~ POV THAYLOR ~
Eu estava no meu quarto, escovando os cabelos enquanto ouvia um barulho irritante vindo do andar de baixo, era de novo o Carl, treinando a mira com aquela bolinha de tênis. Suspirei irritada, não é que eu esteja brava por ele estar treinando, mas acordar com esse barulho todos os dias é um saco. Mas não é pior do que acordar com os roncos do Daryl no quarto ao lado. E foi por isso que resolvi voltar a "morar" na casa do Rick.
Terminei de escovar os cabelos e joguei a escova de qualquer jeito em cima da cômoda e prendi o cabelo num rabo de cavalo. Passei meus olhos de relance sob a minha cama, e então percebi algo brilhante em embaixo dela. Me agaixei e baixei a cabeça, olhando em baixo dela. E vi um abajur marrom escondido lá. Achei aquilo estranho, então peguei ele de debaixo da cama e me levantei, percebendo que aquele era o MEU abajur.
- Ah seu...! - Abri a porta e saí apressada do quarto com o abajur na mão, descendo as escadas correndo. - CARL! CARL!
- O que foi? - Ele apareceu no fim da escada, estava segurando a bolinha de tênis, jogando ela pra cima e pegando-a de volta. Parei no penúltimo degrau e o encarei furiosa. Seus olhos desceram até o abajur seguro em minhas mãos. - Ahm...
- Eu já mandei você não entrar mais no meu quarto! - Esbravejei.
- Que gritaria é essa? - Michonne apareceu com a Judith no colo.
- O Carl entrou no meu quarto de novo! - Contei levantando o abajur quebrado para que ela pudesse ver. Ela fez uma cara de reprovação olhando pro Carl.
- O que foi? Eu ainda estou praticando! - Argumentou em sua defesa.
- Pratique longe do meu quarto! - Desci os dois últimos degraus, ficando de frente pra ele. - Debaixo da minha cama, sério? Não poderia ter escolhido um lugar melhor pra esconder? - Zombei.
- Você ia dar por falta dele de qualquer jeito. - Deu de ombros.
- É sério, não quero mais você "praticando" no meu quarto. - Falei séria, não era a primeira vez que ele entrava lá sem a minha permissão, e da última vez ele quebrou a minha janela. - E eu quero outro abajur.
- Para de ser dramática! É só um abajur idiota. - Retrucou impaciente. Michonne ficou ali parada segurando a Judith, apenas observando nossa discussão boba.
- Tá legal, vou pegar o SEU abajur! - Decidi e ele riu da minha cara. - O que foi?
- Vai ter que pegar o de outra pessoa, já quebrei o meu também. - Respondeu ainda rindo.
- Imbecíl. - Bufei saindo de perto dele. Coloquei o abajur em cima da mesa e me virei pra Michonne. - Michonne, quero deixar avisado que se ele entrar no meu quarto de novo, não respondo por mim.
Michonne riu balançando a cabeça, com certeza pra ela aquilo era uma discussão boba de adolescentes mimados.
- E o que você vai fazer? - Ele me olhou meio que desafiador.
Levei os dedos ao queixo e pensei um instante antes de responder.
- Acho que vou treinar tiro ao alvo com a minha bota, e quem sabe acerto ela na sua cara! - Gritei em resposta.
- Ei Ei! Vamos parar, acho que já deu. - Michonne interferiu, ela colocou a Judith sentada no chão e olhou pro Carl. - Não entre mais no quarto da Thaylor sem a permissão dela. - Disse fazendo Carl bufar revirando o olho. E então ela se virou pra mim. - E você, mantenha suas botas nos pés.
Assenti e me virei indo até a porta pra poder sair, mas me virei pra eles de novo quando Michonne me chamou.
- Carl, peça desculpas pra ela. - Abri um sorriso malicioso. Carl olhou de mim pra Michonne.
