1. Spirit Fanfics >
  2. The Story Of Our Lives >
  3. Doce Vingança

História The Story Of Our Lives - Doce Vingança


Escrita por: LucyMiller

Notas do Autor


Olá, tudo bom com vocês?
Agora as coisas vão começar a ficar interessantes! hahaha
Enjoy!

Capítulo 4 - Doce Vingança


Karen’s POV

Ok, minha cabeça estava uma bagunça naquele momento.

Eu tentava me concentrar na aula de história, a última da semana e ainda por cima a minha favorita, porém não conseguia. E isso era tão frustrante!

Desde que meu pai morreu eu tenho me fechado para tudo e todos, é minha forma de não ter de pensar demais. Eu simplesmente foco no que é de fato importante: estudos, ser uma boa menina. Apenas quando eu me via com minha guitarra eu me permitia dar atenção aos meus sentimentos. Mas, quais sentimentos? Minha vida se resumia a escola e... escola. Eu não tinha mais nada. Não perdia tempo pensando em coisas desnecessárias.

Agora, eu não podia negar que acabara de chegar o mais próximo que eu me lembrava de ter um grupo de amigos com quem conversar, e gostei disso. Certo, eu acabei de conhecer aquele pessoal esquisito, mas ainda assim. Eu me senti bem, confiante e à vontade com eles. E, caramba, eles são músicos. Eles, mais do que ninguém, entendem a minha paixão, mesmo que eles sequer saibam como eu amo o que eles fazem, como eu queria poder fazer também.

E, agora, com essa tal Competição de Bandas, eu poderia dar um primeiro passo. Ah, como eu queria ter meu pai aqui comigo para me incentivar. Liz jamais apoiaria minha decisão.

E, de todo jeito, eu não tenho amigos. Mesmo que esse grupo de músicos e jogadores de basquete que eu conheci possam se tornar, talvez, algo próximo de amigos para mim (Jimmy me apresentou como uma amiga aos outros, não foi?), ainda assim eles já têm suas bandas. E nenhuma delas tem garotas como integrantes.

Certo, Karen, pare de pensar nisso. Você só vai ficar na vontade mesmo. Concentre-se na aula de história. Não perca o maldito foco, você precisa dele se quiser entrar em uma faculdade de economia daqui dois anos.

(...)

Depois do almoço, lá estava eu vigiando o último dia de detenção daqueles cinco alunos. A partir da semana que vem eu poderia voltar de fato à monitoria, além, claro, de ter de fazer a inscrição das bandas.

Brian veio sem cerimônia dessa vez à minha mesa enquanto os demais saíam ao fim da detenção.

- Meus parabéns, Delinquente, não faltou a nenhum dia, considere-se livre do inferno – comentei, guardando minhas coisas como de costume.

- Isso até eu bater em alguém de novo.

- Não brinque com uma coisa dessas.

Brian riu, encostando-se à mesa, muito à vontade.

- Você pretende passar os intervalos com os marginais daqui para frente?

- Isso é um convite ou você está rezando para que a CDF recuse?

- Gostei de você, Monitora. Você é das nossas.

- Já ouvi isso.

- Sempre apressada... – ele comentou, vendo-me levantar. – Posso te perguntar uma coisa?

Fiquei surpresa ao ver quão facilmente ele me fez desistir de sair correndo da sala dessa vez.

- Hm, claro, eu me esqueci de como você era curioso.

O moreno abriu um sorriso de lado. Parando para analisar, o que eu não havia feito direito até então, notei que ele era um cara muito bonito.

- Como você se interessou por música? Você disse que aquela melodia vinha de família, mas não foi muito clara.

Sorri, nostálgica. Eu conhecia aquela melodia há anos.

- Meu pai compôs – falei. – Ele amava. Comecei a pegar gosto pela guitarra por causa dele. A essa altura você deve saber que minha madrasta é a Srta. Ross. Enfim, quando ele morreu, ela me proibiu de “desperdiçar” meu tempo com isso, então fui obrigada a dar um jeito de continuar aprendendo escondida.

Brian pareceu desconcertado, e me senti mal por isso, não era minha intenção deixá-lo desconfortável.

- Ah – ele fez. – Eu não sabia sobre o seu pai. Me desculpe.

