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História Três Chances ou O Terceiro em Discórdia - Capítulo Vinte e Um


Escrita por: LuaPrateada

Capítulo 21 - Capítulo Vinte e Um


— Muito bem. Não creio que tempo seja algo a se perder... - começou a falar o Senhor do Tempo - Então,desculpem-me se pareço rude, mas vou direto ao ponto. Senhor Heitor, já está bem inteirado de que estamos em uma época distante da sua... E sabe que nós precisamos de respostas, até para podermos explicar de forma satisfatória por que você está aqui.

Heitor estava sentado em uma poltrona, com seu olhar fixo no senhor do Tempo. Ikki estava em pé, sentindo-se inquieto demais para permanecer parado em um lugar. Saori e seus outros cavaleiros ouviam atentos às palavras de Carl.

— Portanto... Preciso fazer as perguntas que, imagino eu, são necessárias para o desfecho de algumas questões ponderadas por mim.

— Está bem. Pode perguntar. - Heitor respondeu, em um tom tranquilo.

— Senhor Heitor... O senhor foi responsável pela morte de alguém em sua vida?

— Eu era um soldado. Infelizmente, fui responsável pela morte de muitos...

— O senhor foi responsável pela morte de alguém que era importante para a senhorita Isolda? - Carl tratou de perguntar rápido, de forma enfática e incisiva agora.

Heitor engoliu em seco. A pergunta, tão certeira, atingiu-o de forma arrebatadora.

— Carl, não deveria perguntar isso assim para ele! - Ikki, que até agora caminhava como uma fera enjaulada, de um lado para o outro da sala, intrometeu-se, caminhando vigorosamente até Carl.

— Ikki, tudo bem, eu... Eu quero responder a essa pergunta. - Heitor falou logo, com alguma firmeza, apesar do tom de voz ser baixo e quase inaudível nesse momento - Eu... fui responsável pela morte de uma pessoa muito importante para a Isolda, sim.

— E que pessoa era essa? - voltou a perguntar Carl.

— Era... - suspirou e baixou o rosto - Era Sebastian... Irmão de Isolda.

Seiya, Shiryu e Saori se entreolharam nesse momento. E Ikki, ao ouvir essas palavras, sentiu como se um duro golpe o houvesse atingido, direto no coração.

Shun, por sua vez, teve uma reação mais distinta. Não pareceu assustado ou surpreso com a revelação. Na verdade, ele pareceu mais curioso. Por isso, ele se aproximou mais da poltrona em que estava Heitor.

— Sebastian. Irmão de Isolda. - Carl pronunciou essas palavras com cautela - Interessante. Parece que a história se repete...

— Por que diz isso? - indagou Heitor, sem compreender.

— Já vai entender, senhor Heitor. Entretanto, preciso que me conte mais sobre Sebastian. De que forma o conheceu... E, mais importante... De que forma deu fim à sua vida?

— Carl, acho que é muito cruel pedir que ele responda a essas perguntas... - Saori, com a voz falha, por se ver comovida em demasia com tudo isso, atalhou.

— Não, tudo bem. Como eu disse... Pretendo responder a tudo. Mesmo que não seja nada fácil. - Heitor lançou um breve olhar para Ikki, mas não foi capaz de sustentá-lo. Viu como os olhos do moreno transmitiam uma dor enorme... A mesma dor que ele tinha causado em Isolda, em sua época - Eu era um soldado, que lutava pelo Exército contra a resistência, representada por um bando rebelde de camponeses. Um dia, após uma terrível batalha, eu fui dado como morto por meus companheiros e, por isso, abandonado no campo de batalha. Fui encontrado e levado para o acampamento rebelde por Isolda, que achou estar salvando um camponês como ela. Ela assim pensou porque eu cheguei a ter forças para me abrigar nas roupas de um camponês que havia morrido ali.

Ikki, parecendo subitamente fraco, sentou-se no sofá, sem conseguir olhar para Heitor.

— Quando despertei no acampamento rebelde, ela achou que eu tivesse perdido a memória. Deixei que ela assim pensasse. Entendi que estava em meio a inimigos. Era perigoso revelar a verdade. Mas eu me arrependi muito de ter mentido depois.

