1. Spirit Fanfics >
  2. The Three Books >
  3. O líder

História The Three Books - O líder


Escrita por: Learos

Notas do Autor


Olha eu aqui de novo.
Então, agora vamos para a história de verdodo:

Capítulo 2 - O líder


Fanfic / Fanfiction The Three Books - O líder

1

O som repetitivo das várias gotas contra o chão já não incomodava mais. Nem sequer Deus sabia há quanto tempo permanecia naquele lugar, completamente imobilizado sobre uma superfície dura, com os braços puxados para trás, presos a cadeira de madeira por algemas grossas e doloridas. Durante seu cárcere, apenas recebia alimento de gosto horrível, acreditava até mesmo tratar-se de ração para animais, escutava algumas conversas irrelevantes, comentários maldosos sobre seu estado e sons do ambiente, sentia o cheiro de podre que parecia inundar o local tão misterioso para seus olhos vendados, e recebia auxilio para necessidades fisiológicas, poderia dizer até que estes foram os únicos momentos em que pôde mover um pouco suas pernas. Seus lábios estavam ressecados e sua respiração dificultosa, a boca de seu estômago não lhe dava sossego, estava morrendo de fome. A dor era tanta que suas sobrancelhas franziam a cada fisgada do órgão, trazendo alguns gemidos de dor para os lábios do rapaz.

Sem muita coisa para ocupar a mente ele recordava aos poucos o momento em que foi sequestrado, ainda sentia a dor consequente da tão forte porrada que o fez perder a consciência. Pelo o que diabos havia sido atingido era outro mistério. Apesar de toda sua confusão mental, tinha uma breve ideia do motivo para tudo aquilo. Não haveria de ter outro motivo para um simples pintor feito ele estar naquele estado, não tinha absolutamente nada a oferecer a não ser informações. As suspeitas apenas firmavam-se a cada hora que passava refletindo.

Com um feixe de novidade e talvez até mesmo alivio, pois imaginara que a presença traria também sua chance de liberdade do pesadelo que há dias vivia, escutou o ruído de sapatos novos aproximarem-se, um som diferente de todas as solas que percorreram o maldito quarto, os saltos não deixavam dúvidas. Pôde escutar o único acompanhamento que teve durante esse período soltar um longo suspiro e levantar-se assim que os tais sapatos adentraram o local, era um simples guarda que permanecia sempre próximo a sua cadeira, as vezes até mesmo trocava algumas palavras com John quando este perguntava o horário. A madeira do salto em contato com o chão ecoava, trazendo sensações e arrepios terríveis que o acertavam em cheio, torturando toda sua espinha.

Então os passos cessaram, bem diante de seu corpo. O estrondo do arrastar de uma cadeira entrou por seus ouvidos, acompanhado por um baixo som do corpo da pessoa movendo-se, provavelmente havia sentado na cadeira ruidosa.

Um leve arrumar de tecido e, em segundos, o pano que limitava seus olhos desapareceu, não o sentia mais sobre suas pálpebras. Estava na hora de abrir os olhos e encarar tudo o que temia.

Mas ele não queria, não queria confirmar suas suspeitas, pois sabia o quão terríveis elas eram.

-Depressa, abra os olhos. - Escutou a ordem, era uma voz tão nova quanto o som produzido pelas solas dos sapatos. Recusou-se a obedecer as ordens, ao contrário, apertou as pálpebras firmemente e abaixou a cabeça, escutando sua respiração ainda mais dificultosa e o coração bater rápido contra sua caixa torácica. A pessoa bufou diante de tal afronta. -Eu mandei abrir os olhos, John Winston Lennon!

O nome ecoou pelo quarto, a pessoa sabia seu nome. Ele abriu os olhos, não poderia mais aguentar tanta tensão, no entanto, ainda encarava as próprias pernas. Tudo o que sua mente conseguiu processar de momento era que usava uma calça cinza imunda e rasgada, uma grande mancha de sangue já seco em sua coxa dividia espaço com outras escuras, provavelmente terra ou barro. Subiu um pouco o olhar e notou que usava uma camiseta esverdeada, a gola estava frouxa, como se tivesse entrado em uma briga. O tecido da camiseta estava tão sujo quanto o da calça. Seu maior pavor havia tornado-se realidade, sair vivo daquele local seria um grande milagre.

Lentamente, John ergueu a cabeça. Desacostumados, seus olhos lacrimejavam pela luz, sentia algumas lágrimas quentes escorregarem por suas bochechas. De início, sua visão, perturbada pela miopia e pela dor, avistava apenas um vulto, bem a sua frente e a sua altura, provavelmente estava sentado assim como John. Piscou algumas vezes, molhando seus cílios com as próprias lágrimas. Apertou os olhos e a imagem começou a formar-se com um pouco mais de sentido.