- Tudo bem, eu não falo muito mesmo. Meu pai foi uma influência muito grande para mim, ele era um ótimo guitarrista. Infelizmente ele teve que parar por minha causa.

Merda. Acabei me empolgando pelas memórias relacionadas a ele e falei demais.

- Por sua causa? Por quê?

Senti meus olhos arderem e quis me bater com alguma coisa.

- Ahm... Quer saber, eu tenho que ir. A gente se vê amanhã, Brian – falei, pegando minha mochila e saindo a passos rápidos.

- Ei, o que aconteceu?! Você está bem?

- Estou, não foi nada – virei-me para ele. Brian parecia muito confuso com minha atitude.

- Foi algo que eu disse? – ele perguntou.

- Não, Brian. Não é sua culpa – falei, saindo, e dessa vez ele não me chamou.

 

Dias depois...

O final de semana passou e não fez muita diferença. Liz aproveitou que uma das monitoras dos alunos morava com ela e me instruiu a como inscrever as bandas. Na segunda feira ela me entregou a lista, e logo descobri que ficaria sem intervalo até o final do mês, uma vez que foi esse o horário escolhido para que os alunos me procurassem em uma das salas de aula para fazer a inscrição para a Competição.

Eu me sentia meio mal depois de ter me aberto tanto com Brian. De certa forma, eu me sentia confortável na presença dele. Ainda assim, mal nos conhecíamos. Ninguém naquele colégio sabia da minha vida, não teria por que um completo estranho saber. Acabei ignorando a ele e seus amigos quando, ao irem buscar a Val na nossa sala, eles quiseram me cumprimentar. Minha cara não deveria estar boa, pois vi Valary dizer algo a eles que os fez desistirem de mim e, sabendo que eu não poderia descer com eles, foram à cantina como se nada tivesse acontecido.

Assim se seguiu a semana até quinta feira. Eu conversava com Val e Michelle sobre o nosso trabalho, nós comentávamos sobre nossas leituras até o momento, mas foi só. Apenas os dois primeiros dias foram estranhos, depois parecia que os caras não ligavam mais para mim. Comecei a me sentir mal com isso, mas então me lembrei de que havia passado um único intervalo de vinte minutos com eles, não havia como esperar que já fôssemos amigos.

Na quinta, porém, enquanto eu atendia a uma menina que queria se inscrever sozinha como tecladista e cantora, vi o inconfundível bando entrando na sala. Dessa vez, eram apenas os quatro que eu mais via juntos: Brian, Zacky, Matt e Jimmy, acompanhados da Val. Terminei a inscrição da garota e eles vieram até minha mesa.

- Ai, Kah, não sei como você aguenta tanto trabalho – Valary disse, estendendo um saquinho para mim. – Toma, comprei um salgado da cantina para você.

- Obrigada, Val – agradeci, surpresa. Pigarreei, então, meio desconfortável, e me virei para os outros. – E aí.

Eles me cumprimentaram, simpáticos como sempre, e meu humor melhorou um pouquinho.

- Vão se inscrever?

- Vamos sim – Jimmy disse, animado. – Temos que dizer nossos nomes ou só as bandas mesmo?

- Hm, as bandas e o nome de pelo menos um integrante. Sabem, se alguma banda sumir no dia nós podemos entrar em contato.

- Tá, a primeira é a Pinkly Smooth. Brian Elwin Haner Jr. e James Owen Sullivan – Brian disse.

- Mad Porno Action – Zacky anunciou, fazendo-me rir do nome bizarro. – Zachary James Baker.

- Successful Failure, Matthew Charles Sanders. – Matt disse.

- Ok, estão inscritos. Estou curiosa para ouvir o som de vocês, rapazes. Boa sorte.

- Não vai mesmo tentar, Karen?

Nós nos encaramos por alguns segundos antes de eu responder:

- Sabe que eu não posso, Brian.

Os outros pareceram não entender, mas não insistiram no assunto.

- Bom te ver, Kah – Zacky disse, e eles já se encaminharam para a saída. Vi Brian hesitar, parecer pensar e, por fim, dizer:

- Podem ir, caras, eu já vou.

Ele então voltou para perto da minha mesa, justo quando eu já estava para comer o lanche que Val trouxera para mim.

