História Tipo Ideal Perfeito - Epílogo

Daquela vez eu estava mais concentrada do que nunca. Meus dedos se moviam rapidamente enquanto meus olhos não piscavam por um segundo. Sem desviar a atenção da tela da tv. Eu não ria e não deixava escapar minhas provocações costumeiras.

Não, não, não. Não pode ser...

- Cecília... – chama meu nome se inclinando em minha direção. Depois fala baixinho – BOOM.

GAME OVER

Não acredito cara. Como assim? Que universo paralelo é esse em que eu acabo de perder para Park Jimin no vídeo game?

- Isso... não é real... – comento ainda encarando a tela.

- Eu disse que esse dia ia chegar jaghi – se gaba soltando o controle e se recostando no sofá, todo esparramado.

- Revanche Park Jimin... agora.

Ele balança a cabeça negativamente.

- Bem que eu queria, mas perdi muito tempo hoje praticando o solo do casal pro lance da faculdade. Se continuarmos jogando vamos nos atrasar.

Ah é, o solo “do casal” atrapalhou tudo.

- Tudo bem – me levanto desanimada e guardo os controles do vídeo game, desligando a televisão em silêncio.

Sinto o olhar de Park Jimin sobre todos os meus movimentos. Desde colocar uma mexa de cabelo atrás da orelha até quando me afasto pra cozinha, fingindo abrir a geladeira pra pensar.

- Está brava por que eu ganhei Cecília? – pergunta com um sorriso e o cenho franzido.

Bufo impaciente e sarcástica, dando mais ênfase pra minha cara de cu.

- Claro que não Park Jimin.

Bato as unhas na porta da geladeira, fingindo escolher alguma coisa pra comer. A única coisa que consigo escolher é o super mercado onde deveríamos fazer compras.

- Ficou brava com o que? – levanta do sofá e anda em minha direção, para logo em seguida se apoiar na parede ao meu lado.

- Nada não – dou de ombros pegando um tomate. O que eu ia fazer com essa droga de tomate? Sou uma idiota mesmo – É... vocês ensaiaram esse solo... hm... sozinhos?

Fecho a geladeira e volto a me afastar dele apressadamente enquanto ouço ele soltar uma risadinha baixinha.

- Meu grupo estava lá pra ajudar e dar umas dicas.

- Entendi...

- Jahgi... – volta a se aproximar e inclina o rosto roçando o nariz na minha bochecha – está com ciúmes?

Eu só mexia o tomate inutilmente entre minhas mãos.

- Ciúmes? – risada falsa, ridícula e vergonhosa – Me poupe Park Jimin.

Ele volta a rir, só que agora mais alto.

- Adoro quando você fica com ciúmes assim, sabia? – fala baixo no meu ouvido e distribui beijinhos na minha bochecha, me fazendo arrepiar.

Garoto irritante.

- Adora é? Pois vai deixar de gostar rapidinho... – pressiono o indicador no seu peito, o afastando de mim – Não quero que você dance mais com ela, não quero que vocês façam esse solo idiota, não quero vocês como parceiros – vou cutucando seu peito, fazendo-o andar de costas em direção a sala – Não quero vocês nem na mesma sala mais, e ...

- Tudo bem.

- Não vão mais... – me calo por um segundo – ma-mais – depois começo a gaguejar surpresa – Como assim “tudo bem” Park Jimin? Está brincando comigo?

- Não jahgi – coloca uma mão em meu rosto, fazendo um carinho vagaroso na minha bochecha enquanto exibi um sorriso – Eu já disse que vou fazer qualquer coisa pra não deixar mais nada atrapalhar a gente. Se a Doona é um problema eu me afasto. Apesar dela estar namorando a um bom tempo já – ri novamente.

Agarro sua camisa, apertando entre meus dedos e puxando seu corpo pra perto. Apóio minha testa em seu peito e escondo meu bico infantil, envergonhada com cada uma das minhas atitudes.

- Desculpa Jiminie, não quero que você tenha que fazer essas coisas que podem te prejudicar só por causa do meu ciúme ridículo – suspiro – Sou uma boba mesmo. Se vocês dois são os melhores da sua turma, têm que fazer o melhor que podem. Eu sei que é importante pra você.

- Você é mais importante Ceci, sempre vai ser – beija o topo da minha cabeça.

- Prometo que não vou intervir, mesmo quando quiser muito que ela desapareça – solto sua camisa e beijo seu peito sobre o tecido – Eu não sei quando comecei a ficar tão possessiva e criançona desse jeito. Me sinto patética.

Faço uma careta enquanto Park Jimin estava achando tudo muito divertido.