— E por que foi isso? - questionou Carl.

— Porque Isolda não merecia que eu mentisse a ela. Ela... Ela me recebeu de braços abertos. Ela salvou minha vida. Ela... foi a única pessoa que conseguiu me fazer sentir que eu pertencia a um lugar nesse mundo e... E a forma como eu retribuí... - a voz de Heitor era trêmula agora.

— Continue, por favor, senhor Heitor. Deseja um copo d'água? - Carl não era agressivo em suas palavras, mas deixava claro que não permitiria que as revelações parassem agora.

— Não. Obrigado. - Heitor respirou fundo, buscando a coragem necessária para terminar o que tinha para dizer - Eu enganei Isolda enquanto estive no acampamento. E fiquei por lá durante algum tempo, enquanto estive me recuperando. Trouxe muita confusão à Isolda, pois me indispus com o líder do acampamento... - nesse instante, Heitor cerrou os dentes, enquanto uma expressão de raiva tomou seu rosto - O maldito Samuel...

Shun, a essa altura, estava muito próximo de Heitor. Parecia tentar ler no rosto do loiro as respostas que buscava.

— Samuel era apaixonado pela Isolda. Ele não foi capaz de aceitar que ela se apaixonasse por mim... - um sorriso triste suavizou a expressão de Heitor - Se bem que... Talvez, ela não devesse mesmo ter se apaixonado por mim. Esse foi o grande erro dela. Se não fosse por mim... Ela não teria... morrido... daquela forma. - as últimas palavras foram pronunciadas muito baixo, mas todos na sala conseguiram ouvir. A expressão de espanto era notável no rosto de todos.

Menos no rosto de Ikki.

Ikki tinha baixado o rosto, parecendo enfraquecido diante do relato que Heitor estava fazendo.

Porém, agora, o moreno ergueu o rosto e seus olhos voltaram a se fixar no jovem soldado:

— Isso não é verdade.

Todos olharam para Ikki, sem compreender essas palavras, tão firmes e fortes.

Heitor, por sua vez, olhou confuso para o moreno. Mas a confusão logo se desfez:

— Isolda...?

— O que você disse não é verdade, Heitor.

— Isolda! - Heitor se levantou da poltrona, profunda e visivelmente emocionado - Isolda!! Eu... Eu... - o soldado correu até a camponesa, que olhava com um semblante muito triste para ele - Você não sabe como eu queria ver você de novo...Eu tenho tanto para te falar... - ao chegar até o sofá, Heitor fez menção de que queria abraçar Isolda, mas parou no último instante, como se compreendesse que não teria esse direito.

— Heitor, eu entendo o que aconteceu... - Isolda segurou a mão do soldado entre as suas. Esse contato, todavia, pareceu assustar o loiro, que se afastou prontamente.

— Não, você não entende! Foi tudo culpa minha, Isolda! Seu irmão, você... Vocês morreram por minha culpa! Por culpa do meu egoísmo! Por culpa da minha estupidez!

— Heitor, não é bem assim!...

— Isolda. - Carl tomou a vez - Seja bem-vinda. Infelizmente, não estamos em um momento de muita tranquilidade, que nos possibilite recebê-la de forma melhor. Heitor está justamente nos contando sobre um importante evento...

— Eu sei.

— Sabe? - Carl mostrou-se intrigado - Como?

— Eu simplesmente sei. - e, como se Carl não fosse merecedor de sua atenção, Isolda voltou-se para o soldado - Heitor, você não foi o causador da minha morte...

— Posso não ter sido o causador direto, Isolda. Mas fui culpado sim. E, no caso de Sebastian... Você sabe muito bem que ele morreu pelas minhas próprias mãos...

Isolda fechou os olhos e respirou profundamente:

— Sim, eu sei. Mas estávamos em guerra, Heitor. Vocês estavam em lados diferentes daquela batalha. O destino colocou vocês frente a frente... - a jovem suspirou - Eu sei que não tive a melhor reação quando eu descobri, mas...

