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História The Walking Dead - Odeio Amar Carl Grimes - Enlouquecendo...?


Escrita por: Mila_Scarlety

Notas do Autor


\0/ AHHH OIEEE WALKERS!!!! Estou de volta finalmente! Q sdds de vcs, fazia mais de um mês q eu ja não postava aqui...aposto que pensaram q eu tinha abandonado a fic, mas vou deixar as justificativas pras notas finais, agora vou deixar vcs lerem esse cap imenso! E acreditem se quiser, mas eu dividi esse cap em duas partes pq tinha ficado mtooo grande (quase 9K), e mesmo assim ficou enorme.
Então resolvi deixar desse tamanho mesmo, também pra compensar o tempo em q fiquei sem postar... então sorry pra quem não gosta de capítulos grandes hauahhah
Enfim... Espero q gostem!
Desculpem se tiver erros de digitação...
Boa leitura! (♥_♥)

Capítulo 46 - Enlouquecendo...?


Fanfic / Fanfiction The Walking Dead - Odeio Amar Carl Grimes - Enlouquecendo...?


  O diário está em minhas mãos, e minhas mãos estão tremendo e coçando para recomeçar a escrever, mas eu não consigo. Estava presa em minha própria mente barulhenta e incapaz de organizar meus pensamentos. Por quanto tempo mais eu ficaria assim? Não aguento mais… eu quero silêncio, só preciso que isso pare.

Me levanto deixando que o diário em meu colo caia no chão. Olho ao redor do meu quarto, procurando por algo cortante, abro todas as gavetas da minha cômoda, jogando as roupas e objetos no chão, não tinha nada ali. Me encaminho para o closet, reviro todas as gavetas, e encontro um canivete. Fecho a porta do mesmo e encaro a imagem da garota derrotada refletida no espelho: olhos vermelhos e inchados, olheiras profundas, rosto pálido, e mais lágrimas deslizando pelo rosto.

Respiro fundo e posiciono a lâmina do canivete aberto em minha garganta, eu ía fazer, queria fazer, precisava acabar com isso.

"O que está esperando Thaylor? Vamos lá… não sobrou mais nada aqui"... as lágrimas se intensificaram com a pressão que eu fazia sobre mim mesma.

Através do espelho, olhei para a lâmina contra o meu pescoço, vi uma gota de sangue se formar onde eu precionava. O que aconteceria se eu deslizasse isso em minha garganta? Quanto sangue jorraria do meu pescoço até que meu coração parasse de bater? Por quanto tempo eu sentiria a dor, me sufocaria até cair morta sobre a poça do meu próprio sangue? Três, quatro… cinco segundos? Um segundo pra mim já era muito.

Não era assim que eu queria, não quero sentir dor. Quero uma morte rápida. Quero morrer sem que eu tenha tempo para me arrepender de ter cometido essa burrada enquanto visse o sangue esvaziando meu corpo. E a única maneira que eu via de fazer isso era com uma arma, uma bala na cabeça iria satisfazer o meu desejo.

Me deixando vencer pelo medo, larguei o canivete no chão e voltei para a cama. Que merda, eu poderia ter acabado com isso, mas tive que dar tempo para que o Rick pudesse tirar a arma da minha mão, meu braço que ele torceu ainda dói. E agora nem armas eu tenho mais. Por que deixei que ele me impedisse? Talvez não seja medo de morrer… talvez seja o medo do que vem depois, escuridão? Provavelmente sim, pelo menos pra mim.

Droga, estou fazendo de novo, continuo conversando comigo mesma. Sinto que estou enlouquecendo, o que eu não daria agora por aqueles comprimidos que eu guardava dentro do travesseiro? O que eu não faria para poder fechar os olhos sem ter que ouvir de novo o barulho daquele disparo ecoando na minha cabeça, ou dos pingos de sangue escorrendo daquele bastão e pingando no chão?

Eu daria tudo para poder apenas dormir, e não acordar nunca mais.

Não. A quem eu quero enganar? Não quero morrer, tenho medo só de imaginar pra onde iria, eu sabia bem que não veria nenhuma luz.

Pela primeira vez em toda a minha vida, eu me sinto sozinha, sozinha de verdade. "Você não está sozinha Thaylor, tem a gente." é o que eles dizem, mas sabem que isso não me consola ou me faz sentir melhor.

Meu rosto começou a formigar, eu quase já não sentia minhas bochechas. Sequei as lágrimas e direcionei meu olhar para a janela, as cortinas estavam abertas, deixando que a luz da lua entrasse iluminando uma parte do meu quarto bagunçado. Escutei um barulho nas escadas, pareciam passos descendo. E, considerando que Rick tinha saído com o Aaron ontem desde o amanhecer para caçar suprimentos pros salvadores, e que a Judith não sabe andar, esses passos eram do Carl. Após um breve instante quieta e escutando seus passos, ouvi a porta lá em baixo ranger.

Levantei-me da cama e fui até a janela, vi Carl lá em baixo, usava o chapéu e segurava uma bolsa grande, se não estava enganada, era onde Rick guardava a sniper dentro da lareira. Acompanhei com o olhar enquanto ele se afastava, até desaparecer do meu campo de visão. Pra onde ele está indo a essa hora com a sniper? Depois de pensar por um instante, cheguei a conclusão de que isso não me interessava e eu não estava nem aí.

Carl tem o seu próprio jeito de lidar com isso. Tão calado, as vezes parece que ele não sente nada, que não se importa; mas se encarar bem fundo em seu olhar, pode enchergar a fúria e a dor, no modo como seu rosto se contraía quando olhava para a espada dela pendurada a cima da lareira. As vezes eu queria saber o que se passava em sua mente, mas eu não conseguia nem ao menos compreender a minha.

