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História Tudo que há é poesia - Dicotomia


Escrita por: realisse

Notas do Autor


Aviso!!! Ok, essa fanfic possui algumas histórias adjacentes, então eu vou postá-las aqui também.

O nome dessa fic é "Histórias adjacentes", já tem uma HunHan lá <3

Por agora, aproveitem este capítulo!

Capítulo 4 - Dicotomia


Last night

I dreamed about you

You’re lips

Were on mine

And your hands

Were on my hips

 

The dream was

Like cotton candy

Sweet and fluffly

Ephemeral, ethereal

 

Then I opened my eyes

You were not there

And I was cold

             -Byun.

 

Tais tinham sido os primeiros versos que Baekhyun escrevera assim que acordara na manhã de domingo, mente relaxada por causa de um sonho, mas pensamentos embaralhados por causa de uma conversa. A escolha do inglês tinha sido puramente arbitrária, somente um idioma dispondo suas palavras e fonemas a Baekhyun. Além disso, não era uma grande dificuldade para o garoto, pois ele sempre estivera em meio às diversas línguas.

Baekhyun ainda estava em sua cama com as pernas emaranhadas nas cobertas, relendo o pequeno poema várias e várias vezes enquanto relembrava o que seu inconsciente lhe dera de presente naquela noite. Ele ainda sentia frio, apesar dos grossos cobertores sobrepostos em sua cama. O sonho era aconchegante e quente demais se comparado ao conforto habitual de sua cama.

Se ele pudesse resumir seu sonho em uma palavra, Baekhyun diria ‘doce’. Era como se ele sentisse cheiro de sobremesa, como se ele sentisse o gosto mesmo em sua inconsciência. Tratava-se daquele tipo de doce que é enjoativo, mas que não é possível parar de comer. Porque Chanyeol era enjoativo e Baekhyun o odiava, mas não conseguia ficar longe por muito tempo. Era enjoativo e entorpecente.

Chanyeol tinha suas mãos nos quadris do outro, suas grandes mãos massageando com calma e cuidado o lugar enquanto seus lábios massageavam os de Baekhyun com paixão. E os dois estavam em uma estação de metrô, mesmo eles não podendo estar em tal lugar. E tudo tinha sido tão belo, tão efêmero, tão etéreo, o cinza do concreto e o rosa do doce fundindo-se na mente de Baekhyun quando ele abriu os olhos. E não havia mais Chanyeol. Só havia o frio.

“Baekhyun... Calma.” Ele disse a si próprio, tentando acalmar suas emoções aos poucos. Era incrível e injusto o fato de que Chanyeol ocupava sua mente quando ele tirava sua cabeça do travesseiro e quando ele a colocava de volta ali.

Ele se forçou a sair da cama, rumando para o andar de baixo e encontrando seus pais tomando um café da manhã de maneira displicente. Baekhyun os cumprimentou normalmente, sentando-se em uma cadeira logo depois para comer.

“Você saiu ontem, Baekhyun?” Seu pai perguntou entre bicadas em seu café preto. “Quando chegamos você não estava aqui.”

“Aham.” Ele confirmou, pegando um pedaço de pão para si. “Fui encontrar o Luhan e o Sehun.”

“Os gays?” Sua mãe perguntou, e o preconceito por trás da pergunta não passou despercebido por Baekhyun. Era muito cedo para lidar com esse tipo de discurso.

“Sim, os gays.” Ele respondeu, revirando os olhos. “Quero dizer, o Luhan é bissexual.”

“Eu realmente não consigo entender esse tipo de sexualidade.” Seu pai comentou, como se fosse normal não entender a diversidade.

“Vocês deviam saber que sexualidade não dita o que uma pessoa é.” Baekhyun começou, não conseguindo permanecer calado. “O Sehun é muito mais do que um ‘gay’ assim como vocês são muito mais do que ‘héteros’... Não é tão difícil assim. O Tae é gay e minha tia aceita e suporta a sexualidade dele.”