- Você nos disse que não pode competir, isso é por causa da diretora ou por não ter uma banda?

- Os dois. – dei uma mordida generosa no salgado, estava com fome. Enquanto mastigava, vi Brian parecer pensativo outra vez e sorrir consigo mesmo. – Não adianta insistir, Brian, eu não posso e pronto. Nem sei por que você faz tanta questão.

- Porque você é boa pra caralho, só por isso. Acho que deveria tentar.

Sorri, um pouco amolecida com isso.

- Se eu pudesse eu tentaria, juro. Eu te disse, eu treino escondida. Não tenho como fazer isso.

Brian me analisou por um tempo, chegando a me deixar sem graça.

- Você quer ir ao nosso treino de basquete hoje?

- O quê? – perguntei, confusa pela mudança repentina de assunto.

- Nosso time vai jogar hoje às 14h, sabe, o horário da aula de educação física.

- Eu tenho monitoria.

- O que mais você faz além de não vigiar quem pega detenção? – ele cruzou os braços, me olhando.

- Quando não tem ninguém com detenção, eu ajudo uma menina do quarto ano a tirar dúvidas dos alunos, além de auxiliar a diretoria em algumas questões que exigem contato mais direto com vocês, por exemplo inscrições como essa.

- Caralho, quando você tira tempo para respirar?

Ri, terminando de mastigar outro pedaço do salgado antes de responder.

- Enquanto toco guitarra.

Sorrimos um para o outro.

- Então, você pode ir ao treino depois da monitoria. Nossos treinos costumam ser longos.

- Eu não vou fazer isso, Brian.

- O quê? Por que não? – ele pareceu ofendido.

- Você é um garoto. Acha que eu não sei por que está me chamando para te ver jogar? Se pensa que esse seu charme é suficiente para me pegar, é melhor eu já cortar suas asinhas.

Brian me olhou surpreso por uns segundos, para depois cair numa gargalhada. Arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços.

- Você é imprevisível, Monitora, realmente imprevisível – ele disse, tentando parar de rir. – Mas eu já disse, eu gostei de você. Quero só conversar, que tal? Sim, acredite nisso. Apesar de eu não descartar a sua opção, é claro.

Fechei a cara quando ele disse a última frase.

- Não, eu não vou.

- É brincadeira! Juro, Karen, mas que merda – ele sorria divertido, e eu me perguntava o que havia de tão engraçado nessa situação. – Apareça lá na quadra depois da sua monitoria, eu só quero dar uma volta e conversar.

(...)

Eu só podia ser mesmo muito idiota ao ponto de perder uma tarde preciosa com minha Gibson para realmente ir à quadra quando meu horário na monitoria terminou. Eu não sabia o que estava pensando, simplesmente fui.

Ao subir as escadas do prédio de educação física e avistar a quadra, vi que o treino já havia terminado. O time estava disperso na quadra, alguns meninos bebiam água, outros arrancavam as regatas suadas. Matt e Brian conversavam com o treinador. Vi Valary e Michelle sentadas nas arquibancadas, e elas acenaram animadamente para mim. Fui até lá.

- Você veio, eu nem acredito! – Val disse, rindo.

- Pra você ver. Vocês sempre vêm?

- Eu sim – a morena disse. – A Mi resolveu voltar depois que começou a se interessar pelo Tally.

- Cale a boca!

- Quem é Tally?

- Camisa 12.

Procurei pelo tal e vi um garoto alto, magro e com cabelos quase platinados.

- Parece bonito.

- E é, além de ser legal. É nosso amigo. Mi, admite, já tá na hora de desistir do Brian.

- Eu desisti faz tempo, mana, eu apenas ainda gosto dele.

- Então pare de gostar!

Ri, revirando os olhos e tirando minha atenção da conversa das gêmeas para procurar Brian. Nesse momento ele me avistou e pareceu até surpreso que eu tivesse aparecido. Sorri para ele, acenando. Ele logo veio até nós, correndo, arrancando a regata no meio do caminho. Oh, céus, precisava disso?

- Olá, Karen – ele sorria. Merda, ele está sempre sorrindo? – Oi Mi. Val, seu príncipe encantado foi tomar um banho antes da gente sair.

