História Toy 》 KaiSoo - Restart - Recomeço

Kai POV
 

Mais uma vez tudo isso estava acontecendo, eu não estava mais aguentando, eu queria fugir, mas não tinha forças, queria gritar, mas minha voz não saía. Jogado naquele chão, com as bochechas sangrando pelo golpe que ele havia me dado, como todas as outras vezes. Já não sabia mais quantas vezes havia pedido para ele me deixar partir, mas a resposta era sempre a mesma. Não.

Meu padrasto, se é que posso chamá-lo assim, me tortura desde que minha mãe se foi. A culpa não era minha, se a vida quis levá-la que culpa eu tinha?

— EU VOU ACABAR COM SUA VIDA JONGIN! — ele gritava e o seu bafo de bebida inundava o ambiente.

Eu iria sair dali hoje. Agora.

Olho para o caco de vidro no chão e finco na mão do ser que estava ao meu lado, não demorou para ele se contorcer de dor. Não queria ter feito aquilo, mas era preciso. Pego minha mochila no chão e saio correndo, minhas pernas fraquejavam e o coração falhava. Quando percebi que estava longe o bastante, parei, minha respiração estava um tanto ofegante. Caminho até um ponto de ônibus e me sento ali, esperava que o ônibus cheguasse logo.

Depois de um tempo o ônibus chega, as pessoas me olhavam com dó, desprezo e nojo. Algumas lágrimas escorriam por meu rosto, não devia ligar para isso, eu finalmente estava livre. Desço no centro da cidade e olho para todos os lados. Única coisa que iria seguir agora era o conselho que minha mãe me dava: "Tome muito cuidado com as pessoas ao seu redor, são todos traiçoeiros."

Tudo bem que nem todos são, mas todo cuidado é pouco.

Procuro por um prédio e algumas caminhadas depois acho um, era pequeno e bem descuidado, mas com o tempo acharia um local melhor para ficar. Caminho até o banheiro e limpo meus machucados, fazendo em seguida curativos no local. Meu estômago roncava então saio rumo ao café mais próximo. Assim que chego, me sento em uma mesa e vejo a garçonete vindo em minha direção.

— Olá, qual seu pedido? — ela parecia ser simpática. Momo. Li o nome no crachá.

— Quero apenas um cappuccino. — falo sorrindo fraco, pois minha bochecha ainda doía e se abrisse um sorriso maior seria pior.

— Ok, já irei trazer. — ela se afasta.

 Fico pensando em tudo o que me ocorreu nesse tempo preso naquele local, eu não podia ter amigos, não podia sair de lá. Meu psicológico estava ficando cada vez mais enlouquecido. Minha mãe se apaixonou por meu pai, nossa família era maravilhosa. Mas quando meu pai morreu, ela foi obrigada a se casar com meu padrasto, "para o bem da família", era o que eles diziam.

 Vejo a porta do café ser aberta com uma certa força fazendo um barulho ecoar, todos olham na direção. Um garoto todo de preto estava entrando, seus olhos negros e grandes chamaram minha atenção, ele vai até o balcão e pede algo.

Ele era bonito?! Solto uma risada baixinha por meus pensamentos, mas logo sou tirado de meus devaneios graças a garçonete.

— Senhor? — ela colocava a mão em frente ao meu rosto e eu pisquei várias vezes.

— Hã? — falei meio perdido.

— Eu estava te chamando, mas acho que o senhor não ouviu. — ela disse calma e colocou o cappuccino na mesa. Fiquei tanto tempo olhando o garoto que nem percebi.

— Ah sim. Me desculpe. — respondi meio envergonhado. Logo a garota vai embora e começo a beber meu cappuccino.

 Por algum motivo aquele garoto mexeu comigo. Vejo ele sair do estabelecimento e ficar no lado do fora na porta, olhando para os lados, provavelmente esperava por alguém. Vejo um garoto mais alto se aproximar e entregar algo em sua mão, logo ele leva a mão até o bolso e guarda o que o mais velho havia lhe dado. Paro de olhar com medo de que ele percebesse que estava o observando.

Quando terminei de beber deixo o dinheiro na mesa, me levanto e saio dali indo de volta para minha nova "casa". De repente sinto uma mão puxar meu braço com força, me virando bruscamente. Vejo o garoto dos olhos grandes a minha frente sorrindo.