“Baekhyun, querido.” Sua mãe disse, sua voz calma e inabalada. “Eu e seu pai não somos pessoas preconceituosas. Só estamos comentando.”

Baekhyun só revirou seus olhos mais e respirou fundo, levando seu café aos lábios.

“Falando no Taehyung...” ela continuou. “O namorado dele estava lá ontem. Ele é até bem doce.”

“Como ele se chama?” Baekhyun perguntou, pretendendo mudar o assunto um pouco.

“Jungkook. Jeon Jungkook, se estou certo.” Seu pai respondeu casualmente. “Nunca ouvi esse nome antes.”

“É bonito...” O garoto comentou.

“Ele era bem educado, mas ele e o Taehyung ficaram a maior parte do tempo sozinhos. Como a Yang Mi permite algo assim? Eles só tem quinze anos! Não sei o que um garoto delicado como ele está fazendo com seu primo... Eles são tão diferentes.” Sua mãe disse.

“Mãe, o Tae é um doce.” Baekhyun defendeu o primo. As pessoas simplesmente não entendiam seu senso de humor e jeito de ser. Quem quer que Jeon Jungkook fosse, ele era um garoto de sorte. Baekhyun queria muito conhecê-lo.

Pousou-se na mesa, então, um silêncio confortável, que colocava um fim no discurso preconceituoso de seus pais. Baekhyun percebera, assim, que ele também invejava Taehyung. Porque a mãe do garoto entendia e aceitava. Enquanto seus pais vestiam facetas de falsa aceitação. E Baekhyun nunca poderia contar para sua mãe que ele escrevia poesia sobre outro garoto, que ele sonhava com os lábios de tal garoto sobre os seus.

Sua mais recente crise, no entanto, era ainda mais preocupante. Porque alguém que questionava seu gênero era alguém que desrespeitava o que o corpo era. Alguém assim nunca seria aceito. Não em sua família. E Baekhyun sabia disso. Talvez por isso, Baekhyun evitava pensar sobre tal crise, porque se ele aceitasse tudo ficaria mais difícil. Ele precisaria se esconder ainda mais.

E já doía muito usar uma máscara para sua família.

Alguns minutos depois, Baekhyun voltara para seu quarto, jogando-se na cama preguiçosamente e pegando seu celular no processo. Ele desbloqueou o aparelho, rapidamente procurando pelo nome que queria. Taehyung.

Baekhyun:

Quando vou conhecer o Jungkook, Tae?

Ele não teve que esperar tanto, e logo seu celular vibrava com a resposta do primo.

Tae: 

Em breve, espero.

Seus pais te falaram sobre ele?

Baekhyun:

Sim. Posso te ligar?

A resposta de Baekhyun chegou como uma chamada, Taehyung já tomando a iniciativa de ligar para o outro. Ele atendeu sem hesitar, antecipando uma conversa com o primo que ele sentia falta.

“Oi, Baek.” Ele disse, a voz levemente diferente pelo aparelho.

“Ei, Tae. Senti sua falta.” Baekhyun disse já sorrindo.

“Também senti a sua. Precisamos colocar as coisas em dia um dia desses.” Taehyung falou, e o outro sorriu mais.

“Definitivamente. Agora me fale mais sobre esse Jungkook.”

“Ah, o Jungkook é um anjo.” A voz de Taehyung instantaneamente ficou mais doce. “A gente tá junto tem... dois meses, acho. Ele tá dormindo aqui e, deus, ele parece tão em paz.”

“Aw, Tae. Ele realmente te conquistou.” Baekhyun comentou, e o outro riu de leve.

“Eu gosto de chamar ele de ‘Kookie’, Baek.” O garoto confessou em um tom mais baixo.

“Isso é fofo, Tae. Você deve ter super conquistado ele também.”