  Me joguei novamente na cama e deitei a cabeça no travesseiro, a frustração não queria me deixar.

"O que eu fazia nos momentos de frustração mesmo?". Lancei um olhar para meu diário caído aberto no chão, por que eu não estava com vontade de escrever? Meus dedos formigam, implorando para eu segurar a caneta sob uma folha... mas eu não quero, não tenho vontade. Essa não era o tipo de situação em que o diário pudesse ser o meu calmante, essa era uma situação diferente e angustiante em que alguns minutos desabafando com algumas folhas não iriam resolver.

E isso me assustava.

.....

Mais uma vez eu virei a noite encarando o teto do meu quarto, enquanto fazia batuques irritantes com os dedos na madeira da cama. Só fui desperta do meu transe quando começaram a bater na minha porta.

— Thaylor, – A porta se abriu, era o Rick. Ele deu uma olhada para o estado do meu quarto antes de falar. — Vem tomar o café.

— Eu não est…

— Te espero lá em baixo, não demore. – Saiu fechando a porta.

Sua voz estava um tanto pesada, parecia cansado. Deve ter chegado a pouco tempo, e ao que parece, não deve ter sido uma caçada muito boa… assim espero.

Suspirei estressada enquanto me levantava da cama. Depois de lavar o rosto, prender os cabelos e trocar a roupa por um jeans claro e uma camiseta vermelha, saí do quarto e segui para a cozinha, onde Rick estava pondo Judith sentada na cadeirinha ao lado da bancada. Me sentei num banco ao lado de Judith, onde meu prato com torradas já estava pronto, a encarei me perguntando se ela sentia falta da Michonne, se conseguia sentir sua ausência.

— Morgan ainda não voltou? – Perguntei vendo-o pegar uma tigela no armário.

— Não. Nem ele, nem a Carol, nem a Tara e o Heath.

— Acha que estão todos bem? – Cutuquei as torradas com o garfo.

— Prefiro acreditar que sim. – Se virou para mim. — Coma, precisa comer.

Relutante, dei uma mordida na torrada amanteigada, apenas para não dar mais um motivo para que Rick se estressasse. Ele anda sobrecarregado nesses últimos dias, tentando parecer forte. Como se eu não o escutasse socando o travesseiro no meio da noite.

— E então... como foi? – Perguntei.

Ele soltou um suspiro e sacudiu de leve a cabeça.

— Nada bom, não conseguimos quase nada. – Eu deveria ter ficado preocupada com isso, mas fiquei satisfeita. — Mas não fomos muito longe… talvez tenhamos mais sorte da próxima vez.

— Então é assim que vai ser agora? – Carl entrou na cozinha de repente, o chapéu fazia sombra em seu rosto, mas eu podia ver seu olho avermelhado. — Procurando coisas pra eles, se arriscando e voltando com quase nada..?

— Já falamos sobre isso Carl. Não quero ter essa conversa de novo. – Rick o cortou impaciente.

— É claro que não. – Murmurou revoltado abrindo a geladeira, e tirando de lá a jarra de suco. Ainda era estranho não ver as latas de cerveja do Abraham no lugar em que ele sempre deixava quando vinha aqui.

— Eu também não gosto disso, Carl. Mas as coisas mudaram, ou eu faço o que ele quer ou vocês morrem. – Pronunciou Rick. — Então sim, é assim que vai ser.

Carl encheu seu copo e se virou para o pai, que estava sentado do outro lado dando o cereal para Judith.

— Não devia ser assim.

— Você estava lá, viu o que ele fez!

— Sim eu vi o que ele fez com o Abraham, com o Glenn e com a Michonne!! – Ele alterou o tom de voz, estava visivelmente revoltado.

— E meu pai. – Murmurei encarando as minhas torradas. 

— Seu pai era um salvador. – Levantei a cabeça para encarar Carl, estava incrédula com o que ele disse. — Sinto muito, mas ele era um deles.

— Carl. – Rick o repreendeu.

Fiquei encarando-o sem saber o que responder, o que eu diria? Que não era verdade?

Tentei evitar pensar nisso desde aquele dia, não queria ter de ficar criando ideias na minha cabeça sobre o meu pai. Mas as vezes era inevitável... me pegava pensando nisso, e quando me dava conta, já estava criando pensamentos horríveis a seu respeito. Ficava me odiando por isso durante horas.

— Você… é um idiota. – Arrastei o banco em que estava sentada e me levantei, passando por Rick e Judith, me dirigindo até a sala.

— Thaylor você não terminou seu… – Saí da cozinha antes que Rick terminasse de falar.

Ía subir para o quarto, mas mudei de ideia. Não queria ficar ali, voltar pro quarto, não agora. Olhar pro nada só me faria pensar mais, e minha própria mente não tem sido uma boa companhia.

Deixei a casa e comecei a caminhar sem rumo por Alexandria, com as mãos nos bolsos do jeans e os passos apressados, segurando as lágrimas porque eu sabia que se eu começasse a chorar agora, perderia o controle. E não quero fazer isso em público.

Ao passar em frente a igreja, vi padre Gabriel saindo de lá com a Enid. Ele sorriu pra mim, segurava a bíblia, como sempre.

— Olá Thaylor. – Cumprimentou se aproximando, Enid vinha logo atrás dele. — Não te vejo a um tempo.

— Não tenho saído muito. – Falei com a voz saindo um pouco embargada, por conta do choro preso na garganta.

— Como está? – Enid perguntou.

Era uma pergunta idiota, ela sabia disso. Como será que pensa que eu estou?