-Fui informado de que tinha problemas visuais, auditivos é novidade. - A pessoa zombou, seguida por uma risadinha.

Muitos revelaram seu nome, contavam histórias e rumores sobre ele, davam breves dicas sobre sua aparência, o tão temido líder, o que permitia que o sobrenome McCartney reinasse com uma terrível fama.

John colocou seus olhos cansados sobre o rapaz a sua frente, era exatamente como contavam, de aparência extremamente delicada, os cílios fartos, que claramente possuíam uma camada de máscara, enfeitavam o olhar que aparentava inocência, tinha a pele alva e os lábios avermelhados, pequenos e levemente grossos. Os grandes olhos, castanhos e de aparência sonolenta, o assistiam entretidos pelo estado lastimável de seu prisioneiro. Seus cabelos escuros encontravam-se totalmente organizados, John conseguia até mesmo vê-los brilhando com a luz fraca, provavelmente usava gel. O pescoço do rapaz era protegido por uma alta gola de coloração clara, que acompanhava uma camisa de mangas longas, dobradas quase a altura dos cotovelos, limitadas por um colete escuro que apertava o tronco. Um laço de tom vinho extravagante diante da gola enfeitava o traje. Tinha as pernas cruzadas, transparecendo toda sua liberdade em acomodação por baixo da calça escura, parecia querer mostrar arrogância com sua postura, mostrar com quem John estava lidando e o quão perigoso era. Pena que sua aparência não colaborava tanto quanto sua postura. Como já desconfiava, usava sapatos de salto baixo. Tinha as mãos cobertas por luvas brancas feitas por um material que parecia cetim e que brilhava com a luz fraca do ambiente. O dedo indicador lhe percorria o lábio inferior, traçando o sorriso cínico que perpetuava pela boca afeminada.

-Vinte e seis anos, não? - Entregou-lhe a idade, trazendo mais arrepios para a espinha de Lennon. -Parece mais velho, sinceramente, considerando que já tem um filho. - As palavras deixavam sua boca em um tom calmo, quase tão inofensivo quanto sua aparência.

Assim como a coragem para abrir os olhos, a petulância o invadiu em pouquíssimos segundos. Crente de que não estava lidando com uma figura tão perigosa quanto falavam, John decidiu enfrentar aquele rostinho afeminado e frágil que acreditava que jamais lhe faria mal, que jamais teria a coragem de lhe causar males tão terríveis assim como fora informado. Tentou forçar seus lábios para um sorriso, por mais que eles rachassem na mais simples tentativa.

-Pensa que é o único que sabe bastante sobre a vida alheia? - A voz de John ecoou rouca e debilitada, mas ele insistia em falar, queria mostrar o quão forte e corajoso era. -Acha mesmo, James Paul McCartney? - Praticamente cantarolou o nome do rapaz.

Aguardava o momento em que o sorriso despencaria do rosto delicado, esperava que o rapaz se surpreendesse com sua tamanha audácia em decidir enfrenta-lo, o líder do grande reino no qual se encontrava enclausurado, porém, seus lábios continuavam tão curvados quanto os de Lennon. Observou como o líder respirou fundo e a maneira como balançou sua cabeça de um lado para o outro de maneira desaprovadora. Então, ele levantou a mão direita, levando-a até o bolso de sua calça escura, retirou de lá um maço de cigarros quase novo. Com a mão esquerda, pegou um cigarro do maço e o driblou entre os dedos, seu olhar abandonou Lennon e dirigiu-se para a presença atrás do prisioneiro. John escutou o guarda mover-se praticamente no mesmo segundo que o olhar orgulhoso do líder caiu sobre ele, logo percebeu um braço que surgiu ao seu lado com algo brilhante em mãos, um isqueiro, o objeto foi levado até Paul, que estendeu o braço para que a flama entrasse em contato com o tabaco. Logo o cigarro entre os dedos do jovem rapaz estava aceso. A fina fumaça que deixava o objeto acompanhou o cigarro até diante do rosto do líder, este o tragou de maneira sossegada. Seus olhos calmos acompanhavam a fina linha que subia no ar como se nada passasse por sua mente.

Assim que a fumaça deixou os lábios vermelhos, ele abaixou o cigarro e voltou a fitar John com o mesmo sorriso. Sorriso que estava começando a trazer todo o pavor para a mente de Lennon mais uma vez. John não sabia o que esperar, estava preso por algemas a uma cadeira diante do líder, que todos diziam ser sanguinário e mesquinho, mas este não lhe fizera qualquer mal terrível ainda, apenas sorria e o observava por trás de olhos tão delicados. Encarava como se conseguisse ler seus pensamentos. John não sabia quando ele iria tomar alguma atitude, quando colocaria as cartas na mesa, ou até mesmo quando este anunciaria que seria executado, John apenas o questionava com o olhar, recebendo como resposta o brilho indecifrável nos olhos do líder. Todo aquele suspense o apavorava e ao mesmo tempo confortava.

