Selena's Point Of View
Los Angeles, Califórnia.
3 de março de 2015
Sinto minha cabeça latejar fortemente e com isso abro os olhos. Meu corpo inteiro dói, é como se eu tivesse sido atropelada por um trem, e isto não é exagero. Observo o local em que estou por um instante; aqui é gelado e totalmente empoeirado. A porta de ferro à minha frente se encontra fechada, e rapidamente flashbacks daquela madrugada me vêem à mente. De repente me encontro desesperada, minhas mãos estão atadas em um nó cego forte. Começo à gritar por ajuda, mesmo que talvez alguém não me escute. Não sei onde estou, por isso uso toda a minha voz para tal ato.
— SOCORRO! — não faço ideia de quantas vezes repeti a mesma palavra. Trinta, talvez. — EU ESTOU PRESA!
E, por fim, eu choro. Choro como se não houvesse amanhã. E talvez, para mim, realmente não houvesse. O que eles ganhariam me sequestrando? Poderiam vender meus órgãos e ganhar algum dinheiro. Minha mãe me contava sobre, já que ela trabalha em um hospital e casos como este são comuns. Automaticamente lembro-me dela e em como ela deve estar preocupada. No minuto em que à liguei, informei que não demoraria para chegar. Mandy deve estar desesperada, se duvidar, acionou até mesmo o FBI. Não que fosse possível, de todo modo. É apenas uma expressão.
— Olhe só quem resolveu despertar do sono da beleza.
Levanto o olhar, ainda com uma pontinha de esperança em sair viva de toda essa situação. Vejo que a porta de ferro — antes fechada — se encontra aberta, e que há um homem bem à minha frente. Este é alto, moreno, usa um terno preto e um aparelho de comunicação em uma das orelhas. Sua expressão debochada me trás certo medo.
— Você pode me ajudar? Estou presa aqui e não faço ideia de onde estou. — murmuro, temendo pela resposta. — Por favor. — acrescento soltando um suspiro. Segundos de silêncio são proferidos até que ouço sua gargalhada estrondosa ecoar pelo ambiente.
— Garota estúpida. — me sinto ofendida, mas não rebato. Tenho medo do que posso receber em troca. — Você realmente não faz ideia do que está por vir, não é?
— Irão arrancar meus órgãos e vender para o mercado negro? — ele nega, ainda sorrindo debochadamente. — Irão me vender na Deep Web?
— Talvez. — ele não para de sorrir. Chego a pensar que ele tem algum tipo de disturbio. — o chefe lhe aguarda no escritório. Vamos. — espere, chefe?
— Chefe? — pergunto enquanto ele desamarra a corda firme de meus pulsos, que assim que libertos, ardem em contato com o oxigênio. — Onde eu estou?
— Deixe para perguntar quando tiver permissão, garota. — é a resposta dele. Queria rebater e enchê-lo de perguntas, mas de última hora decido ficar quieta e ver onde isso vai dar.
O segurança — pelo que pude perceber —, me guia entre extensos corredores. Ao passar por uma porta de madeira, me vejo em um mundo completamente diferente do anterior. Quando digo anterior, me refiro ao porão em que estava minutos atrás, presa. O que enxergo agora é um corredor aconchegante, como o de uma casa chique. As paredes possuem um papel-de-parede vermelho, combinando com o piso amadeirado que o chão recebe. Há lustres no teto e quadros de mulheres semi-nuas na parede. A batida baixa que soa por todo o ambiente me ajuda a descobrir que estou em uma boate. É um palpite, o principal no momento. Eu só quero sair disto viva. Apenas.
— Estamos chegando? — pergunto, ouvindo o homem bufar e segurar meu braço um pouco mais firme.
— Cale a boca.
— Custa você me responder? Não vai cair a língua. E também não seja mal educado, aprenda a tratar as pessoas com respeito, ouviu?
— Custa você fechar essa matraca por dois minutos? Garota insuportável. — paramos em frente à outra porta, desta vez ela é maior e é constituída por madeira de carvalho escura. — chegamos. Não abra a boca nem por um segundo, ouviu? Apenas quando alguma pergunta lhe for direcionada. Trate aquele cara com respeito, você não irá querer vê-lo bravo.
— Eu não poderei perguntar nada? — o cara nega. — afinal, quem é ele?
— Você irá descobrir agora. — ele está prestes à bater na porta quando eu lhe interrompo. — o quê foi agora, caralho?
— Qual é o seu nome?
— 'Pra quê quer saber o meu nome? — faz uma carranca, arqueando a sombrancelha esquerda.
— Responda!
— Bruce.
Nome de cachorro. Penso comigo mesma e tenho vontade de rir, mas me controlo ao extremo, pois a situação neste momento era séria.