- Você deveria fazer isso também – comentei, arrancando risadas das meninas.

- Como quiser, Monitora.

Ele saiu correndo, e eu crispei os lábios diante da cena. Val se virou para mim.

- Hein, Kah, tive uma ideia. Por que você não vem com a gente para a casa do Mattie? Nós podemos adiantar nosso trabalho lá.

- Hm, e isso é mesmo um convite para fazer trabalho? – perguntei, desconfiada.

- Os meninos só vão tocar, nós não participamos muito disso. A não ser que o barulho te atrapalhe, mas de todo jeito podemos trocar ideias e aproveitar para passar mais tempo todos juntos.

- Ah, claro, mas... tocar? Quem vai tocar?

- Ora, Matt, Zacky, Brian e Jimmy.

- Eles tocam juntos? Mas cada um está em uma banda praticamente.

Elas riram.

- Sim, mas eles gostam de tocar juntos.

- Então por que eles não tocam juntos de fato?

As duas deram de ombros.

- Então, vem com a gente ou não?

- Tudo bem. Vamos só descer para pegar nossos livros e eu poder avisar a Liz. Quero dizer, Srta. Ross.

(...)

Os quatro garotos nos esperavam na entrada do colégio para irmos a pé à casa do Matt. Val logo grudou no namorado e os dois foram andando na frente. Brian me chamou e acabou que nós dois ficamos andando um pouco para trás. Observei Michelle conversando com Jimmy e Zacky.

- Não tive a chance de ver se vocês jogam bem, sinto muito – comentei.

- Ah, vamos ter outras oportunidades – fitei-o, gostando do convite implícito.

- Sobre o que você quer conversar?

- Quero te conhecer. É isso que pessoas fazem para se tornar amigas, não é?

- É, tem razão – sorri.

- Além disso, queria me desculpar por ter te deixado desconfortável aquele dia. Talvez eu seja mesmo um pouco invasivo.

Olhei para frente de novo, constatando que tínhamos certa privacidade.

- Eu já disse que não foi culpa sua. É um assunto delicado, sim, mas apenas porque eu nunca falei sobre isso com ninguém. Depois que o meu pai morreu eu me fechei, sabe? Eu não queria encarar a realidade. Foi por isso também que eu mudei de colégio, onde eu estudava todo mundo sabia o que tinha acontecido, e eu mais do que tudo queria ir para um lugar onde ninguém me conhecesse.

- Olhe, não pense que eu vá te enxergar diferente ou te tratar diferente por causa disso. Meus amigos também não vão, digo, se você algum dia quiser contar a eles.

- Obrigada.

Afinal, o meu desconforto de antes parecia ser causado na verdade pelo medo de me abrir com algum estranho, e não pelo assunto em si. Mas Brian me parecia confiável e, incrivelmente, eu até me sentia bem conversando com ele, mesmo que o assunto fosse esse. E, afinal de contas, ele disse que queria me conhecer.

- Acho justo te contar por que eu disse que meu pai parou de tocar por minha causa.

- Você não precisa se não quiser.

- Eu quero, Brian. Eu fugi para um colégio onde ninguém me conhecia até então, se eu quiser amigos vou precisar que vocês me conheçam.

Senti seus olhos em mim, e como eles eram intensos. Eles não eram exatamente invasivos, só... pareciam enxergar minha alma, por isso pareciam tão intimidadores. Brian me observava com atenção, aguardando o que eu pretendia revelar.

- Bom, quando eu digo que meu pai amava música, não estou exagerando. O sonho dele era ser um guitarrista. E ele era muito bom, eu sempre ouvia as pessoas dizerem isso. Só que isso exigia muito tempo, e começou a ser um obstáculo quando ele e minha mãe resolveram engravidar. E, quando eu tinha quatro anos, minha mãe morreu em um acidente de carro.

Eu mantive meu monólogo virada para a direção que seguíamos, fitando principalmente a calçada.