— Ainda viva. – Respondi, talvez um pouco rude.

— Você tem… notícias do Glenn e a Maggie? – Perguntou parecendo anciosa, ignorando minha grosseria.

— Não.

— Desde que vocês voltaram não temos notícias nenhuma deles… e se…

— Se tivesse acontecido algo, certamente Sasha ou Jesus teriam vindo nos informar. – Disse Gabriel, mas Enid não pareceu ficar mais tranquila, e nem eu.

— É, acho que sim. – Disse ela. Então se aproximou um pouco mais de mim, e cochichou em meu ouvido, segurando meu ombro com uma das mãos. — Sei como se sente. Isso não vai melhorar ou doer menos com o tempo, mas você vai aprender a lidar com isso. É sempre assim.

Se afastou me encarando com um sorriso. Então voltou-se para Gabriel.

— Eu vou indo, até mais.

Assentiu para mim, que devolvi com um breve aceno de mão, e saiu andando na direção contrária.

— Enid é uma garota encantadora. – Começou Gabriel, com aquele sorriso simpático que distribuía a toda hora. — Ela estava me ajudando com a limpeza da igreja a pouco.

— É… ela é legal. – Falei sem muito ânimo, não queria conversar.

— Ficaria surpresa em saber o quanto aquela igreja pode se sujar em tão pouco tempo.

Pensei numa maneira de me livrar dele e continuar me distraindo com as pedras que chutava no caminho. Mas fui interrompida antes mesmo de ter alguma ideia.

— Quer me acompanhar numa caminhada? – Perguntou. Eu queria ter respondido um "não", mas dei de ombros e começamos a caminhar juntos ao lado do outro. — Vi Rick chegando com o Aaron, eles não pareciam muito felizes.

— Você queria que estivessem? – Chutei com raiva uma pedra na calçada. — Eles não encontraram nada, ou quase nada.

— Mas vai ficar tudo bem. Tudo irá se resolver, é só ter fé.

Ri com amargura.

— Fé. – Suspirei sacudindo a cabeça com desgosto. — Perda de tempo. – Olhei para ele que já me devolvia o olhar. — Acha que tem alguém te ouvindo lá em cima quando reza?

Me irritei com aquele sorriso bondoso que insistia em continuar desenhando seus lábios. Que droga! Por que diabos ele ri? Sinto vontade de dar um soco em sua boca.

— Eu sei que tem alguém me ouvindo.

— Pois então está te ignorando. Olhe só como tudo está. – Baixei a cabeça para o chão novamente. — Um inferno. Sem Abraham, Denise, Morgan, Carol, Michonne, Maggie, Glenn, Tara, Heath, Daryl... está tudo fora de lugar. Mas ainda estamos aqui.

— Por que? – Senti que seu olhar continuava em mim. — Você, por que continua aqui?

Assimilei sobre a pergunta, tinham muitos motivos pra mim continuar aqui, e todos giravam ao redor do medo.

Não respondi, ao invés disso, fiz outra pergunta:

— Pra onde está indo?

Nem precisei obter uma resposta, ao final da rua, pude avistar as lápides de madeira marcando os túmulos. Parei bruscamente no meio do caminho. Eu não quis vir no enterro da Michonne, ainda não estou preparada para ver seu nome esculpido numa lápide. Tudo ainda parece um pesadelo, e eu só queria saber quando acordaria.

— Não vem? – Chamou sem parar para me esperar.

Respirei fundo já sentindo meus olhos ficarem úmidos , e segui padre Gabriel.

Parei de frente para o túmulo dela. Tinham algumas flores em cima do monte de terra que cobria seu corpo. Será que ela ao menos gostava de flores? Não me parecia muito o seu estilo, mas nunca vou saber, tive tantas oportunidades pra perguntar, pra jogar conversa fora, mas nunca aproveitamos enquanto temos a chance.

— Oi. – Uma lágrima escapou, mas não a limpei. — Sei que agora não adianta de nada, você nem deve estar me ouvindo… mas eu queria dizer que – Solucei. — você foi como a mãe, que eu nunca tive e nunca mais vou ter. Me desculpe por não ter retribuído como deveria.

Gabriel passou a mão em minhas costas, e então abriu a bíblia, começando a folear as páginas.

Passei as mãos no rosto, secando as lágrimas. Virei a cabeça para o lado, e vi mais adiante a pequena cova do Kyeran. Fui me afastando lentamente do padre e da Michonne, seguindo para a cova dele.

Fixei meu olhar no nome do meu pai entalhado naquela lápide de madeira. Poderia ser ele ali, ele poderia estar enterrado aqui, mas Negan o levou, será que deram um funeral descente a ele? Não. Talvez tenham jogado-o no meio da estrada, ou… o que aquele cara quis dizer com "ele vai pra cerca"?

Tive que interromper meus pensamentos ao ouvir barulhos altos de motor vindos da direção do portão. Eu e padre Gabriel nos olhamos, nossas testas franzidas em confusão.

De repente houveram batidas e a voz grossa e fria dele ecoou em meus ouvidos.

— Porquinho, porquinho… deixe-me entrar! – Gritou a voz de Negan.

— Por que ele está aqui? – Indaguei.

— Quem? – Perguntou confuso.

— Negan. – Senti vontade de cuspir ao pronunciar seu nome.

— Melhor voltar para sua casa. – Disse e virou-se indo em direção a uma pá caída no chão. — Avise ao Rick que ele está aqui.

Sem questionar, obedeci. Olhei uma última vez para os túmulos, e saí apressada dali. Enquanto andava rumo a casa, via as pessoas curiosas saindo de suas casas para espiar o que estava acontecendo.