— Isolda, eu não me culpo apenas por ter sido o soldado que atirou no seu irmão. É claro que só isso já tinha sido o suficiente para você me odiar... Por causa do grave ferimento causado por mim é que Sebastian perdeu a memória e se esqueceu de você. Isso lhe trouxe sofrimento por tanto tempo... Mas a questão aqui é que eu fui atrás dele, eu quis ver o seu irmão! Você falava tanto dele, era tão devota a ele... E eu, curioso e movido por algum ciúme, porque alguém tinha tanto da sua atenção... eu fui atrás, eu quis vê-lo! Eu o reconheci, assim como ele... e, quando ele me viu, essa memória retornou da pior forma... O trauma fez a saúde dele piorar... A batalha travada por nós dois foi terrível. Em dado momento, lutávamos pela própria sobrevivência. A luta daquele dia foi a pior que eu já enfrentei... Lutei com seu irmão corpo a corpo... eu nunca havia lutado tão próximo de outra pessoa... e eu vi, nos olhos do seu irmão, o desespero de sobreviver, o mesmo desespero que eu sentia! Houve um momento em que não representávamos uma causa, ou uma luta... Nós dois apenas... queríamos... viver! - Heitor tinha os olhos cheios de lágrimas e olhava para o chão - Eu e ele, naquele momento... éramos duas pessoas que queriam continuar vivendo. Apenas isso! Eu vi isso nos olhos dele... E sei que ele viu o mesmo nos meus. Nós... chegamos a sorrir um para o outro em dado momento. Como se um acordo mudo tivesse sido feito. Não iríamos continuar com aquilo, não lutaríamos mais um contra o outro, cada um seguiria para o seu lado... Era uma bandeira branca, mesmo que apenas entre nós dois. Estar entre a vida e a morte é algo muito intenso e por termos compartilhado aquele momento, eu me senti muito próximo do seu irmão, Isolda... Por isso... eu sempre carreguei comigo o fardo de tê-lo matado...

— Espera um pouco! Se vocês deram essa trégua, então como foi que você acabou atirando nele no campo de batalhas? - Seiya, angustiado, precisou perguntar.

— Ele precisou fazer isso. - foi Shun quem, subitamente, respondeu - Ele precisou atirar em mim. Nós nos afastamos, mas estávamos em uma guerra. Seria ingenuidade de nossa parte acreditar que sairíamos dali ilesos. Um pouco depois, no mesmo campo de batalhas, eu vi um companheiro de armas ser morto por um soldado. Corri até esse soldado e o apunhalei pelas costas, vingando meu amigo. Porém, da mesma forma, eu recebi um tiro pelas costas.A guerra é assim, tudo acontece em um piscar de olhos. Mas, antes de cair ao chão, eu vi quem havia atirado em mim. E pude ver os seus olhos incrédulos, de quem não acreditava no que acabava de fazer, Heitor.

Estavam todos completamente atônitos. Shun acabava de descobrir em si todo esse passado e o apresentava com relativa serenidade. Seiya, Saori e Shiryu não encontravam o que dizer. Carl parecia mais intrigado que nunca.

Isolda, entretanto, abriu-se em um sorriso comovente:

— Sebastian...?

— Na verdade, não. Meu nome é Shun. Mas, de algum modo, esse passado se tornou bem claro para mim. Pelo visto, Sebastian foi uma vida passada minha.

— Eu não queria ter atirado em você... mas seria hipocrisia da minha parte dizer que poderia ter feito diferente. Era uma guerra... - suspirou - Uma guerra maldita. Hoje eu vejo, melhor que nunca, o quanto é impossível haver vencedores de fato em uma guerra...

— E eu sei que você gostaria que tivesse sido diferente, Heitor. Você tem razão quando disse que nossa luta mexeu tanto comigo quanto mexeu com você. Acredito que, naquele momento, desnudamos nossas almas, um para o outro. Foi um encontro que realmente mexeu comigo. Foi um choque ver justo o seu rosto, com aquela arma apontada para mim, quando eu caí ferido? É claro que foi. Mas o que principalmente me marcou foi aquele seu olhar, de incredulidade e de culpa.

