História Touch Me - Three

Acho que nem Deus conseguiria explicar o tamanho da vergonha que eu senti quando Youngjae entrou em meu apartamento e viu a situação em que ele se encontrava, terá que se acostumar com isso se quiser morar comigo, espero que não seja um problema gigante. 

Quando eu resumi minha história pra ele senti uma vontade imensa de contar tudo, realmente tudo. Meus medos, meus sonhos, minhas vontades, tudo. Mas eu nem o conhecia e só de pensar no que me fez ter medo da humanidade, meu coração perde a vontade de bater.

Mostrei meu quarto e consegui pensar em deitar na minha cama e me esconder pela eternidade, ou mais. Pensei também em deitar ali com Youngjae e ver um filme, abraçadinhos, mas ele é hetero. Talvez sejamos bons amigos.

Cancelando todos os meus planos, o levei até seu quarto e mostrei o resto do apartamento pra ele, que pareceu gostar bastante. 

— E ai, gostou? — perguntei tentando parecer menos entusiasmado do que estava. 

— Eu amei, é bem grande. — assenti, concordando. — Hyung, quando eu posso trazer minhas coisas pra cá? 

— Hoje mesmo, se quiser. 

— Tudo bem, obrigado por isso. Eu realmente aprecio sua gentileza. — por quê ele estava falando dessa forma? será que ele descobriu minha queda por nerds certinhos? Droga.

— Eu que agradeço, essa casa já estava ficando bastante sem graça sem ninguém aqui. Fico feliz que agora eu tenha alguém pra... — me ajudar com meu problema? — Pra me fazer companhia. — sorri.

Ele sorriu sincero e meu coração disparou da forma mais adolescente do mundo. O que estava acontecendo dentro de mim? Depois disso o pequeno decidiu que buscaria suas coisas, ele disse que não eram muitas e voltaria logo. 

Em algum lugar do meu cérebro perturbado me veio a ideia de que ele nunca mais voltaria e me deixaria sozinho, assim como eu deixei meus pais. Era um castigo, eu estava pagando por todos os meus pecados. Me mandaram ele para eu me apaixonar e logo depois me tiraram. É isso, que óbvio! 

— Oh, não! Tenho que tomar um banho. Preciso estar mais apresentável quando ele voltar. — quem estava achando que ele não voltaria mesmo? Por Deus, vamos ter fé nas coisas.

Sim, eu sou meio dramático e confuso. Converso comigo mesmo na minha mente e estou gostando de um cara hétero que conheci em menos de uma hora. Talvez por ser a única pessoa real com menos de 40 anos que eu estava vendo esse mês? Era uma possibilidade, mas vamos seguir em frente.

Tomei um banho que não demorou mais que 10 minutos e agora estou a 5 minutos parado na frente do guarda—roupa encarando minhas roupas.

— Simpsons! — sorri orgulhoso. — Ele deve gostar de Simpsons. Quem não gosta? 

Peguei minha camiseta preta preferida e uma calça preta, como sempre. Logo depois "arrumei" meu cabelo e me sentei no sofá esperando que ele voltasse. 

— Espero que ele goste da minha roupa. — sorri novamente. Porque eu estou sorrindo tanto? Será que ele gosta de sorrisos?

Ouvi a campainha e meu coração acelerou novamente. Fui sorrindo até a porta. Pare de sorrir ou ele vai achar que você é um louco. Sorri novamente. Para! 

— Oi. — Choi estava parado na minha frente com uma mochila grande daquelas de acampamento e outra de viagem. Quanta coisa esse menino pode ter? 

— Oi, entre. — será que ele não gostou da minha roupa? ele não disse nada...

— Vou levar as coisas pro meu quarto, já volto aqui. — observei ele andar até o corredor enquanto me sentava no sofá. Liguei o celular e resolvi mandar um mensagem para Jinyoung. 

eu: jinyoungie! quantas vezes eu já disse que te amo hoje?" 

Até os amigos mais filhos da mãe que nunca te visitam merecem um pouco de amor, não? 

jinyoungie ☆: "oi, jae! voce reclama que nunca te dou nada de presente, o que achou do que eu te enviei hoje? lol" 

eu: "voce é um idiota, mas eu amo voce."

jinyoungie ☆: "vai me convidar para ir a sua casa qualquer dia desses?"

eu: "agora voce quer?"

jinyoungie ☆: "cala a boca, idiota. eu sempre quis e voce nunca me deixou ir. nunca esteve pronto :( francamente, sou seu melhor amigo"

Isso era verdade, mesmo eu reclamando sobre Park nunca me visitar, ele sempre pedia e eu negava, com o tempo ele parou de pedir, o que é normal, mas eu e minha insegurança pensaram que ele não queria mais me ver.

eu: "aigoo, pode vir. nunca pensei que realmente fosse querer vir me ver."

jinyoungie ☆: "hoje??! eu te amo, claro que eu iria querer. va conversar com o outro jae, se conheçam melhor e a noite eu chego com pizza pra nós quatro (levarei um amigo voce querendo ou nao)."

eu: "tudo bem, até a noite."

Sorri e bloquiei o celular quando olhei pro lado, Choi Youngjae estava parado me olhando. Levei um susto e ele riu.

— Desculpa, você estava digitando todo concentrado, não quis te atrapalhar. — ele corou. Oh, meu Deus, ele é um filho da mãe adorável!

— Eu me assustei um pouco. — ri — Jinyoung disse que vem hoje a noite, ele vai nos trazer pizza.

— Ótimo. — sorriu — Se me permite dizer, gostei da sua roupa, hyung. — senti meu rosto ficar vermelho.