— Thaylor! – Rick me chamou do outro lado da rua, parei de andar esperando ele vir ao meu encontro. — Onde estava?

— Com o Gabriel. – Respondi. — Negan está a..

— Eu sei.

— Pensei que ele viria em uma semana, só fazem quatro dias!

— Não se preocupe com isso, já separei metade das coisas. – Disse. — Vou entregar a ele e logo vão embora. Agora volta pra casa, não quero vocês por aí enquanto ele ainda estiver aqui.

Assenti e ele saiu apressado em direção ao portão.

Entrei em casa e fui recebida com uma arma apontada direto na cabeça.

— Ei! – Levantei as mãos assustada.

Carl respirou aliviado e baixou o revolver.

— Achei que fosse um deles. – Falou vindo fechar a porta.

— Quer dizer que se fosse um deles você iria atirar? – Arqueei as sobrancelhas, intrigada. — Se estiver querendo travar um banho de sangue aqui, é um ótimo plano.

— Não, eu não atiraria. Mas se fosse preciso… – Deu de ombros. — ..só estava prevenindo.

— Eles nem devem passar dos portões. – Me encaminhei para as escadas.

— Thaylor. – Parei no quinto degrau, ainda de costas para ele. — Desculpe pelo que eu disse sobre o seu… eu não queria ter dito aquilo, não daquele jeito.

Me virei na escada para encará-lo. Não parecia realmente arrependido. E por que deveria estar?

— Ok. – Foi tudo o que eu disse antes de lhe dar as costas novamente e subir as escadas para entrar em meu quarto.

Bati a porta com força e me dirigi com passos pesados até a cômoda, passei a mão por ela fazendo com que todos os objetos caíssem no chão com um barulho alto. A vontade de gritar era quase insuportável, ele está aqui.

Judith começou a chorar, merda, devo ter assustado ela. Passo as mãos na cabeça tentando me acalmar, então saio do quarto indo até o da Judith. Carl já estava lá, ele se vira para mim com ela já no colo.

— Foi mal. – Falo um pouco envergonhada.

— Shh.. – Ele tenta acalmar ela enquanto a balança. — A culpa é dele Thaylor… não conseguimos dormir por culpa dele, Maggie pode ter perdido o bebê por culpa dele, Glenn pode estar morto por culpa dele, estamos todos brigando por culpa dele! – O modo rancoroso com que ele falava me deixou com um certo receio. — E agora ele está aqui em nossos portões, pra pegar nossas coisas. E não vamos fazer nada.

— Não tem muito o que possamos fazer. – Retruquei com raiva dessa sensação de incapacidade. Carl arqueou a sobrancelha para mim, franzi o cenho em desconfiança. — Ou tem?

Antes que pudesse responder, Carl olhou de relance pela janela, e então estreitou o olho.

— O-o que foi? – Perguntei preocupada.

Ele estendeu a Judith para mim sem desviar o olhar do lado de fora.

— Mas o que… – Foi até a janela e olhou para baixo. — ..eles estão invadindo as casas!

— Como assim?! Não podem fazer isso! – Corri para ver também.

Alguns caminhões preenchiam as ruas, vários salvadores estavam entrando de forma rude nas casas, chutando as portas, e saindo com mobílias.

— Desgraçados. – Xingou Carl, vi ele fechar os punhos.

Ouvimos um estrondo no andar de baixo, parecia ser a porta.

— Fique aqui com a Judith. – Mandou pondo a mão no coldre.

— O que vai fazer Carl?

Sem me dizer nada, ele saiu deixando a porta entreaberta.

— Ei! O que pensam que estão fazendo?! – Ouvi o grito de Carl. — Coloquem essas coisas de volta e deem o fora da minha casa, agora!

Houve um instante de silêncio, em seguida uma voz grossa começou a falar num tom nada amigável.

— Melhor fechar esse bico, garoto, ou nós mesmos faremos isso pra você. Viemos pegar metade das suas merdas, e se não nos atrapalhar, iremos ser bem rápidos aqui.

— O meu pai já separou as coisas de vocês.

— Quem te disse que seu pai decide alguma coisa?

Mais selêncio. E isso me deixava inquieta.

— Tudo bem… fique quietinha aqui. – Sussurrei pondo Judith de volta no berço.

Saí do quarto, encontrei Carl parado no meio da escada. Observava de cara fechada e com os braços cruzados os dois caras pegando nossas coisas e jogando dentro de um saco preto. Parei no começo da escada com o braço apoiado no corrimão. Carl olhou para cima, e balançou negativamente a cabeça para mim.

Mais três homens apareceram na porta e adentraram a sala.

— Vão lá pra cima, cuidamos aqui em baixo. – Falou o mais alto dos homens que pegavam as coisas na sala.

Os três concordaram e se encaminharam para as escadas, mas Carl não deu espaço para que eles passassem. Então, com um sorrisinho debochado, um deles deu um empurrão de ombro em Carl, que cambaleou para o lado se segurando no corrimão.

Eles subiram com um sorriso desdenhoso no rosto.

— Oi. – O mesmo sorriu ao passar por mim. — Vamos fazer uma visitinha ao quarto de vocês, espero que não se incomodem.

Cerrei os punhos e os segui logo atrás, o primeiro quarto a ser invadido foi o da Judith. Assim que abriram a porta, pareceram ficar chocados ao vê-la.

— Não toquem nela. – Avisei entredentes entrando na frente deles e indo até o berço, Judith observava curiosamente os estranhos na porta.