Shun resolveu caminhar até Heitor, que não estava se sentindo capaz de olhar para ele agora:

— Heitor... Quando você veio me ver no acampamento... Tudo bem; você pode se sentir um pouco culpado pelo que o motivou a ir até mim. Um ciúme bobo do irmão da garota que você amava. Se quiser se sentir culpado por isso, tudo bem. Mas não se culpe pelo que ocorreu depois. - Shun fez uma pequena pausa - Quando eu vi você... É verdade que esse foi o fator que me fez começar a recobrar a memória. Porém, mais do que isso... Ver você novamente me fez recordar de todos os sentimentos que ficaram marcados em mim, quando caí ferido. Antes de perder a consciência, eu me senti mal por ver tanta culpa nos seus olhos. Essa sensação, apagada de minha memória abruptamente e retomada de forma tão repentina, foi tão intensa que meu corpo ainda em recuperação não foi capaz de acompanhar. A recordação não veio inteira; ela veio em partes soltas, confusas, era mais uma sensação que qualquer outra coisa. Eu me sentia desesperado por me lembrar de algo, necessitado de entender o que estava acontecendo... e não foi possível. Acabei falecendo nos braços da minha irmã, sem que pudesse explicar a ela o ocorrido... e sem poder dizer a você, Heitor, que não se sentisse culpado.

Heitor enfim levantava o rosto banhado de lágrimas para Shun, que o fitava com doçura:

— Puxa... Acabo de me dar conta de uma coisa importante. Eu acho que... esse era o motivo pelo qual eu sempre me senti impelido a ir atrás do Hyoga. Eu sempre senti que uma força maior me empurrava para ele... Sempre achei que algo me dizia, internamente, que eu precisava me aproximar dele... - Shun coçou a cabeça, rindo um pouco de si mesmo - É estranho me dar conta disso... Porque isso me traz uma paz de espírito que eu não sabia que estava buscando... Até agora. - Shun sorriu sereno - Eu e Hyoga sempre tivemos algo não muito bem resolvido. Hyoga sempre foi muito gentil e condescendente comigo, provavelmente por causa desse passado... e eu sempre senti que algo dentro de mim me gritava que eu tinha algo a resolver com Hyoga. Um sentimento não resolvido. Muito, muito intenso... mas não era o sentimento que eu achava.

— Shun... Você tem certeza disso? Ou está falando isso apenas para fazer seu irmão e Hyoga se sentirem melhor depois de tudo o que está acontecendo? - perguntou Shiryu, cuidadosamente.

— Não se preocupe, Shiryu. - Shun replicou, com tranquilidade - Não estou falando por falar. Essa é a verdade. E posso afirmar isso porque eu nunca experimentei uma paz tão grande. É como se essa fosse a sensação que eu estivesse buscando, desde que achei estar apaixonado pelo Hyoga. Mas eu nem sabia o que estava buscando, realmente. Eu... apenas sentia que precisava estar perto do Hyoga. Eu sentia que algo dentro de mim me ligava a ele, com força. Eu sentia que precisava do Hyoga, como se somente com ele eu pudesse alcançar uma sensação que eu não compreendia ainda... mas compreendo agora. - o irmão de Ikki colocou a mão sobre o ombro de Heitor - Obrigado por me permitir descobrir isso sobre mim. Obrigado por me ajudar a preencher essa lacuna.

Heitor, ainda em lágrimas, sorriu também:

— Eu é que agradeço... Ao menos, graças a isso... Posso me sentir menos culpado.

— Então deixe a culpa para trás, Heitor. Você também não é culpado pelo que aconteceu comigo. - retomou Isolda.

— Não. Quanto a isso, não tem como você dizer qualquer coisa, Isolda...

