História Tipo Ideal Perfeito - Uma pessoa de prazeres simples

De volta a rotina da escola. Mas agora parecia estar tudo diferente. Céci e eu ainda tínhamos um segredo, se nenhum de nós dois sabia o que tava acontecendo por que os outros deveriam saber? Na hora do intervalo nós vivíamos a base de olhares e risinhos de longe, o tempo inteiro nossos olhares se encontravam e eu ria sozinho reparando em seu sorriso de canto que ela tanto tentava esconder. Vez ou outra quando nos encontrávamos “por acaso” nos corredores quase vazios era possível roubar alguns selares sob seus protestos. Eu ia o tempo inteiro na sala dela com a desculpa de falar com Yoongi, Moonie ou Jin hyung, eles já estavam ficando de saco cheio pois sabiam o real motivo deu estar ali. Parecia patético, mas eu não ligava. Era muito bom.

Fora da escola eu ia na sua casa ainda dois dias por semana, não sei... não queria apressar nada ou sufocá-la, as vezes era difícil saber o que Cecília quer. Mesmo assim nos falávamos todos os dias pelo telefone e mensagens.  Da onde tirávamos tanto assunto, era um mistério. Acho que no final das contas não ter nada em comum ajuda em alguns casos.

Aquela manhã, olhando-a de longe durante o intervalo fiquei lembrando de nós dois deitados “assistindo” ao filme. Não, nada aconteceu. Ainda assim era difícil parar de pensar, Ceci não era muito de palavras, romance ou fofurinhas, mas ela era muito carinhosa mesmo que não admitisse. Suas mãos estavam sempre fazendo carinho em meus braços ou me fazendo cafuné sempre que estávamos perto. Ao mesmo tempo em que tudo nela era convidativo aos meus lábios, era difícil parar de beijá-la.

Quando ouço o sinal anunciando o recomeço das aulas ignoro completamente Seo Yeon tentando chamar minha atenção e me apresso para os corredores. Antes que Cecília entre em sua sala consigo roubar um selinho rápido, a deixando um pouco desnorteada. Ela me da um soquinho no braço, mas estava rindo. Passo as ultimas três aulas pensando se deveria ou não sair direto da escola com Cecília para algum lugar. Acho que estava ignorando meus amigos. Com esse pensamento decido que é melhor falar com ela depois.

Como de costume quando as aulas terminam nós sete nos encontramos nos portões da frente e ficamos conversando com algumas garotas, ao passar por nós Ceci acena com seus amigos. Antes que ela possa seguir seu caminho, porém, Yul a chama novamente apontando para um cara. Ele parecia ser um pouco mais velho e também usava uma camiseta do Ramones. Em menos de cinco minutos de conversa ela já estava sorrindo. Como assim? Eu poderia usar uma camiseta daquelas, todo mundo usava mesmo. Cecília já o conhecia antes? Nunca vi aquele cara na porta do colégio, eu queria saber do que tanto ele e Yul riam. Eu tava surtando? Acho melhor eu me controlar.

- Oh-Oh – Tae zomba no meu ouvido – Arrumou concorrência?

Empurro ele e tiro os olhos daquela cena contrariado. Aquilo não era nada demais.

***

Cecília Pov

Ando apressada pela rua com o celular na mão, a procura do endereço que o Park Jimin tinha me passado por mensagem. Nem tive tempo de almoçar direito, ou talvez estivesse ansiosa, não sei. Só coloquei minha calça jeans preta rasgada, minha camisa preta do kings of Leon e arrumei meu cabelo num coque frouxo. Não queria perder a hora.

Paro em frente ao local e checo os números do endereço. Era ali mesmo, mas era uma academia? Uma escola? Aquilo tava estranho. Quando me dirijo até a recepção dou meu nome e a mocinha diz que minha entrada estava liberada como visitante. Ela me da um adesivo para colar na camisa e me acompanha até as catracas, dava pra ouvir sons de música abafados.

- Seu amigo que te indicou está na sala de prática número 6.