— Um aviso garotinha, – Ele adentrou o quarto, se aproximando de mim, e parando a uns dois passos de distância. — pode ver que você não está numa situação muito vantajosa. Então, não nos ameace. Ou… – Recuei mais um passo encostando as costas nas grades do berço, quando ele se curvou mais perto de mim. Pude sentir o cheiro podre de seu bafo. — ou vamos rir de você!

Gargalhou se afastando, e fez um sinal para que os outros dois entrassem.

— E nem temos a mínima vontade de encostar numa criança chorona. Que Se dane.

Apesar de eles não terem levado muito do quarto da Judith, foi odioso vê-los levando aquelas coisas, as nossas coisas. Coisas que não foram fáceis de conseguir, e agora estavam levando facilmente. Espremi os lábios com raiva.

Eles tinham se encaminhado para o quarto do Rick. Já ía segui-los, mas um disparo me deteve no meio do corredor. Meu corpo gelou e minhas pernas travaram, imaginando o pior.

— Devolva a metade agora mesmo ou o próximo será em você! – O sangue voltou a circular por meu corpo ao ouvir a voz alterada de Carl.

— Garoto, o que acha que acontece em seguida?

— Você morre!

Corri para descer em direção as vozes, mas parei recuando rapidamente e me escondendo apoiada na parede ao ve-lo entrando na sala. Negan seguido por Rick, fiquei surpresa e enojada ao ver Rick segurando aquele bastão manchado de sangue. Meu coração disparou com nervosismo e ódio. Espiei eles entrarem na cozinha.

— Carl, abaixe isso. – Pude ouvir Rick falando com aflição.

Fui descendo as escadas em silêncio, enquanto ouvia tudo com mais clareza.

— Eles disseram apenas a metade! Mas estão levando todos os remédios.

— Claro. – Foi a vez de Negan falar. — Sério, garoto?

Parei na porta da cozinha, Rick e Negan estavam de costas para mim, Carl me olhou de relance e voltou a encarar Negan, seu olho praticamente transbordava em fúria. Ele segurava seu revólver, apontado para o cara alto que segurava um saco visivelmente cheio, seu parceiro se encontrava logo atrás, parecendo estar intimidado com a situação.

— E você deveria ir embora, junto com seus caras. – Falou Carl. — Antes que descubra o quanto somos perigosos.

O que ele está fazendo?!

— Desculpe, meu jovem. Perdoe o meu linguajar de merda. Mas você me ameaçou? – Indagou intrigado. — Olha, entendo ameaçar o Davey aqui, mas não posso aceitar. Nem a ele, nem a mim.

— Carl, abaixe a arma. – Rick insistiu, o medo se destacava em suas palavras. Estava desesperado.

Carl só podia estar enlouquecendo.

— Não seja rude Rick – Negan o cortou com sarcasmo. — Estamos conversando. – Disse cínico. — Agora, garoto. Onde estávamos? Ah sim, esses colhões gigantes que você tem. Não nos ameaçe. Gosto de você, então não quero ter de ser durão pra provar o que digo. Você não quer isso. Eu disse metade de suas merdas e metade é o que eu digo que é. Falo sério, quer que eu prove o quão sério? De novo?

Gelei novamente. Após alguns segundos apenas o encarando como se fosse voar em seu pescoço a qualquer momento, Carl cedeu baixando a arma depois de soltar um suspiro, e entregou-a a Rick, mas Negan a tomou.

Respirei aliviada apesar de, por um instante, ter torcido para que Carl perfurasse a cabeça daquele infeliz com uma bala. Mas não podia ser assim, tão rápido. Ele teria que sofrer antes, ser torturado e sangrar, sangrar muito.

Carl me olhou por cima do ombro de Negan, e seu gesto foi seguido pelo mesmo.

— Olha só quem está se escondendo aí atrás. – Negan virou-se inteiramente para mim. Fiquei parada encarando-o de volta sem saber o que fazer. — Por favor, não se incomode com minha presença. Vamos… entre, eu tinha mesmo uma coisa pra você.

Senti meu corpo se aquecer com o meu sangue que fervia de raiva com o tamanho cinismo dele. O obedeci, e adentrei a cozinha com cautela. Olhei para Rick, que me encarava parecendo receoso, diferente de Carl que estava inexpressivo.

Na parede atrás do tal Davey, vi o furo da bala que Carl disparou.

— Zach, vá pedir pro Daryl pegar a "caixinha" no caminhão, e trazer pra mim. – Mandou Negan.

O parceiro de Davey, Zach, saiu imediatamente. Negan voltou-se para mim, coçando seu queixo enquanto me analisava.

Então eu estava ali, de frente para ele, sendo obrigada por mim mesma a encarar aqueles olhos escuros e frios, vendo tudo acontecer de novo. Ele estava ali, o homem que matou meu pai, e o que eu podia fazer? Nada. Eu não podia fazer absolutamente nada sem que tudo terminasse com mais mortes.

Olhei de relance para o balcão atrás de mim, onde vi uma faca em cima do prato de torradas. De novo minhas mãos formigaram.

— Você deve estar com uma puta raiva de mim, não é? – Começou. — Deve estar imaginando o que aconteceria se pegasse aquela faca ali em cima. – Arregalei os olhos, ele se aproximou mais um passo, e curvou-se sussurrando. — Pois então eu vou te dizer o que aconteceria. Comigo, nada. Mas com você, ou, com eles… bem, tem mil coisas que poderiam acontecer. E tenho certeza, de que você não iria gostar nenhum caralho de longe de nenhuma das opções… então eu sugiro que pense e repense antes de fazer algo que mate o seu pessoal.

Se afastou com um sorriso irônico. Baixei o olhar encarando meus próprios pés, em choque. Não podia nem me dar ao luxo de imaginar o sangue dele escorrendo em minhas mãos.

