História Tipo Ideal Perfeito - Vamos ver se vai durar

Na segunda semana daquele mês Park Jimin não quis revelar a tal “surpresa”, ao invés disso me levou mais vezes na sua casa. Passei mais tempo com seus pais, sua mãe me mostrou seu álbum de fotos de quando era bebê e falou de como ele cuidava bem de Hyun desde que o irmãozinho nasceu. O senhor Park gostava de contar histórias engraçadas de sua própria infância e falar como o filho mais velho seguia seus passos. Eu estava me sentindo estranha com tudo aquilo, parecia que eu estava noiva e que quanto mais eu soubesse da família Park melhor eu cuidaria de seu primogênito. Mas acho que aquilo era pra ser uma coisa boa no final das contas, eu era muito bem recebida por toda a família. A sensação estranha acabou se transformando em uma sensação estranha boa.

Na terceira semana Park Jimin tentava me distrair dessa “surpresa” o máximo possível, pelo menos até que as coisas estivessem acertadas, segundo ele. Eu detestava aquele suspense, ele parecia receoso pra me contar e aquilo não tava cheirando coisa boa, mas ele jurava que era.

Na primeira semana do mês seguinte, quando ele finalmente resolveu revelar tudo eu sabia que ia dar merda. Minha primeira reação foi:

- Park Jimin sinta pelo meu olhar a resposta pra essa pergunta – faço minha melhor expressão de “no fucking way”.

Mas ele era insistente e todos os dias agora ele tocava no assunto e tentava me convencer de todas as maneiras. Eu me esquivava, falava não de mil formas diferentes e não adiantava nada. No primeiro final de semana de julho ele insiste de novo:

- Ceci a viagem já ta em cima da hora, essa foi a ultima semana de aula – faz manha sentado na minha cama com a minha lagosta no colo – Por favor, vamo comigo.

- Minha mãe não deixa – invento outra desculpa de ultima hora – Tenho que arrumar as coisas pra minha viagem mês que vem, só tenho essas férias pra fazer isso.

- Mentira! – cruza os braços – Eu falo com seu pai toda vez que venho aqui e ele disse que já ta tudo praticamente pronto. É uma semana só.

- É sério, eu conheço minha mãe. Ela não vai deixar.

- Tenho certeza que vai deixar sim.

- Uma semana sozinha com você e um monte de adolescentes numa casa sem nenhum adulto? Seria praticamente pedir permissão pra gente transar adoidado.

Ele não segura a risada alta e eu taco um dos travesseiros nele.

- Sua mãe já sabe que a gente transa, qual o problema?

- Não é a mesma coisa. – me encosto na minha cômoda e cruzo os braços também – Beleza, a transa ela não pode impedir de qualquer maneira, mas seus amigos vão levar álcool né?

- Você não bebe oras. É uma boa garota, sua mãe confia em você e em mim também. Tenho certeza.

Suspiro, claramente frustrada. Pior que confiava mesmo.

- Eu não quero ir pra casa daquela garota...

- Você não quer passar as férias comigo?

- A gente pode ficar por aqui mesmo.

- Lá a gente vai poder ficar junto sem ninguém encher o saco – começa a listar as coisas com os dedos da mão – A casa é enorme e tem um monte de coisa pra fazer, tem um monte de lugar pra gente curtir, meus amigos são legais, a gente vai poder dormir juntos e transar adoidado.

- Para com isso Park Jimin, Segura essa testosterona – agora eu que não seguro a risada – Seus amigos são legais, suas amigas com certeza não.

- A Yeon não vai ser um problema, eu juro.

- Como você convenceu ela a me deixar ir?

- Se você não vai, eu também não vou. Acho que ela prefere que eu vá.

- E você nem imagina por que né? – pergunto irônica.

- Eu não quero saber dela – ele levanta rapidamente da cama e me puxa pela mão pra fora do quarto.

- Park Jimin...?

Sou arrastada escada abaixo até a cozinha, onde minha mãe preparava o jantar.

- Senhora Prado – ele começa – A Cecília comentou alguma coisa com a senhora sobre uma viagem minha e dos meus amigos?

- Não que eu me lembre – franze o cenho, tentando buscar na memória.

- Bom, eu e meus amigos vamos todo ano pra uma casa de campo de uma das nossas amigas nas férias. Ela convidou a Ceci dessa vez e eu queria saber se ela pode ir comigo – pergunta confiante.

- Sem nenhum adulto?

Sorrio de canto, olhando pra ele. Eu sabia que minha mãe não iria me desapontar.