— Obrigado, Jae. — ele abriu a boca de novo. Que mania irritantemente fofa, acho que ele faz isso quando está nervoso.

— Você é muito bonito. — ele disse e arregalou os olhos na hora, como se não fosse o plano dele dizer aquilo.

— Obrigado? — eu não sabia o que dizer mas isso me pareceu a melhor opção no momento, mesmo que tenha soado como uma pergunta. 

Ele olhou pra frente, ainda meio assustado e suspirou, sorrindo sem os dentes dessa vez. Depois de alguns minutos em silêncio, ele se virou pra mim e disse:

— Hyung, sei que você tem um problema mas, você cogitaria a possibilidade de deixar um amigo te tocar? — fiquei confuso com a pergunta, não era o que eu esperava. Pensei na resposta por alguns minutos e eu só conseguia pensar em respostas com negação envolvida. 

— Parece mais fácil e mais bobo do que é, Youngjae. — suspirei cansado — Eu não confio nas pessoas faz um bom tempo, nem lembro quando foi a última vez que confiei.

— Mas e se você tivesse um namorado ou namorada? — o tom curioso não desapareceu de sua voz. 

— Nunca tive e não acho que vá acontecer tão cedo. Não gosto de me fazer de vítima mas, eu nunca saio de casa, só para o trabalho e só crianças aparecem por lá, mesmo que eu encontrasse alguém pra mim, quem iria querer ser meu namorado? — minha visão ficou embassada e quis me estapear.

— Eu namoraria com você se fosse o caso de eu ser gay. Sabe, a gente não se conhece muito bem, na verdade a gente nem se conhece mas, você não precisa de algum namorado para ser feliz, entende? — ele me olhou e sorriu — Os amigos e a família podem te ajudar. Eu quero te conhecer, hyung, eu quero ser seu amigo. Eu quero te tocar. E isso é bem estranho porque eu não costumo me aproximar assim das pessoas, mas eu sempre quis ajudar alguém e talvez seja essa a hora.

— Talvez fosse, se eu tivesse o mínimo de coragem. — suspirei novamente e senti todo o peso que havia nas minhas costas aumentar, somente de lembrar do que aconteceu. — Jae, doeu tanto. Ainda dói. E toda vez que alguém me toca, é horrível. Eu não posso aguentar. — Logo, as lágrimas idiotas que eu segurava por semanas se soltaram involuntariamente. Choi me olhou com pena, mas não era daquelas que você se envergonha de alguém sentir por você, era mais uma preocupação. 

— Não chore, hyung, por favor. — Vi uma das mãos de Youngjae vindo em minha direção e o toda aquela dor começou a aparecer. Me encolhi no sofá e fechei os olhos. — Eu faço tudo errado, me desculpe, eu não queria... Eu... — ouvi a voz dele abaixar gradativamente. — Jaebum hyung, eu nunca vou te tocar sem sua permissão, me desculpe, foi força do hábito. 

Eu queria, Youngjae. Muito.

Tentei me acalmar, o que não demorou muito, felizmente. 

— T-Tudo bem, eu só me assustei. — limpei as lágrimas — Isso... Isso foi muito para o primeiro dia, me desculpe por esse ataque. — Peguei o controle da tv e a liguei. Passava alguma coisa no canal sobre animais e eu não prestei muita atenção, era tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo... Eu nunca me acostumaria com isso.

Passaram-se horas até que eu decidi finalmente trocar de canal, passava um episódio de Os Simpsons e eu quis me estapear — de novo — por só ter mudado de canal quando estava acabando. 

— Não, eu perdi tudo. — revirei os olhos.

— Faltam alguns segundos ainda. — ele riu.

— Não, mas eu queria ver inteiro.

— Hyung mimadinho. — revirou os olhos.

— Cala a boca. — eu ri e ele riu junto. 

Ficamos nos olhando tempo o bastante para eu cogitar completamente a ideia de beijá-lo mas quando seu olhar desceu para a minha boca e o meu para a dele, me senti novamente uma adolescente virgem. Me voltei para a tv, nervoso. Olhei para ele de canto de olho e o vi sorrir de lado. Filho da mãe, se ele pensa que vai me provocar assim e vai sair impune. Droga, ele vai. 

Mas eu também sei provocar, Choi.

— Entrando! — ouvi uma voz vindo da porta e assumi ser Jinyoung. — Sem bater!

Me levantei e parei na frente dele.

— Oi! — sorri animado, fazia tempo que eu não o via, queria abraçá-lo, sentia tanta falta disso. Mas algo me prendeu no chão e eu só conseguia ficar parado.

— Jae, como está? — sorriu.

— Bem.

— Oh, meu Deus, eu queria tanto te abraçar. — senti seu olhar ficar distante por um momento e antes que eu pudesse responder...

— Olá, sou o Yugyeom! — Yugyeom era bem alto ms parecia ser mais novo que todos nós e sorria animado para mim e chegou bem perto, perto o suficiente para eu estremecer. — Tudo bem? — ele me olhou preocupado e sorriu se afastando. Não havia com que se preocupar, certo? Ele não me tocaria. — Trouxemos pizza. — Ele abriu a tampa da caixa, devo acrescentar que nem havia notado ela antes. — Eu adorei sua camiseta. Jinyoung hyung não me disse que era tão estiloso assim, Jaebum hyung. — ele olhou para meu amigo.

— Obrigado por trazerem, estávamos com fome. — Youngjae disse pela primeira vez na conversa. 

— Youngjae! – Jinyoung e Yugyeom falaram juntos, se encararam e coraram. O que me fez rir.

Yugyeom parecia um menino radiante e muito legal, assim como o pequeno Youngjae. Nesse momento parecia o começo de uma grande amizade e quem sabe, minha cura.