- Tá brincando né? - Ele riu desdenhoso, mas então seu riso desapareceu quando Michonne balançoua cabeça negativamente.
- Vamos... estou esperando. - Provoquei cruzando os braços e recostando as costas na parede ao lado da porta. Ele me olhou irritado.
- Carl.. - Michonne olhou-o incentivando a acabar logo com aquilo. Ele suspirou enraivecido e olhou pra mim completamente vermelho, me perguntei se era de raiva ou de vergonha.
- Desculpa. - Murmurou.
Dei um último risinho vencedor e abri a porta pra sair.
Fechei a porta atrás de mim e me larguei sentada no primeiro degrau da escada. Fiquei um tempo apenas observando as pessoas passando por ali. Eu não tinha nada pra fazer, nesses últimos dias já tentei me distrair com tudo o possível. Ouvi música, ajudei Olívia a organizar a despensa, li todas as revistas em quadrinhos do Carl, eu e Tara já jogamos quase todos os jogos de tabuleiros que tem aqui, até pulei os muros escondida algumas vezes, pra poder caçar uns andantes pra matar. E nunca escrevi tanto no meu diário quanto nesses últimos dias.
- Thay - Glenn apareceu do nada na minha frente.
- Oi Glenn. Já voltou? - Perguntei, ele tinha saído hoje cedo pra conseguir mantimentos junto com a Rosita e o Aaron.
- É, mas... não conseguimos muita coisa. - Contou, a voz saindo cansada. - Você viu a Tara e o Abraham? - Perguntou se aproximando um pouco.
- A Tara entrou na casa agora a pouco. - Apontei pra casa ao lado. - E o Abraham, eu ainda não o vi hoje.
- Tudo bem. Bom... eu vou entrar. - Ele já ia se virando pra ir pra outra casa, mas eu o chamei de volta, ele se virou pra mim. Me levantei e desci as escadas.
- Glenn... tem alguma coisa que eu possa fazer pra... sei lá, ajudar em alguma coisa? - Perguntei quase que implorando com o olhar.
- Ajudar? - Indagou e percebi que ele ia negar. Então fiz a minha melhor cara de coitadinha. Ele me olhou pensativo, e então deu um leve suspiro. - Olha, a Maggie está de vigia agora, eu agradeceria se você pudesse ver se ela está bem.
Minha alto estima foi pro chão. Eu esperava alguma tarefa mais importante, mas é óbvio que eu estava esperando de mais. Mas isso pelo menos era melhor do que ficar sentada na escada pensando na vida.
- Por que ela estaria precisando de ajuda?
- Hoje o dia está bastante quente, e a Maggie está grávida. Pode ser que ela esteja precisando de alguma coisa... um copo de água, talvez. - Respondeu.
- Ok. - Concordei sem muito entusiasmos.
- Valeu. - Ele deu um pequeno sorriso pra mim e foi pra casa.
Suspirei um pouco chateada, eu queria ser realmente útil aqui. Acho que o termo "ter uma vida normal" não se aplica mais a mim.
Subi as escadas e entrei em casa, fui até a cozinha e peguei uma garrafa de água da geladeira, por via das dúvidas...
- Maggie! - Chamei subindo as escadas do poste de vigia.
- Oi Thay. - Ela sorriu. - O que faz aqui?
- Pedido do Glenn. - Falei balancei a garrafa de água no alto.
- Obrigada. - Ela pegou a garrafa e a estampou, bebendo um grande gole. - Eu estava morrendo de sede.
- Que bom que eu não vim aqui atoa. - Comentei.
- Tá tudo bem? - Me olhou preocupada.
- Estou. - Afirmei olhando pra frente, vi um andante passando na rua. Maggie mirou a arma nele e atirou em sua cabeça. - E você? Precisa de mais alguma coisa?
- Não, obrigada. Daqui a pouco a Sasha vem me tirar. - Respondeu. - Ainda está usando as faixas? Rick me contou que Denise já tirou seus pontos.