- Meu pai se viu sozinho com uma criança e percebeu que não poderia se aventurar na estrada com uma banda de rock. Assim, ele desistiu do sonho e foi trabalhar em uma loja de discos para nos sustentar. Eu soube que foram anos difíceis para ele. Alguns anos depois, no entanto, ele estava se casando com minha madrasta, e o salário de diretora era bem maior do que o que ele ganhava vendendo discos, assim a nossa situação melhorou um pouco. Ele morreu quando eu tinha doze anos. Sabe, ele tinha problemas do coração, e por conta da carreira que ele tentou ter como músico demorou muito para casar e construir uma família. Quando eu nasci ele já estava com cinquenta. Ele teve um infarto aos sessenta e dois e acabou falecendo.

Voltei a fitar Brian quando terminei de falar. Ele permanecia mudo, fitando o chão com o cenho franzido. Ao notar que eu o olhava, ele se virou para mim, balançando a cabeça.

- Caralho, Karen, eu sinto muito mesmo. Seu pai parece ter batalhado muito por você.

- Sim. Por isso...

Parei de falar quando quase esbarrei em Zacky. Notei, então, que havíamos chegado à casa dos Sanders. Senti Brian segurando meu braço, para depois falar:

- Nós já vamos.

Eu bem vi que eles tentaram disfarçar um sorriso malicioso, mas não deu muito certo. Brian me levou de volta ao meio-fio, sentando-se ali. Sentei-me também.

- Continue o que você ia dizer.

- Quer mesmo conversar comigo em vez de ir tocar com seus amigos?

- Quero, e além do mais, nós temos a tarde toda, Karen.

Sorri, sentida. Ele realmente tinha interesse em me conhecer. Eu poderia considerá-lo um amigo? Fiquei feliz em ver que ele não estava apenas interessado em ficar comigo. Apesar de que, não posso negar, ele é atraente e, ao contrário do que eu posso ter passado, não rejeitaria se ele de fato quisesse algo comigo.

Que merda, hein, Karen, pare de pensar nessas coisas.

- Certo – pigarreei, tentando recuperar o foco. – Bom, eu ia dizer que acabo me sentindo um pouco culpada por tudo isso. Eu não tenho culpa pela morte da minha mãe, mas de certa forma eu impedi que ele corresse atrás de seu sonho. Não acho isso justo. Mas ao mesmo tempo eu amo música, acho que tanto quanto ele amava. Você deve me entender agora. Sabe por que você sempre me vê estudando? Eu tenho que manter minhas notas, não apenas porque minha madrasta exige, mas porque eu quero. Só que todo o tempo em que eu estou em casa e, ela, no colégio, eu uso para estudar guitarra. É o único momento que eu tenho, e por isso compenso me concentrando nas matérias do colégio nos horários que me restam.

Ao final, dei de ombros. Uau, eu realmente conseguia desabafar com ele. As palavras saíam com uma facilidade que nem eu sabia conseguir. Brian me fitava quase que admirado.

- Meu Deus, Karen, eu não tinha como fazer ideia de nada disso. Isso é... loucura. Eu sinceramente acho que nunca conheci alguém tão dedicado às coisas quanto você me diz ser. Eu andei te subestimando.

E mais uma vez me surpreendi. Ele não tinha cara de quem dizia esse tipo de coisa. Mas afinal, ele, assim como eu, parecia ter facilidade em ser sincero e dizer qualquer coisa que estivesse passando pela sua cabeça.

- Eu nunca fiz questão de me autopromover, de todo jeito – ri um pouco. Puxei meus joelhos para mais perto do meu peito, fitando o asfalto por um tempo. – Me fale de você agora, Brian. Me fale como você conheceu seus amigos. Vocês parecem ser bastante unidos.

Brian sorriu.

- Nós somos melhores amigos, Kah, somos praticamente irmãos. Isso começou porque Matt e Jimmy se conheceram na segunda série, e eu e Jimmy nos conhecemos na oitava. O engraçado é que a gente caiu na porrada, nós estávamos numa fila sei lá para quê, ele tirou com a minha cara e eu parti para cima dele. Nós fomos parar na diretoria, começamos a falar sobre música e nos tornamos amigos, ele foi na minha casa pra gente tocar e foi isso. A Val é melhor amiga do Matt desde que ele estava na sexta série, e acho que simplesmente evoluiu para um namoro com o tempo, e assim conhecemos as gêmeas. Matt e Zacky se tornaram amigos no começo do high school, e foi nesse tempo que conhecemos os outros, os Berry, o Dan, por aí vai. Nós crescemos juntos.