- Você fica tão fofa quando está assim – leva uma mão ao meu queixo, me fazendo erguer o rosto e com a mão livre aperta meu nariz – Se você não sentir tanto ciúmes de mim quanto eu sinto de você, vou acabar ficando pior do que já sou jahgi.

Arranca uma risada de mim. Fico na ponta dos pés para lhe dar um selinho.

- A gente é tão idiota.

- Seremos dois idiotas atrasados se não começarmos a nos arrumar agora – olha pro relógio no aparelho da tv.

- Vou tomar um banho – anuncio indo apressadamente em direção ao quarto.

- Eu queria ir no banheiro da suíte – reclama.

- Você demora muito mais pra se arrumar do que eu Park Jimin. Vai no outro banheiro – falo alto antes de fechar a porta.

- CALÚNIA.

(...)

Eu estava sentada na cama calçando aqueles saltos que eu iria me arrepender de usar pela primeira vez com certeza. Aquilo era um risco de vida pra mim, alguma hora da noite eu ia acabar me estabacando. Isso era um fato. Assim que me levanto tento me equilibrar. Ta legal, não seria tão difícil. Eu ia conseguir. Dou alguns passos vacilantes para fora do quarto, me sentindo um pingüim andando com um ovo no meio das patas. Aquilo devia estar hilário.

Lentamente e cuidadosamente eu consigo desfilar até a sala. Vitória!

- Cecília, já faz um ano que eu reclamo das suas calcinhas penduradas no Box do banheiro – ouço ele protestar do quarto que eu tinha deixado com a porta aberta.

- Pelo menos eu não deixo minhas toalhas molhadas mofando em cima da cama – respondo prontamente – Vai demorar ainda? Eu já estou pronta.

- Só vou me trocar.

Aquilo era o sinônimo de mais uma hora esperando e aquele salto alto já estava machucando meu pé. Nem cinco minutos de uso e já estava enchendo o saco. O que não fazer por amigos? Me sento na sala com cuidado pra não amassar o vestido preto rodado e de mangas cumpridas que eu estava usando. Pois é, salto alto E um vestido. Mas a maquiagem da gótica continuava em meus olhos. Mesmo caminhando apressadamente para os meus 20 anos eu ainda não tinha dado sinais de que iria enjoar da maquiagem, das roupas e muito menos das minhas músicas. Basicamente eu não conseguia deixar de ser eu, assim como não conseguia deixar de querer Park Jimin cada vez mais.

Mesmo quando ele me irritava e me cansava como estava fazendo agora.

20 minutos... 30 minutos... 40 minutos...

- Ceci... me ajuda com esse botão da manga – adentra a sala concentrado na manga da sua camisa social.

Me levanto cuidadosamente e me equilibro antes de tentar dar qualquer passo.

- UAU... jahgi... você me surpreende mais a cada dia – sorri de canto me medindo de cima a baixo – Está linda demais.

- Você vai ter que me segurar – comento quase virando o pé indo em sua direção – viu só? – dou risada sentindo suas mãos segurarem com firmeza minha cintura, me dando suporte.

- Vai ser um prazer te segurar a noite inteira assim – morde o lábio, me olhando daquele jeito que me fazia tremer. Suas mãos rapidamente começam a erguer a saia do meu vestido e encontram minha bunda coberta por uma calcinha pequena de renda preta.

Ele ri completamente sexy ao ver que conseguiu me fazer arfar com tanta facilidade.

- Não começa Park Jimin... não temos tempo – em resposta ele aperta minha bunda com vontade, me fazendo segurar em seus ombros.

- Só um pouquinho amor... – roça os lábios nos meus sem pressa ao pedir manhoso. Suas mãos começam uma massagem gostosa nos meus glúteos.

Eu queria arrancar aquela roupa social inteira do seu corpo já, mas antes que sequer iniciemos um beijo a campainha toca e podemos ouvir as vozes de Min Yoongi e Jenny do outro lado da porta.

- Droga! – exclamo jogando minha cabeça pra trás. Completamente frustrada assim como meu namorado gostoso.

- Mais tarde você não me escapa jahgi – pisca pra mim já destrancando a porta e dando espaço para os dois – Entrem.

- Não, não, não! – Jenny responde apressada – Viemos dar carona pra vocês e já estamos muito atrasados. Quase não consegui tirar Yoongi de casa.

Franzo o cenho com a cara mais maliciosa que tenho. Conhecendo a Jenny tão bem e sabendo ler suas entre linhas, aquilo queria dizer que rolou uma saliência de leve. Ou não né.