De repente, dois pés descalsos surgiram na entrada da cozinha. Levantei o olhar e me surpreendi ao vê-lo ali parado. Era o Daryl. Seu estado era péssimo, usava um macacão com a letra A estampada. Seu rosto estava sujo, e a julgar pelas suas rugas de expressão cansadas e suas olheiras pronfudas, ele não estava nada bem. Em suas mãos, segurava um objeto de forma quadrada, cobrido por um pano fino azul escuro.

Sem pensar muito, corri para tentar abraça-lo, mas antes de chegar até ele, Rick pos seu braço em minha frente, me impedindo. O fitei sem entender, então apenas me negou com a cabeça.

— Daryl é meu serviçal. – Falou Negan. — Não fale com o meu serviçal.

Agora eu entendia.

Voltei minha atenção para Daryl, que desviou o olhar, aparentemente constrangido.

— Agora, Daryl, me dê essa merda. – Mandou.

Como um cachorrinho adestrado, Daryl obedeceu. Entregou o objeto a Negan e se afastou, acompanhei com pesar vendo-o deixando a cozinha. O que fizeram com ele?

— Bem… – Negan fez um gesto com a mão para que eu me aproximasse, e um tanto temerosa, obedeci. O cheiro que saía do negócio em suas mãos fedia muito. — Vou confessar que eu sou um homem sensível apesar de tudo, pode não parecer, mas eu sou.. daí você pensa "Uau! Esse cara foda e durão aqui na minha frente é mesmo sensível?!" é, eu sou sim. – O cinismo transbordava em cada sílaba saída de sua boca. — E vou dizer que, fiquei me sentindo mal pelo que aconteceu, sabe. Separar a filha de seu pai… não que vocês fossem estar juntos agora vivendo felizes para sempre se ele estivesse vivo, mas… não foi legal. Só que como você sabe, eu tive motivos pra isso. Tive bons motivos!

— O que quer? – Perguntei querendo apressar logo o objetivo daquela conversa, não queria mais ficar olhando para sua cara cínica.

— Enfim… como eu disse, fiquei me sentindo mal pelo que fiz. Então… eu trouxe um presentinho, ou melhor, uma "lembrança" pra você.

Ele estendeu a coisa pra mim. Encarei desconfiada aquilo, não queria pegar.

— Pegue logo. – Ordenou parecendo intolerante com o meu receio. — Eu mandei pegar. – Reforçou.

Respirei profundamente e segurei o objeto, era pedado. Seu fundo era gelado, parecia ser vidro. Me encaminhei até a bancada e depositei o objeto ali.

— E… o que é isso? – Arqueei as sobrancelhas.

— Tire a porra do pano e vai descobrir.

Coloquei a mão em cima do tecido fino que cobria a tal "lembrança". Com o silêncio que se instalou naquele instante, consegui ouvir um ruído abafado, parecia ser… um gemido. Segurei a respiração e retirei o pano de uma vez.

Assim que o fiz, tapei minha boca com a mão, segurando a vontade de vomitar com o cheiro podre que se levantou.

— Céus… – Ouvi um murmúrio surpreso de Rick seguido por uma exclamação de Carl.

Quando finalmente tive coragem para ver o que era, não consegui conter um grito de espanto. Senti como se meu coração estivesse sendo esmagado dentro de mim. Já estava vendo tudo turvo pelas lágrimas cobrindo minha visão.

Era a cabeça do meu pai no fundo de um aquário. Seus gemidos eram abafados pela água fazendo com que bolhas saíssem de sua boca, que se mexia freneticamente, deixando exposto aqueles dentes podres e amarelados.

— O que? Não gostou? – Perguntou demonstrando falsa preocupação. — Eu mesmo mandei Trevor fazer. Até o parabenizei pelo excelente trabalho.

— Eu… – Tirei a mão da boca, mas as palavras não saíam — Só…

Dei um passo para trás batendo as costas na geladeira.

— Eu sei, você não esperava… Deve estar emocionada. – Negan ironizou com um sorriso de lado.

Uma escuridão repentina tomou conta de minha visão por um breve segundo. Meu sangue fervia.

Por que eu não podia fazer nada? Por que estou me segurando? Quando foi que me tornei tão fraca e medrosa a ponto de tolerar isso?

A resposta não importava no momento, eu só precisava escorrer esse ódio pra fora.

Voltei-me para o balcão, e peguei a faca de cima do prato.

— Ele me parece com fome… – Comentei encarando com atenção a cabeça submersa no aquário, ainda segurando a vontade de vomitar.

— Tenho certeza de que ele estará sempre com fome. – Concordou. — Agora mesmo ele adoraria devorar a porra de uma carne mal passada. Mas ele não tem mais estomago, o que faria? Iria cuspir pelo pescoço?

— Não importa… ele está com fome. – Posicionei a mão livre a cima da abertura do aquário, assim, deslizei a faca sobre minha pele.

O sangue escorreu como água da palma de minha mão esquerda, pingando dentro do aquário, e deixando o tom avermelhado na água. Os grunhidos de meu pai se intensificaram, excitado com o cheiro do sangue. Fechei o punho, fazendo com o sangue deslizasse com mais rapidez. Apesar da dor, isso me dava prazer. No final das contas era isso o que eu precisava sentir, o sangue escorrendo por entre os meus dedos.

Segurei os lados do aquário, acabando por sujar o vidro com sangue, e me curvei.

— Me desculpe por não ter carne fresca pra você agora. – Sussurrei o mais baixo possível. — Mas prometo que você ainda irá devorar as entranhas mais deliciosas que poderei te oferecer. – Terminei lançando um olhar odioso a Negan.