Eu sentia o carinho que ele tinha pelos amigos em suas palavras, era palpável.

- E música?

- Eu me vi quando te assisti tocando aquele violão. Todos nós somos como você, apaixonados por música. Meu pai também é guitarrista, já lançou discos e tal. Ele relutou em me apoiar na minha decisão de fazer a mesma coisa, mas por fim me deu o suporte que eu precisava. Eu venho aprendendo guitarra desde que me entendo por gente. Quero cursar música quando sair do colegial. Quero ser músico, ser grande.

- É isso que todos vocês querem?

- Totalmente. Sabemos que pode ser uma merda no começo, ou por bastante tempo, mas queremos isso. Acho que você também quer.

- Quero. – fitei o chão, suspirando. – Eu quero, mas... a Liz, ela odeia isso. Ela nunca...

- Foda-se! Ela não é sua dona, Karen.

- Eu sou dependente dela, Brian. Não posso simplesmente contrariar as vontades de quem me criou.

- Dois anos, morena. Dois anos para você fazer 18, e daí você vai ser dona da sua vida.

- Não é tão simples assim, pode não dar certo. Não posso jogar tudo para os ares por algo que pode não me trazer futuro.

- Você está falando que nem uma quarentona, Foster. Eu, hein, a diretora te transformou em uma velha ranzinza e frustrada num corpo de 16 anos.

Ri, o que fez Brian rir também. Infelizmente, porém, ele tinha razão.

- Você é o tipo sonhador, Brian. Eu não sou assim, eu sou pé no chão.

- É, e enquanto você sobe degraus, eu alcanço o céu!

Ele fez cifres com a mão, apontando para o céu azul. Ri, olhando-o divertida, admirada com sua determinação.

- Devo dizer, Delinquente, acho que também te subestimei.

- Com isso posso esperar que você descarte esse apelido, então?

- É, acho que sim – sorri.

Brian não tirava seus olhos de mim, e algo me prendeu a eles. Porra, ele tinha olhos lindos.

- Ahm... Vamos entrar? Você tem que treinar para ser um músico de sucesso e eu preciso fazer meu trabalho sobre Guerra Fria.

Levantei-me, estendendo minha mão. Brian riu, segurando-a e se levantando sem realmente precisar da minha ajuda. Ele se colocou de pé num salto, sem soltar minha mão. Chegou perto de mim, muito perto, e me permiti fitar seus lábios enquanto ele aproximava seu rosto do meu. Por fim me soltei e me afastei, sorrindo debochada enquanto me dirigia à casa dos Sanders.

(...)

- Foi uma boa ideia nós termos nos reunido para continuar o trabalho – Mich disse. – Agora só precisamos desenvolver os tópicos. Vamos separar?

- Se pegarmos esses doze capítulos grifados podemos ficar com quatro para cada.

- Eu consigo terminar minha parte nesse final de semana – falei.

- Como a Kah é eficiente! Enfim, nós damos um jeito também.

- Está bom por hoje, né? Podemos descer para ver os meninos tocarem? – Val pediu, e nós aceitamos o convite.

Os meninos tocaram quase o tempo todo que passamos fazendo o trabalho no quarto do Matt. Eles usavam a garagem da casa, e por causa disso o som ficava um tanto abafado. Nós três descemos e saímos da casa, entrando pela porta lateral da garagem. Naquele momento, Brian parou seja lá o que estivesse tocando.

- Opa, não queríamos atrapalhar – eu disse, desculpando-me.

- Hey, sentem aí – Brian disse. – A gente estava para começar Stairway To Heaven.

Meus olhos brilharam ao ouvir isso. Acenamos para Matt Wendt, que deveria ter chegado durante a tarde, e descobri que ele era o baixista. Até então eu não sabia o que cada um tocava, mas bastou dar uma olhada na garagem que logo vi uma banda ali. Eu sinceramente ainda não entendia por que eles não eram uma.

Matt lia alguma coisa, sentado numa banqueta com um suporte de microfone na frente. Jimmy estava sentado atrás de uma bateria, Wendt ajeitava a alça que sustentava o baixo, e Zacky mexia em alguns botões do amplificador. Havia mais três microfones, para Jimmy, Zacky e Brian.