Park Jimin vem até mim novamente e eu o ajudo com os botões das duas mangas. Ele pega seu paletó e nós seguimos apressados para fora do apartamento com os outros dois. Ao passar por Jenny comento baixo:

- Quase não conseguiu sair de casa é? Você devia era ter dado um tempo pra essas bochechas não ficarem tão coradas assim Jen – ela ri sem graça e esconde levemente o rosto.

- Não deu pra resistir. Olha esse homem de terno? – encolhe os ombros.

- Eu estava aproveitando o meu, até você atrapalhar tudo – bato de leve em seu ombro.

- Ops... SORRY – canta no maior estilo Justin Bieber, me fazendo rir.

Graças a Park Jimin e o grupo Seokjin agora eu tinha amigas... e elas eram demais.

Jimin Pov

Estávamos na fila pra cumprimentar os noivos antes da noiva finalmente jogar o buque e todo mundo poder jantar devidamente. Nós todos estávamos morrendo de fome depois daquela benção demoradona do chefe da Lia. O cara falava bem pra caramba, mas falava demaaaais. No meu casamento com a Ceci não poderia ser assim.

Na nossa vez de dar as devidas felicitações e tirar as fotos, fomos os dez de uma vez. Apesar da Ceci achar que seria legal só os amigos do noivo e o grupo Seokjin tirarem as fotos sozinhos, a Lia quis que suas, agora, amigas também entrassem no meio.

Tiramos uma foto séria pra poder pendurar na parede, o resto foi uma pior que a outra. Nós fizemos chifrinho nos noivos. Seguramos a gravata do Jin hyung como se fosse uma corda e ele estivesse na forca. As meninas apertavam as bochechas da Lia ou faziam cara de “finalmente aceitou”, se é que essa cara existisse mesmo.

- Chega, vocês estão acabando com o dia romântico da minha esposa – Jin interfere rindo e nos expulsando de lá – Só o Hyun mesmo se salva desse grupo de vocês.

- Só por que eu acabei de voltar do banheiro – diz ao chegar correndo e passar o braço sobre os ombros da Alanis – Fiz a gente perder a melhor parte jagiya.

Sorrio ao ver meu irmão mais novo se referir assim a sua primeira namorada. Eles já estavam caminhando para os 200 dias de namoro e ela já estava se enturmando muito bem entre minha família, principalmente com a Cecília. A gótica das trevas estava muito mais social do que o normal. Se as coisas continuassem assim, Hyun e Alanis também iriam fazer parte dos 5%.

Antes de liberarmos a fila Ceci troca gestos e segredos com Alanis. Creio eu que eram dicas de como zuar as fotos dos noivos. 

- EU VI ISSO TREVOSA – Lia esbraveja, mesmo sem estar brava e aquilo só me faz rir mais ainda.

(...)

Nós tínhamos uma mesa reservada só pra nós. Seokjin estava temporariamente sentado conosco enquanto Lia se preparava para jogar o buque.

- Eu juro que quase me borrei – Hobe hyung comenta afetado segurando a mão da namorada.

Tae e Moonie hyung riem, lembrando da fatídica cena.

- Você correu quase que dois quarteirões inteiros, por isso que ta com o físico em forma desse jeito – Jungkook tira sarro.

- O meu irmão é meio lerdo de pensamento, mas corre que nem o demônio – Mikame comenta.

Depois de muito esconder o “não namoro” do irmão mais velho e parceiro de crew, finalmente Mikame e Jhope foram pegos no flagra a pouco mais de uma semana atrás. Mas depois de muito correr e tentar se explicar, o ogro Jang Geun acabou cedendo ao ver que as intenções do nosso líder eram sérias.

Na verdade a graça pra mim estava em ver quem ficou mais surpreso: Jang Geun por descobrir o rolo da irmã com o amigo ou a Cecília por descobrir que estudava com a namorada do Hobe.

Quando vemos um agito de todas as garotas correndo pro meio do salão é que reparamos que a Lia já ia jogar o buque.

- Vai lá jahgi... – abro meu melhor sorriso. Aquilo ia ser engraçado.

- Nem pensar Park Jimin – cruza os braços já fechando a cara.

- Ah vamos unnie, vai ser legal – Thays tenta puxá-la pela mão e Ceci segura o riso.

- Não dongs, vai você. Aproveita pra deixar Jeon Jungkook apavorado – pisca.

Kookie faz uma careta, sabendo que a namorada só queria mesmo entrar na brincadeira.

- Acho que deu vontade de ir – Jenny se levanta da cadeira, mas Yoongi faz ela se sentar novamente.

- Nem pense nisso, não me trás esse azar – comenta com a mesma cara de tédio, sem nem encarar a namorada.

- Azar Min Yoongi? Você vai ver o azar quando essa festa acabar – responde emburrada.

Yoongi ri abraçando os ombros da namorada.