Soltei-o e joguei a faca de volta na bancada.

— Inferno, eu estava até pensando em comer essas torradas. – Reclamou com um suspiro. Olhei para o prato de torradas, vendo que a faca havia caído ali.

— Que pena. – Lamentei com falsidade. — Vou subir. – Avisei pegando o aquário com cuidado. — Acho que ele vai ficar perfeito em cima da cômoda do meu quarto. – Sorri olhando para ele.

— Claro, isso "se" você ainda tiver uma cômoda. – Falou lançando um olhar para dois salvadores que desciam as escadas carregando um colchão.

Caminhei para sair da cozinha, mas Negan assobiou fazendo com que eu parasse na porta.

— Psiu. – Chamou. Me virei devagar para encará-lo. — O que você tem a me dizer agora? – Franzi o cenho sem entender. — Hein? – Arqueou as sobrancelhas.

— E-eu... eu não sei do que…

— Rick. – Negan revirou os olhos se voltando para Rick. — Sei que você não é o caralho do pai dela, mas moram juntos. Não ensinou os bons modos a ela? Ou melhor, aos dois? – Lançou um olhar de lado ao Carl.

— Ahm... Thaylor, a-agradeça. – Rick ficou visivelmente perturbado em ter de me pedir isso.

O fitei incrédula, eu não queria agradecer aquele desgraçado. Mas ele estava ali, esperando, e Rick já estava nervoso o suficiente, Carl me encarava como se estivesse me desafiando a fazê-lo.

— Obrigado. – Foi como se essa palavra tivesse rasgado minha garganta.

— Disponha. – Sorriu cinicamente, então encarou o revolver em sua mão. — Agora, Rick. Sabe, isso tudo que aconteceu aqui com o seu filho descontrolado, me lembra que você tem muitas armas. Todas as armas que pegou do meu posto avançado quando matou toda a minha gente com as armas que já tinha. E aposto que tem ainda mais…

Finalmente dei as costas e saí dali. Segui apressada para o meu quarto, deixando rastros com pingos de sangue por onde passei, um pouco de água acabou derramando enquanto eu subia as escadas.

No andar de cima, não encontrei nenhum salvador, parece que já haviam terminado por aqui. Judith continuava dentro do berço, estava distraída com um brinquedo de morder.

Entrei em meu quarto, estava totalmente revirado. Roupas e objetos se encontravam espalhados, tinham levado meu colchão e a cômoda, mas eu ainda tinha a escrivaninha, e foi onde depositei o aquário.

Arrastei a cadeira e me sentei de frente para ele, deitei a cabeça por cima dos meus braços apoiados sobre a madeira lisa da escrivaninha e o encarei.

Vendo-o assim, descobri a resposta do "porque" eu ainda estava aqui. Vingança. Descobri que ainda existia um motivo pra mim acordar amanhã, e depois, e depois… e vai continuar sendo por ele. Não posso deixar isso assim, não posso ficar como o Rick e aceitar isso.

— Eu não queria que fosse desse jeito. – Com a mão limpa, sequei uma lágrima em minha bochecha. — Você me disse que voltaria, ficaria tudo bem, ficaríamos felizes... mas estava errado,você não apareceu. – Funguei. — Eu te procurei, por muito tempo. Encontrei a Emma e a Skyler aqui, me disseram que você tinha ido embora pra me procurar, então... como foi se tornar um... salvador? como... HEIN?!

Levantei bruscamente a cabeça com o susto que levei quando a porta foi aberta de repente.

Carl adentrou o quarto, seu rosto estava vermelho, parecia uma bomba prestes a explodir. Ele olhou do aquário para mim.

— Vai matá-lo… não vai? – Perguntou fechando a porta atrás de sí. Tinha um guardanapo seguro na mão.

Suspirei.

— Eu… claro. – Passei a mão na cabeça, prendendo uma mecha solta de cabelo atrás da orelha.

A verdade é que eu ainda não tinha decidido o que faria com ele.

— Como se sente? – Perguntou cauteloso.

— Como se tivesse recebido a cabeça do meu pai num aquário. – Peguei o guardanapo que ele tinha me oferecido, e o prensei contra o corte. — O que Aconteceu? – Perguntei percebendo que ele estava inquieto.

— Ele vai levar todas as nossas armas. – Contou parando rescostado de frente para mim na porta.

Ri um pouco amarga. Carl franziu o cenho.

— Parece que não vou mesmo ter minhas armas de volta.

— Você tentou se matar. – Alegou.

— Mas não me matei!

— Porque o meu pai impediu!

— Porque eu não quis! – Gritei alterada. Ele se surpreendeu com minha alteração repentina, me recumpus e continuei com o tom de voz mais controlado. — Você sabe que se eu quisesse ter me matado, eu teria conseguido apertar o gatilho antes de dar tempo pro Rick me impedir. Agora eu sei disso. Eu não quis, e eu não quero morrer.

Baixei o olhar de volta para a cabeça no aquário, seus dentes continuavam a mostra, ainda parecia excitado com o cheiro de sangue impregnado na água.

Carl desviou o olhar para a janela, ficou distraído vendo o movimento dos salvadores mais a diante.

— Sabia que ela vinha de madruga no nosso quarto pra ver se estávamos dormindo? – Sorriu um pouco vago. Franzi o cenho, confusa. — Eu sempre fingia estar dormindo quando na verdade eu estava lendo quadrinhos.

— Não… eu não sabia. – Sorri também, sabendo que era da Michonne que ele falava. — Acho que eu estava sempre dormindo.