Mas a atitude surgiu, de maneira dolorosa e inesperada. John sentiu um tranco em sua mandíbula, então seus dentes foram pressionados violentamente e sua gengiva adquiriu uma ardência que parecia queimar. Suas bochechas sentiam uma pressão insuportável, a mente debilitada de Lennon precisou de alguns segundos para finalmente entender o que estava acontecendo. A mão direita do líder agora estava em seu rosto. Com o polegar em uma bochecha e o restante dos dedos na outra, apertava sua mandíbula e maxilar juntos, obrigando-o a não abandonar o rosto que até poucos segundos parecia tão inocente. Seu sorriso havia desaparecido, assim como o de Lennon. John conseguia sentir o gosto de sangue no interior de suas bochechas, sentia sua pele rasgar-se levemente com a pressão que sofria contra os dentes. Paul estava a poucos centímetros do rosto de Lennon, seus olhos não deixavam de julga-lo, mas sua expressão havia mudado, deixava transparecer a falta de paciência e a raiva com as sobrancelhas, tão arqueadas e adamadas, completamente franzidas.

-Repita meu nome. - Ele ordenou entre os dentes. Visivelmente irritado. -Vamos! Repita o meu nome!

John engoliu em seco. Quanto mais pensava sobre o que fazer, mais aqueles dedos apertavam suas bochechas. Era impossível dizer qualquer coisa, então a única coisa que Lennon fez foi fechar os olhos e balançar rapidamente a cabeça de um lado para o outro, negando que voltaria a falar o nome do líder.

-Como eu imaginei. - O semblante anterior retornou ao rosto afeminado. Um sorriso satisfeito estava estampado em seus lábios, mesmo que a mão ainda torturasse John a ponto de fazê-lo dar alguns gemidos de dor. -Olhe para mim! - Disse firme. John, por sua vez, não ousou desobedecer a ordem. Abriu os olhos sem pensar duas vezes. -Se você voltar a repetir o meu nome - Paul começou a sussurrar, aproximando ainda mais o rosto conforme dizia cada palavra. A distância era tão pouca que John conseguia sentir o ar quente deixando a boca do líder, por mais irônico que possa parecer, seu hálito revelava o aroma de chá de camomila misturado com tabaco. -Eu juro que corto ao meio sua jugular. - A mão em seu rosto o fez arquear um pouco a cabeça e John arregalou os olhos ao sentir uma forte ardência em seu pescoço. Paul traçava sua pele com a ponta do cigarro aceso, queimando a carne da área sem dó e arrancando mais alguns gemidos de John. -Então, eu te assisto sangrar até a morte. - John sentiu algumas lágrimas formarem-se nos cantos de seus olhos, mas não deixava de fitar o outro por sequer um segundo. -E a última coisa que vai ver em toda essa sua vidinha miserável será o meu belo sorriso orgulhoso. - O cigarro chegou a outra ponta do pescoço, já completamente apagado. Paul jogou o cigarro no chão e afastou o rosto, observou a vermelhidão na pele de seu prisioneiro com brilho nos olhos, imaginando o quanto aquilo estava ardendo. -Qual é o meu nome mesmo?

-Eu... Eu não sei. - John disse com dificuldade. Para a sua sorte, as palavras conseguiram deixar seus lábios, mesmo que estivessem quase que completamente comprimidos pela pressão que suas bochechas sofriam.

Paul soltou seu rosto, tão repentinamente quanto da maneira que o agarrou. O prisioneiro abaixou a cabeça, completamente derrotado. Abriu e fechou a boca lentamente algumas vezes, checando se ainda conseguia mover o maxilar depois de tanto aperto.

-Meu nome é algo muito sagrado para estar nesta sua boca imunda. - O líder disse em um tom de desprezo. Levou os dedos a franja de John e os fechou nos curtos fios, puxando-os para cima com força e obrigando-o a mais uma vez levantar a cabeça para encontrar seu rosto. John soltou um ganido de protesto, mas não ousou dizer sequer uma palavra, fitava Paul com um olho fechado e outro aberto, os dentes completamente cerrados para evitar que outro gemido de dor deixasse sua boca. Aqueles cílios ridiculamente grandes definitivamente não combinavam com o maldito olhar furioso. -Ou seja, para você é Majestade. - Paul não possuía mais qualquer sorriso no rosto, apenas um semblante sério, porém ainda arrogante. -De acordo?

-S-sim. - John murmurou enquanto engolia uma grande quantidade de saliva. No mesmo segundo, recebeu um forte tranco da mão que lhe agarrava a franja, tão forte que conseguiu ouvir o osso de seu pescoço estalar. Mais um lamento o abandonou. -De acordo, Majestade. - Corrigiu-se desesperadamente, implorando para que Paul não repetisse o solavanco anterior.