- Não, os pais dela trabalham muito e não podem nos acompanhar. Mas meus pais estão cientes, nunca tivemos nenhum problema. E eu também faço a Ceci ligar pra senhora todo dia pra dizer que está tudo bem, se preferir. Eu cuido dela, prometo.

- Se seus pais sabem... – ela diz com um sorriso bobo e olhinhos brilhando por causa do discurso fofo de Park Jimin ao convencê-la – Não vejo problema, eu confio em vocês. Sei que querem passar esse tempo juntos antes da nossa viagem.

Sério mãe??? Não podia ter fingido pelo menos??? Resistido um pouco mais??? Não acredito nisso!

Agora ele me olha vitorioso e eu belisco seu braço.

- Vamos arrumar sua mala agora por que a gente já vai na segunda – esfrega o braço mas não deixa de sorrir.

- E a sua mala?

- Já está pronta... eu sabia que ia te convencer.

Pois é, eu também sabia.

(...)

Na segunda o sol do verão estava queimando ao meio dia, mas mesmo assim eu usava minha calça jeans preta rasgada com uma regata branca e meu all star sujo.  Todo mundo combinou de se encontrar na frente da casa daquela garota e eu não sai de dentro do carro de Park Jimin enquanto esperávamos aquele bando todo aparecer e se organizar. Por sorte Hyun também teve permissão de ir junto, o que me deixou um pouco mais tranqüila. Eu e ele conversávamos sobre o novo filme de ação do Keanu Reeves e conforme o tempo ia passando os outros iam chegando, no final das contas só era preciso esperar a rainha da porra toda.

Todo mundo já tava sem paciência, até eu e Hyun descemos do carro e nos recostamos no veículo entediados. Quando ela finalmente resolveu aparecer, estava vestida como se fosse pra uma festa muito importante, seguida de suas amigas populares número 2 e 3. As três carregavam somente uma sacola em mãos.

- Demoraram hein – Yoongi é o primeiro a reclamar – Vamo logo senão a gente vai chegar muito tarde.

Na distribuição de carros as três amigas populares iam com o motorista da rainha e pediram para que Jungkook as acompanhassem. Seokjin ia dirigindo o segundo carro com Namjoon, Yoongi, Taehyung e Seulgi. No terceiro carro íamos Park Jimin, Hyun, Jhope e eu.

- Jiminie oppa – ouço a voz melosa se aproximar – Posso ir no carro com vocês? É que eu já estou cansada dessa paquerinha da Yuna com o Jungkook e ele sem perceber nada.

Aquela foi a pior desculpa que eu já ouvi.

- Aqui vai ficar meio cheio, e eu sei que você não gosta – ele responde desconcertado, olhando pra mim.

- Não tem problema, contanto que não tenha que aturar os dois. – sorri sendo fofa.

Eu fico imóvel e inexpressível. É claro que ela já ia atrapalhar antes mesmo que a viagem começasse. Quando Park Jimin assente com um aceno de cabeça eu reviro os olhos. Seguro sua mão o puxando de canto.

- Park Jimin, eu e ela no mesmo carro? – arqueio a sobrancelha – Ta querendo provocar o apocalipse antes da hora e que as trevas comandem a terra?

- Como você exagera – ele ri, mas estava muito ciente de que aquilo não era uma boa idéia.

- Eu vou no carro com o Namjoon – falo já fazendo menção de me afastar.

- Cecília – segura minha mão, me impedindo – por favor...

Puta que pariu Park Jimin, nem precisava fazer nada. Dou de ombros e bufo sem paciência. Me afasto dando a volta no carro, quando abro a porta e faço menção de me sentar no banco do passageiro a garota fala comigo:

- Eu preciso ir no banco da frente, senão eu passo mal – nem espera minha resposta, me empurrando “gentilmente” para o lado e se acomodando no banco do carona.

Park Jimin desvia o olhar e coça a cabeça, sem graça. Eu tinha que fazer um mantra pra manter a paciência. Entro no carro me acomodando na janela do banco de trás, Hyun senta no meio e jhope fica com a outra ponta. Eu queria fechar os olhos e apagar pelo resto da semana, só a voz daquela garota era insuportável pra mim.

- São quantas horas de viagem? – pergunto pra Hyun, mas era a primeira vez dele indo também.

- 2 horas e meia mais ou menos – jhope se inclina e me responde.

PORRA! Era a única coisa que consegui pensar.

(...)

Logo no primeiro quilometro da estrada começaram suas provocações.

- Jiminie oppa, o vento está bagunçando todo seu cabelo – se inclina e acaricia o cabelo dele vagarosamente.

Eu podia sentir os olhos de jhope e Hyun sobre mim. Park Jimin tentava me olhar pelo retrovisor.

- Eu gosto assim – ele responde encerrando o assunto.