— Heitor, eu... - a morena quis continua falando, mas o soldado a interrompeu:

— Isolda, depois que Sebastian morreu, eu... Eu fiquei desnorteado. Eu havia acabado de descobrir que ele tinha sobrevivido; ele, que tinha se tornado um fantasma para mim, assombrando minha consciência desde aquela batalha! Porém, sequer tive tempo de me sentir bem com essa descoberta, pois tão logo seu irmão me viu, ele teve uma convulsão, que acabou por levá-lo à morte! Eu vi, naquele momento, como eu era nocivo! Eu já imaginava isso, porque já tinha afastado você do seu bando... Eu não quis regressar ao acampamento e você então se mudou para ficar comigo, em uma tenda mais distante da base rebelde. Você se desentendeu por várias vezes com Samuel por minha causa. Você... abriu mão de uma vida por mim! E eu, inebriado de um amor cada vez maior por você, eu... Eu quis me esquecer de quem eu era, eu quis acreditar que seria possível vivermos só nós dois, ali,em um mundo onde não existisse a guerra... Eu quis esquecer meus deveres e obrigações, eu quis esquecer meu passado! Contudo, uma parte de mim sempre soube que eu não merecia essa chance. Uma parte de mim sempre soube que eu não deveria ficar com você, Isolda, que eu lhe faria mal... E estava certo! Matei seu irmão... E esse choque de realidade me fez entender que eu precisava ir embora! Dentro de mim, sempre houve uma voz que me gritava que eu tinha de me afastar, que eu não merecia você, que eu faria mal a você!

Heitor voltou os olhos úmidos para Carl:

— É por isso que eu sempre soube que vidas passadas existiam. Mesmo sem qualquer prova concreta, eu sentia isso dentro de mim. Eu não tinha um passado com Isolda, do qual pudesse me recordar, em que eu fizera tão mal a ela. Porém, no fundo, eu sabia que isso tinha acontecido. Era uma certeza que sempre esteve ali, embora eu me esforçasse por não enxergar. Em outra vida, eu já havia me encontrado com Isolda e... certamente... feito muito mal a ela. E não poderia permitir que essa história se repetisse.

— Por isso você me deixou... - Isolda complementou, com um tom tristonho - Eu pensava que você tivesse partido porque, mesmo sem conseguir dizer completamente o que queria, Sebastian conseguiu reconhecer em você o homem que havia atirado nele... Samuel, que sempre desconfiou de você, ligou os pontos e entendeu que se tratava de um inimigo disfarçado; quis atacá-lo e você fugiu...

— Eu não fugi! Quero dizer, eu precisei ir embora, mas não por covardia! Foi preciso, Isolda! Eu queria protegê-la! E a minha única certeza era de que, comigo por perto, você não estaria bem! O fato de ter sido desmascarado nessa hora era o que menos importava. Se eu tivesse a certeza de que, comigo ao seu lado, você ficaria bem... Eu teria enfrentado Samuel, com certeza! Mas não era isso que meu coração me dizia...

— E você realmente pensou que me deixar, sem ao menos se despedir, logo depois de eu perder meu irmão... Realmente acreditou que eu ficaria bem assim, Heitor?! - a voz de Isolda demonstrava agora uma grande mágoa.

— Eu... - Heitor soltou um suspiro pesado - Eu realmente sinto muito, Isolda... Mas eu pensei que sim... Que seria melhor...

— E o que você fez depois de abandonar o acampamento? - quis saber Seiya.