Quando Paul finalmente soltou os fios de sua franja, sua cabeça automaticamente pendeu, sentia a necessidade de esconder o rosto de tanta humilhação, a fraqueza já o atingia em cheio. Continuava a sentir o olhar perigoso do líder sobre sua figura fraca e indefesa, sentia-o deleitar-se de sua dor, alimentar-se e divertir-se com seu medo e sofrimento.

-Acredito que tenha percebido que não estou aqui para argumentar, portanto, espero que não seja imbecil em tentar qualquer outra gracinha novamente. - Paul levou a mão esquerda para o queixo de Lennon, segurando-o e erguendo sua cabeça de maneira estranhamente delicada. John fechou os olhos para não voltar a encara-lo, depois da humilhação que havia passado, a última coisa que queria era fitar aquele homem e não poder fazer absolutamente nada a não ser enviar-lhe um olhar apavorado e fraco. -Você não é imbecil, certo? - A voz deixou os lábios de maneira gentil, muito diferente do que John havia presenciado instantes antes. Não entendia do que se tratava todo o jogo do líder, em um momento, este o sujeitava a torturas e humilhação, no outro, levantava seu rosto como se John fosse uma pequena criança emburrada e triste por ter perdido sua brincadeira favorita, tratava-o de maneira tão inocente e carinhosa que fazia com que Lennon sentisse que era o verdadeiro monstro.

-Não, Majestade. - Abriu os olhos lentamente e, assim que o fez, um sorriso cresceu nos lábios de Paul. Ele retirou os dedos do queixo de Lennon e trouxe a mão para descansar junto da outra sobre o próprio joelho. John estava com uma imensa dificuldade para respirar, o ar deixava suas narinas com intervalos rápidos, seu corpo estava tenso e seus sentidos não funcionavam corretamente.

-Ótimo. - Paul estava satisfeito com a resposta que recebeu. -Sabe que existe um motivo para estar aqui e para deixar este lugar tudo que precisa fazer é me responder algumas coisas. - Explicou com uma simpatia tão atormentadora que fez John engolir em seco. -Quer voltar para sua família não é mesmo? Aposto que seu filho está te esperando, com um adorável e inocente sorrisinho de criança. - Paul mudou o tom de voz para a última frase, como se estivesse conversando com alguém que não possuía a idade mental de uma criança de cinco anos. Lennon finalmente estava começando a entender, Paul estava zombando de sua vida, fazendo deboche de sua vontade de sair daquele lugar vivo. -Imagine o brilho nos olhos dele quando reencontrar seu pai, completamente são e salvo. Inclusive, se for bonzinho, prometo que receberá uma recompensa. O que acha de uma grande caixa cheia de chocolates e doces? Crianças adoram chocolate. - Gesticulou no ar. Seu sorriso a cada segundo tornava-se mais arrogante, petulante de maneira quase repulsiva. John se sentia como uma grande piada, se segurava para não protestar. -Mas para isso eu preciso saber- Então, o tom de voz de Paul abaixou, toda a animação desapareceu tão rapidamente quanto da maneira que surgiu. Inclinou-se para frente, olhando-o no fundo dos olhos. -Onde está o primeiro livro?

A pergunta entrou rasgando-lhe os sentidos. John passou a encara-lo com olhos arregalados, respirava pesadamente através das narinas e seus lábios trêmulos separaram-se com a surpresa. Os punhos, presos pelas algemas, cerraram por trás de suas costas, enquanto as palmas das mãos suavam tanto quanto sua testa pelo excesso de adrenalina que corria por suas veias. Sua boca secou e qualquer linha de raciocínio dissipou-se. Já deveria desconfiar que este era o motivo para estar sendo "interrogado" pelo líder do reino, sabia melhor ainda que, quando tratava-se do maldito livro, o jovem faria de tudo para conseguir qualquer informação. John já se sentia morto, havia até mesmo se conformado com aquilo. Conseguia produzir em sua mente imagens do próprio fim.

-E-eu não sei do que está falando, Majestade. - Respondeu com a voz claramente trêmula. O sorriso do líder despencou e ele ergueu uma sobrancelha. Quando Paul afastou lentamente, voltando a descansar as costas no encosto da cadeira sem mudar sua expressão, Lennon se desesperou, aquele silêncio com certeza não seria acompanhado de coisa boa: -Eu juro, Majestade! Não tenho qualquer informação sobre o livro. Juro por minha vida.

Não houve tempo suficiente para John oferecer-lhe mais desculpas, quando se deu conta, as mãos de Paul agarraram em sua camiseta e fecharam fortemente em dois punhos. Ele o puxou com um tranco violento para o próprio corpo, deixando o tronco de John suspenso pelas algemas que estavam presas a uma das colunas do encosto de madeira. Estava mais uma vez próximo ao rosto do líder, que novamente o encarava com descontentamento. John soltou algumas lamúrias pela ardência que seus braços haviam adquirido, esticados e virados de maneira tão desconfortável que tinha a sensação de que a qualquer instante iriam quebrar.

