

Ela ficou quieta.Me olhou,desconfiada,mas não demorou muito para a vampira chegar correndo e parar a poucos centímetros dela.A humana engasgou.

-Mareena.

A vampira olhou em volta tensa,a testa franzida.

-Ian?

A humana pareceu confusa.

-Aqui!Não me vê? - perguntou inquieta,se posicionando à frente de Mareena,que só pareceu mais confusa.

-Onde está?Eu não posso te ver - exclamou,se virando e olhando em volta.Parou,na direção de onde tinha vindo - Algus!

Ian se virou para mim,o rosto numa mescla de raiva,confusão e urgência.

-O que está acontecendo?Por que ela não me vê? - perguntou a mim,irada - Está na cara que tem algo a ver com isso.

Me limitei a sorrir e avançar até ela.Antes que pudesse recuar,a segurei nos pulsos,me aproximando de seu ouvido.

-Precisamos ir antes que o híbrido chegue - sussurrei.

Mareena ficou tensa.Olhou em volta,com um brilho mortal nos olhos.

-Ian?Tem mais alguém aí?

Ela iria responder,mas segurei sei pulso mais rápido e saquei a adaga.Seu brilho prateado reluziu com um facho de luz que atravessava a folhagem espessa acima.A Girei na mão.

-Não precisam se preocupar - falei,por fim - Apenas vou pegar sua humana emprestada por um tempo.

-Não! - Ian exclamou,olhando a adaga obviamente criando suas hipóteses,mas a essa altura eu já tinha a nocauteado com um golpe do cabo da arma e a segurado antes que despencasse no chão,desacordada.

-O que você fez com ela? - Mareena bradou,se virando,as mãos cerradas - Quem é você?!

Soltei uma risada contida.

-Se contente com...Baphomet,vampira.

⚫◽⚫

O som da TV já estava começando a me incomodar.O comentarista do jogo de beisebol não parava de gritar após um jogador conseguir forjar um home run perfeito.Parecia que o sua voz estridente não tinha um volume mais baixo que gritar.

-Ei,é...Yuna?

Me afastei da estante de livros vazia de Ian Aust e me aproximei da saída do quarto.

-Sim senhor Aust? - perguntei.

A figura do enorme homem apareceu no fim do pequeno corredor.Em suas mãos havia um prato com dois pedaços de pizza recém saídos do microondas.Olhei a comida e o vidro de ketchup em sua outra mão e juntei as peças rapidamente.

-Ah.

-Pensei que pudesse estar com fome.Já passou da hora do almoço,e você disse que não comeu...

-Claro - sorri,o melhor sorriso sincero que eu pude fazer - Obrigada senhor Aust.

-Só Albert está bem.

Peguei o prato e o ketchup enquanto ele voltava apressado para a sala a fim de continuar vendo seu jogo e voltei ao vazio quarto de Ian Aust,depositando a comida sobre a pequena e simples mesa de cabeceira.É claro que não iria comer.

Olhei em volta mais uma vez e parei o olhar sobre o bilhete em cima da cama,dobrado com cuidado.O peguei,lendo mais uma vez suas letras cursivas e apressadas.

Pai,acordei cedo e fui ao American Bunker com Megan Miller.

Não estou usando drogas,nem bebendo,nem nada do tipo.Vou passar a tarde fora.Até,te amo.

Ian

Eu já havia analisado aquela letra,e decididamente,era uma cópia quase perfeita da letra de Ian Aust.Já vira folhas com anotações no meio de seus livros,e admito que,seja ou não seja Megan Miller quem escreveu,conseguiu convencer até Albert Aust.

Sentei na cama,jogando o bilhete do outro lado.Queria sair dali,mas tinha que esperar o tempo ficar nublado novamente.Ficar na sala com Albert estava fora de consideração,não queria passar nervoso com o comentarista do jogo.

Foi exatamente assim que passei quase mais três horas até Ian Aust chegar.