Ela para com as carícias. Eu apoio o queixo na mão, tentando não deixar aquela sensação ruim na boca do meu estômago me corroer pelo resto da viagem. Yeon liga o rádio e imediatamente uma música do meu pen drive começa a tocar. Era alta e considerada barulhenta pra maioria das pessoas.

- Arghhh! Que isso??? – ela faz uma pergunta retórica – Deixa eu colocar minha playlist?

Mais uma vez ela não espera uma resposta e já troca meu pen drive pelo seu próprio. Uma música irreconhecível aos meus ouvidos começa a tocar, acho que era kpop, eram umas garotas que cantavam e a música era bem melosinha. Jhope cantava animado e eu queria morrer.

Fecho os olhos, sentindo a enxaqueca já me atingir em cheio. Massageio minhas têmporas levemente e ao perceber Hyun me puxa pra encostar a cabeça em seu ombro.

- Está tudo bem jahgi? – ouço a voz de Park Jimin preocupado e logo em seguida uma risadinha irônica.

- Jahgi... – ela repete ainda rindo.

Eu respiro fundo... conto carneirinhos mentalmente... cada um que pulava a cerca eu dava um tiro.

- Ela está com dor de cabeça – Hyun responde por mim e imediatamente ouço o volume da música abaixar.

- Acho que tem um remédio no porta luvas – Park Jimin ignora as provocações e era o que eu estava tentando fazer também.

- Se não tiver ai eu acho que tenho um na minha mochila – Jhope oferece também – Está com sono Ceci?

Respondo que sim com um aceno, ainda apoiada no ombro de Hyun. Eu permaneci de olhos fechados, eu não queria ouvir nada, não queria falar nada, não queria ver nada... não queria estar ali enquanto ela tomava o meu lugar.

- Quer alguma coisa Jahgi? Eu posso parar em algum lugar...

Eu abro os olhos procurando os dele, mas tudo que eu vejo é a mão delicada de dedos cumpridos da Yeon se esticando para afagar o braço do meu namorado.

- Relaxa Jiminie oppa, é só uma dor de cabeça – dava pra notar o sorriso no mel da sua voz – Não precisa atrasar a viagem por uma coisa tão boba. Além do que ela já tem dois enfermeiros ali atrás.

Escondo meu rosto no ombro de Hyun, sentindo a boca do meu estômago queimar com aquela sensação ruim. Yeon conseguiu instalar um desconforto tão grande no carro que não poderia ser ignorado nem mesmo por Jhope, que passou a ficar calado. Ao sentir Hyun afagar meus cabelos, fecho os olhos novamente, decidida a só abri-los quando chegássemos ao inferno.

(...)

Sinto um carinho leve na minha bochecha e tenho a impressão de ouvir coisas. Franzo o cenho durante o sono, sem vontade nenhuma de acordar, mas é inevitável abrir os olhos sentindo aqueles beijos molhados no meu pescoço.

- Acorda anãzinha – ouço claramente apesar de sua voz estar baixa.

- Eu não quero...

- Vem, deixa eu te levar pra dentro – envolve minha cintura, me ajudando a descer do carro – a gente já chegou.

Eu estava um pouco zonza e mole ainda pelo sono, me apoiava com as mãos nos braços de Park Jimin.

- Legal, agora a gente já pode ir embora?

- Engraçadinha – ele beija minha testa – está melhor?

- Depende... eu ainda tenho que ver a cara daquela garota?

- Eu vou falar com ela...

- E não vai adiantar nada – concluo.

Sinto suas mãos deslizarem por toda a extensão das minhas costas, num afago relaxante e calmo. Park Jimin mantinha meu corpo junto ao seu, me equilibrando em pé enquanto eu ainda tentava despertar inteiramente do sono.

- Jiminie oppa... – me encolho automaticamente ouvindo aquela voz – vem eu quero te mostrar a nova decoração da sala de jogos.

Ela puxa o braço de Park Jimin bruscamente, fazendo-o quase não ter alternativa a não ser me soltar antes que nós dois caíssemos. Yeon o arrasta para longe de mim, adentrando a casa e sumindo de vista. A minha dor de cabeça não tinha melhorado nada.

- Você tem muita paciência – Hyun aparece do meu lado com a sua mala pequena em mãos.

- Vamos ver se vai durar – respondo com uma cara entediante, mas por dentro aquela sensação ruim não me deixava de jeito nenhum.

Eu odiava sentir aquilo.

- Jiminie oppa – Hyun a imita afetado, me fazendo rir.

Assim que pego minha mala, seguimos os dois até a entrada da casa enorme. Pelo menos ele também estava ali.