-E quanto você acha que vale sua vida para usa-la como promessa? Hm? - Paul sussurrou, John sentia o sopro de cada frase e a respiração quente batendo direto em seu rosto. -Realmente acreditei que você tinha aprendido, mas parece que ainda não ficou claro. - Torceu ainda mais a camiseta de John, a gola forçava sua nuca a ponto de queimar a pele. -Você tem duas opções, pode me dar o que quero, uma simples resposta, ou pode continuar bancando o esperto e dizer adeus a qualquer chance de sair daqui com vida. - Disse entre os dentes, mais uma vez a paciência o abandonou. -Vou te dar mais uma maldita chance. Onde está o primeiro livro?

Lennon sentiu seu sangue esquentar. Obviamente estava morrendo de medo, suas pernas pareciam até gelatina de tão moles, mas ter aquele rapaz praticamente gritando em seu ouvido e exigindo algo que ele seria incapaz de oferecer fez seus nervos pegarem fogo. Toda sua responsabilidade e autocontrole foram embaçados pelo ódio. Qualquer motivo para manter a boca calada e simplesmente responder de forma satisfatória e respeitosa as perguntas do líder desapareceu. John queria apenas uma coisa naquele momento, devolver toda a merda que havia passado com a primeira frase que surgia em sua mente. Provavelmente se arrependeria da atitude que estava prestes a tomar, mas poderia explodir caso não a fizesse.

-Eu não posso dar a porra de uma resposta que não tenho, seu almofadinha desgraçado! - John gritou do topo de seus pulmões, fazendo o líder o soltar e afastar o corpo, encarando-o com uma expressão surpresa. Paul piscava rapidamente, tentava processar o que havia acabado de ouvir. O infeliz havia o... Desrespeitado? Era uma situação completamente inédita para Paul.

Os instantes seguintes passaram em um silêncio terrível. John fitava o líder forçando uma expressão furiosa, apertava a mandíbula e franzia o cenho juntamente das sobrancelhas para uma carranca intimidadora, seu rosto estava aquecido, tudo que passava diante de seus olhos era a ira. Como um vulcão em erupção, John havia chegado ao seu limite. Sua respiração estava irregular e o pulso acelerado, o coração batia como se tivesse corrido uma maratona.

Com os olhos arregalados e sem saber o que fazer, o pobre guarda assistia-os. Ele levou uma mão até a boca e tapou-a para miseravelmente esconder seu semblante pasmo e evitar qualquer ruído, enquanto intercalava olhares entre John e Paul. Já estava tendo uma breve visão do que viria em poucos segundos. Sabia que para o líder, uma gota significava um oceano, e que este não deixaria barato o que acabou de presenciar.

De repente, quebrando o contato visual com Lennon, Paul levantou e caminhou até a parede, encarou-a por alguns segundos conforme passava a mão esquerda pelo próprio rosto. John definitivamente havia deixado o líder sem muitas ações. Viajou com os dedos pelos fios de seu cabelo escuro para refletir. Queria encontrar um jeito de faze-lo desembuchar todas as informações que desconfiava que o pintor possuía, mas naquele momento não conseguia raciocinar. John merecia uma lição pela afronta, nem que esta lição fosse a morte. Paul tinha o poder em mãos e a última coisa que faria seria permitir que um palerma imbecil sem qualquer índole o desacatasse daquela maneira.

Depois do rápido raciocínio diante do muro de tijolos sujos, ele lançou um olhar para John por cima do ombro, quando encontrou aqueles olhos ainda cheios de raiva e rancor, afrontando-lhe como se não o temesse, Paul acabou perdendo o controle assim como Lennon.

Em um rápido movimento e com passos largos, Paul voltou a se aproximar de John. Segurou firme no encosto da cadeira que se esteve sentado até poucos segundos e a tacou para o lado, jogando-a para o canto da sala pequena com um barulho tão alto que fez John pular em seu assento. Sem saber o que fazer, Lennon tentou seguir com o olhar a cadeira, mas logo Paul segurou firme em seu rosto e o acertou com vontade. Não foi um simples tapa ou um tranco, foi um murro que atingiu em cheio seu olho esquerdo. Ele separou os lábios para soltar um grito de dor agonizante, mas antes que tivesse sequer a chance de que sua voz deixasse a garganta seca outro soco foi acertado em seu rosto, desta vez na bochecha esquerda e no nariz, praticamente duas vezes mais forte do que o primeiro. Com a força do segundo soco ele pendeu para o lado, trazendo junto a cadeira na qual estava algemado. O que veio em seguida foi seu corpo batendo violentamente contra o chão de cimento, a pancada foi tão forte que sua cabeça chegou a quicar com o primeiro baque. Tudo então escureceu para John, nada além de um zumbido ecoava por sua mente e, por um breve momento, todas as dores que o atormentava desapareceram.