Agradeço e ando pelo corredor de olho nos números das portas. A número 6 estava fechada e o som de uma música alta vinha lá de dentro. Ao invés de bater entro com o máximo de cuidado. Park Jimin estava concentrado em sua própria imagem em frente ao espelho, repetia cada movimento com precisão de novo, de novo e de novo. Depois ele continuava com uma coreografia seguindo o ritmo da música. Ele dançava tão bem, eu só podia ficar ali recostada na porta sorrindo que nem uma menininha idiota. Eu não acredito que eu tava virando uma menininha idiota.

Quando a música acaba ele se vira, finalmente notando minha presença e abrindo um sorriso.

- Achei que ia me deixar plantado.

- Eu não sabia que você fazia aulas de dança.

- Na verdade a aula acabou já. Eu fiquei a mais pra ensaiar uns passos que não ficaram bons e pra te esperar né.

- Desculpe, demorei pra achar o endereço. Mas vi o bastante – sorrio de canto.

- O que achou?

- A música é boa. É gostosa de ouvir... você é gostoso de ver. Combina.

- Eu que deveria dizer essas coisas pra você – ri pegando uma toalha, secando o suor do rosto. Caminha até mim.

- Pode dizer – respondo sugestiva.

Desliza as mãos pelas minhas costas, me puxando pra perto. Eu apoio minhas mãos em seus braços cobertos apenas por uma camada fina de suor.

- Gostosa... – ele murmura roçando os lábios na minha orelha, me fazendo arrepiar.

Impulsivamente aperto seus braços e acabo com qualquer espaço que pudesse existir entre nós. Lentamente Park Jimin começa a balançar nossos corpos de um lado pro outro, no que era uma quase dança lenta. Seus lábios ainda atormentavam a minha pele delicadamente.

- Eu não danço Park Jimin... – falo apoiando a cabeça em seu ombro.

- Já está dançando jahgi.

- jahgi??? – estranho o apelidinho de casal.

- Não gosta? – pergunta me olhando e me fazendo olha-lo.

- Nunca me chamaram assim antes.

- Nenhum namorado?

- Nunca tive um namoro que durasse pra chegar a ser chamada de jahgi.

- Te incomoda? – aperta meu nariz.

- Não, pode chamar – dou de ombros e escondo o sorriso.

Ele se afasta pra pegar sua garrafinha de água. Parecia meio desconfortável. Eu estraguei o momento? Droga! Park Jimin não me olha ao perguntar:

- Quem era aquele cara na porta da escola hoje de manhã?

- Um amigo do Yul, Min-Jun? Acho que era isso.

- Você não conhecia ele então?

- Não, ele tinha visto uma foto minha no instagram do Yul eu acho.  Daí os dois tinham combinado alguma coisa pra hoje, por isso ele apareceu lá na porta do colégio e o Yul acabou apresentando a gente. – respondo indiferente.

- Entendi – ele fala baixo e volta a secar o rosto com a toalha.

Não entendi muito bem sua reação, eu não queria ter estragado o momento. Achei bonitinho a naturalidade com que ele me chamou antes. Droga de novo! Ficamos em silêncio enquanto ele arrumava algumas coisas dentro da mochila.

- Hey! – me chama como se tivesse lembrado de alguma coisa. Pega o iphone da mochila e coloca I wanna be sedated pra tocar – Eu tava ouvindo antes da aula, gostei bastante dessa música, pesquisei algumas outras...

Eu abro um sorriso enorme, sem conseguir reagir direito.

- Você tava ouvindo Ramones por minha causa? Quer dizer... por que eu te mostrei?

- É – ele ri colocando o iphone no bolso, deixando a música tocar ainda – Cecília, da pra ver seus olhos brilhando de verdade. Acho que tem até uns coraçõeszinhos voando em volta da sua cabeça.

- Acho que tem mesmo... – respondo boba.

- É sua banda preferida afinal de contas?

- Agora é. – rio baixo e enlaço os braços no seu pescoço, selando nossos lábios num beijo sem língua.

- Você ficou feliz mesmo só por causa disso? – ele pergunta com um sorriso enorme, colando a testa na minha.

- Pois é, sou uma pessoa de prazeres simples.

Acho que estava gostando mesmo do Park Jimin... daquele jeito.