“Espero. Mas e você? Como está?”

“Humm... Normal? Solteiro?” Baekhyun disse, rindo junto com o primo pelo telefone.

“Ainda obcecado com aquele cara?”

“Infelizmente sim.” Confessou, o sorriso em seus lábios era amargo.

"Você precisa se soltar, Baek.” Tae aconselhou.

“Talvez um dia...”

“Enfim, precisamos nos encontrar um dia. Eu realmente sinto sua falta.” Taehyung disse, apaziguando o clima da conversa.

“Aham, combinamos por mensagem.” Baekhyun concordou.

“Claro... Oh, bom dia, Kookie!” Ele disse, obviamente para o namorado que acordara.

“Tchau, Tae. Foque sua atenção no seu Kookie.” Baekhyun brincou.

“Ok... Tchau, Baek.”

E assim a ligação estava terminada.

Baekhyun se perguntava se algum dia Chanyeol dormiria em sua cama, o chamaria por um apelido, teria sua atenção voltada para ele. Ele se perguntava se algum dia Chanyeol seria seu namorado.

Ele sabia que não.

Ele sabia que Chanyeol era bom de mais para alguém como ele.

E pelo resto do dia Baekhyun não fez mais nada além de pensar e procrastinar.  

~*~

Segunda chegou rapidamente. O sol nasceu taciturno, feixes de luz tímidos aos poucos iluminando o dia. Baekhyun levantou-se devagar, o tédio que o cotidiano lhe passava tomando conta de seu corpo.

O vento matinal era frio e calmo, mas ainda assim bagunçava os cabelos de Baekhyun enquanto ele pedalava sua bicicleta até a escola. O asfalto estava levemente molhado, e o garoto perguntava-se se havia chovido durante a noite anterior. Ele não escutara nada, mas suas poucas horas de sono foram harmônicas e ininterruptas. Baekhyun permitiu que seus lábios formassem um sorriso, o vento contra seu corpo, o cinza contra seus olhos, Blackbear contra seus ouvidos.

"Porque você sempre parece não ter dormido, Baek?” Luhan perguntou assim que eles se cumprimentaram. Sehun ainda não estava na sala, e o outro se distraia no celular.

“Porque eu sempre durmo poucas horas por noite.” Baekhyun respondeu, pousando sua mochila ao lado de sua cadeira antes de acrescentar. “Ou por madrugada.”

"Porque?” O menino inquiriu, guardando o aparelho móvel e focando sua atenção no amigo.

“Porque a noite é o período do dia que mais me inspira. Tudo é tão calmo e, de certa forma, morto.” Ele explicou. “A noite eu escrevo mais, desenho mais, reflito mais... para mim, tudo é mais intenso a noite.”

“Então você definitivamente precisa usar essas horas para dormir.” Luhan sorriu, e o outro mostrou sua língua de maneira infantil.

Baekhyun observou o rosto sorridente do amigo e se lembrou de uma breve conversa que tivera com Luhan dias atrás. Deveria ele confiar a Luhan o assunto que o incomodava? Baekhyun não sabia se ele estava pronto, ele não tinha nenhuma resposta, nenhuma conclusão. Mas sentia que precisava falar algo para alguém, antes que ele vomitasse suas inseguranças e medos.

“Luhan...” Chamou.

“Hm?”

“Eu... Eu acho que comecei a entender porque me sinto estranho.” Baekhyun disse, a cabeça e as palavras baixas por causa de uma vergonha não justificada.

“Sou todo ouvidos, Baek.” Luhan respondeu, um sorriso terno em seus lábios.

Baekhyun sentia que as palavras estavam presas em suas cordas vocais, pois nenhum som saía dali. E Baekhyun nem sabia o que dizer, mas a falta de comunicação o irritava e o assustava. Ele brincava com a barra de sua camisa, os dedos inquietos apertando constantemente o tecido e os olhos confusos desviando contato visual.