- Ah.. pois é.. - Levei os olhos até minhas mãos. - você não vai querer vê-las sem essa faixa. - Murmurei mordendo os lábios.
- Não deve estar tão ruim assim. - Tentou me animar.
- Pode acreditar, está sim. - Falei. - Vou tirar elas quando cicatrizar mais.
- Como queira.
- Maggie... - Olhei pra ela, uma ideia passou pela minha cabeça. - ...eu posso ficar de vigia no seu lugar? Pelo menos até a Sasha chegar.
Pela cara que ela fez, eu já sabia da resposta, um lindo "Não", que com certeza viria com várias desculpas sem sentido.
- Você não tem coisas melhores pra fazer? - Indagou arqueando as sobrancelhas.
- Acredite, se eu tivesse eu já estaria fazendo. - Suspirei entediada. - Então... isso é um "não"?
- Não exatamente. Mas acho que não devia mais se preocupar com essas coisas... quero dizer, agora você pode se ocupar com outras coisas que não sejam mais esses bichos. Pode ser criança, tem tantas coisas pra você fazer aqui. - Abriu um pequeno sorriso.
- Adolescente. - Corrigi, não sou mais criança faz tempo! - E já fiz tudo o que esse maravilhoso lugar poderia me oferecer.
- Faça de novo. Por que não procura a Enid pra vocês conversarem, ou fazerem alguma coisa juntas? - Me olhou esperando resposta.
- Ah claro! Por que não pensei nisso antes? Conversar com a Enid, era tudo o que eu precisava! - Ironizei, balancei a cabeça e levei a mão ao rosto. - A Enid é um poço de tédio, ela quase não fala comigo... não somos muito próximas.
- Mais um motivo pra vocês conversarem. - Disse dando de ombros. Balancei a cabeça pra ela e me virei pra descer as escadas.
- Ok Maggie, eu entendi que a resposta é Não. E já que você não precisa de nada, eu vou indo. - Falei descendo as escadas. - Só não faça muito esforço... pode fazer mal pro seu bebê.
- Thaylor.
- O que? - Me virei e levantei a cabeça pra encará-la, tive que levar as mãos a testa, pra fazer sombra nos olhos. O sol estava quase me cegando.
- Tenta aproveitar mais esse lugar. - Ela me deu uma piscadela. Assenti e caminhei rumo de volta pra casa.
Encontrei Rick sentado na mesa, jogando cartas com o Carl.
- Jogar de dois não é muito divertido. - Comentei fechando a porta.
- Concordo, quer se juntar a gente? - Convidou Rick.
- Não, valeu. - Recusei, não sou fã de baralho. - Cuidado Rick, o Carl está cheio de "cartas na manga". - Avisei percebendo Carl pegar uma carta de debaixo da perna, Rick olhou desconfiado pro Carl, que estava me fuzilando com olhar. Ri e então subi as escadas até meu quarto.
[ ... ]
Tomei um banho e recostei na cama, peguei meu diário de dentro da gaveta trancada e comecei a escrever.
Alguém bateu na porta, mandei entrar sem tirar a atenção do que eu estava escrevendo.
- Carol me pediu pra vir te chamar, vamos jantar agora. - Carl falou entrando no quarto.
- Eu já vou descer. - Avisei ainda sem olhá-lo.
Ele continuou lá parado, encostado na porta, olhei pra ele, que me encarava inexpressivo.
- Eu disse que já vou. - Falei na intenção de fazê-lo se retirar, eu não gostava de receber atenção enquanto escrevia no diário.
- Eu ouvi.
- Então por que ainda tá aqui? - Indaguei fechando o diário e trancando-o de volta na gaveta, não confio em deixá-lo perto do Carl. - Não tá pensando em praticar aqui não, né? Já aviso que a resposta é n...
- Não é nada disso. - Falou adentrando o quarto.