- A Ceci não tem cara de quem faz essas coisas, melhor mesmo ela não ir – Alanis interfere.

Fecho a cara pra minha cunhada. Quando juntava Cecília, Hyun e Alanis o Team Park Jimin sofria um desfalque enorme. Nenhum deles ia a meu favor, nem meu próprio irmão.

- Tá vendo? A Alanis me entende – se inclina levemente sobre a mesa e troca um H5 com a sua cúmplice.

Ta bom, derrota pra Park Jimin nessa.

- Sua chata – apoio o queixo no seu ombro e a encaro com a minha costumeira cara de cachorro abandonado.

- Quem vai pegar esse buque sou eu – Tae levanta animado e corre pra perto das garotas aglomeradas a espera da “grande jogada”.

Eu já não estava mais nem ai pra aquela coisa toda, só trocava caretas com a minha namorada, sentindo o cheiro do seu perfume enquanto queria muito beijar seu pescoço. E assim distraídos somos acertados em cheio bem na cabeça.

- Mas que po... !!!! – ergo o rosto procurando de onde veio o tiro, quando olho pra baixo e vejo o buque no meu colo.

- Puta que pariu, que mão torta hein Lia! – Moonie hyung zoa a noiva enquanto todos riam.

- Não fala assim da minha esposa – Jin o repreende, mas ria também – Agora a Ceci vai ter que pedir o Jiminie em casamento.

- Eu aceito – respondo prontamente – Até por que já cansei de pedir.

As garotas fazem um coro mudo de “own” como se eu tivesse dito a coisa mais fofa do universo.

- Pede Ceci, foi o destino - Lia se aproxima sorridente - e minha mira ruim claro. 

- Ta legal – Cecília pega minha mão e mesmo sem motivo meu coração acelera – Park Jimin você quer... – faz uma pausa dramática antes de continuar – pegar um copo d’água pra mim?

- Ahhhhhhhhhhhhhhh – o coro dos meus amigos desapontados.

Faço a cara mais sem graça do universo. Aquela ia ter volta.

- Essa trevosa não tem coração – Tae me defende.

- Já estou acostumado – continuo segurando sua mão enquanto me levanto da cadeira – Mas vai dançar comigo querendo ou não.

Sem dar espaço para os protestos, que eu sei que ela iria teimar em fazer, só a puxo para me acompanhar e deixo o buque sobre a mesa. Cecília tira os saltos, deixando embaixo da sua cadeira e se deixa ser conduzida por mim até o meio do salão que já tinha várias pessoas dançando. Envolvo meu braço livre na sua cintura e a faço subir nos meus pés, arrancando sua risadinha boba. Aos poucos começo a mover nossos corpos lentamente, ignorando o estilo de música que estava tocando no momento.

- Eu tava falando sério Cecília... sobre você ser minha esposa.

Ela estreita os braços ao redor do meu pescoço e sinto que estava tentando não colocar todo o peso do corpo sobre meus pés que a guiavam numa dança bem lenta.

- Eu sei Park Jimin... – me encara intensamente, deixando nossos narizes a centímetros de distância – Sei também que nós vamos terminar exatamente assim, de um jeito ou de outro. Pra que ter pressa?

- Você me tem quando quiser.

Cecília abre o sorriso mais lindo do mundo e faz tudo ao nosso redor virar um borrão pra mim. A música que tocava era uma eletrônica e dançante, mas eu colo nossas bochechas e começo a cantar something bem baixinho no seu ouvido.

- Something in the way she moves...  (Alguma coisa no jeito que ela se move)

Seus braços me apertam ainda mais forte e eu sinto sua cabeça em meu ombro. Conforme continuo cantando sinto-a se desmanchar e amolecer daquele jeito que eu amava. Ceci se concentrava unicamente na minha voz, toda boba, como sempre ficava toda vez que eu cantava pra ela. Eu podia apostar que seus olhos estavam fechados.

Quando finalmente completamos uma volta inteira com nossos corpos, eu canto as ultimas linhas da música.

- I don't want to leave her now... You know I believe and how...  (Não quero deixa-lá agora... Você sabe o quanto eu acredito)

Deposito um beijinho no lóbulo da sua orelha, sentindo ela se encolher imediatamente. Aquilo me arranca um sorriso ainda maior. Tão sensível e gostosa.

- Você é meu tipo ideal Park Jimin – entrelaça os dedos no meu cabelo – Simplesmente por que é você e não pode ser nenhum outro.

Sem me importar com o lugar onde estávamos ou as pessoas a nossa volta eu inicio um beijo calmo a pegando de surpresa, assim como ela me deixou surpreso com aquelas palavras. De um jeito ou de outro sempre vamos terminar assim.

FIM²