Mesmo com seu prisioneiro quase desmaiado, Paul não estava satisfeito. Ele segurou na camiseta maltratada de John e ergueu o punho no ar para desferir mais um murro contra a cabeça do pobre rapaz, mas foi impedido por uma mão que segurou em seu braço:

-Senhor, por favor, pare! - O guarda pediu desesperadamente. O olhar possesso do líder caiu sobre ele, por poucos segundos o guarda imaginou que este descontaria toda sua raiva nele.

-Como? Está me dando ordens? Quem diabos você pensa que é?

-Por favor, senhor. Não me interprete mal. Mas se o senhor tem tanta certeza de que este rapaz sabe algo sobre o livro, seria inconveniente tê-lo nocauteado ou morto. Fora que ele bateu a cabeça, pode acabar esquecendo até mesmo o próprio nome, ou pior, nunca mais conseguir juntar uma palavra à outra de maneira compreensível. - O guarda tentou explicar seu ponto.

Com o punho ainda levantado e totalmente cerrado, Paul encarou por alguns segundos o guarda que parecia tão aflito e preocupado, refletia no que este havia acabado de dizer enquanto sua respiração normalizava. Odiava admitir, e provavelmente jamais iria, mas o guarda tinha um argumento de extrema convicção, não havia colocado um grupo de homens especializados para vigiar o cotidiano do pintor para mata-lo sem mais nem menos quando finalmente o tinha em suas mãos. Deu uma rápida olhada para Lennon, que apesar dos olhos fechados ainda respirava pesadamente e soltava alguns baixos gemidos de dor, uma boa quantidade de sangue escorria por uma de suas narinas e pelo lábio inferior cortado, a bochecha atingida começava a adquirir um tom roxo assim como o olho esquerdo. Aquela surra definitivamente foi suficiente para John jamais pensar em faltar com respeito com o líder, era o que Paul imaginava. Soltou a camiseta do prisioneiro, erguendo-se e limpando a própria roupa, enquanto se afastava indo em direção a porta do pequeno e imundo quarto. Passou as mãos pelos cabelos com gel, arrumando cada fio em seu lugar.

-Levante o fracassado antes que ele manche o chão de sangue. - Ordenou-lhe sem olhar para trás, abriu a porta e deixou o quarto como se nada tivesse acontecido.

-I-imediatamente, senhor.

2

Andava sem pressa pelo longo corredor, ambiente iluminado por um conjunto enfileirado de imensas janelas, uma visão completamente diferente do quarto escuro que esteve minutos atrás. Apesar de estar borbulhando por dentro, Paul não deixava transparecer sua raiva. Com as mãos atrás das costas e a cabeça em pé, ele caminhou pela mansão, precisava esfriar a cabeça e já se sentia sujo por permanecer por tantos minutos naquele quarto fétido. As pessoas que passavam ao seu lado, na maioria empregados e empregadas, não se atreviam a sequer cumprimenta-lo, sabiam que aquela expressão e pose demonstravam que a paciência era algo que já não existia mais no mundo do jovem líder. O trajeto nunca foi tão longo para Paul, até mesmo o tempo de espera pelo elevador o torturava, ainda mais da maneira que estava, quase explodindo. O piso de madeira clara estava começando a dar-lhe náusea, assim como a luz forte do final de tarde, que garantia-lhe o inicio de uma dor de cabeça.

Tudo parecia estar contra Paul. Sentia como se todos os detalhes quisessem atrapalha-lo. E como o grande líder daquele lugar, a pessoa de mais alto escalão do grandioso reino, ele não deixaria que nada disso o afetasse.

Tomar decisões sempre foi seu forte, calcular cada passo precisamente não era um problema para o jovem líder, mas para isso era necessário estar com a mente calma, o que parecia impossível naquele momento. Havia apenas uma coisa que o relaxava imediatamente, um banho quente de banheira e era disso que precisava.

Quando avistou a porta de seu quarto depois de passar por várias outras, de longe a maior daquele corredor, ele suspirou aliviado, estava finalmente perto de seu destino. Encostado diante da parede, um rapaz bem vestido o aguardava. Usava uma roupa similar a de um mordomo. Ele não sorria, quase não piscava. Suas mãos permaneciam atrás das costas como forma de mostrar respeito e o queixo estava levantado, pronto para receber qualquer ordem do jovem.