— Hã? — estava totalmente perdido.

— Eu percebi que você estava me vigiando. — ele falou calmo. Seus olhos de perto eram ainda mais escuro e profundos.

— E-eu estava apenas pensando, e acabei olhando para um local qualquer, que no caso, foi você. — o medo em minha voz era notável.

— Pode ficar calmo. Não vou te machucar, à não ser que seja preciso — ele sorria, era um sorriso diferente, medonho. — Eu sei que você viu...
 

KyungSoo POV

— Eu sei que você viu. Aquilo que eu peguei, pode te ajudar a se sentir melhor e esquecer seus problemas. — falo sorrindo e vejo o olhar do garoto pensativo.

— Que? Eu não uso drogas. Eu estou tentando começar uma vida nova, não quero estraga-lá assim. — ele diz receoso e solto uma risada pela resposta.

— Isso só vai ser pra te relaxar, fica calmo. — falei rindo e suspirei. Olhei para o curativo em sua bochecha. - É... Você acabou de sair da casa de seus pais, certo? — pude ver ele soltar uma tosse e fazer uma cara de assustado.

— Sim... Como você sabe? O que você sabe de mim? — ele disse rapidamente.

— É tão óbvio. Esta estampado isso — falo dando de ombros e começo a caminhar. — Sei que você está assustado. Eu moro logo ali — aponto para o prédio do outro lado da rua. — Quer ir lá?

Espero que ele aceitasse, queria me divertir um pouco, na verdade queria continuar meus planos. E para isso bastava ele aceitar.

POV Kai

Não entendi bem o por que da insistência dele e resolvo perguntar.

— Por que esse interesse em mim? — falei baixinho, mas o suficiente para que ele escutasse.

— Bom, eu já estive na mesma situação que você. Quero apenas ajudar, se não quiser tudo bem. — ele disse e atravessou a rua.

   Eu não sabia se aceitava ou não, um lado de mim dizia para ir, o outro não. Estava em uma guerra comigo mesmo. Eu acabei de conhecer ele, não posso confiar assim tão rápido, mas ele de alguma forma me deixou intrigado. Suspiro e atravesso a rua rapidamente.

— Hey! Espera — falo e entro no prédio junto a ele.

— Sabia que iria aceitar. — ele fala sorrindo convincente. Quando ele falava as coisas assim com tanta certeza me dava um pouco de medo, mas não muito. Por mais que ele quisesse fazer expressões assustadoras ou coisas do tipo. A única coisa profunda que podia ver nele era o olhar. Parecia até que ele enxergava minha alma a partir deles.

  Ele procura algo em seu bolso e logo tira suas chaves dali, entramos em sua casa e ele se senta no chão. Percebo ele me olhar e me sento ao seu lado. Suas mãos agora estavam no pequeno saco com pó branco, ele fazia uma fileira com o pó no vidro de sua de mesa de centro.

— Vai querer? — ele fala e me olha sério.

— N-não. — falei e olhei para o pó branco. Qual era a graça de usar isso?

— Já disse que não precisa ter medo. Isso só vai ser pra você esquecer das coisas um pouco. — ele fala demostrando seriedade.

— E-eu não sei nem como usa isso. — reviro meus olhos.

— Simples. Você faz isso — ele coloca a mão em uma de suas narinas e tampa, se aproxima do pó e suga tudo que estava ali — Só você repetir o que eu fiz. — ele faz uma fileira igual a sua à minha frente.

Eu não devia fazer isso, mas acabei fazendo.  Repito a ação que ele fez e sinto uma adrenalina subir por meu corpo, logo uma tontura se faz presente e minha cabeça dói.

— Tem certeza que isso é fraco? — falei baixinho com a mão na cabeça.

— É sim, isso só aconteceu porque você é iniciante. - ele fala rindo — Bom, me conte, por que saiu de casa?

Não tinha por que esconder, então resolvo falar a verdade.

— Minha mãe morreu quando eu era muito pequeno. Desde então eu vivi com meu padrasto. Ele bebia muito, sempre me batia e abusava de mim. — suspiro baixinho — Eu estava cansado de tudo isso, então esperei meu aniversário chegar, no caso hoje, e resolvi dar um fim nisso e fugi, ele tentou me impedir — aponto para o curativo em minha bochecha — Mas felizmente eu consegui sair de lá.