— Voltei para o Exército. Mas não para voltar à minha vida de antigamente. Depois de Isolda e Sebastian, isso nunca seria possível. Retornei para pedir a minha saída do Exército. Sempre fui muito honrado e achei que devesse fazer tudo corretamente, conforme mandava a papelada. Fui um estúpido... Eles desconfiaram de tudo. Se eu estive vivo por tanto tempo, por que havia demorado tanto para entrar em contato?... E eu, que sempre fui obstinado por construir uma grande carreira militar, simplesmente desistia de tudo? De repente? Eles não acreditaram e eu, por achar que não devia explicações a ninguém, fechado na minha própria dor, não me preocupei em elaborar uma história que fosse convincente o bastante. Como resultado, me mantiveram detido por um longo tempo... interrogaram-me até não poder mais... E como eu sempre tive uma expressão fria, capaz de esconder meus mais profundos sentimentos, eles não puderam arrancar nada de mim. Achei que tivesse acabado por aí, que eles tivessem desistido... Como fui tolo!!! Assim que me deixaram em paz, eu quis voltar ao acampamento! Precisava ter certeza de que você estaria bem, Isolda... E esse foi meu erro! Eles estavam me vigiando... Eles me seguiram... Descobriram a localização da base rebelde... Atacaram sem piedade... Mataram todos, sem compaixão por qualquer que fosse... E... - novas lágrimas eram derramadas por Heitor agora - Meu Deus... Isolda... Eu juro... Eu quis... Eu tentei... Eu corri o máximo que eu pude... Eu queria ter tomado aquele tiro no seu lugar... Eu vi quando dispararam contra você... E você... Você teria fugido... Céus, você poderia ter escapado com vida... - a voz de Heitor agora vinha intercalada com alguns soluços entremeados de dor e mais lágrimas. Era tudo forte demais e Heitor precisou esconder o rosto com as mãos - Mas você me viu... Em meio ao caos, à morte, à luta... Você me viu...

— Sim, eu vi você... E fiquei tão feliz de ver que havia voltado... - Isolda, também com o rosto marcado por muitas lágrimas, complementou - Achei que nunca mais fosse vê-lo novamente... - com delicadeza, Isolda retirou as mãos que encobriam o rosto do soldado.

— Mas você, provavelmente, pensou que eu tivesse voltado apenas porque estava com o Exército... porque eu era um soldado do Exército... Foi insuportável pensar que você perdeu a vida sem saber que eu tinha voltado por você... apenas por você...

— Eu sabia, Heitor! Eu vi nos seus olhos! Eu senti no calor dos seus braços... Quando você me tomou nos braços, eu já estava prestes a perder a consciência... Porém, eu consegui ouvir o que você disse, meu amor... - Isolda fez uma carícia no rosto do loiro, derramando de seus olhos escuros um amor que transbordava de si.

— O que ele disse? - Seiya perguntou, sem conseguir conter a curiosidade.

— Eu disse que a amava... - Heitor falou, levando seus olhos claros para encontrarem o olhar de Isolda.

— E me pediu perdão. - Isolda prosseguiu - Eu consegui ouvir essa parte. Entretanto, não tive forças de lhe responder...  Então... eu o faço agora. - com um sorriso singelo, Isolda encarou ternamente o soldado - Eu perdoo você, Heitor.

O jovem loiro explodiu em lágrimas com as palavras de Isolda. Em seguida, abraçou-a, como se desse abraço dependesse sua existência. Isolda sorria e retribuía ao abraçado, sentindo-se completa outra vez.

Shun sorria também diante dessa cena. A leveza dentro de si era inquestionável. Estava plenamente feliz.

Saori e seus outros cavaleiros pareciam contentes também. Carl, todavia, continuava sério e com um olhar analítico.

— Perdoem-me a intromissão. - Carl disse, interrompendo conscientemente aquele bonito momento - Mas tenho medo de que vocês dois desapareçam agora que parecem ter se entendido e eu tenho uma última dúvida a ser tirada. Como foi que você morreu, senhor Heitor? Desculpe-me a forma brusca com que pergunto, mas depois de meditar sobre algumas coisas... Essa é a última que preciso compreender, para saber se meus pensamentos estão corretos. - o senhor do Tempo pontuou, com certa frieza.

— Eu... - Heitor assumiu uma expressão mais fechada com a pergunta - Eu não fazia mais qualquer questão de viver depois de perder Isolda... Eu... só me lembro de estar com Isolda sem vida nos meus braços... Lembro-me da dor de perdê-la... E então... Eu vi Samuel à minha frente. Ele tinha ódio no olhar. Logo percebi que ele me culpava pela morte de Isolda. E eu concordava, a culpa era minha. Não trocamos qualquer palavra, não foi necessário. A fúria estampada no rosto dele dizia tudo. Samuel ergueu sua grande espada e eu não me defendi. Eu merecia morrer, era só o que pensava. Fechei os olhos. E não me lembro de mais nada depois disso...

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Continua...

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