Paul aproximou sem nada dizer, sequer o cumprimentar. Era o líder daquele lugar, não abaixaria seu nível para trocar palavras com qualquer criado, tirando situações onde tinha uma ordem, o que parecia ser o momento perfeito. Apenas quando tocou na maçaneta brilhante da grande porta dupla, Paul lançou-lhe um olhar e separou os lábios para dirigir-lhe a palavra:

-Richard. - O criado imediatamente virou para o líder, seu semblante ainda neutro e sua postura ainda mais dedicada a realizar qualquer coisa que Paul lhe pedisse. Ele estufou o peito, esperando pela ordem. -Peça para que preparem um banho com bastante espuma para mim.

-Sim, senhor. - Concordou com a cabeça, afastando-se da porta com passos longos para realizar o pedido do líder o mais depressa possível.

Paul adentrou o quarto e bateu a porta com tudo, fazendo ecoar o estrondo por quase todo o corredor. O quarto era requintado ao extremo, tudo parecia exagerado. Janelas gigantescas, um guarda-roupa que ocupava quase duas paredes inteiras, uma TV que igualava-se ao tamanho de uma telona de cinema, bem diante da cama que poderia ser usada por seis pessoas ao mesmo tempo, era realmente imensa. Por baixo das janelas, duas poltronas parecidas com verdadeiros tronos também enfeitavam o quarto. Cortinas de coloração azul escuro impediam que a luz que teve de enfrentar no corredor continuasse o irritando. Por baixo de seus pés não havia piso, mas sim uma grande camada de carpete felpudo branco. Antes de dar mais um passo, ele retirou os sapatos de salto alto e continuou a caminhar apenas com as meias.

Ele não pôde sequer sentir os passos que precisou dar e seu corpo despencou sobre o lençol branco, limpo e cheiroso. Fechou os olhos, enterrando o rosto na camada e aproveitando o cheiro agradável do tecido.

O quarto estava parcialmente quieto, alguns sons de pássaros emanavam por sua janela, baixas vozes acompanhavam as aves, mas estava com a mente tão cheia que nada daquilo realmente existia para ele. Tinha tanta fé de que estava extremamente perto da localização do primeiro livro quando foi informado que o rapaz que vigiavam há meses fora capturado sem muitos problemas. Recebia cada informação com tanta certeza que imaginou que apenas um pequeno "tranco" no prisioneiro o faria dizer absolutamente tudo o que sabia. Afinal, uma equipe que descobriu a suposta localização do primeiro livro não poderia ter se equivocado e pegado um inocente, não é mesmo?

Mas é lógico que não! Paul gritou em sua mente. Existiam provas o suficiente para ele de que Lennon tinha algum tipo de envolvimento com as pessoas que possuíam o primeiro livro, somente o fato de um simples pintor ter uma casa consideravelmente grande já era um verdadeiro motivo para desconfiar, e olha que ele nem era tão bom nisso! Paul pelo menos não pagaria nem sequer duas palavras de um de seus livros para John pinta-lo. Fora as vezes que foi visto adentrando os gigantescos portões do segundo reino, sempre com sua maleta em mãos, olhando para os lados por todo o caminho que traçava. Paul tinha fatos e evidências para acreditar que Lennon estava mentindo quando disse que de nada sabia, coisas que seriam o suficiente para Paul mata-lo como sempre fazia com aqueles que, de alguma maneira, não colaboravam. No entanto, algo naquele rapaz havia chamado sua atenção.

Detestava admitir, mas John parecia uma pessoa forte, diferentemente de muitos prisioneiros que por ali já passaram. O jeito como lhe lançou o olhar furioso, mesmo em um momento que se encontrava tão indefeso, deixou Paul sem palavras, aquilo não era algo que acontecia com frequência na vida do líder. Tinha bravura quando irritado, uma verdadeira coragem para enfrentar e insultar qualquer um que estivesse diante dele, e McCartney admirava aquilo, por mais que sentisse ódio ao lembrar a maneira como foi desrespeitado. Estava acostumado a lidar com prisioneiros que, mesmo sendo necessário tortura-los até que ficassem roucos de tanto gritar, entregavam tudo quanto é informação no primeiro dia e jamais dirigiram-lhe a palavra de uma forma tão grosseira e insolente. Sua personalidade era rara, algo digno de espanto, raiva e, não menos importante, fascínio.

Escutou a porta de seu quarto sendo aberta lentamente. Paul foi interrompido no melhor momento, pois se tinha algo que precisava fazer era pensar em como iria lidar com o prisioneiro petulante e não elogia-lo mentalmente. Desenterrou o rosto do lençol e lançou um olhar para a presença. Era Richard novamente.

-Senhor, o seu banho está pronto. - O criado disse com calma. -Perdoe a demora.