Luhan, de repente, pegou uma de suas mãos e apertou de leve, obrigando Baekhyun a encontrar seus olhos. Ele sorriu ainda mais com a mão do amigo entre as suas.

“Eu estou aqui. Você sempre pode confiar em mim.”

"Eu sei...” Baekhyun respondeu, sorrindo minimamente em retribuição. “É só que... Eu... Bom, eu não sei se eu sou cis.” Ele finalmente concluiu.

Os olhos de Luhan se arregalaram um pouco com o que Baekhyun tinha lhe dito, pois ele não esperava aquilo. Normalmente Baekhyun falava sobre Chanyeol ou sobre uma tristeza constante e sem motivo, mas aquela era a primeira vez que o assunto era tão íntimo, tão sério, tão Baekhyun. Luhan estava assustado e não sabia o que dizer, mas se sentia especial e sabia que o outro precisava dele mais do que nunca.

“Eu não esperava isso, eu realmente não esperava.” Ele disse, rindo de leve depois. “Mas ok. Você é trans, então?”

“Acho que não. Sei lá, não parece certo para mim.” Baekhyun deu de ombros, incapacitado de definir o que sentia. Era tudo tão confuso.

“Ok.” Luhan respondeu, e a casualidade de sua resposta relaxou Baekhyun, pois seu amigo o tratava com naturalidade, o tratava como sempre. E Baekhyun sentiu que gênero não era algo para se preocupar ao lado de seus amigos.

“Eu não entendo nada ainda, para falar a verdade.” Ele disse, olhando sua mão entrelaçada na de Luhan. “Eu só me sinto no corpo errado... às vezes.”

“Talvez algo do espectro não-binário, então?” Luhan perguntou, e o outro deu de ombros mais uma vez, suas cordas sem resposta. “Desculpa, Baek. Não é direito meu ficar tentando acertar algo aqui. Essa descoberta é sua e só sua, até porque eu não sei como é se sentir assim. Mas eu acho que você devia pesquisar e se informar sobre isso... E meus ouvidos sempre estarão aqui.” Ele concluiu sorrindo mais, e Baekhyun aproximou-se para um abraço desconfortável em meio as mesas da sala.

“Eu te amo, Lu.”

“Eu também te amo.”

Eles se separaram do estranho abraço e sorriram mais, Baekhyun sentindo-se mais leve por ter compartilhado sua crise com alguém próximo, que o entendia. Sehun não demorou muito mais tempo para chegar, sua longas pernas lhe dando movimentos fluidos enquanto ele se aproximava de Luhan e Baekhyun. Sua respiração estava pesada quando se sentou, e Sehun só parou de xingar seu despertador quando o professor pediu silêncio aos alunos.

Segundas eram massantes. Nenhuma das aulas que Baekhyun tinha no dia o agradavam, tornando o dia tedioso e cansativo. Por isso, o menino desenhava símbolos aleatórios nas bordas das páginas de seu caderno, ocupando seu tempo. Vez ou outra ele observava Chanyeol atento a aula, mas não permitia-se olhar por muito tempo, porque Baekhyun sentia culpa.

Ele sentia culpa pois sonhara com os lábios do outro sobre os seus. Baekhyun sempre sonhava com Chanyeol, mas eles mal se encostavam normalmente. A distância sempre estava lá. E ter Chanyeol tão próximo, mesmo em seu inconsciente, era assustador. E Baekhyun sentia culpa porque sentia que Chanyeol perdia seu papel de musa em sua vida.

E Baekhyun realmente não sabia se ele gostava do que acontecia.

Ele não sabia se queria o tentador roçar de lábios ou a segura distância que os separava.

Baekhyun se sentia como Sócrates, só sabendo de que nada sabia.