O silêncio pairou, nos deixando inerte em nossas lembranças. É ruim pensar nas lembranças boas, e saber que sãos as últimas lembranças boas. Que nunca teremos mais lembranças. Isso doía.

— Tenho treinado com a sniper nesses últimos dois dias. – Contou Carl, cortando o silêncio. — Na floresta, um pouco distante daqui. Sei que a minha mira não é mais a mesma, se eu mirar uma arma em você agora, vou acertar a parede atrás de você. – Pareceu incomodado em admitir. — E com tudo o que está acontecendo, não posso continuar assim.

— Mas Negan vai levar as armas, como vai fazer pra continuar a treinar?

— Ele não sabe da sniper, está escondida.

— Mas e a munição? – Perguntei. Ele voltou a me encarar, pensou por um instante e então sacudiu a cabeça.

— Eu vou dar um jeito.

A porta do quarto se abriu novamente, quase jogando Carl no chão. Era Rick, ele entrou no quarto passando por cima de algumas coisas jogadas no chão, seu semblante estava sério, notoriamente aflito.

Ele encarou o aquário por um instante antes de se voltar para nós dois.

— Vou fazer uma pergunta e preciso que me respondam a verdade. – Pediu pondo as mãos na cintura. Concordamos um pouco assustados. — Algum de vocês esconderam alguma arma do arsenal?

— Não. – Respondemos juntos.

— Você pegou as minhas. – Completei sem esconder minha revolta. — O que houve?

— Sumiram duas armas do arsenal. Uma Glock 9 e uma 22. – Informou preocupado. — Se as armas não aparecerem, Negan vai matar a Olivia.

— Ele quer matar a Olivia? – Carl indignou-se.

— Se as armas não aparecerem… ela vai morrer. – Confirmou. — Não estão mesmo com elas? – Lançou um olhar diretamente a mim.

— Não! – Exclamei ofendida com sua desconfiança. — Acha que eu arriscaria a vida da Olivia assim?

— Não estamos com elas, pai. – Afirmou Carl.

— No fundo eu tinha esperança de que estivesse com vocês. – Suspirou pesadamente. — Vou fazer uma reunião na igreja, essas armas vão ter que aparecer.

— Eu vou com você. – Carl falou, já se encaminhando para a porta. — Vou chamar a Enid.

— Ok. – Concordou Rick. Então ele saiu depois de me dar um aceno de cabeça. Rick encarou meu aquário por um instante, então caminhou até mim. — Thaylor, sinto muito mesmo. – Apertou meu ombro. — Mas sabe que isso não é o seu pai, não sabe?

— S..sei. – Murmurei concordando de leve com a cabeça.

Rick pôs a mão no bolso de sua calça e tirou de lá uma faca, a colocou em cima da escrivaninha, ao lado do aquário.

Ele assentiu para mim, e saiu me deixando sozinha no quarto. Voltei meu olhar para meu pai e a faca ao lado, respirei fundo sentindo o nervosismo tomar conta de mim. Um tanto relutante, peguei a faca. Arrastei a cadeira e me levantei deixando o guardanapo ensanguentado cair no chão.

Ergui o canivete até a abertura do aquário, fitei com pesar seus olhos brancos, meu coração começou a errar as batidas, e meu maxilar travou. Não era o meu pai, eu sabia que não, mas um dia foi ele… essa cabeça morta é a única coisa que ainda tenho dele.

— N-não posso… – Solucei. Larguei o canivete no chão, já sentia o quente das lágrimas em meu rosto novamente. — Não consigo. Sinto muito… desculpa.

Levei as mãos a cabeça, e tentei controlar minha respiração ofegante. Pensei um pouco, e então tive uma ideia.

— Pai, o que acha de… ouvir uma história? – Sugeri tirando as mãos da cabeça, como se ele pudesse entender. — Acho que vai gostar de saber que não tenho mais surt… ataques de pânico, pararam a algum tempo. Vou ler pra você tudo o que aconteceu comigo depois de… de você desligar o telefone.

Sequei as lágrimas e comecei a procurar por meu diário, olhei para o chão perto da cama, onde o vi pela última vez. Ele não estava lá.

Me ajoelhei no chão e olhei em baixo da cama, também não estava ali. Mordi os lábios com nervosismo,

"Talvez eu guardado em algum lugar e não me lembro." Pensei tentando enganar o meu próprio medo.

Comecei a procurar por todo canto, revirei o quarto inteiro, mas não o encontrei. Não estava em lugar nenhum.

Ergui as mãos na cabeça e puxei os cabelos... eles não pedem ter levado.

Senti o desespero me tomar.

   — Onde está o meu diário?!


Notas Finais


Se vc conseguiu chegar até aqui... parabéns, vc é um sobrevivente ahgsahuah😂
Bom, vamos começar... Desculpem mesmo pela imensa demora pra postar, mas tive muita dificuldade em escrever pq repeti a droga do ano na escola, os professores estão pegando mto no meu pé e to entalada até o pescoço com trabalhos pra fazer. E isso tem tirado mto a minha concentração, pra vcs terem noção eu estava escrevendo esse cap a umas 2 semanas ou mais... reescrevi um milhão de vezes, e mesmo assim não saiu como eu queria. E é isso, resumindo: Meu 2017 não começou mto bem (exceto por esse 9° ep de twd q tava incrível♥).

Bem... espero q tenham gostado do cap, se não, me desculpem, como eu disse, estou com dificuldades pra escrever.
Se puderem, comentem oq acharam pfv... O próximo cap (q é a parte q eu tirei desse) vai ser postado em breve, já aviso pra vcs q ele vai ser curto, pois não dividi esse cap no meio.
Bjinhusss e até mais walkers! 😘


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