Logo Brian começou o dedilhado da música do Led Zeppelin, e meus olhos não desviaram dele por momento algum daquela introdução, somente quando Matt começou a cantar e eu me surpreendi com sua voz. Ainda assim, Brian tocando aquela guitarra ganhava minha atenção, era lindo. Assisti à performance totalmente vidrada. Quando todos os instrumentos apareceram, eu só conseguia pensar na sincronia que aqueles meninos tinham. Mesmo sem tocar nada de autoria deles, dava para notar que os caras tinham talento. Fiquei curiosa para saber como seria o som de cada banda. Quando me vi já estava balançando a cabeça no ritmo da música enquanto Brian solava, e quando Matt voltou a cantar, Brian e Zacky o acompanharam. Ao final da longa música, eu me levantei quase num salto e comecei a bater palmas, arrebatada.

- Caralho, vocês são demais! – gritei, e todos pareceram achar minha reação engraçada. – Puta merda, a disputa de vocês na Competição de Bandas vai ser foda!

- Valeu, Kah – Matt agradeceu com um sorriso fofo.

- Pode ter certeza de que, se você se inscrevesse, a disputa ficaria ainda mais acirrada – Brian disse, deixando-me sem jeito.

- Não sou tão boa quanto vocês.

- Ah, para com isso – Jimmy disse. – Na verdade a gente é quase uma merda, você que se empolgou.

Rimos, e eu neguei com a cabeça.

- Vocês são ótimos, meninos. Sei que vão ter futuro nisso.

 

Dias depois...

Não passei muito tempo com os meninos nos últimos dias. Eles até me convidaram a ir à praia com eles no final de semana, mas recusei por ter de terminar o trabalho de história. Com tantos trabalhos que os outros professores já começavam a passar para gente, a minha monitoria e ainda o tempo de intervalo que eu tinha que usar para as inscrições, estava difícil tentar começar a ter uma vida social. De todo jeito, eu andava ocupada demais para me preocupar muito com isso.

Eles vinham me ver às vezes, e eu conversava muito mais com as gêmeas, mas Brian andava meio sumido e eu não sabia por quê. Até cheguei a cogitar que fosse por eu não tê-lo deixado me beijar – porque ele claramente tentou no dia que fomos à casa do Matt –, mas eu acreditava que ele não fosse esse tipo de cara.

Quase duas semanas depois que eu saí com eles, durante um intervalo eu vi Brian entrar na sala em que eu estava, totalmente entediada depois de dez minutos em que ninguém viera se inscrever.

- Oi Brian – sorri de lado.

- Ei, Kah, sabe de uma coisa? – ele disse, vindo até mim sorridente como sempre. – Eu acho que você deveria começar a se arriscar mais.

Franzi o cenho. Brian estava mais animado do que o normal, e fiquei confusa com a abordagem estranha que ele acabara de fazer.

- E por que você acha isso?

- Porque eu acho que você também deveria tentar alcançar o céu! – ele se sentou na ponta da mesa, perto de mim.

- Lá vem você com isso – ri. – A Liz já cortou minhas asas, Brian, tarde demais.

- Você tem medo de desafiá-la, é esse o problema – ele disse. – Porra, Karen, você não tem que agradar ninguém.

- Você acertou, Haner, eu tenho medo, sim – falei, me irritando um pouco. – Minha madrasta não me apoiaria em nada que não me levasse à tão sonhada faculdade de economia. Você, ao contrário de mim, tem seu pai para te apoiar, e vejo que seus amigos também têm. Como eu poderia conseguir sair do chão sem uma base para me dar apoio?

- A Srta. Ross não é a única pessoa no mundo. Você não precisa do apoio dela. Você quer ser perfeitinha, tem medo da desaprovação da diretora. Isso é muito nítido, mesmo você não sendo nem um pouco transparente, Karen.

- Isso, continue jogando na minha cara que eu sou covarde, que sou fraca, uma menina ranzinza e frustrada! – levantei-me, magoada, ensaiando uma fuga daquela sala. Brian, porém, segurou meu braço.

- Ei, ei, ei, eu não disse nada disso!

- Mas é isso que eu sou – murmurei, cabisbaixa, fitando seus olhos.