E então o filósofo tomou conta da mente do garoto, que passou a refletir sobre a hipocrisia e a falsa humildade do consagrado filósofo grego. Sócrates, para ele, era só mais um sofista que odiava sofistas. Ele era um gênio, no entanto, a ponto de manipular mais de dois mil anos de conhecimento e ainda ser louvado nas academias.

E horas se passaram regadas a filosofia antiga, poesia ultrarromântica e falso roçar de lábios.

~*~

O dia, portanto, decorreu sem grandes acontecimentos. Logo Baekhyun seguia para o clube de leitura, enquanto seus amigos seguiam para suas respectivas atividades. Tudo o que estava deixando os nervos de Joonmyun a flor da pele estava resolvido, trazendo de volta o clima calmo e relaxante do clube.

Eles discutiriam Demian naquela segunda, e o livro encontrava-se debaixo do braço de Baekhyun, que caminhava lentamente pelos corredores e escadas. Quando ele chegou a sala certa, somente Nanjoom e Seokjin estavam ali conversando em vozes baixas, um livro nas mãos do mais novo. Os dois lembravam Demian e Sinclair demais, como se o que saia de suas bocas fosse profano e proibido, visões diferentes do mundo apresentado a todos. Baekhyun sorriu com o pensamento, cumprimentando-os depois.

Ele se sentou em uma cadeira, esperando as outras pessoas chegarem. Alguns minutos depois, Joonmyun chegou, sentando-se ao lado de Baekhyun e o cumprimentando rapidamente.

“Cadê o Yifan?” Baekhyun perguntou, já que os dois sempre estavam juntos.

“Ah, nem me pergunte.” Ele respondeu suspirando, um olhar cansado em seu rosto.

“O que aconteceu?” inquiriu, estranhando o comportamento do outro.

“Bom... É só que, ultimamente, o Yifan passa o tempo todo com aquele namorado delinquente dele. Eu não faço a mínima ideia de onde ele está.”

“O Zitao?”

“O próprio.” Joonmyun respondeu.

“Ele é um delinquente? Para mim, ele só era um cara rico demais, que ama maquiagem e não faz nada.” Baekhyun comentou.

“É quase a mesma coisa, Baek.” Joonmyun disse. “Enfim, alguém que faz parte do grêmio não devia se envolver com algum mimado qualquer.”

“Existe alguma regra contra isso?” O menino não conseguiu evitar a pergunta, sorrindo provocador.

“Baekhyun... Eu achei que você estava tentando me consolar aqui. Eu só quero meu melhor amigo de volta.”

“Então porque não diz para ele?”

“Ele iria achar que eu estou com ciúmes.” Joonmyun respondeu.

“Você não está?”

“Não!” Ele protestou. “Porque todo mundo acha que... ah, que merda!”

“Talvez porque ano passado você se jogou encima dele quando estava bêbado naquela festa?” Baekhyun começou. “Joonmyun, não há problema algum em sentir ciúmes. E também não há problema em sentir algo a mais pelo seu melhor amigo.”

“Você sabe que há um problema, Baek.” Joonmyun suspirou. “Porque ele tem um namorado, porque todo mundo sabe, porque ele sabe. Eu me sinto tão idiota.”

“Sentir coisas não te faz um idiota, Joonmyun.” Baekhyun comentou, pousando uma mão amiga no ombro do outro.

E Baekhyun perguntava-se qual das situações era mais idiota: apaixonar-se pelo seu melhor amigo ou apaixonar-se por alguém que mal se conhecia.

Naquele momento, Yifan chegara a sala, respiração ofegante e lábios levemente inchados e vermelhos. Joonmyun desviou seus olhos. Os integrantes do clube, então, começaram a se organizar, formando um círculo para a discussão do livro alemão. Nanjoom e Seokjin continuavam lado a lado, Yuri e Soonkyu logo depois. E Baekhyun estava entre Yifan e Joonmyun, sentindo a tensão entre os dois garotos. Joonmyun limpou sua garganta e pegou seu livro, trazendo a atenção de todos para si.