Paul bufou de maneira audível propositalmente, fazendo o pobre criado ficar apreensivo. Ergueu-se da cama macia e caminhou para a porta. Cabeça em pé e olhos fixos no rapaz. Richard imediatamente deixou seus olhos azuis despencarem para o chão. Encarava a superfície branca com olhos arregalados e respiração escassa. Paul parou ao lado do criado tenso, aumentando um suspense torturante conforme o analisava dos pés a cabeça. Em sua mente pensativa a demora nem sequer havia realmente sido tão longa, para falar a verdade, o mordomo não havia demorado mais do que cinco minutos, mas já que ele comentou com uma culpa explicita em seu tom de voz, Paul decidiu tirar um pequeno proveito disso e deixar claro para seu próprio ego o poder que tinha sob qualquer um naquele reino. Ele estava precisando de um olhar receoso e encontrou a oportunidade perfeita.

-Eu espero que isso não se repita. - Paul disse com a voz baixa. -Caso contrário, terei de substituí-lo, Starkey.

-P-perdão, senhor. - Ele gaguejou.

Paul conseguia ver a pele de sua testa começando a brilhar pelo suor, seus braços tremiam tanto quanto suas canelas e o pobre mordomo tentava, humildemente, controlar seu corpo. O líder deu um leve sorriso para aquilo e, quando tocou o ombro do rapaz subitamente com a mão direita, este quase pulou de susto. Paul poderia jurar que o mordomo havia parado de respirar.

-Tudo bem. Eu te perdoo. - Deu três pequenos toques com a ponta dos dedos sobre o ombro. -Continue com o ótimo trabalho.

Após dois míseros passos, ele parou. Paul ergueu a mão que havia tocado no mordomo, lembrando-se de algo importante. As luvas que usou para interrogar o prisioneiro ainda estavam em suas mãos, não havia sujeira ou sangue no tecido, mas, com um semblante que demonstrava nojo, Paul as retirou com ponta dos dedos.

-Aliás, Richard. - O mordomo engoliu em seco e virou-se para Paul com dificuldade, seu corpo estava praticamente paralisado. Paul ergueu as luvas e as depositou na mão do criado, que as segurou de prontidão.

-O-o que eu faço com isso, senhor?

Paul sorriu de ponta a ponta e voltou para a porta. Conforme caminhava tranquilamente, ele levantou a mão esquerda para o ar e a balançou.

-Queime-as.

Então ele continuou pelo corredor. Rindo para si mesmo ao escutar o criado dando um alto e longo suspiro. Havia alarmado o pobre coitado que trabalhava no local há poucos meses, provavelmente iria garantir-lhe alguns ótimos pesadelos.

No final do grande corredor, uma porta estava aberta e ao lado dela outro criado o esperava com algumas toalhas em mãos.

 

3

Seu corpo nu estava cercado pela água quente, espuma flutuava sobre o líquido. Pensativo, o líder traçava a espuma branca com o dedo indicador. A personalidade forte de John ainda o assombrava. Céus, o que poderia fazer com ele? Seria muito prazeroso assisti-lo ser executado, observar seu olhar arrependido diante da morte, mas em troca de quê? Pessoas como Lennon não surgiam em seu porão todos os dias. Talvez houvesse algo, algum tipo de vantagem para Paul em usar aquele prisioneiro, usar seu temperamento, seu conhecimento, seu maldito olhar imundo e cheio de ódio.

Foi então que algo clicou na cabeça do líder, uma ideia maravilhosa. Um sorriso vitorioso brotou em seus lábios. Ele já sabia exatamente o que fazer com John.

Seus dedos percorreram a borda da banheira com calma a procura do pequeno botão escondido. Ele o apertou e no mesmo instante uma voz surgiu do alto-falante ao lado da banheira.

-Sim, senhor McCartney?

-Mande Harrison vir até o banheiro agora, inclusive, peça para que ele traga algo para fazer anotações.

-Imediatamente, senhor.

Não demorou mais do que três minutos e algumas batidas na porta do banheiro foram escutadas. Logo após, o criado entrou por ela com um pequeno bloco de notas e uma caneta em mãos. O rapaz tinha uma aparência arrumada, seu cabelo estava organizado com gel, vestia um paletó e calça social, estava trajado assim como os outros criados que trabalhavam naquela mansão, entretanto, George não era um criado como os outros, todos os que passaram por lá sabiam que o rapaz de sobrancelhas grossas e olhar profundo tinha um relacionamento completamente especial com o líder. George Harrison era alguém que simplesmente tinha a mais plena confiança de McCartney, quando eram crianças ele e Paul correram e brincaram incontáveis vezes pelos enormes corredores daquela mansão, era o melhor amigo do líder, e agora, como um empregado, sempre cumpria com esmero as tarefas de Paul. Não havia nada que McCartney pedisse que George não realizasse com atenção aos mínimos detalhes.

-Harrison, - Ele lançou um olhar para o criado e sorriu. –Eu tenho algumas ordens para fazer.

-Sim, senhor.


Notas Finais


Pronto, primeiro capítulo oficialmente postado, espero que gostem.
Beijões e vlw flw


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...