- Não, você não é. Mas posso te dizer algo bem sincero? – assenti, incerta. – Se você continuar vivendo com medo, vai perder a chance de viver muita coisa. Isso pode parecer meio clichê de se dizer, mas nós somos adolescentes, estamos na fase de fazer merda. Não quer dizer que somos idiotas e não sabemos diferenciar o certo do errado, mas sim que deixamos o medo de lado e levamos adiante nossa vontade de arriscar. Teremos a vida inteira pela frente para sermos adultos responsáveis, e, afinal, se não tomarmos uma decisão por medo de estarmos cometendo um erro, nunca vamos saber se era realmente um erro ou não. E é por isso que eu acho que você deveria se arriscar um pouco, sabe, não perder as oportunidades de fazer algo que você gosta por medo.

Fitei-o, atônita. Ele novamente tinha razão, e eu, merda, me sentia tentada a seguir seu conselho. Mas Brian tinha garra, eu via nele e em seus amigos uma vontade de desafiar o mundo. Eu não era assim, mas... tinha alguma coisa dentro de mim querendo dar o mesmo grito de batalha, dizer: “Eu posso! Mesmo que vocês pensem e digam que não sou capaz, eu sou!”, mas...

- Brian... – falei, sentindo-me derrotada. – Você não entende, eu não posso...

- Espere – ele pediu, caminhando até a porta da sala. Ele pareceu chamar alguém e, ao voltar, reconheci duas das três garotas que vinham com ele. Uma, a menina que viera se inscrever como cantora e tecladista, Alice o nome dela, eu acho. Era loira e pequena. A outra, era a garota punk que pegara detenção na mesma semana que o Brian, os cabelos tingidos de preto com mexas roxas, a pele mais morena e olhos negros. A terceira, era uma ruiva muito bonita, tinha a minha altura. – Sabe, eu sumi por uns dias porque estava ocupado bolando um jeito de te convencer a se inscrever na Competição de Bandas.

- Que diabos você está querendo dizer? – indaguei, olhando as garotas. Elas sorriram para mim e eu acenei, mas ainda intrigada.

- E então eu me dei conta de que, sim, a sua madrasta poderia até ser um problema, já que você não quer peitar a velha – ele continuou. – Mas, você se esqueceu de que ela também é a diretora, e como tal ela deve ser neutra em relação aos alunos, ela não pode impedir uma única aluna de se inscrever em um evento do colégio! Estou certo ou não estou?

Abri um sorriso, negando com a cabeça sem acreditar em como esse maldito garoto era esperto. E insistente, devo dizer.

- Está, você sabe que está – falei, cruzando os braços e apertando os lábios, tentando não sorrir demais. Brian veio até mim.

- Então, Kah, Alice canta e toca teclado, a Emily toca baixo e também canta, e a Carol é uma baterista muito boa, sei disso porque ela estudou bateria junto com o Jimmy – ele pareceu segurar o riso ao mencionar isso, mas não entendi. Ele indicou as garotas, e dessa vez meu sorriso foi mais simpático. – Eu andei essa semana procurando garotas que pudessem estar a fim de formar uma banda, e aqui estão elas. Elas até me permitiram ajudar a escolher um nome. O que acha de Sweet Revenge? Eu particularmente achei muito foda.

- Ele diz isso porque foi quem escolheu o nome – Carol disse, abrindo um sorriso de lado.

- É, eu não ia me vangloriar por isso, mas sim, fui eu.

Brian se virou para mim outra vez, seu sorriso lindo aumentando ao ver a expressão em meu rosto. Eu estava surpresa, emocionada, nervosa. Eu o olhava sem nem piscar.

- Então, Kah, o que me diz?


Notas Finais


Ahhhhh, e agora? Karen Foster na Competição de Bandas, será?
Convido vocês a darem uma olhada nas minhas fics (uma enorme suahsuahs e duas Bratts delicinhas)
Meu xodó: https://spiritfanfics.com/historia/overdose-of-you-811744
Minha Lemon Bratt: https://spiritfanfics.com/historia/finding-myself-in-you-10267475
Minha oneshot Bratt: https://spiritfanfics.com/historia/take-my-hand-8310306
Até mais! :*


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...