“Primeiramente, eu acho que seria interessante analisarmos a dicotomia do mundo luminoso e do mundo sombrio.” Ele disse, e várias cabeças concordaram com o sugerido.

“Em uma visão bem superficial...” Soonkyu começou. “O luminoso seria o status quo de Sinclair, e o sombrio seria tudo fora de sua zona de conforto.”

Baekhyun ouviu as palavras da menina e percebeu que o seu mundo luminoso era a sua poesia, seu quarto... enquanto que seu mundo sombrio eram as pequenas conversas que ele eventualmente tinha com Chanyeol. Seu mundo sombrio era Chanyeol.

“Sim, mas Sinclair é trazido para o mundo sombrio de formas diferentes. Kromer faz isso violentamente enquanto que Demian usa um método mais provocador e talvez mais... entorpecente?” Nanjoom falou. A linha de pensamento do menino era extremamente boa.

“De certa forma, os dois o manipulam.” Seokjin acrescentou.

“Mas Kromer acaba afastando Sinclair desse mundo, pelo menos por um tempo. Se os dois o manipulam, Demian faz isso de uma maneira muito mais eficaz.” Yuri ponderou.

“Com certeza.” Yifan falou antes de continuar. “Os dois momentos, no entanto, são uma jornada de autoconhecimento para Sinclair.”

“Podem também ser uma jornada de auto esquecimento.” Baekhyun falou pela primeira vez desde o início da discussão. “Porque Sinclair se desprende dos valores da família, da religião, do mundo luminoso como um todo, esquecendo-se disso. Então isso depende da perspectiva da leitura.”

“Sim, até porque Hermann Hesse foi influenciado por Nietzsche.” Joonmyun concordou.

“O mundo sombrio, então, poderia representar o dionisíaco?” Soonkyu perguntou.

"Sim. E o luminoso seria o apolínico.” Yuri respondeu a menina.

"Porque depois que se conhece o dionisíaco percebe-se que o apolínico é uma ilusão.” Seokjin disse, e Nanjoom sorriu ao seu lado animado com toda a análise.

Baekhyun se perguntava se valia a pena sair do apolínico. Se valia a pena esquecer de seus medos e jogar-se no dionisíaco. Porque seu mundo luminoso era muito mais confortável. Porque estar fora de sua zona de conforto era ruim e assustador. Era bizarro como tudo se encaixava com uma obra escrita em 1919.

“Mas se o mundo luminoso é mais confortável e viver na ilusão é melhor... porque Sinclair se deixa levar pelo mundo sombrio?” Baekhyun perguntou.

“Porque depois de conhecer tudo no mundo sombrio é impossível se iludir de novo.” Nanjoom o respondeu.

“Depois que se tem o conhecimento é impossível desprender-se dele. Ele se esquece de um mundo, mas se prende a outro.” Joonmyun completou, corroborando o ponto do mais novo.

“O que essa transição significa, no fim?” Yifan perguntou.

“Abra sua mente, talvez.” Nanjoom sugeriu.

“Saia de sua zona de conforto.” Yuri adicionou.

“É um processo de libertação, portanto.” Joonmyun disse, e Baekhyun concordou com a cabeça, ainda estabelecendo paralelos entre si e Sinclair.

Enquanto a discussão sobre o livro continuava, Baekhyun refletia em meio aos argumentos. A dicotomia de Sinclair, guardando suas devidas proporções, era bem similar a que ele próprio vivia. O conforto versus o conhecimento. Aquela dicotomia aplicava-se a várias coisas na vida de Baekhyun.

E Baekhyun não sabia se ele queria seguir os passos do protagonista. Baekhyun não sabia se ele queria Chanyeol em sua vida.


Notas Finais


Obrigada por lerem, pessoas! Esse capítulo é menor do que os outros e meio aleatório também, mas é isso o que temos por agora.

Adeus~~


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