— Então, Bruce... — começo, ainda hesitante. — eu sei que começamos com o pé esquerdo e sei que você realmente não se importa comigo, mas me ajude à sair daqui, por favor! Estou com um pressentimento ruim e não quero entrar nesta sala.
— Você não desiste nunca, né? Pare de drama.
— Desistir não está no meu sangue.
— E eu não poderia me importar menos com isso. — debocha, olhando para os lados. — se me virem de papinho com você, estarei ferrado. Vamos acabar logo com isso, donzela. Entre naquela sala e faça o que tem que fazer.
— O quê eu tenho que fazer lá dentro? E aliás, por que me sequestraram? — Bruce revira os olhos e sem mais delongas bate na porta. Após exatos treze segundos, um quase inaudível "entre" é proferido dentro da sala. A porta se abre assim que Bruce dá mais um passo à frente, me levando consigo.
— Aqui está ela, patrão. — responde firme, mantendo contato visual com o homem sentado em uma poltrona de couro, atrás de uma mesa ideal para escritórios. — foi difícil pegá-la, mas nada impossível.
Difícil? Ele simplesmente me sequestrou em frente ao MEU apartamento e me fez desmaiar. Tudo isso em menos de quarenta segundos. Este cara está delirando.
— Obrigado, Bruce. Seu trabalho está concluído, por hora. — O homem mantêm o olhar em mim, perfurando minha alma. Literalmente. Cruzo os braços enquanto o segurança me solta e saí do escritório, fechando a porta logo em seguida. — Sente-se, senhorita Gomez.
— Como sabe o meu sobrenome? — arqueio uma sombrancelha enquanto faço o que ele me pede, cruzando as pernas logo depois e esperando que o mesmo prossiga.
— Eu sei de muitas coisas. Aliás, como vai sua mãe? — o cara aparenta estar em seus quarenta e poucos anos. Cabelos grisalhos e olhos profundos, é intimidador, adimito, no entanto, de onde ele conhece a minha mãe? — Mandy, não é mesmo? — ele ri, como se lembrasse de algo.
— Como conheceu a minha mãe?
— Este assunto não é propício para o momento. O que tenho à
tratar com você é importante. — arruma a postura e coça a barba enquanto fala. Creio que é alguma mania.
— Mas a história de como você conheceu a minha mãe e como sabe o meu sobrenome também é importante. — rebato, com a testa franzida. — e eu gostaria de saber sobre isto agora, se for possível.
— Não é. — responde rude. — escute, Gomez. Aqui você irá aprender o seu lugar e entenderá que existem pessoas muito acima de seu patamar, aprenderá à respeitá-las e obedecer assim que uma ordem lhe for dada, estamos entendidos?
— Por acaso isso é um reformatório? Se for, lamento informar, mas já concluí o colegial à muito tempo. — juro que não quis ser cínica, falei até com um ar humorado, mas o senhor à minha frente ficou emputecido e resolveu surtar, batendo o punho na mesa e derrubando algumas coisas que estavam ali.
— Escute bem o que vou lhe falar agora, pois não irei repetir. — trava o maxilar, me encarando severamente. — de agora em diante, trabalhará para mim, na boate. Sugiro que comece logo, ou irá ter problemas futuros. Seguirá as instruções que anotei neste papel, — me entrega um pequeno pedaço de papel, com algumas frases escritas — e fará de sua estádia aqui, a melhor possível. Imagina que você saiba que isto é uma boate, fui claro?
— Nem um pouco! — exclamo e o velho me olha abobado. — trabalhar aqui? Sem preencher nenhum tipo de currículo e sem saber qual será o meu salário? Estou fora. — ameaço me levantar, mas o homem segura meu braço com força. — me solte!
— Irei esclarecer as coisas, Marie. — fala meu segundo nome com deboche, fazendo um arrepio percorrer da minha espinha até a nuca. — você foi sequestrada, certo? Não receberá nenhum tipo de salário e muito menos preencherá um currículo. — ele sorri, irônicamente.
— Mas isso é trabalho escravo! — grito, perdendo a paciência que me restava. — você é louco.
— Você, minha querida, irá trabalhar comigo por bem ou por mal. Seria melhor para você se fosse por bem, pelo menos não iria sofrer as consequências. Mas se você quiser que seja por mal, sem problema algum. É dançar ou morrer. Você escolhe. — sorri mais uma vez, enquanto eu me controlo ao máximo para não chorar. O que não dura muito, já que segundos depois sinto as lágrimas salgadas percorrerem meu rosto, e ouço sua gargalhada. Exatamente como um verdadeiro vilão de histórias em quadrinho.
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