- O que foi então? - Perguntei um tanto desconfiada. Ele fechou a porta do quarto e deu um suspiro. - Carl..?
- Eu estive pensando...
- Parabéns. - Interrompi zombando, mas ele continuou sério. - Aconteceu alguma coisa? - Agora eu estava preocupada.
- Eu estive pensando... - Ele mordeu o lábio em nervosismo, fez uma pausa e então continuou, me encarando ainda sério. - ... pensando naquele beijo.
Respirei fundo. Eu não queria tocar naquele assunto, aconteceram tantas coisas depois daquele beijo, que nem tive mais tempo de pensar naquilo, o que era até um alívio. Mas agora ele volta a falar disso, por que?
- E... por que "andou pensando" naquele beijo? - Perguntei com a cabeça baixa, eu não conseguia encará-lo naquele momento. - Achei que já tínhamos esquecido aquilo.
- Você esqueceu? - Indagou e deu um passo na minha direção.
Eu não consegui responder, como eu poderia esquecer algo que eu nem sequer tive tempo pra acimilar?
- Pra que está tocando nesse assunto agora? - Agora eu levantei a cabeça pra ele. - Não vejo motivos pra conversar sobre isso.
- Eu te beijei, você me beijou, nos beijamos! Acha mesmo desnecessária essa conversa? - Questionou com um ar meio irônico. - Por que isso não parece ser a coisa mais natural do mundo pra mim.
- Ok, mas o que você quer que eu diga? - Me levantei, ficando de pé na frente dele. - Desculpa?
Ele riu balançando a cabeça.
- Eu não vim pra pedir desculpa. - Disse. E então cessou o riso, e me encarou de um jeito estranho. - Ou tavez eu precise.
- É? Por que? - Ele Começou a se aproximar de mim, fui recuando alguns passos, ele estava diferente. - Carl... você não tá muito perto? - Perguntei rindo um pouco nervosa, ele continuava se aproximando, e a cada passo que ele dava, eu recuava dois passos pra trás. Até que minhas costas bateram na parede, me deixando sem saída.
Carl parou a poucos centímetros de distância de mim. Engoli em seco, senti meu coração batendo mais forte.
- O que você está fazendo Carl? - Eu sentia sua respiração no meu rosto, e ele escovou os dentes com pasta de menta.
- Eu não estou fazendo nada. - Deu de ombros sem desviar o olhar de mim. Me dei conta de que eu encarando furtivamente os lábios dele. - Por que? Você está incomodada com alguma coisa?
- Por que eu estaria incomodada? - Ri numa tentativa de parecer tranquila, mas acho que não obtive muito sucesso. Eu estava nervosa, sentia que meu coração ia sair pela boca.
- Eu não sei, me diz você. - E então deu mais um passo na minha direção, agora eu conseguia até ouvir seu coração batendo acelerado.
Ok, eu não sei o que estava acontecendo, mas eu não conseguia mexer as pernas, perdi o controle sobre elas. E minhas mãos estavam suando, minha boca estava seca, e olhar pra ele ali, parado na minha frente assim... tão perto, me fez sentir uma sensação estranha que eu nunca tinha sentido antes. E eu estava com tanto... calor!
Então meus olhos pararam de passear pelo seu rosto, e se fixaram em apenas um lugar, sua boca.
E ele apenas me encarava, sem dizer nada, como se estivesse esperando eu fazer alguma coisa, e talvez essa fosse a intenção dele.
Ficamos nessa durante pelo menos um minuto, que pareceram uns dez. Até que eu não consegui mais resistir, e avancei nele, segurando seu pescoço e puxando-o pra um beijo intenso.
Ele segurou minha cintura e me puxou pra mais perto, sem deixar nenhum espaço entre nós. Minhas mãos passeavam de suas costas até seus cabelos. Ele foi intensificando mais o beijo, e tive a impressão de que logo ficaríamos sem ar.
No que eu estava pensando naquele momento? Em absolutamente nada.
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